quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cabo Verde: JORNALISTA “ATACA” ILHA DE SANTIAGO NO LA VANGUARDIA



A Semana (cv)

O jornalista Albert Lladó ataca a ilha de Santiago numa série de crónicas divulgadas entre os dias 5 e 9 deste mês de Agosto, no LaVanguardia.com - um periódico on-line Catalunha (Barcelona), Espanha. Albert, que é coordenador da secção de cultura daquela publicação, relata a sua viagem à ilha de Santiago, apontando contra os condutores de hiaces, que fazem o trajecto Praia-Assomada, questiona a morabeza cabo-verdiana e fala dos cães que deambulam pela praia do Tarrafal. Mas há quem afirme que essas "bocas", cada vez mais frequentes nos media estrangeiros contra o produto Cabo Verde não são tão ingénuas quanto parecem ser. Não haverá por trás uma poderosa máquina económica para descredibilizar à partida um eventual destino concorrencial? Afinal, este arquipélago está a despontar para o turismo e integra a lista dos países emergentes que terão mais procura de turistas nos próximos 10 anos. Factos que fazem de nós uma ameaça para as Canárias e para outros países. Por outro lado, estes artigos servem de recado às nossas gentes e sobretudo aos nossos governantes de que temos de melhorar a nossa oferta, cuidar os nossos hábitos e costumes. Sobretudo corrigir os erros em termos de saneamento, falta de regulação, disciplina e ordem. Porque, mesmo que esses comentários surjam de forma depreciativa e até racista, eles foram alimentados por factos verídicos, desse "jeitinho cabo-verdiano" onde até os cães fazem o que querem em lugares para gente: os turistas, o motor da nossa economia, como gosta de dizer o Ministro da Economia, Humberto Brito. Pena é que o turismo vai muito além das revistas pagas a preço de ouro em conchavos de amigos para ninguém ler.

Com o título “Cães e Jacarandá” (Perros e Jacarandá), o texto tornado público a 9 de Agosto descreve a passagem do jornalista pelo mercado do Sucupira, que seguia em direcção ao Tarrafal, interior de Santiago. Compara os condutores de hiaces a "assaltantes": "Chegámos de táxi, desde o hotel, mas agora a palavra mágica Tarrafal levantou todas as expectativas dos condutores. Assaltam o táxi directamente, recolhem-nos nos braços, e cada um nós estica para o seu carro. Durante os primeiros segundos não sabemos o que se passa, se nos querem assaltar ou matar-nos ali mesmo. Mas logo compreendemos que estamos a presenciar uma espécie de representação teatral. Insultam-se, acusam-se mutuamente de alta traição e tentam, usando todo tipo de argumentos, que façamos a viagem com eles".

O jornalista contesta a demora dos condutores em seguir a viagem: “não partirão até que tenham todos os passageiros - nove ou dez no mínimo. De facto, passa-se uma longa hora desde que nos sentamos no banco de trás até ao momento da partida. Os passageiros vão se somando - somos os únicos brancos nesta habitação dos irmãos Marx de quatro rodas – até se chegar a 24 pessoas enfrentando, juntas, cada desnível”. E espicaça: perante esta viagem, a montanha russa “Dragon Khan em Tarragona, Espanha, é para covardes."

Questiona a morabeza cabo-verdiana

Albert Lladó também duvida hospitalidade cabo-verdiana referindo-se particularmente ao Tarrafal, onde sentiu a indiferença das pessoas. "Por fim, depois de duas horas, chegamos. Um velho campo de concentração abandonado. Descemos na praça central, defronte de uma igreja branca e azul, e saboreamos alguns dos poucos gestos de morabeza – a presumível hospitalidade dos cabo-verdianos - que encontramos no caminho. De resto, uma indiferença que agradecemos com o melhor dos nossos sorrisos”, escreve ainda o jornalista, apontando para os cães que deambulam na praia.

“De surpresa apresenta-se a Baía do Tarrafal, a praia de areia branca de que tanto nos falaram. Os cães de Cabo Verde são os vagabundos mais felizes da Terra – aproximam-se com a única intenção de uma carícia. Quando se cansam de nós, chafurdam durante uns segundos na água e terminam a cerimónia lambuzando-se na areia. É a coreografia livre do animal livre”.

Termina o seu relato referindo-se a um outro artigo publicado a 5 de agosto - "Os meninos anfíbios” (Los niños anfíbios) - dedicado à cidade da Praia. Neste texto, fala das crianças da capital que “combinam o salto acrobático com a pesca a quatro mãos”, da Gamboa, a que “chama de praia longa e suja”, de um mercado no Palmarejo “que vende roupas de segunda mão e onde as moscas sussurram todos os seus segredos ”, “dos taxistas que lavam os carros na cidade”, entre outros assuntos que aborda sempre de forma cáustica.

Investida estratégica contra Cabo Verde

Analisando estes relatos há quem entenda que por trás destas críticas cada vez mais frequentes nos periódicos estrangeiros - do escritor Tony Park sobre São Vicente, do jornal francês sobre o grogue de Santo Antão e agora do Diário de Canárias sobre Santiago - está a tentativa de depreciar a imagem das ilhas de Cabo Verde.

O arquipélago desponta para o turismo e integra a lista dos países emergentes que terão mais procura de turistas nos próximos 10 anos, conforme noticiou em Junho, último, o diário britânico online Dailymail. Factos que fazem de Cabo Verde uma ameaça para as Canárias e outras regiões que têm no turismo o motor da sua economia: o arquipélago ocupa um lugar estratégico, tem estabilidade política e económica, está na lista dos países que promovem o respeito pelo meio ambiente, possui paisagens, clima e gastronomia únicos.

Por outro lado, estas "bocas" servem de recado às nossas gentes e sobretudo aos nossos governantes: É necessário deixar de fazer discursos para aquecer púlpitos, corrigir os erros e rentabilizar o nosso savoir faire. Apostar no que de bom e genuíno temos para oferecer - indústrias criativas, música, artes, morabeza, turismo de montanha, de sol e praia de habitação, infra-estruturas, saneamento, investir na saúde e educação e formação em línguas. Isto será o nosso diferencial.
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