Verdade
(mz) - Editorial
Na
manhã de 11 de Novembro corrente, um grupo de curiosos assistiu, impávido e
sereno, ao abate de quatro elefantes subitamente vistos a vaguear no canavial
da açucareira Tongaat Hulett, no posto administrativo de Xinavane, na província
de Maputo. As circunstâncias em que tal situação abominável aconteceu deixaram
a nu o despreparo de que as comunidades ainda padecem com vista a liderar a
luta contra a caça ilegal de paquidermes, rinocerontes, leões e outros animais
protegidos por lei, mas ameaçados de extinção.
Com
uma população como aquela que testemunhou a morte de um casal de elefantes e as
suas crias e nada pôde fazer para evitar a tragédia, fica claro que o país não
está em condições de reduzir a caça furtiva nem assegurar que não sejam as
próprias comunidades a envolverem-se na morte destas espécies. O sinal de que
perdemos a batalha contra este mal é que os malfeitores agem a seu bel-prazer e
ninguém denuncia, mesmo a população que se esperava que fosse proactiva.
A
nossa expectativa e de milhares de pessoas que, pese embora a hegemonia dos
caçadores ilegais, incansavelmente buscam maneiras de conter com visibilidade o
extermínio de paquidermes e rinocerontes, era de alguém da comunidade pedisse o
apoio de autoridades quando se apercebeu da presença aqueles elefantes. Numa
altura em que os apelos para a protecção destes e outros animais se propagam de
“forma sísmica”, não se percebe como é que uma comunidade consentiu uma
barbaridade como aquela.
Desta
forma, obviamente, os níveis críticos de caça ilegal de elefantes vão persistir
em Moçambique porque a população não está ainda preparada para estancar este
mal, e parece que nem está interessada no assunto. As autoridades e as
organizações da sociedade civil pecam, também, porque falam bastante sobre o
problema e assinam diferentes memorandos com um só denominador, “combater a
caça furtiva”, mas não apostam na educação das comunidades para o efeito. Por
este andar, corremos o risco de acordar para esta realidade quando não houver
nada para caçar.
Os
apelos para a preservação da fauna, em particular, continuam a ser feitos
distante dos lugares onde a caça de animais protegidos é um problema recorrente
e grave. As marchas contra o abate de elefantes e rinocerontes acontecem nos
centros urbanos, onde as pessoas só ouvem falar destes e outros bichos. Nas
comunidades, onde a população vive lado a lado com tais animais e onde actuam
os caçadores furtivos, temos dúvidas de que as mensagens em relação a este
assunto chegam com algum impacto.
Se
as directivas em prol da contenção da caça ilegal de elefantes e rinocerontes e
do seu abate para alimentar populares não incidirem sobre as comunidades,
quando nos apercebermos da influência da educação para mitigar este mal, pode
já ser tarde para mudar o rumo dos acontecimentos. As comunidades devem saber,
através do contacto directo com os promotores de acções de edução ambiental,
que a importância da conservação da fauna vai para além da questão turística,
económica e paisagística.
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