sábado, 24 de maio de 2014

Mega-julgamento antimáfia na China condenou cinco à morte




Pequim, 23 mai (Lusa) - Um dos maiores processos antimáfia julgados nos últimos anos na China terminou hoje com cinco condenações à morte, entre as quais a de um ex-milionário alegadamente ligado a influentes figuras políticas do país.

Liu Han, 49 anos, antigo presidente de um próspero consórcio da província de Sichuan, que chegou a ocupar o 230.º lugar na lista dos homens mais ricos da China, foi condenado à morte pelo Tribunal de 1ª Instancia de Xianning, juntamente com um irmão, Liu Wei, e três outros arguidos.

Cinco outros arguidos foram também condenados à morte, mas com pena suspensa por dois anos, sentença que habitualmente é comutada em prisão perpétua, e entre os restantes 26 do grupo, quatro foram condenados a prisão perpétua.

Dois antigos oficiais da polícia e um ex-procurador acusados de pertencer ao "gangue mafioso" liderado por Liu Han e o seu irmão foram condenados a 16, 11 e 13 anos de prisão, respetivamente.

O "gangue" chefiado pelos irmãos Liu era "uma organização criminosa, com uma hierarquia estabelecida e membros efetivos, que tiraram proveito de atividades criminosas e perpetraram múltiplos homicídios, assaltos, e detenções ilegais", conclui o tribunal.

Ex-delegado à Conferência Política Consultiva do Povo Chinês em Sichuan, sudoeste da China, Liu Han era presidente do Hanlong Group, consórcio criado em 1997, que englobava dezenas de companhias, com negócios na exploração mineira, eletricidade, energia, finanças, imobiliário e outros setores.

Sichuan é uma das mais populosas províncias chinesas, com cerca de 85 milhões de habitantes, e também a base de Zhou Yongkang, um antigo membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC), que, segundo a imprensa de Hong Kong, está ser investigado por corrupção.

Conhecido outrora como "Czar da segurança", Zhou Yongkang, 72 anos, controlou o aparelho policial e judicial da China até se reformar, em novembro de 2012, altura em que uma nova geração de quadros, liderada pelo atual presidente Xi Jinping, assumiu a chefia do PCC.

Vários familiares do antigo líder, incluindo um irmão e um filho que terá feito negócios com Liu Han, foram terão já detidos, disseram jornais do continente chinês, sem incriminarem o próprio Zhou Yongkang.

Um cientista político ouvido pela agência France Press, Zhang Ming, disse que o veredito anunciado hoje "é uma preparação para o julgamento de Zhou Yongkang".

Se isso acontecer, será a primeira vez que um membro do Comité Permanente do Politburo do PCC - a cúpula do poder na China, constituída apenas por sete elementos - irá sentar-se no banco dos réus por corrupção.

O novo secretário-geral do PCC, Xi Jinping, prometeu que o combate à corrupção, considerado "uma questão de vida ou de morte" para o partido, visaria "tanto as moscas como os tigres", numa alusão aos quadros dirigentes que abusam do poder para proveito próprio ou de amigos e familiares.

Mais de 80 funcionários, nove dos quais com categoria igual ou superior a vice-ministro, foram investigados nos últimos dez meses por suspeita de corrupção, anunciou no mês passado a Comissão Central de Disciplina do PCC.

Governos provinciais, ministérios, grandes empresas estatais - nomeadamente petrolíferas, setor que área em que Zhou Yongkang também chegou a tutelar - e instituições públicas (incluindo universidades) têm sido o alvo das inspeções daquela Comissão.

Em outubro passado, outro poderoso "tigre" - Bo Xilai, antigo ministro do Comércio e ex-lider do PCC em Chongqing - foi condenado a prisão perpétua por fraude, corrupção e abuso do poder.

Numa recente entrevista à agência Bloomberg, o professor Andrew Wedeman, autor do ensaio 'Double Paradox: Rapid Growth and Rising Corruption in China' (2012), considerou a atual campanha anti-corrupção "a mais sustentada" do género desde o advento das reformas económicas, no início da década de 1980.

AC // APN - Lusa

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