William
Tonet – Folha 8 – 21 junho 2014
Eu
ainda acredito ser o diálogo a melhor solução para resolver os diferendos na
vida e, entre os cristãos católicos é, seguramente, o caminho para a busca de
soluções, iluminadas pela Bíblia.
É
por demais cediço, as dificuldades existentes entre políticos, principalmente,
devido ao confronto das ideologias, na resolução de problemas divergentes, mas
entre religiosos é uma nova praia, para nós, comuns mortais.
Cabinda
é um dos pólos onde a religião tem assistido a uma guerra sem quartéis
fazendo-nos recordar a guerra da inquisição ou da afirmação da própria Igreja
Católica no século XVI, em muitos países europeus, destacando-se em largos
momentos a Inglaterra e a França, inclusive com perseguições, assassinatos e
prisões de quem ousasse assumir a fé católica.
No
caso angolano, o homem, mais perseguido, pelas suas convicções religiosas e
sociais, goste-se ou não dele é o padre Jorge Casimiro Congo. Ela agita as
águas políticas, do partido no poder e de parte da própria igreja Católica, de
onde saiu, quase excomungado.
Com
uma forte blindagem em Teologia e Filosofia e um apurado sentido de oratória
decidiu, não abandonar nem a fé, nem o Evangelho, cônscio da existência de
muitas “ovelhas” perdidas, carentes de uma palavra do Senhor. E vai daí decide
escancarar os corações carentes dos fiéis com a implantação em Angola da Igreja
Católica das Américas, que é uma versão independente da Igreja Católica, tal
como os Teólogos da Libertação, que expandiram-se na América Latina. Desta
forma, o Vicariato Cristo Resgatador (Angola) nasceria em Cabinda, no dia 25
de Dezembro de 2013, em Lândana, com uma eucaristia, onde foram baptizados,
pelo padre Casimiro Congo, sessenta cidadãos. Ora se na Imaculada Conceição,
berço do cristianismo em Cabinda, já era uma preocupação, fora dela, para as
autoridades do regime o risco é ainda maior, pois não concebem, nem estão
preparados para lidar com o padre Congo, diante de tão grande comunidade, no
seu “Chisyâku”, espaço que acolheu a Igreja, na cidade de Cabinda e actualmente,
mesmo com a perseguição política e policial, já presente, na zona popularmente
denominada “Papá Ngoma, São Pedro e Kafôngo.
O
que eu vi, é um autêntico fenómeno de crescimento de fiéis, muitos desertando
da Igreja Católica Romana, à razão de mais de 500 membros semanais. Estas
cifras tiram, obviamente, o sono a qualquer responsável católico, bem como ao
regime que seguia estarrecido o agigantar desta nova congregação religiosa.
Para
melhor se inteirar do fenómeno era ver, no meio de fieis a presença maciça de
membros, conhecidos, como sendo da Segurança do Estado, com tabletes e
smartphones, empunhados, para registarem os momentos altos das homilias do
padre. Quando detectados pelos mais próximos estes diziam-lhe: “o demónio está
entre nós e poderá destruir a nossa obra”. Não durou muito para a diabolização
da acção pastoral, conotando-a como Igreja da Mpalabanda, Igreja da Política
ou Igreja da Independência de Cabinda, entre outros epítetos.
O
comité do MPLA de Lândana, acusado de ser composto, sobretudo, por imigrantes
e zairo-oriundos, e auxiliados, mormente, pelo SINFO, liderado pelo oficial
Miúdo, alegadamente, percorrem os bairros, espalhando ameaças e intimidando
possíveis convertidos, chegando, inclusive, a ameaçar o regedor de
Ntando-Mpali que cedeu terreno à Igreja Católica das Américas, no Lwango-Pequeno.
A
maior reacção, segundo algumas fontes, teria vindo do mais alto representante
do clero católico, ao publicar uma carta pastoral, em Janeiro; recheado de um
português enviesado e teologicamente não muito apurado, onde são carimbadas
desconsiderações desnecessárias!
Um
fiel, aponta o dedo ao próprio bispo de ter ido ao Povo-grande, paróquia dos
Salesianos, ler o referido documento, num português incompreensível para a
maioria da Assembleia, para além de ter sido visto em permanentes viagens ao
Mayombe.
“Eles
os padres e a direcção da Igreja Católica, em Cabinda, reúnem-se com os
quadros do MPLA, principalmente, o seu 2º secretário, alguns catequistas, pedindo-lhes
insistentemente que não recebam o Padre Congo, nem adiram a sua igreja. Alguns
padres Espiritanos de Lândana, conotados com os comités de especialidade do
MPLA, em Cabinda, teriam recorrido, não só à Investigação Criminal, como em
peregrinação as balas, passando a mensagem de a Igreja do Padre Congo ser um
partido político e esta campanha tinha tempos de antena, também, na Rádio
Nacional e Televisão Pública, com ameaças de prisão e ou assassinato.
No
dia 16.06 surge uma convocatória do Ministério do Interior precedida desconexa
e no mesmo sentido, eleger a defesa da partidocracia governante, com um
carrocel de ameaças, como se este órgão não fosse republicano, mas uma célula
do partido no poder.
No
melhor, foi a decisão de encerramento das igrejas não legais(?), coincidentemente,
um facto previamente anunciado, na paróquia da Imaculada Conceição, pelo Padre
Futi, com um lacónico: “o templo deles já está no fim”. Uma linguagem
grosseira para um reputado pároco, indiciando uma possível concertação, para a
continuidade de perseguição ao Padre Congo e, agora, não se deverão contentar
só com a cadeia, talvez um lançamento aos jacarés, legitimando uma prática
institucional de eliminação daqueles que pensem pela própria cabeça.
No
dia 19.06, a Polícia Nacional, cumprindo ordens do partido no poder, invadiu
a Igreja Zezu Mvûchi, no Luvula, e correu com os coristas que ensaiavam, o
mesmo aconteceu no Zezu Bembele, onde encontraram mulheres dispostas a
afrontá-los. Sabe-se, agora, com estas práticas que o governo angolano e o Presidente
da República, têm medo até do ramo da palmeira que mexe, sendo em Cabinda o
padre Jorge Casimiro Congo, a sua maior ameaça. Recentemente, em Roma o Papa
Francisco reuniu, representantes de várias congregações, para rezarem e
esbaterem diferenças. Oxalá, um dia, um dos bispos com maior carisma e
honestidade intelectual, Dom Bilingue, seja capaz de reunir, estas correntes
religiosas em Cabinda, para se afastar o espectro de a Igreja Católica romana,
principalmente, no enclave, “estar infiltrada por agentes da Segurança de
Estado e do MPLA”.
Eu
acredito, na paz e nos homens de boa vontade.
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