sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Moçambique: EDUCAR AS COMUNIDADES PARA COMBATEREM A CAÇA FURTIVA



Verdade (mz) - Editorial

Na manhã de 11 de Novembro corrente, um grupo de curiosos assistiu, impávido e sereno, ao abate de quatro elefantes subitamente vistos a vaguear no canavial da açucareira Tongaat Hulett, no posto administrativo de Xinavane, na província de Maputo. As circunstâncias em que tal situação abominável aconteceu deixaram a nu o despreparo de que as comunidades ainda padecem com vista a liderar a luta contra a caça ilegal de paquidermes, rinocerontes, leões e outros animais protegidos por lei, mas ameaçados de extinção.

Com uma população como aquela que testemunhou a morte de um casal de elefantes e as suas crias e nada pôde fazer para evitar a tragédia, fica claro que o país não está em condições de reduzir a caça furtiva nem assegurar que não sejam as próprias comunidades a envolverem-se na morte destas espécies. O sinal de que perdemos a batalha contra este mal é que os malfeitores agem a seu bel-prazer e ninguém denuncia, mesmo a população que se esperava que fosse proactiva.

A nossa expectativa e de milhares de pessoas que, pese embora a hegemonia dos caçadores ilegais, incansavelmente buscam maneiras de conter com visibilidade o extermínio de paquidermes e rinocerontes, era de alguém da comunidade pedisse o apoio de autoridades quando se apercebeu da presença aqueles elefantes. Numa altura em que os apelos para a protecção destes e outros animais se propagam de “forma sísmica”, não se percebe como é que uma comunidade consentiu uma barbaridade como aquela.

Desta forma, obviamente, os níveis críticos de caça ilegal de elefantes vão persistir em Moçambique porque a população não está ainda preparada para estancar este mal, e parece que nem está interessada no assunto. As autoridades e as organizações da sociedade civil pecam, também, porque falam bastante sobre o problema e assinam diferentes memorandos com um só denominador, “combater a caça furtiva”, mas não apostam na educação das comunidades para o efeito. Por este andar, corremos o risco de acordar para esta realidade quando não houver nada para caçar.

Os apelos para a preservação da fauna, em particular, continuam a ser feitos distante dos lugares onde a caça de animais protegidos é um problema recorrente e grave. As marchas contra o abate de elefantes e rinocerontes acontecem nos centros urbanos, onde as pessoas só ouvem falar destes e outros bichos. Nas comunidades, onde a população vive lado a lado com tais animais e onde actuam os caçadores furtivos, temos dúvidas de que as mensagens em relação a este assunto chegam com algum impacto.

Se as directivas em prol da contenção da caça ilegal de elefantes e rinocerontes e do seu abate para alimentar populares não incidirem sobre as comunidades, quando nos apercebermos da influência da educação para mitigar este mal, pode já ser tarde para mudar o rumo dos acontecimentos. As comunidades devem saber, através do contacto directo com os promotores de acções de edução ambiental, que a importância da conservação da fauna vai para além da questão turística, económica e paisagística.

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