sexta-feira, 27 de junho de 2014

Em Cabinda continua a perseguição ao padre Congo e à sua nova igreja



William Tonet – Folha 8 – 21 junho 2014

Eu ainda acre­dito ser o diálogo a me­lhor solução para resolver os diferen­dos na vida e, entre os cristãos católicos é, seguramente, o caminho para a busca de soluções, ilu­minadas pela Bíblia.

É por demais cediço, as di­ficuldades existentes entre políticos, principalmente, devido ao confronto das ideologias, na resolução de problemas divergentes, mas entre religiosos é uma nova praia, para nós, co­muns mortais.

Cabinda é um dos pólos onde a religião tem assisti­do a uma guerra sem quar­téis fazendo-nos recordar a guerra da inquisição ou da afirmação da própria Igreja Católica no século XVI, em muitos países europeus, destacando-se em largos momentos a Inglaterra e a França, inclusive com per­seguições, assassinatos e prisões de quem ousasse assumir a fé católica.

No caso angolano, o ho­mem, mais perseguido, pelas suas convicções re­ligiosas e sociais, goste-se ou não dele é o padre Jorge Casimiro Congo. Ela agita as águas políticas, do parti­do no poder e de parte da própria igreja Católica, de onde saiu, quase excomun­gado.
Com uma forte blindagem em Teologia e Filosofia e um apurado sentido de oratória decidiu, não abandonar nem a fé, nem o Evangelho, cônscio da existência de muitas “ove­lhas” perdidas, carentes de uma palavra do Senhor. E vai daí decide escancarar os corações carentes dos fiéis com a implantação em Angola da Igreja Católica das Américas, que é uma versão independente da Igreja Católica, tal como os Teólogos da Liberta­ção, que expandiram-se na América Latina. Desta forma, o Vicariato Cristo Resgatador (Angola) nas­ceria em Cabinda, no dia 25 de Dezembro de 2013, em Lândana, com uma eu­caristia, onde foram bapti­zados, pelo padre Casimiro Congo, sessenta cidadãos. Ora se na Imaculada Con­ceição, berço do cristianis­mo em Cabinda, já era uma preocupação, fora dela, para as autoridades do re­gime o risco é ainda maior, pois não concebem, nem estão preparados para lidar com o padre Congo, diante de tão grande comunidade, no seu “Chisyâku”, espaço que acolheu a Igreja, na ci­dade de Cabinda e actual­mente, mesmo com a per­seguição política e policial, já presente, na zona po­pularmente denominada “Papá Ngoma, São Pedro e Kafôngo.

O que eu vi, é um autêntico fenómeno de crescimento de fiéis, muitos desertando da Igreja Católica Roma­na, à razão de mais de 500 membros semanais. Estas cifras tiram, obviamente, o sono a qualquer responsá­vel católico, bem como ao regime que seguia estarre­cido o agigantar desta nova congregação religiosa.

Para melhor se inteirar do fenómeno era ver, no meio de fieis a presença maciça de membros, conhecidos, como sendo da Segurança do Estado, com tabletes e smartphones, empu­nhados, para registarem os momentos altos das homilias do padre. Quan­do detectados pelos mais próximos estes diziam-lhe: “o demónio está entre nós e poderá destruir a nossa obra”. Não durou muito para a diabolização da ac­ção pastoral, conotando-a como Igreja da Mpalaban­da, Igreja da Política ou Igreja da Independência de Cabinda, entre outros epítetos.

O comité do MPLA de Lân­dana, acusado de ser com­posto, sobretudo, por imi­grantes e zairo-oriundos, e auxiliados, mormente, pelo SINFO, liderado pelo oficial Miúdo, alegadamen­te, percorrem os bairros, espalhando ameaças e inti­midando possíveis conver­tidos, chegando, inclusive, a ameaçar o regedor de Ntando-Mpali que cedeu terreno à Igreja Católica das Américas, no Lwango­-Pequeno.

A maior reacção, segundo algumas fontes, teria vindo do mais alto representante do clero católico, ao pu­blicar uma carta pastoral, em Janeiro; recheado de um português enviesado e teologicamente não muito apurado, onde são carim­badas desconsiderações desnecessárias!

Um fiel, aponta o dedo ao próprio bispo de ter ido ao Povo-grande, paróquia dos Salesianos, ler o referido documento, num portu­guês incompreensível para a maioria da Assembleia, para além de ter sido visto em permanentes viagens ao Mayombe.

“Eles os padres e a direc­ção da Igreja Católica, em Cabinda, reúnem-se com os quadros do MPLA, prin­cipalmente, o seu 2º secre­tário, alguns catequistas, pedindo-lhes insistente­mente que não recebam o Padre Congo, nem adiram a sua igreja. Alguns padres Espiritanos de Lândana, conotados com os comités de especialidade do MPLA, em Cabinda, teriam recor­rido, não só à Investigação Criminal, como em pere­grinação as balas, pas­sando a mensagem de a Igreja do Padre Congo ser um partido político e esta campanha tinha tempos de antena, também, na Rádio Nacional e Televisão Pú­blica, com ameaças de pri­são e ou assassinato.

No dia 16.06 surge uma convocatória do Ministé­rio do Interior precedida desconexa e no mesmo sentido, eleger a defesa da partidocracia governante, com um carrocel de amea­ças, como se este órgão não fosse republicano, mas uma célula do partido no poder.

No melhor, foi a deci­são de encerramento das igrejas não legais(?), coin­cidentemente, um facto previamente anunciado, na paróquia da Imaculada Conceição, pelo Padre Futi, com um lacónico: “o tem­plo deles já está no fim”. Uma linguagem grosseira para um reputado pároco, indiciando uma possível concertação, para a con­tinuidade de perseguição ao Padre Congo e, agora, não se deverão contentar só com a cadeia, talvez um lançamento aos jacarés, legitimando uma prática institucional de eliminação daqueles que pensem pela própria cabeça.

No dia 19.06, a Polícia Na­cional, cumprindo ordens do partido no poder, inva­diu a Igreja Zezu Mvûchi, no Luvula, e correu com os coristas que ensaiavam, o mesmo aconteceu no Zezu Bembele, onde encontra­ram mulheres dispostas a afrontá-los. Sabe-se, agora, com estas práticas que o governo angolano e o Pre­sidente da República, têm medo até do ramo da pal­meira que mexe, sendo em Cabinda o padre Jorge Ca­simiro Congo, a sua maior ameaça. Recentemente, em Roma o Papa Francis­co reuniu, representantes de várias congregações, para rezarem e esbaterem diferenças. Oxalá, um dia, um dos bispos com maior carisma e honestidade in­telectual, Dom Bilingue, seja capaz de reunir, estas correntes religiosas em Cabinda, para se afastar o espectro de a Igreja Católi­ca romana, principalmente, no enclave, “estar infiltrada por agentes da Segurança de Estado e do MPLA”.

Eu acredito, na paz e nos homens de boa vontade.

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