segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Angola: CASA-CE REALIZOU MANIFESTAÇÃO EM LUANDA SEM INCIDENTES




O primeiro aniversário da morte de um dirigente da oposição angolana, atingindo a tiro por elementos da Unidade Guarda Presidencial (UGP), foi hoje assinalado em Luanda com uma marcha de protesto que decorreu sem incidentes conhecidos.

Escoltada por elementos policiais, a marcha envolveu várias dezenas de pessoas, entre dirigentes políticos, ativistas e população, e culminou no cemitério de Santana, arredores de Luanda, ao fim de mais de uma hora, sem incidentes, conforme descreveram à Lusa vários participantes.

Manuel Hilberto Ganga, dirigente da coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), foi abatido com um tiro a 23 de novembro de 2013 ao fugir a uma ordem de detenção, por alegadamente ter sido surpreendido a violar o perímetro de segurança da Presidência da República, na versão da própria polícia angolana.

No total, oito militantes daquele partido, com assento parlamentar, foram detetados por efetivos da UGP quando colavam cartazes de protesto contra o rapto e homicídio de dois ex-militares, em maio de 2012 - caso ocorrido em Luanda e que está a ser julgado desde setembro -, quando tentavam organizar uma manifestação antigovernamental.

A marcha de hoje terminou já ao início da tarde, com a deposição de uma coroa de flores na campa de Ganga, por dirigentes da CASA-CE, perante a exigência de "Justiça" por parte dos participantes.

Depoimento de Pedrowski Teca sobre a marcha de protesto de hoje

A marcha decorreu de forma ordeira, mas sob um clima bastante tenso, onde o Secretário Geral da JPA chegou a me alertar que os policiais e bófias estavam a procura de razões para caírem por cima de nós e abortarem o evento, e que não devíamos dar motivos. Alguns manos e a mana Laurinda vieram até a mim se queixar que há notícias de que mandaram prender os revús. Informação que achei incorrecto. Os revús animaram a marcha com toda força, e posso dizer que o que fomos impedidos de fazer ontem no Largo da Independência, a polícia teve que nos aturar hoje com muitas das nossas palavras de ordem, como: "UGP ganha bem, a polícia ganha mal; a polícia é do povo, não é do MPLA; primeiro o angolano, segundo o angolano, angolano sempre", etc.

Depois da deposição das flores no túmulo de Manuel de Carvalho Hilbert Ganga pelo presidente da CASA-CE, o líder da bancada parlamentar da CASA-CE exortou a todos para que ignorassem as provocações dos agentes de segurança e que fossemos directo para casa.

No lado de fora do cemitério, alguns manos trocavam idéias na questão de dar continuidade da manifestação que foi convocada para os dias 22 e 23. A conclusão que se chegou aí, é que não mais haveria manifestação hoje (assim fui informado).

Sai com o Adolfo Campos, Nito Alves e Nuno Álvaro. Eu na motorizada e eles no carro do Adolfo, quando passamos pelo Largo da Independência que estava fortemente policiado e o agente Kiala da Unidade Operativa de Luanda, que coordenava a operação, reconheceu o Adolfo Campos no volante e mandou parar. Vendo ele a se aproximar do carro do Adolfo, parei a moto e fui para lá. Já nos conhecendo em pancadas nas manifestações, nós até temos a ousadia de rir e fazer piadas com ele. Perguntou ao Adolfo onde íamos e o Adolfo respondeu que íamos para a Cidade Alta, já que o Largo estava vedado. Rimos. E ele disse que éramos malucos. Estando eu e ele no lado de fora, o agente se afastou quando tentei lhe dar a mão, cumprimentando. Rimos outra vez porque eu lhe disse que não tinha ébola. Notei que outros policias no Largo começaram a olhar em nós a rir com o chefe deles. Diante de advertências e risos, decidimos partir porque a situação no Largo estava bastante perigosa. O agente até perguntou se haveria manifestação aí hoje e nós lhe dissemos que podiam ficar descanso que do nosso lado não haveria nada. Assim que o Adolfo decide arrancar devagar, comecei a caminhar para a motorizada, quando o agente Kiala pegou no motoriza e começou a dizer: "estão num carro de marca... E matricula..."; Acelerei a moto e aviseis ao Adolfo, Nuno e Álvaro que o agente comunicou pela rádio a matricula do carro, e talvez também da minha motorizada. Voltamos a rir porque concluímos que assim estariam a nossa espera na Cidade Alta. Fomos ao Alvalade e depois nos dispersamos: o Adolfo foi com os manos e eu fui para casa.

Agora, compartilho está informação do Rid Miguel afirmando que estava nos arredores do Largo e ferido, enquanto a Laurinda e um Baixa de Kassanje estavam presos. Acredito talvez que estavam de passagem e que foram interpelados, mas a realidade é que qualquer jovem que passassem hoje pelo Largo, era identificado, caso os agentes do regime suspeitasse de ser um manifestante.

Por seu lado, os professores do ensino básico e médio estiveram em massa numa contramanifestação convocada pelo Governo e a juventude do MPLA também saiu às ruas ontem em alusão à sua data que se assinala no dia 23 deste mês.

Lusa, em Angola 24 Horas

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