domingo, 29 de junho de 2014

Portugal: POR UM PS DEMOCRÁTICO E AO SERVIÇO DO PAÍS



Isabel Moreira – Expresso, opinião

Há duas visões conhecidas acerca das consequências dos resultados nas eleições europeias. Para todos, a direita foi rejeitada. Para uma parte do PS houve uma vitória espantosa, enquanto para outra parte do PS 31,5% não é a "mudança" pedida por Seguro em todos os cartazes, pelo que se impõe apoiar o gesto patriótico de António Costa em nome do futuro de Portugal.

As referidas leituras são legítimas, esperando eu, quando optei sem quaisquer dúvidas pelo apoio a António Costa, que Seguro fizesse o óbvio: que convocasse um Congresso. Nada poderia ser apontado à iniciativa. Pelo contrário. Seguro teria sido elogiado por ter honrado a tradição do PS democrático e sempre aberto à discussão e à mudança quando assim o exigem as circunstâncias.

Não foi o caso e a novela da interpretação estatutária iniciada por Seguro no sentido oposto ao subitamente desconhecido princípio democrático, à lei e à CRP, antes de esticarem o tempo de Seguro, inscrevem, pela sua mão, um tempo de iluminismo desconhecido no maior partido da oposição.

É por esse PS que o país anda esperando pacientemente. O maior partido da oposição.

É claro para o cidadão comum que Seguro não é alternativa a uma direita que provocou estragos que fazem adivinhar anos de reparação. A alternativa não está em Seguro por várias razões, que pesaram no humilhante e tristemente inesquecível 31,5% de 25 de maio de 2014:

Seguro é o SG do PS que, perante o primeiro OE deste Governo, quando era evidente o início do desenho de um projeto de empobrecimento do país, absteve-se, inaugurando as tristes "abstenções violentas" de um Partido que se colocou ao centro quando a direita anunciava um programa a pedir desesperadamente por um PS no seu lugar, à esquerda; Seguro é o SG que, através da sua direção, se demarcou violentamente do pedido de fiscalização sucessiva do OE de 2012, concretamente do corte de dois subsídios e de duas pensões, pedido esse levado a cabo por 17 deputados do PS aliados com o BE, tendo o TC declarado a inconstitucionalidade das normas em causa, o que tem de ser sublinhado, porque, sem este acórdão, não teríamos tido os subsequentes; Seguro é o SG que não percebeu que este era o Governo que afundaria um pilar fundamental do PS, o fator e o valor "trabalho", pelo que se absteve "violentamente" na votação do novo código do trabalho deste Governo (bem me lembro os custos de ter votado contra); Seguro é o SG que perante desigualdades gritantes só encontra um ponto para dar a mão ao Governo, precisamente o campo do capital, do IRC, num acordo avulso sem um sinal de PS, sem sinal de um património ideológico; Seguro é o SG que se bateu pelo tratado orçamental como se fosse obra sua, tudo fazendo para que fosse tido por "disciplina de voto", em vez de se demarcar, como socialista, daquele acordo intergovernamental que nos convida agora à imaginação jurídica para que cumprir o dito tratado não signifique incumprir um Regime que anda de mãos dadas com o Estado social; Seguro, apesar de tantas e tantas vozes do PS e fora do PS, não assume, sem medo, ou sem reservas, a necessidade de renegociação da dívida pública.

Estas e outras razões não desqualificam Seguro do ponto de vista pessoal, naturalmente. Estamos a falar de política. E aquelas razões, politicamente, desqualificam Seguro para representar a alternativa forte, urgente e de esquerda que os portugueses mostraram querer ver emergir. Mas não pela sua mão.

Leia mais em expresso
Seguro diz que direita não conseguirá fazer revisão constitucional

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