Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
As
eleições para o Parlamento Europeu deveriam ter servido de aviso: a ideia de
Europa está sob suspeita.
Seja
por militância isolacionista ou sintoma de xenofobia (como acontece a Norte,
com destaque para Reino Unido e França), seja por revolta contra a austeridade
e o empobrecimento (como acontece a Sul, com destaque para Grécia e Espanha), o
mapa político-partidário europeu pode sofrer uma reviravolta. Já não se trata
de assistir à habitual alternância entre centro-esquerda e centro-direita.
Também já não se trata da presença fugaz de uma força alternativa cujo balão
logo se esvazia (como o Movimento 5 Estrelas, em Itália). O que estará em cima
da mesa, já em 2015, mas também nos anos seguintes, é a hipótese de sucessão de
vitórias eleitorais de forças políticas radicais, à Esquerda e à Direita, que
desconfiam desta Europa.
O
primeiro passo deverá ser dado pelos gregos em janeiro. Dissolvido
ontem o Parlamento, as sondagens atribuem a vitória ao Syriza (acrónimo para
Coligação de Esquerda Radical), cujo líder, Alexis Tsipras, foi adaptando o
discurso e as propostas a uma eventual (e histórica) conquista do poder: já não
fala, por exemplo, na recusa em pagar a dívida, antes na sua renegociação. A
melhor prova das fortes possibilidades eleitorais de Tsipras deu-a o atual
presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, quando o tratou como um
inimigo: "Não gostaria que forças extremistas chegassem ao poder [na
Grécia]. Preferia que aparecessem caras conhecidas". Uma intromissão um
pouco grotesca que o povo grego parece, desta vez, pouco inclinado a
considerar.
Mas
os poderes europeus não se verão gregos apenas com os gregos. Em maio, há
eleições no Reino Unido e anuncia-se a chegada em força, ao Parlamento, do
partido independentista (UKIP), que no espetro político se situa à direita do
Partido Conservador e quer a ilha fora da Europa. Em novembro, será a vez de
Espanha testar a verdadeira força do Podemos, partido que reclama a herança dos
indignados que encheram as praças espanholas e que diferentes sondagens dão
como um dos três candidatos à vitória, intrometendo-se no que costumava ser uma
luta a dois entre PSOE e PP. Finalmente, em 2017, será a vez da França e do
teste final à Frente Nacional, que venceu as europeias e é cada vez menos um
movimento alicerçado na extrema-direita e cada vez mais um partido nacionalista
que colhe apoio de descontentes de todos os quadrantes.
Editor Executivo
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