sexta-feira, 27 de junho de 2014

Moçambique: ESTAMOS EM CISÃO



Verdade (mz) - Editorial

As diferenças de opiniões e a forma egocêntrica a que, nalgumas vezes, o Governo e a Renamo recorrem para interpretar preceitos e acordos tendem a ser salientes. Obviamente que, em vez de unanimidade, prevalece a discórdia e entra-se em rota de cisão. Por conseguinte, a nossa relação como moçambicanos e como nação está por um fio.

De ameaça em ameaça, as partes beligerantes atingiram um estágio em que já não basta um passo em falso para um atirar intencionalmente contra o outro, a matar. A desconfiança em relação à falta de rectidão entre quem dirige a nação e quem está na oposição é de tal sorte que se vive com os dedos no gatilho.

O pior é que temos um Executivo que se gaba de ser aberto ao diálogo mas age de forma contrária e permite que quem o elegeu sofra. Temos uma Renamo que se vangloria de lutar pela paz e pela Democracia mas usa o povo para pressionar a sua contraparte. E quando achávamos que isso bastava, eis que somos abalados com pretensões de instalar tribos dentro de um território que há 39 anos libertámos para ser uno e indivisível.

Por um lado, a Renamo range os dentes e ameaça repartir o país a partir do Save. Todavia, excepto um punhado que gente que se outorga a prerrogativa de mover um conflito em nome de um povo que já não está interessado na guerra, o grosso dos moçambicanos não quer nenhuma Frelimo a viver no seu espaço nem a “Perdiz” a gerir nenhum centímetro com base em cânones tribais.

Por outro lado, o Executivo, ignorando o facto de que o país já vive numa situação idêntica à de uma barril de pólvora, e que qualquer passo em falso pode agravar a desgraça e o martírio a que estamos sujeitos, não mediu esforços na escolha dum momento impróprio para anunciar a sua apetência de reduzir a cidade da Beira a uma circunscrição minúscula com o intuito de minorar os poderes de quem está à frente dos destinos daquela autarquia.

E aqueles que se sentem ofendidos em virtude desta medida tomada supostamente para reorganizar administrativamente o território em causa, não tardaram em mandar recados segundo os quais “nenhum tirano vai dividir a Beira”.

Até porque “se quiserem dar um passo nesta manobra dilatória não nos responsabilizaremos por qualquer atitude tomada pelos beirenses em repúdio e na resistência de medidas antidemocráticas”. Seja como for, facto é que o país não está em condições de gerir tantos conflitos cujo móbil é a ganância pela autoridade. Não queremos mais sangue.

O poder não se conquista com as armas nem a democracia se alcança à custa do sofrimento e do sangue dos outros. Trinta e nove anos depois da independência não queremos, de forma nenhuma, ser subjugados, tão-pouco queremos que nos recordem de que durantes 16 anos vocês andaram a mutilar e a exterminar gente indefesa lutando por uma democracia e uma paz de que estamos desprovidos.

Se, há poucos anos, a nossa preocupação era simplesmente gerir as ameaças da Renamo de regressar às matas, hoje, por ironia do destino, mas sobretudo por culpa nossa, tendemos a ser um país de gente que recorre à arruaça para fazer política. É assim, sim, em todos os lados, mas podemos ser diferentes e evitar esta cisão que está à espreita.

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