terça-feira, 8 de abril de 2014

Timor-Leste: Bispo de Baucau minimiza "ajuste de contas" entre ex-guerrilheiros e polícia




Lisboa, 07 abr (Lusa) -- O bispo timorense Basílio do Nascimento considerou hoje que os recentes confrontos entre a polícia e ex-guerrilheiros acantonados em Baucau resultam de "um ajuste de contas entre irmãos do mesmo ofício" e mostrou-se confiante de que o assunto ficou resolvido.

No mês passado, uma operação da polícia timorense em Laga, a leste de Baucau, contra ex-guerrilheiros ali acantonados provocou um ferido e a detenção de dois homens.

A operação da polícia ocorreu no âmbito de uma resolução aprovada pelo Parlamento timorense que condenava o que considerou serem tentativas de instabilidade e ameaças ao Estado protagonizadas pelo Conselho de Revolução Maubere, liderado pelo antigo comandante da guerrilha Mauk Moruk, e pelo Conselho Popular da Defesa (Democrático) da República de Timor-Leste (CPD-RDTL).

Em entrevista à Lusa em Lisboa, o bispo Basílio do Nascimento considerou ter-se tratado de "um ajuste de contas entre irmãos do mesmo oficio que andaram no mato".

Recordou que Mauk Moruk, cujo nome civil é Paulino Gama, tinha sido comandante da guerrilha antes do atual primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e quando Xanana assumiu funções como comandante "houve ali embates entre eles".

"Não sei se o Paulino Gama, ou Mauk Moruk, engoliu esta pastilha", afirmou o bispo.

Segundo Basílio do Nascimento, Moruk voltou agora para contestar Xanana e fê-lo invocando "algumas razoes lógicas", nomeadamente o fraco desenvolvimento do país e a corrupção.

"Como cidadão tem toda a legitimidade para reclamar isso", afirmou o prelado, sublinhando que é necessário fazer algumas distinções.

"Divergências entre Xanana e Mauk Moruk são divergências entre guerrilheiros, não envolvam nem o Estado nem o país; Divergências entre Paulino Gama e José Alexandre Gusmão são divergências entre dois cidadãos, também tem o seu modo de resolver; Agora divergências entre o cidadão Paulino Gama e o primeiro-ministro, isso já é diferente", sublinhou Basílio do Nascimento.

Para o bispo, quando alguém quer contestar a legitimidade do primeiro-ministro, a constituição consagra fórmulas, e tentar ocupar o poder pela força não é uma delas, por isso o parlamento decidiu aplicar a lei.

"A lei agiu, a segurança teve de intervir e hoje a coisa está mais ou menos sanada", disse o bispo, recordando que Mauk Moruk está hoje na prisão.

O prelado afirmou que Timor-Leste se vai consciencializando de que, goste-se ou não dos governantes atuais, da política atual, "há formulas, há caminhos que se devem seguir para que isto seja bem resolvido e não criar outra vez trauma no povo".

Basílio do Nascimento mostrou-se confiante de que um novo conflito do género está "completamente fora" de causa e afirmou que, embora Timor-Leste funcione muito "com boatos" que fazem parecer que o país vive sempre em pé de guerra, isso não acontece.

"Muitas vezes as coisas acontecem apenas em Díli, ou em Baucau também, mas a nível de fim de conflito creio que está mais ou menos sanado".

Mauk Moruk é o antigo primeiro comandante das Brigadas Vermelhas das FALINTIL, que abandonou a guerrilha em 1985. Segundo o próprio, entre 1985 e 1990 esteve internado no hospital militar de Jacarta, tendo depois seguido para Portugal e daí para a Holanda.

O ex-comandante regressou a Timor-Leste em outubro e criou o Conselho de Revolução Maubere, que exige a dissolução do parlamento, a demissão do Governo, a convocação de eleições, a restauração da Constituição de 1975 e a alteração para um regime presidencialista no país.

Lusa, em RTP

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