O
MPLA transformou-se nos seus 58 anos de existência num partido para satisfazer
“interesses pessoais” e para “acumulação de capital”. Quem o diz, se fossemos
nós aí estaria o 99º processo judicial contra o nosso Director, são analistas
contactados pela Voz da América.
Orlando
Castro – Folha 8 Diário (ao)
Éclaro
que alguns, por razões que a razão (não) desconhece, sempre defendem a tese de
que essas mudanças são apenas reflexo da mudança dos tempos e da ideologia.
Fundado
a 10 de Dezembro de 1956, o MPLA partido no poder em Angola desde a
independência, teve na sua essência – tal como outros – a luta pela libertação
dos povos do jugo colonial. Foi um objectivo cujos membros fundadores, escreve
a VOA, perseguiram com o espírito de nacionalista, de que a nação era mais
importante que qualquer pretensão pessoal. Como hoje se verifica, foi chão que
deu uvas.
O
Jurista e membro do Centro de Estudos Populorium Progressio, Domingos das
Neves, diz que actualmente reina no seio do maior partido de Angola uma
subversão de interesses e de valores, dado que, a questão política na fundação
do MPLA era pré-partidária, estando esta no âmago dos interesses do movimento
político, o que desapareceu actualmente nas suas acções.
Domingos
das Neves afirma, por outro lado, que “há gente em Angola e no MPLA em
particular que entende mal a política e socorre-se dela para satisfação de
interesses pessoais” que põe em causa o bem-estar dos mais necessitados. Ou
seja, ninguém no MPLA quer saber da tese emblemática de Agostinho Neto que,
recorde-se, dizia que o importante era resolver os problemas do Povo.
“A
maior parte dos jovens e até dos mais velhos não conhece a história ideológica
do MPLA, estão ali, muitos deles, só por questões de oportunidade, e isto não é
política. Isto é desvirtuar a política, isto é tirar os créditos à política no
sentido verdadeiro da palavra”, diz Domingos das Neves.
É
verdade. Mas se os dirigentes de mais alto nível, a começar pelo presidente da
República, se estão nas tintas para aquela máxima que nos diz, ou dizia, que
quem não vive para servir não serve para viver, porque carga de chuva os jovens
deveriam estar para aí virados?
Porque
os políticos têm a vocação de servir a comunidade e não de se servir da
comunidade como estamos a ver agora, acrescenta Domingos das Neves, para quem
“é este aspecto negativo que o MPLA tem que devolver a si mesmo desde a
origem”.
Domingos
das Neves está enganado. Só é possível devolver aquilo que se tem. Ora o actual
MPLA não tem valores humanos de solidariedade, de luta contra as desigualdades,
e – por isso – nãos os pode devolver.
Por
sua vez o jurista Pedro Kaparakata pensa que apesar dos seus 58 anos, idade
suficiente para ter alguma maturidade, o MPLA actual não é o mesmo de há 50
anos fundado com os projectos de “resolução dos problemas do povo”. O analista
olha para o partido que está no poder há quase 40 anos como um instrumento
usado para apropriação de bens e acumulação ilícita de riqueza.
“O
MPLA é um instrumento de acumulação primitiva de capital, porque se puder ver
os membros todos do MPLA, os mais influentes, hoje têm uma vida do ponto de
vista económico muito folgada”, disse o jurista para quem isto deve-se “a
utilização deste instrumento que é o MPLA”.
É
mesmo isso. Para o MPLA roubar aos pobres para dar aos seus ricos é um dever e
uma obrigação revolucionária. O MPLA actual trabalha para os poucos que têm
milhões, roubando os milhões que têm pouco ou nada.
Economicamente,
o vice-presidente Manuel Vicente terá “trafegado” milhões e milhões de dólares
para ajudar Isabel dos Santos a ser bilionária, enquanto foi presidente da
Sonangol. Os restantes filhos de Dos Santos, familiares e afins, também beberam
da mesma “teta de crude”, para se converterem ao “milioniarimo”. A fortuna do
vice-presidente está avaliada em 8,5 mil milhões de dólares.
Em
2014, os angolanos assistiram impávidos e serenos ao desfile daqueles que
roubam e defraudam a economia nacional, com a mais ampla impunidade, por
beneficiarem da bênção “superior”, de quem jurou respeitar e fazer respeitar a
Constituição, mas nada mais faz, senão o contrário.
Consta
que o Presidente da República terá uma fortuna pessoal, consolidada em 2014,
estimada em 19 mil milhões de dólares. Muitos não acreditam, mas os cépticos e indecisos
superam os primeiros.
Mas
o ano que finda surpreendeu o mundo económico por ser de Angola o primeiro
general bilionário do mundo, Leopoldino Fragoso do Nascimento “Dino”, ex-chefe
das Comunicações da Presidência de Angola e actual assessor do chefe da Casa de
Segurança, terá uma fortuna a rondar os 7 mil milhões de dólares, sem nunca ter
dirigido uma companhia, nem estado numa frente de combate.
O
general Manuel Vieira Dias “Kopelipa” consolidou a sua contabilidade pessoal
com um montante de 5 mil milhões de dólares, tal qual o ex-ministro das
Finanças, José Pedro de Morais, com igual montante. O governador do Kuando
Kubango, Higino Carneiro, com os diamantes e o projecto turístico do Kuvangu,
tem os cifrões na casa dos 4.5 mil milhões de dólares.
O
general de Exército, João de Matos, ex–chefe do EMG das FAA, Orlando Veloso,
PCE da Sonangol Imobiliária SONIP/Delta, que esteve ligado, recentemente, às
makas da venda de casas no Kilamba, onde para além dos filhos (todos já com
casas em vários condomínios) e a maioria dos sobrinhos, são denunciados como
tendo uma fortuna de 4 mil milhões de dólares.
O
jurista José Leitão da Costa e Silva, ex-director do gabinete do Presidente
José Eduardo dos Santos e actual PCA do grupo Gema, único “privado” a beneficiar
de um empréstimo da linha de crédito da China de 500 milhões de dólares, tem
uma fortuna, segundo a fonte de 3.5 mil milhões.
No
mesmo calibre, um pouco abaixo, surgem outros funcionários públicos, que
enriqueceram, com um toque de mágica em 2014, com fortunas de 3 mil milhões de
dólares, nomeadamente, José Carlos de Castro Paiva, durante vários anos,
administrador não – executivo da Sonangol, em Londres;
Aguinaldo Jaime, ex-ministro das Finanças,
ex-governador do Banco Nacional, ex-PCA da ANIP;
António França “Ndalu”, ex-chefe do Estado
Maior das FAPLA, ex-deputado e influente membro do BP do MPLA;
Kundy Paihama, governador do Huambo; Carlos
Feijó, ex-ministro da Casa Civil; António Pitra Neto, ministro do Emprego e
Segurança Social; Frederico Cardoso, assessor do Presidente da República;
Fernando Dias dos Santos Nandó, actual presidente da Assembleia Nacional e Paulo
Kassoma, presidente do BESA.
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