Álvaro
Beleza – Jornal de Notícias, opinião
Paulo
Macedo fala pouco e tem boa Imprensa. Talvez por isso mesmo. Se falasse teria
muito a explicar sobre algo que os bons gestores devem alcançar: resultados! E
na Saúde, resultados significa salvar vidas. Os exemplos natalícios da péssima
gestão das urgências hospitalares falam por si: mais de 24 horas de espera para
atendimento no Hospital Amadora/Sintra e morte de idoso no Hospital de São José
após seis horas sem triagem médica.
A
áurea da boa gestão de Paulo Macedo cai por terra se lembramos que há um ano já
existiam esperas intoleráveis nas urgências dos hospitais. O ministro não
aprende com os erros, nada fez na reorganização dos serviços e assim se
verificou, uma vez mais, o caos nas urgências hospitalares.
O
caos das urgências não é difícil de entender, nem de resolver por um bom
gestor. Acontece que, em vez de apostar nas carreiras públicas e em especial na
Medicina Interna, delega-se a prestação deste serviço em empresas privadas, que
subcontratam os médicos para as urgências.
Só
que, muitas vezes, estes médicos não se apresentam ao serviço por uma razão
simples: o valor por hora de trabalho que oferecem aos médicos é irrisório e
longe de ser aliciante, especialmente para trabalho prestado à noite ou em
períodos festivos. E assim os doentes têm de esperar largas horas para serem
atendidos.
No
entanto, essas empresas ganham os contratos precisamente por prometerem baixos
custos. Ou seja, uma vez mais, imperou a frieza dos números, em que interessa é
poupar uns cobres, sem perceber que isso tem consequência direta em vidas que
são perdidas escusadamente.
E
perante os casos polémicos o que faz o ministro? Mais do mesmo: anuncia a
abertura de inquéritos para procurar mostrar que está atento e castiga quem
falha.
Mas
estar atento é precisamente o contrário: significa atuar preventivamente,
sobretudo nos serviços críticos e sensíveis como as urgências, criando-se
condições para que os serviços públicos possam funcionar com as condições
adequadas. E significa não fazer estalar o chicote contra o elo mais fraco por
falta de condições de trabalho, os profissionais de saúde, que é aquilo que
Paulo Macedo faz sempre que quer sacudir as responsabilidades de cima de si e
das suas políticas.
Tenho
alertado para a necessidade de fortalecimento do Serviço Nacional de Saúde
(SNS). Foi feito o contrário, criaram-se condições para os cidadãos perderem a
confiança nos serviços públicos e recorrerem a privados.
Bom
ministro? Nada disso e os exemplos que o atestam são muitos. O que aconteceu
neste Natal nas urgências hospitalares é intolerável e um motivo de vergonha
para o ministro da Saúde.
Tenhamos
confiança e mudemos de vida em 2015. Tenho a certeza que o ministro da Saúde de
um governo socialista terá como preocupação não deixar que se percam vidas por
falta de atendimento médico.
Saibamos
recriar o SNS público e universal, para todos sem exceção. Bom ano!
*Médico
e militante do PS
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