sábado, 3 de janeiro de 2015

UMA FRUTA QUE NÃO CAIU! – V



 Martinho Júnior, Luanda (textos anteriores)

13 – O Movimento 26 de julho liderou o primeiro governo revolucionário, presidido por Manuel Urrutia Lleó, mas como a revolução era um processo abrangente, em julho de 1961, ano em que o analfabetismo foi erradicado de Cuba, estabeleceram-se as Organizações Revolucionárias Integradas, junto com o Partido Socialista Popular e o Directório Revolucionário 13 de Março, que se vieram a dissolver e a formar o Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba, em 26 de março de 1962.

O Partido Unido da Revolução Socialista de Cuba, com a radicalização do processo, viria a dar origem ao novo Partido Comunista de Cuba, a 3 de Outubro de 1965; o carácter anti imperialista da revolução cubana, ciosa de independência e de soberania e contra qualquer tentativa de neo colonização, foi um dos determinismos dessa radicalização, instalando a capacidade de resistência que iria suportar todo o tipo de golpes do império até aos nossos dias.

O povo cubano e a sua revolução tinham todos os motivos para honrar os heróis da independência, em sua luta contra o colonialismo espanhol, assim como fazer a avaliação e o balanço da experiência amarga do oportunismo norte-americano que deu origem à porfiada tentativa de tornar Cuba em neo colónia.

Os Estados Unidos começaram os processos de desestabilização contra Cuba em 1805, quando o então Presidente Thomas Jefferson advertia o ministro inglês em Washington que "em caso de guerra contra a Espanha, os Estados Unidos se apoderariam de Cuba por necessidade estratégica".

Em 1823, John Quincy Adams, Secretário de Estado do Presidente Monroe, escrevia: "é praticamente impossível resistir à convicção de que a anexação de Cuba à nossa República Federal será indispensável."

Assim se desenhou a estratégia de esperar o momento propício para colher a "fruta madura"conforme à afirmação do Presidente McKinley, a 20 de maio de 1902.

Mesmo com o estertor da ditadura de Fulgêncio Batista, os Estados Unidos tentaram com a ascensão de moderados, impedir que o Movimento 26 de julho conquistasse o poder e formasse governo.

Ao fazer-se a ponte histórica, era garantida a abertura a todos os patriotas e sensibilidades sócio-políticas que se opunham à ditadura de Fulgêncio Batista, mas a radicalização do processo impunha-se por causa da necessidade de resistência face aos sucessivos dispositivos que o império viria a desencadear, à medida que fosse perdendo a sua capacidade directa de influência e os seus interesses no terreno e também por que não poderia ser com o imobilismo do Presidente Manuel Urrutia Lleó e do Primeiro-Ministro José Miró Cardona que a independência, a soberania e a revolução se poderiam defender.
  
14 – Antes da constituição do Partido Comunista Cubano a 3 de Outubro de 1965, duas administrações foram adoptando medidas contra a Revolução Cubana, praticamente desde logo que ela se instalou e iniciou os seus programas de independência, soberania e identidade para com o povo cubano.

Os Estados Unidos não esperaram que o novo Partido Comunista de Cuba fosse criado e instalado, para dar início às operações de desestabilização e, entre elas, a mais longa sucessão de operações encobertas que a CIA alguma vez produziu contra algum estado, algum país, ou algum povo.

Os Estados Unidos estavam aliás “de sobreaviso”: a 19 de abril de 1959 Fidel de Castro deslocou-se a Washington, convidado pelo Clube de Imprensa e acabou por ser recebido por Richard Nixon, que viria a ser Presidente dos Estados Unidos, a quem fez uma exposição desassombrada dos propósitos legítimos do Movimento 26 de julho.

Richard Nixon, que nesse encontro registou as disposições de Fidel de Castro, foi quem mais impulsionou, na sua fase inicial, os expedientes de desestabilização que desde então o império foi desencadeando contra Cuba.

Segundo Fidel (acerca desse encontro):

"En fecha tan temprana como el mes de abril de 1959 (el día 19) visité Estados Unidos invitado por el Club de Prensa de Washington.

Nixon se dignó recibirme en su oficina particular...

No era un militante clandestino del Partido Comunista, como Nixon con su mirada pícara y escudriñadora llegó a pensar.

Si algo puedo asegurar, y lo descubrí en la Universidad, es que fui primero comunista utópico y después un socialista radical, en virtud de mis propios análisis y estudios, y dispuesto a luchar con estrategia y táctica adecuadas”…

"Mi único reparo al hablar con Nixon era la repugnancia a explicar con franqueza mi pensamiento a un vicepresidente y probable futuro Presidente de Estados Unidos, experto en concepciones económicas y métodos imperiales de gobierno en los que hacía rato yo no creia”…

"Fue una entrevista muy franca por mi parte, porque le expliqué cómo veíamos la situación cubana y las medidas que teníamos intención adoptar.

En general, él no discutió, sino que se mostró amistoso y escuchó todo lo que tenía que decirle.

Nuestra conversación se limitó a aquello.

Tengo entendido que él sacó sus propias conclusiones de aquellas conversaciones.

Creo que fue después de aquello cuando comenzaron los planes para la invasión."

A administração republicana de Dwight Eisenhower começou por pressionar a Grã-Bretanha, a 13 de novembro de 1959, menos de um ano depois do derrube do ditador Fulgêncio Batista, a fim de impedir que se efectuasse a venda a Cuba de 15 aviões de combate para a defesa do país.

A 29 de junho de 1960, as companhias multinacionais de petróleo TEXACO, EXXON e SHELL, suspenderam o envio de petróleo para Cuba e orientam as suas refinarias em Cuba a não processar o petróleo oriundo da URSS.

A 6 de julho desse mesmo ano, os Estados Unidos cortam a quota de açúcar produzido em Cuba e a 3 de janeiro de 1961, vão fazer agora 54 anos, são rompidas as relações diplomáticas, por inteira iniciativa de Washington.

Com a ascensão da administração democrata de John F. Kennedy as medidas prosseguiram ainda mais contundentes:

A 31 de março de 1961 os Estados Unidos deixam de importar açúcar de Cuba e a 4 de Setembro o Congresso aprova a Lei de Assistência Exterior, que autoriza o Presidente a estabelecer e a manter um embargo total sobre o comércio entre os Estados Unidos e Cuba.

Entretanto em Abril de 1961 foi desencadeada uma das mais massivas operações da CIA contra Cuba: o desembarque em Praia Girón, que se saldou numa rotunda derrota das forças mercenárias que tentaram a invasão.

A 3 de fevereiro de 1962, vão fazer 53 anos, John F. Kennedy assina a Ordem Executiva Presidencial segundo a qual era imposto o bloqueio total do comércio dos Estados Unidos para com Cuba.

A 8 de julho de 1963 aprovam-se os Regulamentos para o Controlo dos activos cubanos e congelam-se as contas, que à época abrangiam 30 milhões de dólares.

Após o assassinato de John F. Kennedy, a 11 de fevereiro de 1964, o presidente Lyndon B. Johnson ordena a expulsão de todos os trabalhadores cubanos da base de Guantánamo, a menos que se façam residentes permanentes, ou gastem ali todo o seu salário em dólares…

15 – É nesse ambiente, com os contínuos processos de desestabilização contra Cuba instalados, que é criado o novo Partido Comunista de Cuba, na previsão que Cuba iria sofrer todo o tipo de acções ao longo das décadas que se seguiriam, passando a ser até um “laboratório experimental”preferencial para todo o tipo de ementas subversivas, manobras, manipulações e ingerências que o império depois utilizaria também em qualquer outra parte do mundo. 

Foto: Fidel – “Pátria é humanidade”!

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