quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Portugal: URGÊNCIA É… MUDAR DE GOVERNO E DE MINISTRO DA SAÚDE



Álvaro Beleza – Jornal de Notícias, opinião

Paulo Macedo fala pouco e tem boa Imprensa. Talvez por isso mesmo. Se falasse teria muito a explicar sobre algo que os bons gestores devem alcançar: resultados! E na Saúde, resultados significa salvar vidas. Os exemplos natalícios da péssima gestão das urgências hospitalares falam por si: mais de 24 horas de espera para atendimento no Hospital Amadora/Sintra e morte de idoso no Hospital de São José após seis horas sem triagem médica.

A áurea da boa gestão de Paulo Macedo cai por terra se lembramos que há um ano já existiam esperas intoleráveis nas urgências dos hospitais. O ministro não aprende com os erros, nada fez na reorganização dos serviços e assim se verificou, uma vez mais, o caos nas urgências hospitalares.

O caos das urgências não é difícil de entender, nem de resolver por um bom gestor. Acontece que, em vez de apostar nas carreiras públicas e em especial na Medicina Interna, delega-se a prestação deste serviço em empresas privadas, que subcontratam os médicos para as urgências.

Só que, muitas vezes, estes médicos não se apresentam ao serviço por uma razão simples: o valor por hora de trabalho que oferecem aos médicos é irrisório e longe de ser aliciante, especialmente para trabalho prestado à noite ou em períodos festivos. E assim os doentes têm de esperar largas horas para serem atendidos.

No entanto, essas empresas ganham os contratos precisamente por prometerem baixos custos. Ou seja, uma vez mais, imperou a frieza dos números, em que interessa é poupar uns cobres, sem perceber que isso tem consequência direta em vidas que são perdidas escusadamente.

E perante os casos polémicos o que faz o ministro? Mais do mesmo: anuncia a abertura de inquéritos para procurar mostrar que está atento e castiga quem falha.

Mas estar atento é precisamente o contrário: significa atuar preventivamente, sobretudo nos serviços críticos e sensíveis como as urgências, criando-se condições para que os serviços públicos possam funcionar com as condições adequadas. E significa não fazer estalar o chicote contra o elo mais fraco por falta de condições de trabalho, os profissionais de saúde, que é aquilo que Paulo Macedo faz sempre que quer sacudir as responsabilidades de cima de si e das suas políticas.

Tenho alertado para a necessidade de fortalecimento do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Foi feito o contrário, criaram-se condições para os cidadãos perderem a confiança nos serviços públicos e recorrerem a privados.

Bom ministro? Nada disso e os exemplos que o atestam são muitos. O que aconteceu neste Natal nas urgências hospitalares é intolerável e um motivo de vergonha para o ministro da Saúde.

Tenhamos confiança e mudemos de vida em 2015. Tenho a certeza que o ministro da Saúde de um governo socialista terá como preocupação não deixar que se percam vidas por falta de atendimento médico.

Saibamos recriar o SNS público e universal, para todos sem exceção. Bom ano! 

*Médico e militante do PS

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