Pequim,
23 mai (Lusa) - Um dos maiores processos antimáfia julgados nos últimos anos na
China terminou hoje com cinco condenações à morte, entre as quais a de um
ex-milionário alegadamente ligado a influentes figuras políticas do país.
Liu
Han, 49 anos, antigo presidente de um próspero consórcio da província de
Sichuan, que chegou a ocupar o 230.º lugar na lista dos homens mais ricos da
China, foi condenado à morte pelo Tribunal de 1ª Instancia de Xianning,
juntamente com um irmão, Liu Wei, e três outros arguidos.
Cinco
outros arguidos foram também condenados à morte, mas com pena suspensa por dois
anos, sentença que habitualmente é comutada em prisão perpétua, e entre os restantes
26 do grupo, quatro foram condenados a prisão perpétua.
Dois
antigos oficiais da polícia e um ex-procurador acusados de pertencer ao
"gangue mafioso" liderado por Liu Han e o seu irmão foram condenados
a 16, 11 e 13 anos de prisão, respetivamente.
O
"gangue" chefiado pelos irmãos Liu era "uma organização
criminosa, com uma hierarquia estabelecida e membros efetivos, que tiraram
proveito de atividades criminosas e perpetraram múltiplos homicídios, assaltos,
e detenções ilegais", conclui o tribunal.
Ex-delegado
à Conferência Política Consultiva do Povo Chinês em Sichuan, sudoeste da China,
Liu Han era presidente do Hanlong Group, consórcio criado em 1997, que
englobava dezenas de companhias, com negócios na exploração mineira,
eletricidade, energia, finanças, imobiliário e outros setores.
Sichuan
é uma das mais populosas províncias chinesas, com cerca de 85 milhões de
habitantes, e também a base de Zhou Yongkang, um antigo membro do Comité
Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC), que, segundo a
imprensa de Hong Kong, está ser investigado por corrupção.
Conhecido
outrora como "Czar da segurança", Zhou Yongkang, 72 anos, controlou o
aparelho policial e judicial da China até se reformar, em novembro de 2012,
altura em que uma nova geração de quadros, liderada pelo atual presidente Xi
Jinping, assumiu a chefia do PCC.
Vários
familiares do antigo líder, incluindo um irmão e um filho que terá feito
negócios com Liu Han, foram terão já detidos, disseram jornais do continente
chinês, sem incriminarem o próprio Zhou Yongkang.
Um
cientista político ouvido pela agência France Press, Zhang Ming, disse que o
veredito anunciado hoje "é uma preparação para o julgamento de Zhou
Yongkang".
Se
isso acontecer, será a primeira vez que um membro do Comité Permanente do
Politburo do PCC - a cúpula do poder na China, constituída apenas por sete
elementos - irá sentar-se no banco dos réus por corrupção.
O
novo secretário-geral do PCC, Xi Jinping, prometeu que o combate à corrupção,
considerado "uma questão de vida ou de morte" para o partido, visaria
"tanto as moscas como os tigres", numa alusão aos quadros dirigentes
que abusam do poder para proveito próprio ou de amigos e familiares.
Mais
de 80 funcionários, nove dos quais com categoria igual ou superior a vice-ministro,
foram investigados nos últimos dez meses por suspeita de corrupção, anunciou no
mês passado a Comissão Central de Disciplina do PCC.
Governos
provinciais, ministérios, grandes empresas estatais - nomeadamente
petrolíferas, setor que área em que Zhou Yongkang também chegou a tutelar - e
instituições públicas (incluindo universidades) têm sido o alvo das inspeções
daquela Comissão.
Em
outubro passado, outro poderoso "tigre" - Bo Xilai, antigo ministro
do Comércio e ex-lider do PCC em Chongqing - foi condenado a prisão perpétua
por fraude, corrupção e abuso do poder.
Numa
recente entrevista à agência Bloomberg, o professor Andrew Wedeman, autor do
ensaio 'Double Paradox: Rapid Growth and Rising Corruption in China' (2012),
considerou a atual campanha anti-corrupção "a mais sustentada" do
género desde o advento das reformas económicas, no início da década de 1980.
AC
// APN - Lusa
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