Mário
Soares – Diário de Notícias, opinião
Os
portugueses, na sua esmagadora maioria, estão convencidos de que o atual
governo está no fim. As sondagens mostram que António Costa é de longe o
político mais querido dos portugueses. E é um socialista convicto perante um
governo sem ideais políticos, que não tem nada que ver com o PSD de Sá Carneiro
nem com o CDS de Freitas do Amaral.
É
um governo sem valores nem ideais políticos, para o qual o que conta é o
dinheiro. Por isso, obedece à troika, por sua vez dominada pelos grandes
magnatas económicos americanos. É certo que a crise que Portugal tem sofrido
começou na Irlanda, passou para a Grécia e só depois chegou a Portugal. E que
foi a austeridade imposta pela senhora Merkel, que embrulhou tudo na União
Europeia e ainda hoje, infelizmente, continua intacta em Portugal. A verdade é
que enquanto a austeridade existir nada pode melhorar na União Europeia.
Mario
Draghi, presidente do Banco Central Europeu - de que é segundo responsável o
nosso muito inteligente Vítor Constâncio -, tem feito o que pode para ajudar os
países europeus que mais têm sofrido com a austeridade. Com razão. Porque, como
disse Sua Santidade o Papa Francisco, a austeridade mata. Mas a senhora Merkel
insiste na austeridade e talvez, por isso, esteja hoje em decadência, sem que
lhe comprem os seus produtos. Porquê? Porque os Estados obrigados à austeridade
não têm dinheiro para os comprar...
A
senhora Merkel ainda quis negociar com a Rússia de Putin, mas com a guerra da
Ucrânia deixou de o poder fazer. E a Alemanha está hoje numa situação muito
difícil. É certo que a União Europeia está também em grandes dificuldades. Mas,
note-se, os seus dirigentes estão à beira de ser substituídos, como é o caso de
Durão Barroso, e portanto tudo vai mudar. Os representantes dos partidos que
estão no Parlamento Europeu sublinham a necessidade de participação dos
partidos, alguns de direita, mas também socialistas e sociais--democratas e
outros, infelizmente poucos, democratas-cristãos.
Só
com gente séria é que se pode acreditar nos partidos referidos e a crise da
União Europeia pode passar, com o auxílio americano, e voltar a ser o que foi.
Bem como o euro. É o que começa a ser percebido na Suécia, por exemplo, que
voltou a ser social-democrata, embora ainda minoritária. Noutros países, como a
Itália dirigida pelo presidente Napolitano, a França do primeiro-ministro Renzi
e, embora tenha grandes dificuldades, a Espanha do socialista Pedro Sanchez,
líder muito inteligente do PSOE, a Grécia, onde o atual líder é de direita mas
tem estado contra a austeridade, e - diga-se - Portugal, com a esmagadora
vitória do socialista António Costa, que, segundo as sondagens da Universidade
Católica, representa 45% das intenções de voto nas próximas eleições
legislativas.
O
mundo, contudo, vai de mal a pior e em todos os continentes há guerras
terríveis. Como nunca. Como se sabe, os grandes magnatas económicos americanos,
que têm vivido do petróleo, extraído a grandes profundidades, pondo em causa os
oceanos, descobriram que a exploração de petróleo e de gás tinha menos importância
e valor dada a exploração de gás extraído do xisto. Daí que a produção de
petróleo, cujo preço também baixou em Portugal e, particularmente, em Angola, o
que é grave para toda a lusofonia. É óbvio que a União Europeia tem de mudar a
breve prazo e os seus antigos líderes serão substituídos por outros, creio, bem
melhores. Tudo isso se vai refletir em Portugal como nos outros 27 Estados da
União Europeia.
Nessa
perspetiva é que António Costa, o líder socialista português (e o mais votado
de todos os partidos), vai na próxima eleição, se não for antes, como devia,
eliminar o atual governo, cuja coligação se odeia entre si, como todos os dias
os jornais mostram. No entanto, o Presidente da República, que fala o menos
possível, fará tudo para manter Passos Coelho no poder, enquanto for possível.
Mas que poder, quando o governo está paralisado em absoluto e não tem qualquer
ideia nova para mudar a situação crítica em que se encontra? Em particular, em
relação ao caso BES, que só confunde, e ao Banco de Portugal, que só faz
disparates e dos mais graves.
Cada
vez há mais pobreza e desemprego e o desentendimento entre os ministros do
partido positivista de Passos Coelho e o do viajante Paulo Portas é uma
constante. Como se sabe, não se entendem e estão à espera do dia em que se
demitam, como já alguns secretários de Estado começaram a fazer. Para quê? Para
nada. Portugal está desertificado no Interior e o Litoral está mal e ficará
ainda pior no final do ano. Os meses que vão correr até dezembro vão ser muitíssimo
duros. Assim se destrói um país com oito séculos de história, em que os
chineses querem mandar...
PS:
Faleceu há dias o intendente Baltazar Ferreira, que durante dez anos, em que
fui presidente da República, dirigiu a segurança da Presidência da República.
Foi sempre uma pessoa extremamente amável, que nunca magoou ninguém, em
especial os que estavam sob a sua direta dependência, bem pelo contrário. Por
isso tanta gente esteve na sua despedida, que tanto me custou, apesar de o ter
visitado já bastante doente.
PS
2: Baptista-Bastos, um grande jornalista, sempre atento ao que se passa de mal
no nosso país, foi infelizmente afastado. Lamento muito, porque sempre o
considerei um grande valor e tenho muita admiração por ele.
PS
3: Não sendo religioso, tenho seguido com muita atenção tudo o que tem
defendido o grande Papa Francisco. É alguém que tem vindo a dar à Igreja um
novo rumo de grande importância. Nos últimos dias bem o demonstrou, com a
abertura de espírito que sempre se tem imposto.
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