Isabel
Moreira – Expresso, opinião
Há
duas visões conhecidas acerca das consequências dos resultados nas eleições
europeias. Para todos, a direita foi rejeitada. Para uma parte do PS houve uma
vitória espantosa, enquanto para outra parte do PS 31,5% não é a
"mudança" pedida por Seguro em todos os cartazes, pelo que se impõe
apoiar o gesto patriótico de António Costa em nome do futuro de Portugal.
As
referidas leituras são legítimas, esperando eu, quando optei sem quaisquer
dúvidas pelo apoio a António Costa, que Seguro fizesse o óbvio: que convocasse
um Congresso. Nada poderia ser apontado à iniciativa. Pelo contrário. Seguro
teria sido elogiado por ter honrado a tradição do PS democrático e sempre aberto
à discussão e à mudança quando assim o exigem as circunstâncias.
Não
foi o caso e a novela da interpretação estatutária iniciada por Seguro no
sentido oposto ao subitamente desconhecido princípio democrático, à lei e à
CRP, antes de esticarem o tempo de Seguro, inscrevem, pela sua mão, um tempo de
iluminismo desconhecido no maior partido da oposição.
É
por esse PS que o país anda esperando pacientemente. O maior partido da
oposição.
É
claro para o cidadão comum que Seguro não é alternativa a uma direita que
provocou estragos que fazem adivinhar anos de reparação. A alternativa não está
em Seguro por várias razões, que pesaram no humilhante e tristemente
inesquecível 31,5% de 25 de maio de 2014:
Seguro
é o SG do PS que, perante o primeiro OE deste Governo, quando era evidente o
início do desenho de um projeto de empobrecimento do país, absteve-se,
inaugurando as tristes "abstenções violentas" de um Partido que se
colocou ao centro quando a direita anunciava um programa a pedir
desesperadamente por um PS no seu lugar, à esquerda; Seguro é o SG que, através
da sua direção, se demarcou violentamente do pedido de fiscalização sucessiva
do OE de 2012, concretamente do corte de dois subsídios e de duas pensões,
pedido esse levado a cabo por 17 deputados do PS aliados com o BE, tendo o TC
declarado a inconstitucionalidade das normas em causa, o que tem de ser
sublinhado, porque, sem este acórdão, não teríamos tido os subsequentes; Seguro
é o SG que não percebeu que este era o Governo que afundaria um pilar fundamental
do PS, o fator e o valor "trabalho", pelo que se absteve
"violentamente" na votação do novo código do trabalho deste Governo
(bem me lembro os custos de ter votado contra); Seguro é o SG que perante
desigualdades gritantes só encontra um ponto para dar a mão ao Governo,
precisamente o campo do capital, do IRC, num acordo avulso sem um sinal de PS,
sem sinal de um património ideológico; Seguro é o SG que se bateu pelo tratado
orçamental como se fosse obra sua, tudo fazendo para que fosse tido por "disciplina
de voto", em vez de se demarcar, como socialista, daquele acordo
intergovernamental que nos convida agora à imaginação jurídica para que cumprir
o dito tratado não signifique incumprir um Regime que anda de mãos dadas com o
Estado social; Seguro, apesar de tantas e tantas vozes do PS e fora do PS, não
assume, sem medo, ou sem reservas, a necessidade de renegociação da dívida
pública.
Estas
e outras razões não desqualificam Seguro do ponto de vista pessoal,
naturalmente. Estamos a falar de política. E aquelas razões, politicamente,
desqualificam Seguro para representar a alternativa forte, urgente e de
esquerda que os portugueses mostraram querer ver emergir. Mas não pela sua mão.
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mais em expresso
Seguro diz que direita não conseguirá fazer revisão constitucional
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