A
Semana (cv)
O
jornalista Albert Lladó ataca a ilha de Santiago numa série de crónicas
divulgadas entre os dias 5 e 9 deste mês de Agosto, no LaVanguardia.com - um
periódico on-line Catalunha (Barcelona), Espanha. Albert, que é coordenador da
secção de cultura daquela publicação, relata a sua viagem à ilha de Santiago,
apontando contra os condutores de hiaces, que fazem o trajecto Praia-Assomada,
questiona a morabeza cabo-verdiana e fala dos cães que deambulam pela praia do
Tarrafal. Mas há quem afirme que essas "bocas", cada vez mais
frequentes nos media estrangeiros contra o produto Cabo Verde não são tão
ingénuas quanto parecem ser. Não haverá por trás uma poderosa máquina económica
para descredibilizar à partida um eventual destino concorrencial? Afinal, este
arquipélago está a despontar para o turismo e integra a lista dos países
emergentes que terão mais procura de turistas nos próximos 10 anos. Factos que
fazem de nós uma ameaça para as Canárias e para outros países. Por outro lado,
estes artigos servem de recado às nossas gentes e sobretudo aos nossos
governantes de que temos de melhorar a nossa oferta, cuidar os nossos hábitos e
costumes. Sobretudo corrigir os erros em termos de saneamento, falta de
regulação, disciplina e ordem. Porque, mesmo que esses comentários surjam de
forma depreciativa e até racista, eles foram alimentados por factos verídicos,
desse "jeitinho cabo-verdiano" onde até os cães fazem o que querem em
lugares para gente: os turistas, o motor da nossa economia, como gosta de dizer
o Ministro da Economia, Humberto Brito. Pena é que o turismo vai muito além das
revistas pagas a preço de ouro em conchavos de amigos para ninguém ler.
Com
o título “Cães e Jacarandá” (Perros e Jacarandá), o texto tornado público a 9
de Agosto descreve a passagem do jornalista pelo mercado do Sucupira, que
seguia em direcção ao Tarrafal, interior de Santiago. Compara os condutores de
hiaces a "assaltantes": "Chegámos de táxi, desde o hotel, mas
agora a palavra mágica Tarrafal levantou todas as expectativas dos condutores.
Assaltam o táxi directamente, recolhem-nos nos braços, e cada um nós estica
para o seu carro. Durante os primeiros segundos não sabemos o que se passa, se
nos querem assaltar ou matar-nos ali mesmo. Mas logo compreendemos que estamos
a presenciar uma espécie de representação teatral. Insultam-se, acusam-se
mutuamente de alta traição e tentam, usando todo tipo de argumentos, que
façamos a viagem com eles".
O
jornalista contesta a demora dos condutores em seguir a viagem: “não partirão
até que tenham todos os passageiros - nove ou dez no mínimo. De facto, passa-se
uma longa hora desde que nos sentamos no banco de trás até ao momento da
partida. Os passageiros vão se somando - somos os únicos brancos nesta
habitação dos irmãos Marx de quatro rodas – até se chegar a 24 pessoas
enfrentando, juntas, cada desnível”. E espicaça: perante esta viagem, a
montanha russa “Dragon Khan em Tarragona, Espanha, é para covardes."
Questiona
a morabeza cabo-verdiana
Albert
Lladó também duvida hospitalidade cabo-verdiana referindo-se particularmente ao
Tarrafal, onde sentiu a indiferença das pessoas. "Por fim, depois de duas
horas, chegamos. Um velho campo de concentração abandonado. Descemos na praça
central, defronte de uma igreja branca e azul, e saboreamos alguns dos poucos
gestos de morabeza – a presumível hospitalidade dos cabo-verdianos - que
encontramos no caminho. De resto, uma indiferença que agradecemos com o melhor
dos nossos sorrisos”, escreve ainda o jornalista, apontando para os cães que
deambulam na praia.
“De
surpresa apresenta-se a Baía do Tarrafal, a praia de areia branca de que tanto
nos falaram. Os cães de Cabo Verde são os vagabundos mais felizes da Terra –
aproximam-se com a única intenção de uma carícia. Quando se cansam de nós,
chafurdam durante uns segundos na água e terminam a cerimónia lambuzando-se na
areia. É a coreografia livre do animal livre”.
Termina
o seu relato referindo-se a um outro artigo publicado a 5 de agosto - "Os
meninos anfíbios” (Los niños anfíbios) - dedicado à cidade da Praia. Neste
texto, fala das crianças da capital que “combinam o salto acrobático com a
pesca a quatro mãos”, da Gamboa, a que “chama de praia longa e suja”, de um
mercado no Palmarejo “que vende roupas de segunda mão e onde as moscas
sussurram todos os seus segredos ”, “dos taxistas que lavam os carros na
cidade”, entre outros assuntos que aborda sempre de forma cáustica.
Investida
estratégica contra Cabo Verde
Analisando
estes relatos há quem entenda que por trás destas críticas cada vez mais
frequentes nos periódicos estrangeiros - do escritor Tony Park sobre São
Vicente, do jornal francês sobre o grogue de Santo Antão e agora do Diário de
Canárias sobre Santiago - está a tentativa de depreciar a imagem das ilhas de
Cabo Verde.
O
arquipélago desponta para o turismo e integra a lista dos países emergentes que
terão mais procura de turistas nos próximos 10 anos, conforme noticiou em
Junho, último, o diário britânico online Dailymail. Factos que fazem de Cabo
Verde uma ameaça para as Canárias e outras regiões que têm no turismo o motor
da sua economia: o arquipélago ocupa um lugar estratégico, tem estabilidade
política e económica, está na lista dos países que promovem o respeito pelo
meio ambiente, possui paisagens, clima e gastronomia únicos.
Por
outro lado, estas "bocas" servem de recado às nossas gentes e
sobretudo aos nossos governantes: É necessário deixar de fazer discursos para
aquecer púlpitos, corrigir os erros e rentabilizar o nosso savoir faire.
Apostar no que de bom e genuíno temos para oferecer - indústrias criativas,
música, artes, morabeza, turismo de montanha, de sol e praia de habitação,
infra-estruturas, saneamento, investir na saúde e educação e formação em línguas. Isto será o
nosso diferencial.
____
Veja
aqui “Perros e Jacarandá: http://blogs.lavanguardia.com/la-fabrica/perros-y-jacaranda-29066#more-1194
E
“Los niños anfíbios”: http://blogs.lavanguardia.com/la-fabrica/los-ninos-anfibios-36733
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