Depois
da vitória do Syriza, tudo parece indicar que a nova orientação da política
exterior da Grécia aponta a favor da Rússia e em detrimento da UE.
Ariel
Noyola Rodríguez* - Carta Maior
Sem
dúvidas, a intransigência das autoridades europeias abriu caminho para que
Atenas assumisse posicionamentos de uma maior convergência com Moscou. Até este
momento, os credores mantêm sua negativa de modificar os termos dos pagamentos
da dívida (a Grécia possui uma dívida de 315 bilhões de euros, ou 175% do PIB).
Semanas antes de acontecer a eleição, a troika europeia (formada pelo Fundo
Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia) havia
deixado claro que, se Atenas se atrevesse a abandonar os programas de ajuste
estrutural, as portas de financiamento externo permaneceriam fechadas.
No entanto, é evidente que qualquer estratégia de recuperação destinada a sustentar o crescimento econômico e a geração de empregos por parte da nova administração grega é incompatível com as propostas da troika europeia. Nos últimos 5 anos, as políticas de austeridade fiscal levaram a economia grega a sofrer um retrocesso de 25% do PIB.
Os programas de ajuste estrutural não apenas não dinamizaram a atividade econômica, mas também consolidaram uma espiral depressiva: a deflação se transformou em uma tendência crônica (em dezembro de 2014, os preços para o consumo registraram uma queda de 2,6% anuais), a taxa de desemprego geral alcançou mais de 25% e a taxa de desemprego entre os jovens, 50%. Apesar disso, os dirigentes de Bruxelas insistem em levar adiante, e em escala maior, a privatização das empresas e dos serviços públicos, a diminuição dos gastos sociais, a desregulamentação trabalhista etc.
Cabe destacar, por outro lado, que o cenário de conflito na Europa não se reduz à economia. Inclui tensões geopolíticas na região oriental pelo controle territorial e pela soberania sobre recursos naturais estratégicos. Depois dos confrontos entre nacionalistas e separatistas ocorridos na cidade de Mariupol (localizada no leste da Ucrânia) no último fim de semana de janeiro, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) acusou os russos pelos atos de violência. Um dia depois, a União Europeia emitiu um comunicado para implementar, em nome de seus 28 membros, uma nova onda de sanções econômicas contra o Kremlin.
No entanto, é evidente que qualquer estratégia de recuperação destinada a sustentar o crescimento econômico e a geração de empregos por parte da nova administração grega é incompatível com as propostas da troika europeia. Nos últimos 5 anos, as políticas de austeridade fiscal levaram a economia grega a sofrer um retrocesso de 25% do PIB.
Os programas de ajuste estrutural não apenas não dinamizaram a atividade econômica, mas também consolidaram uma espiral depressiva: a deflação se transformou em uma tendência crônica (em dezembro de 2014, os preços para o consumo registraram uma queda de 2,6% anuais), a taxa de desemprego geral alcançou mais de 25% e a taxa de desemprego entre os jovens, 50%. Apesar disso, os dirigentes de Bruxelas insistem em levar adiante, e em escala maior, a privatização das empresas e dos serviços públicos, a diminuição dos gastos sociais, a desregulamentação trabalhista etc.
Cabe destacar, por outro lado, que o cenário de conflito na Europa não se reduz à economia. Inclui tensões geopolíticas na região oriental pelo controle territorial e pela soberania sobre recursos naturais estratégicos. Depois dos confrontos entre nacionalistas e separatistas ocorridos na cidade de Mariupol (localizada no leste da Ucrânia) no último fim de semana de janeiro, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) acusou os russos pelos atos de violência. Um dia depois, a União Europeia emitiu um comunicado para implementar, em nome de seus 28 membros, uma nova onda de sanções econômicas contra o Kremlin.
Contudo,
o escritório do governo de Alexis Tsipras (o primeiro-ministro da Grécia)
rechaçou a convocatória. No último dia 28 de fevereiro, Panagiotis Lafazanis (a
cargo do Ministério de Reconstrução Produtiva, Meio Ambiente e Energia)
sentenciou de forma categórica: “A Grécia não tem qualquer interesse na
imposição de sanções à Rússia. Não temos diferenças com a Rússia ou com o povo
russo”.
De modo extraordinário, a diplomacia grega fez da crise da Ucrânia e da postura diante da Rússia as moedas de troca nas negociações com os credores. Por um lado, exigiu um diálogo respeitoso por parte da União Europeia. É inaceitável tratar a Grécia como “Estado pária” por seu alto nível de endividamento.
Por outro lado, confirmou sua postura contra o unilateralismo de Bruxelas. “A Grécia não deve se transformar em parte do problema nem cortar as relações históricas com a Rússia, e pode desempenhar um papel especial na mediação e no desenvolvimento das negociações entre as duas partes […] a União Europeia deve considerar de uma vez por todas o que quer fazer com a Rússia no longo prazo, em vez de reagir de forma moralmente direta e franca, mas espasmódica”, declarou o ministro das Relações Exteriores da Grécia, Nikos Kotzias.
Em contrapartida, o Kremlin promove, por meio da chancelaria grega, a diminuição da intensidade da ofensiva econômica impulsionada pela União Europeia e pelos EUA. E caso as novas penalizações incluam os setores da energia e defesa, assim como o bloqueio ao acesso à Sociedade para as Comunicações Interbancárias e Financeiras Internacionais (SWIFT, em sua sigla em inglês), os danos sobre a economia russa alcançarão uma dimensão dramática.
O presidente Vladimir Putin contempla os alcances do aprofundamento da investida e, por isso, se Alexis Tsipras não conseguir um acordo com Bruxelas, seu governo não descarta ajudar a economia grega. “Podemos imaginar a situação, se há um pedido de ajuda ao governo russo, nós a consideraremos, mas teremos em conta todos os fatores de nossa relação bilateral. É a única coisa que posso dizer. Se eles pedirem ajuda, nós a consideraremos”, disse Anton Siluanov, o ministro das Finanças russo, em entrevista à CNBC. Em resposta, Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão, lançou um ultimato à chancelaria grega: “Não acho que a Rússia possa substituir a solidariedade europeia”.
Atenas não tem interesse em transformar suas relações com a Rússia em um peso, mas sim em um apoio decisivo. Como consequência, até antes do vencimento da linha de crédito, no próximo dia 28 de fevereiro, os esforços do governo grego estarão concentrados nos diálogos com a troika. “Estamos em negociações importantes com nossos sócios na Europa e com quem nos emprestou. Temos obrigações para com eles”, declarou Alexis Tsipras na Nicósia, ao término de um encontro com o presidente do Chipre, Nikos Anastasiades. Assim mesmo, enfatizou que, até o momento, não existem intenções de abandonar a União Monetária por parte de seu governo. “A zona do euro sem o Chipre e sem a Grécia seria uma amputação do sudeste da Europa”, concluiu.
No entanto, considerou necessário o desmantelamento dos mecanismos estabelecidos para o controle dos empréstimos outorgados: “Acho que já é hora de substituir a troika porque a Europa precisa de um respiro. A troika foi criticada por carecer de legitimidade. Sua substituição seria um passo institucional importante para o bem da Grécia e da Europa”.
A aprovação de Jean-Claude Juncker (o presidente da Comissão Europeia) para desarticular os mecanismos da troika diante das negociações com a Grécia, assim como o apoio do presidente Barack Obama aos planos do primeiro-ministro Alexis Tsipras em matéria econômica revelam as angústias de Bruxelas e Washington com a ascensão eleitoral da esquerda (Syriza na Grécia, Podemos na Espanha etc.) e a proximidade diplomática com a Federação Russa.
Em suma, a vitória do Syriza nas eleições de 25 de janeiro sobre o capitalismo neoliberal detonou movimentos espetaculares da chancelaria grega que, aceleradamente, transformam o mapa econômico e geopolítico do continente europeu em aliança com Moscou.
*Economista da Universidade Nacional Autônoma do México
De modo extraordinário, a diplomacia grega fez da crise da Ucrânia e da postura diante da Rússia as moedas de troca nas negociações com os credores. Por um lado, exigiu um diálogo respeitoso por parte da União Europeia. É inaceitável tratar a Grécia como “Estado pária” por seu alto nível de endividamento.
Por outro lado, confirmou sua postura contra o unilateralismo de Bruxelas. “A Grécia não deve se transformar em parte do problema nem cortar as relações históricas com a Rússia, e pode desempenhar um papel especial na mediação e no desenvolvimento das negociações entre as duas partes […] a União Europeia deve considerar de uma vez por todas o que quer fazer com a Rússia no longo prazo, em vez de reagir de forma moralmente direta e franca, mas espasmódica”, declarou o ministro das Relações Exteriores da Grécia, Nikos Kotzias.
Em contrapartida, o Kremlin promove, por meio da chancelaria grega, a diminuição da intensidade da ofensiva econômica impulsionada pela União Europeia e pelos EUA. E caso as novas penalizações incluam os setores da energia e defesa, assim como o bloqueio ao acesso à Sociedade para as Comunicações Interbancárias e Financeiras Internacionais (SWIFT, em sua sigla em inglês), os danos sobre a economia russa alcançarão uma dimensão dramática.
O presidente Vladimir Putin contempla os alcances do aprofundamento da investida e, por isso, se Alexis Tsipras não conseguir um acordo com Bruxelas, seu governo não descarta ajudar a economia grega. “Podemos imaginar a situação, se há um pedido de ajuda ao governo russo, nós a consideraremos, mas teremos em conta todos os fatores de nossa relação bilateral. É a única coisa que posso dizer. Se eles pedirem ajuda, nós a consideraremos”, disse Anton Siluanov, o ministro das Finanças russo, em entrevista à CNBC. Em resposta, Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão, lançou um ultimato à chancelaria grega: “Não acho que a Rússia possa substituir a solidariedade europeia”.
Atenas não tem interesse em transformar suas relações com a Rússia em um peso, mas sim em um apoio decisivo. Como consequência, até antes do vencimento da linha de crédito, no próximo dia 28 de fevereiro, os esforços do governo grego estarão concentrados nos diálogos com a troika. “Estamos em negociações importantes com nossos sócios na Europa e com quem nos emprestou. Temos obrigações para com eles”, declarou Alexis Tsipras na Nicósia, ao término de um encontro com o presidente do Chipre, Nikos Anastasiades. Assim mesmo, enfatizou que, até o momento, não existem intenções de abandonar a União Monetária por parte de seu governo. “A zona do euro sem o Chipre e sem a Grécia seria uma amputação do sudeste da Europa”, concluiu.
No entanto, considerou necessário o desmantelamento dos mecanismos estabelecidos para o controle dos empréstimos outorgados: “Acho que já é hora de substituir a troika porque a Europa precisa de um respiro. A troika foi criticada por carecer de legitimidade. Sua substituição seria um passo institucional importante para o bem da Grécia e da Europa”.
A aprovação de Jean-Claude Juncker (o presidente da Comissão Europeia) para desarticular os mecanismos da troika diante das negociações com a Grécia, assim como o apoio do presidente Barack Obama aos planos do primeiro-ministro Alexis Tsipras em matéria econômica revelam as angústias de Bruxelas e Washington com a ascensão eleitoral da esquerda (Syriza na Grécia, Podemos na Espanha etc.) e a proximidade diplomática com a Federação Russa.
Em suma, a vitória do Syriza nas eleições de 25 de janeiro sobre o capitalismo neoliberal detonou movimentos espetaculares da chancelaria grega que, aceleradamente, transformam o mapa econômico e geopolítico do continente europeu em aliança com Moscou.
*Economista da Universidade Nacional Autônoma do México
Créditos
da foto: Global Panorama / Flickr
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