quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Professores de português em Macau com "baixo nível de proficiência" - académica




Macau, China, 23 out (Lusa) - A académica Maria José Grosso considerou hoje que os professores chineses que ensinam português em Macau têm um "baixo nível de proficiência" e ensinam a língua com métodos desatualizados, durante um debate na Universidade de São José em Macau.

A professora da Universidade de Lisboa e da Universidade de Macau participou num debate sobre "Políticas da Lusofonia, Políticas da Língua", integrado numa conferência de dois dias em torno da Lusofonia.

Traçando um cenário sobre a situação e as dificuldades do ensino da língua portuguesa em Macau, Maria José Grosso alertou para o "baixo nível de proficiência dos professores" que não têm o português como língua materna.

"Infelizmente, muitas vezes a proficiência dos professores não é de facto das mais altas. Eu própria assisti a casos em que um professor pronunciava uma palavra mal e escrevia também mal no quadro, [palavra] que as crianças copiavam", descreveu.

Além desta dificuldade, a académica chamou também a atenção para os métodos de ensino usados no território que "já são considerados pouco motivantes" e que "muitas vezes têm que ver com a representação que esse professor tem do que é aprender uma língua".

"A competência científica e pedagógica insuficiente dos professores faz com que, consequentemente, não saibam utilizar ou selecionar os materiais em português postos à disposição", alertou.

Também a gramática é ensinada não tendo em conta "a experiência linguística da criança, a sua língua materna", disse a professora.

Como resultado, as crianças e jovens de Macau "têm uma proficiência deficiente na escrita e na oralidade", com especial evidência na expressão escrita, e a língua, que é uma das duas oficiais no território, "é geralmente limitada à sala de aula".

Agendado para participar no debate estava Carlos André, diretor do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau, que acabou por não poder comparecer, mas fez-se ouvir através de uma comunicação escrita lida pela professora Rosa Bizarro.

As características do ensino em Macau foram também alvo de críticas, desta vez também dirigidas aos professores portugueses, com o académico a sublinhar que "não basta ser português e ter formação superior" para ensinar o idioma. "O ensino como língua estrangeira é um domínio de especialização. A lusofonia deve ter especialistas nessa área. Quantos existem em Macau? Certamente muito poucos", referiu.

Carlos André destacou que o Governo de Macau "tem feito bastante pela língua portuguesa", mas que "é a Portugal que esse papel cabe".

Na sua comunicação, o académico defendeu que uma "política da língua" deve ir além da simples oferta do seu ensino em diferentes instituições - o que já acontece em Macau.

"É preciso um estudo de mercado competente, que permitisse saber qual é o interesse pelo português nos diferentes grupos etários, que tipo de português se procura, qual o nível de proficiência linguística de quem comanda o português", explicou.

Só com este tipo de informação apurada será possível "definir políticas da língua, o corpo docente, material a utilizar e objetivos".

ISG // VM - Lusa

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