Macau,
China, 23 out (Lusa) - A académica Maria José Grosso considerou hoje que os
professores chineses que ensinam português em Macau têm um "baixo nível de
proficiência" e ensinam a língua com métodos desatualizados, durante um
debate na Universidade de São José em Macau.
A
professora da Universidade de Lisboa e da Universidade de Macau participou num
debate sobre "Políticas da Lusofonia, Políticas da Língua", integrado
numa conferência de dois dias em torno da Lusofonia.
Traçando
um cenário sobre a situação e as dificuldades do ensino da língua portuguesa em
Macau, Maria José Grosso alertou para o "baixo nível de proficiência dos
professores" que não têm o português como língua materna.
"Infelizmente,
muitas vezes a proficiência dos professores não é de facto das mais altas. Eu
própria assisti a casos em que um professor pronunciava uma palavra mal e
escrevia também mal no quadro, [palavra] que as crianças copiavam",
descreveu.
Além
desta dificuldade, a académica chamou também a atenção para os métodos de
ensino usados no território que "já são considerados pouco
motivantes" e que "muitas vezes têm que ver com a representação que
esse professor tem do que é aprender uma língua".
"A
competência científica e pedagógica insuficiente dos professores faz com que,
consequentemente, não saibam utilizar ou selecionar os materiais em português
postos à disposição", alertou.
Também
a gramática é ensinada não tendo em conta "a experiência linguística da
criança, a sua língua materna", disse a professora.
Como
resultado, as crianças e jovens de Macau "têm uma proficiência deficiente
na escrita e na oralidade", com especial evidência na expressão escrita, e
a língua, que é uma das duas oficiais no território, "é geralmente
limitada à sala de aula".
Agendado
para participar no debate estava Carlos André, diretor do Centro Pedagógico e
Científico de Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau, que acabou por
não poder comparecer, mas fez-se ouvir através de uma comunicação escrita lida
pela professora Rosa Bizarro.
As
características do ensino em Macau foram também alvo de críticas, desta vez
também dirigidas aos professores portugueses, com o académico a sublinhar que
"não basta ser português e ter formação superior" para ensinar o
idioma. "O ensino como língua estrangeira é um domínio de especialização.
A lusofonia deve ter especialistas nessa área. Quantos existem em Macau?
Certamente muito poucos", referiu.
Carlos
André destacou que o Governo de Macau "tem feito bastante pela língua
portuguesa", mas que "é a Portugal que esse papel cabe".
Na
sua comunicação, o académico defendeu que uma "política da língua"
deve ir além da simples oferta do seu ensino em diferentes instituições - o que
já acontece em Macau.
"É
preciso um estudo de mercado competente, que permitisse saber qual é o
interesse pelo português nos diferentes grupos etários, que tipo de português
se procura, qual o nível de proficiência linguística de quem comanda o
português", explicou.
Só
com este tipo de informação apurada será possível "definir políticas da
língua, o corpo docente, material a utilizar e objetivos".
ISG
// VM - Lusa
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