O dote para
impingir a noiva é de quatro mil milhões
Paulo Chitas – Visão,
opinião
Era inevitável. Uma
família controlava um banco que usava para financiar outros negócios. Estes
davam prejuízo mas a torneira nunca se fechava porque tinham a chave do cofre.
O dinheiro não era deles: era dos clientes da instituição. Mas este era um banco
escravo - só fazia e financiava o que os seus principais donos queriam. Algumas
famílias dizem-se reféns da banca - este era um banco refém de uma família.
O banco era como
uma loja de guloseimas. Um dia (quarta-feira, 30 de julho) percebeu-se que os
frascos com os doces e os chocolates estavam vazios. Foram entregues aos
filhos, aos primos, aos sobrinhos e ao próprio dono da loja para organizarem
uma festa. Esperavam que esta fosse um sucesso mas a sala ficou vazia. Por
isso, não conseguiram pagar as contas. Como o prejuízo da festa foi muito
grande, ainda tiveram de ir às prateleiras buscar mais guloseimas para pagar o
que faltava saldar. Quando se vez o inventário, as prateleiras estavam vazias.
O gato tinha ido às filhós.
Os interessados em
comprar uma parte da loja já não queriam pagar por ela o que valia mas já não
vale. Embora tivesse uma bonita montra verde virada para a rua principal,
perdeu metade do valor em menos de um minuto. Nos quatro meses em que se foi
sabendo que de arromba a festa passou a rombo, o valor da loja caiu 85%. Se
antes o dono a trocaria por uma mansão em Cascais, com jardim, criados e muitos
quartos, agora nem por uma cabana de montanha. Talvez desse para um abrigo de
pescadores nas praias de Grândola, de pobrezinhos.
Diz o presidente da
associação de lojas de guloseimas que há interessados na loja. Mandou geri-la
por um dos seus e quer pô-la à venda para ver o que se salva. É preciso pagar o
açúcar, as amêndoas, os ovos e a baunilha aos fornecedores. Uma instituição
assim, que durante tantos anos produziu, distribuiu e vendeu as mais doces
guloseimas do país, e até da Suíça, do Luxemburgo e de Angola, não pode morrer
inglória. E não pode arrastar consigo os fornecedores, os distribuidores, os
que pagaram as encomendas mas nunca viram as guloseimas sobre a mesa. E a loja tem
uma montra verde muito bonita.
Mas quererá alguém
comprá-la? Não é como aquela noiva vestida com as mais belas sedas mas com
joanetes pontiagudos a deformarem o sapato? Sob o belo chapéu de penas não vai
ela careca? Consegue a maquilhagem esconder a verruga no lábio superior? Ou as
luvas as unhas sujas?
O presidente da
associação diz que sim, que há pretendentes. Mas o Silva, modesto e pouco
habituado a guloseimas à sua mesa, não é parvo: suspeita que aquela noiva
ninguém vai querer. O dote para a impingir é tão grande - quatro mil milhões,
diz-se na rua. Como se vai tanto dinheiro juntar? Só se o povo se coletar pois
tão grande maquia é difícil de arranjar. Mas como pedir aos que nunca provaram
tais iguarias, que as paguem? Talvez dizendo que é um desígnio nacional, pois
um país não pode ficar com uma noiva assim.
Moral da história:
a loja tem uma montra verde muito bonita que dá para a rua principal.
*artigo de opinião em Visão de 1 de Agosto 2014
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