O
primeiro aniversário da morte de um dirigente da oposição angolana, atingindo a
tiro por elementos da Unidade Guarda Presidencial (UGP), foi hoje assinalado em
Luanda com uma marcha de protesto que decorreu sem incidentes conhecidos.
Escoltada
por elementos policiais, a marcha envolveu várias dezenas de pessoas, entre
dirigentes políticos, ativistas e população, e culminou no cemitério de
Santana, arredores de Luanda, ao fim de mais de uma hora, sem incidentes,
conforme descreveram à Lusa vários participantes.
Manuel
Hilberto Ganga, dirigente da coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação
de Angola (CASA-CE), foi abatido com um tiro a 23 de novembro de 2013 ao fugir
a uma ordem de detenção, por alegadamente ter sido surpreendido a violar o
perímetro de segurança da Presidência da República, na versão da própria
polícia angolana.
No
total, oito militantes daquele partido, com assento parlamentar, foram
detetados por efetivos da UGP quando colavam cartazes de protesto contra o
rapto e homicídio de dois ex-militares, em maio de 2012 - caso ocorrido em
Luanda e que está a ser julgado desde setembro -, quando tentavam organizar uma
manifestação antigovernamental.
A
marcha de hoje terminou já ao início da tarde, com a deposição de uma coroa de
flores na campa de Ganga, por dirigentes da CASA-CE, perante a exigência de
"Justiça" por parte dos participantes.
Depoimento
de Pedrowski Teca sobre a marcha de protesto de hoje
A
marcha decorreu de forma ordeira, mas sob um clima bastante tenso, onde o
Secretário Geral da JPA chegou a me alertar que os policiais e bófias estavam a
procura de razões para caírem por cima de nós e abortarem o evento, e que não
devíamos dar motivos. Alguns manos e a mana Laurinda vieram até a mim se
queixar que há notícias de que mandaram prender os revús. Informação que achei
incorrecto. Os revús animaram a marcha com toda força, e posso dizer que o que
fomos impedidos de fazer ontem no Largo da Independência, a polícia teve que
nos aturar hoje com muitas das nossas palavras de ordem, como: "UGP ganha
bem, a polícia ganha mal; a polícia é do povo, não é do MPLA; primeiro o
angolano, segundo o angolano, angolano sempre", etc.
Depois
da deposição das flores no túmulo de Manuel de Carvalho Hilbert Ganga pelo
presidente da CASA-CE, o líder da bancada parlamentar da CASA-CE exortou a
todos para que ignorassem as provocações dos agentes de segurança e que
fossemos directo para casa.
No
lado de fora do cemitério, alguns manos trocavam idéias na questão de dar
continuidade da manifestação que foi convocada para os dias 22 e 23. A conclusão que se chegou
aí, é que não mais haveria manifestação hoje (assim fui informado).
Sai
com o Adolfo Campos, Nito Alves e Nuno Álvaro. Eu na motorizada e eles no carro
do Adolfo, quando passamos pelo Largo da Independência que estava fortemente
policiado e o agente Kiala da Unidade Operativa de Luanda, que coordenava a
operação, reconheceu o Adolfo Campos no volante e mandou parar. Vendo ele a se
aproximar do carro do Adolfo, parei a moto e fui para lá. Já nos conhecendo em
pancadas nas manifestações, nós até temos a ousadia de rir e fazer piadas com
ele. Perguntou ao Adolfo onde íamos e o Adolfo respondeu que íamos para a
Cidade Alta, já que o Largo estava vedado. Rimos. E ele disse que éramos
malucos. Estando eu e ele no lado de fora, o agente se afastou quando tentei
lhe dar a mão, cumprimentando. Rimos outra vez porque eu lhe disse que não
tinha ébola. Notei que outros policias no Largo começaram a olhar em nós a rir
com o chefe deles. Diante de advertências e risos, decidimos partir porque a
situação no Largo estava bastante perigosa. O agente até perguntou se haveria
manifestação aí hoje e nós lhe dissemos que podiam ficar descanso que do nosso
lado não haveria nada. Assim que o Adolfo decide arrancar devagar, comecei a
caminhar para a motorizada, quando o agente Kiala pegou no motoriza e começou a
dizer: "estão num carro de marca... E matricula..."; Acelerei a moto
e aviseis ao Adolfo, Nuno e Álvaro que o agente comunicou pela rádio a
matricula do carro, e talvez também da minha motorizada. Voltamos a rir porque
concluímos que assim estariam a nossa espera na Cidade Alta. Fomos ao Alvalade
e depois nos dispersamos: o Adolfo foi com os manos e eu fui para casa.
Agora,
compartilho está informação do Rid Miguel afirmando que estava nos arredores do
Largo e ferido, enquanto a Laurinda e um Baixa de Kassanje estavam presos.
Acredito talvez que estavam de passagem e que foram interpelados, mas a
realidade é que qualquer jovem que passassem hoje pelo Largo, era identificado,
caso os agentes do regime suspeitasse de ser um manifestante.
Por
seu lado, os professores do ensino básico e médio estiveram em massa numa
contramanifestação convocada pelo Governo e a juventude do MPLA também saiu às
ruas ontem em alusão à sua data que se assinala no dia 23 deste mês.
Lusa,
em Angola 24 Horas
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