sábado, 22 de novembro de 2014

Portugal: TRÁGICO, CÓMICO E RIDÍCULO



Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião

Por onde começar? Pela parte trágica, pela cómica ou pela ridícula? Talvez pelo princípio: na quinta-feira, PS e PSD aprovaram a reposição do pagamento das subvenções vitalícias aos políticos. Nesse dia, aparentemente, não lhes ocorreu que qualquer pessoa dotada de bom senso pudesse achá-la provocatória e desrespeitosa num contexto de cortes transversais a toda a sociedade.

E não lhes causou desconforto que, de entre as dezenas de medidas levadas a debate nesse mesmo dia, no âmbito do Orçamento do Estado de 2015, só tenham chegado a acordo nessa em particular. Esta foi a parte trágica.

Percebendo a dimensão da asneira, o BE forçou a votação da proposta no plenário, no dia seguinte, procurando agigantar o impacto de um arranjinho de gabinete. Forçando PS e PSD a perder a vergonha por um dislate.

Agora a parte cómica. Ainda antes de a medida ser votada, o social-democrata Couto dos Santos, um dos proponentes, juntamente com o socialista José Lello, decidiu retirá-la, esvaziando o efeito de um possível terramoto político. E evitando, sobretudo, o vexame que se adivinhava de haver deputados dos dois partidos que iam chumbar a reposição das regalias aos políticos aprovadas horas antes.

Mas há mais comicidade: procurando justificar os episódios de esquizofrenia, o líder da bancada parlamentar do PSD, Luís Montenegro, anunciou que devolver dinheiro aos políticos nunca fora a vontade dos deputados do partido. Leram bem. Tudo não passou de um equívoco.

Agora a parte ridícula. O PS conseguiu fazer pior. Insistiu no erro e vestiu a pele do cordeiro moralista. Eis a narrativa: a ideia não foi sua (José Lello, socialista co-autor, preparou tudo em segredo, foi?), mas bater-se-ia por ela até ao fim. Em nome de uma suposta coerência. Ora, quem é que se preocupa em ser coerente com uma proposta deste calibre? De certeza que este PS sonha ser Governo?

Sentado a um canto, a rir-se de tudo, ficou o CDS/PP. Absteve-se na votação, exibiu um ar de passarinho molhado e proclamou com palavras meigas aquilo que o país todo já tinha percebido: mas vocês estão todos doidos?

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