Pedro
Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião
Por
onde começar? Pela parte trágica, pela cómica ou pela ridícula? Talvez pelo
princípio: na quinta-feira, PS e PSD aprovaram a reposição do pagamento das
subvenções vitalícias aos políticos. Nesse dia, aparentemente, não lhes ocorreu
que qualquer pessoa dotada de bom senso pudesse achá-la provocatória e
desrespeitosa num contexto de cortes transversais a toda a sociedade.
E
não lhes causou desconforto que, de entre as dezenas de medidas levadas a
debate nesse mesmo dia, no âmbito do Orçamento do Estado de 2015, só tenham
chegado a acordo nessa em
particular. Esta foi a parte trágica.
Percebendo
a dimensão da asneira, o BE forçou a votação da proposta no plenário, no dia
seguinte, procurando agigantar o impacto de um arranjinho de gabinete. Forçando
PS e PSD a perder a vergonha por um dislate.
Agora
a parte cómica. Ainda antes de a medida ser votada, o social-democrata Couto
dos Santos, um dos proponentes, juntamente com o socialista José Lello, decidiu
retirá-la, esvaziando o efeito de um possível terramoto político. E evitando,
sobretudo, o vexame que se adivinhava de haver deputados dos dois partidos que
iam chumbar a reposição das regalias aos políticos aprovadas horas antes.
Mas
há mais comicidade: procurando justificar os episódios de esquizofrenia, o líder
da bancada parlamentar do PSD, Luís Montenegro, anunciou que devolver dinheiro
aos políticos nunca fora a vontade dos deputados do partido. Leram bem. Tudo
não passou de um equívoco.
Agora
a parte ridícula. O PS conseguiu fazer pior. Insistiu no erro e vestiu a pele
do cordeiro moralista. Eis a narrativa: a ideia não foi sua (José Lello,
socialista co-autor, preparou tudo em segredo, foi?), mas bater-se-ia por ela
até ao fim. Em nome de uma suposta coerência. Ora, quem é que se preocupa em
ser coerente com uma proposta deste calibre? De certeza que este PS sonha ser
Governo?
Sentado
a um canto, a rir-se de tudo, ficou o CDS/PP. Absteve-se na votação, exibiu um
ar de passarinho molhado e proclamou com palavras meigas aquilo que o país todo
já tinha percebido: mas vocês estão todos doidos?
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