Verdade
(mz) - Editorial
As
diferenças de opiniões e a forma egocêntrica a que, nalgumas vezes, o Governo e
a Renamo recorrem para interpretar preceitos e acordos tendem a ser salientes.
Obviamente que, em vez de unanimidade, prevalece a discórdia e entra-se em rota
de cisão. Por conseguinte, a nossa relação como moçambicanos e como nação está
por um fio.
De
ameaça em ameaça, as partes beligerantes atingiram um estágio em que já não
basta um passo em falso para um atirar intencionalmente contra o outro, a
matar. A desconfiança em relação à falta de rectidão entre quem dirige a nação
e quem está na oposição é de tal sorte que se vive com os dedos no gatilho.
O
pior é que temos um Executivo que se gaba de ser aberto ao diálogo mas age de
forma contrária e permite que quem o elegeu sofra. Temos uma Renamo que se
vangloria de lutar pela paz e pela Democracia mas usa o povo para pressionar a
sua contraparte. E quando achávamos que isso bastava, eis que somos abalados
com pretensões de instalar tribos dentro de um território que há 39 anos
libertámos para ser uno e indivisível.
Por
um lado, a Renamo range os dentes e ameaça repartir o país a partir do Save.
Todavia, excepto um punhado que gente que se outorga a prerrogativa de mover um
conflito em nome de um povo que já não está interessado na guerra, o grosso dos
moçambicanos não quer nenhuma Frelimo a viver no seu espaço nem a “Perdiz” a
gerir nenhum centímetro com base em cânones tribais.
Por
outro lado, o Executivo, ignorando o facto de que o país já vive numa situação
idêntica à de uma barril de pólvora, e que qualquer passo em falso pode agravar
a desgraça e o martírio a que estamos sujeitos, não mediu esforços na escolha
dum momento impróprio para anunciar a sua apetência de reduzir a cidade da
Beira a uma circunscrição minúscula com o intuito de minorar os poderes de quem
está à frente dos destinos daquela autarquia.
E
aqueles que se sentem ofendidos em virtude desta medida tomada supostamente
para reorganizar administrativamente o território em causa, não tardaram em
mandar recados segundo os quais “nenhum tirano vai dividir a Beira”.
Até
porque “se quiserem dar um passo nesta manobra dilatória não nos
responsabilizaremos por qualquer atitude tomada pelos beirenses em repúdio e na
resistência de medidas antidemocráticas”. Seja como for, facto é que o país não
está em condições de gerir tantos conflitos cujo móbil é a ganância pela
autoridade. Não queremos mais sangue.
O
poder não se conquista com as armas nem a democracia se alcança à custa do
sofrimento e do sangue dos outros. Trinta e nove anos depois da independência
não queremos, de forma nenhuma, ser subjugados, tão-pouco queremos que nos
recordem de que durantes 16 anos vocês andaram a mutilar e a exterminar gente
indefesa lutando por uma democracia e uma paz de que estamos desprovidos.
Se,
há poucos anos, a nossa preocupação era simplesmente gerir as ameaças da Renamo
de regressar às matas, hoje, por ironia do destino, mas sobretudo por culpa
nossa, tendemos a ser um país de gente que recorre à arruaça para fazer
política. É assim, sim, em todos os lados, mas podemos ser diferentes e evitar
esta cisão que está à espreita.
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