Igor Siletsky – Voz da
Rússia
Reforçar
ou cancelar? A União Europeia tem cada vez mais dificuldade em decidir o que
fazer com as sanções impostas à Rússia. Os ministros das Relações Exteriores
dos países da UE irão debater esse assunto no dia 17 de outubro.
Por
um lado, Bruxelas é pressionado por Washington, o qual exige a tomada de cada
vez mais medidas contra a Rússia. Por outro lado, os empresários europeus já
não estão mais dispostos a apoiar medidas que resultam em prejuízos
bilionários. Os analistas já classificam essas medidas sancionatórias como
“chantagem política”.
A
chefe da diplomacia da União Europeia Federica Mogherini está convencida de que
as sanções atingiram seu objetivo: a economia russa “sofre prejuízos”. Já a
chanceler da Alemanha não quis comentar a eficácia das medidas tomadas contra a
Rússia. Na opinião de Angela Merkel não é preciso introduzir novas sanções, mas
as que já estão em vigor podem ainda ficar. Mas já é tempo de aumentar a “lista
negra” dos cidadãos russos proibidos de entrar no espaço europeu.
Washington
reconhece a contragosto que as restrições econômicas impostas à Rússia não
deram os resultados esperados. O secretário de Estado dos EUA John Kerry apelou
mesmo aos países ocidentais para que comecem restabelecendo relações com a
Rússia.
Contudo
isso ainda não passa de palavras bonitas – a Casa Branca não pretende desistir
de sua tática, porque Washington não sofre prejuízos resultantes das sanções e
das medidas de resposta da Rússia. O mesmo não pode ser dito em relação à União
Europeia. Desde o início de toda esta aventura sancionatória que Washington
teve como objetivo romper os laços econômicos entre a Rússia e a União Europeia
e atrair a UE para a parceria transatlântica.
Os
empresários europeus estão insatisfeitos com as sanções e suas consequências e
insistem numa revisão dessa política. O grupo de empresas alemão SMS já deu a
entender a Angela Merkel que se isto continuar eles deixarão de financiar o
partido dela. Já há alguns países como a Finlândia, por exemplo, que exigem uma
indenização pelos prejuízos.
Recordemos
que, como resposta às sanções, Moscou fechou o mercado russo a alguns tipos de
produtos europeus, tendo introduzido uma política de substituição das
importações. Assim, os prejuízos na Europa são significativos: segundo calculou
o conselheiro do presidente da Rússia para a integração eurasiática Serguei
Glaziev, o montante poderá atingir um trilhão de euros.
Na
Alemanha os empresários também calcularam o prejuízo previsível. A fração de
esquerda no Bundestag (parlamento alemão) propôs uma resolução para o
levantamento das sanções, que prejudicam os agricultores de toda a União
Europeia. Contudo, apesar do constante aumento dessas pressões, não devemos
esperar a curto prazo uma revisão dessas políticas em relação à Rússia, considera
o analista político francês Xavier Moreau:
“Eu
penso que na União Europeia haverá países que irão se recusar a manter as
sanções. Mas entretanto os EUA utilizam-nos para construir um muro entre a
Rússia e o resto da Europa. A Alemanha quer controlar a Europa e para isso é
preciso controlar a Ucrânia. O movimento Maidan também fazia parte do plano
deles. Não devemos esquecer que Guido Westerwelle, que na altura era o ministro
das Relações Exteriores, esteve no Maidan. Quanto aos EUA, o objetivo deles é
impedir a construção de uma nova Europa, de estruturas econômicas e de
estruturas de segurança com a Rússia.”
Na
opinião do analista, essa posição tão rígida irá provocar uma maior divisão na
União Europeia e acabará por destruí-la. As vozes dos eurocéticos se ouvem cada
vez mais alto a cada ano que passa. Num contexto em que os pequenos países são
obrigados a votar favoravelmente decisões que lhes são desfavoráveis, somos
obrigados a ponderar: cumprir os desejos do “Grande Irmão” ou defender os interesses
do seu próprio país?
Em
geral, nessa história da Ucrânia a União Europeia, ao seguir os ditames de
Washington, acabou por encurralar a si própria. Bruxelas não pode recuar: isso
seria como assinar uma declaração de arrependimento. Nesse caso teria de se
reconhecer que na Ucrânia ocorreu um golpe de Estado e que o poder em Kiev não
está afinal ocupado por democratas que apreciam os valores europeus.
Imagem: Colagem Voz da Rússia
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