A
Finlândia é o país mais favorável ao trabalho dos jornalistas em liberdade. Portugal
está no 26º lugar de uma lista de 180 países e territórios do mundo. Angola
está no 123º e é o pior dos países lusófonos. Cabo-Verde está no 34º lugar.
Orlando Castro
Para
a organização a Repórteres Sem Fronteiras, sediada em Paris, a liberdade de
imprensa sofreu um “declínio drástico” em todo o mundo em 2014, em parte devido
a grupos extremistas como o Estado Islâmico e o Boko Haram.
“Houve
uma deterioração geral ligada a diferentes factores, com guerras de informação,
e acções de grupos não-estatais que agem como déspotas”, afirmou à AFP o
secretário-geral da organização, Christophe Deloire.
O
Índice da Liberdade de Imprensa de 2015 dos Repórteres Sem Fronteiras afirma
que se registaram 3.719 violações à liberdade de informação em 180 países em
2014 – mais 8% do que no ano anterior.
No
“top 10” da lista dos países e territórios mais favoráveis à liberdade de
imprensa, a Noruega está na segunda posição, seguida da Dinamarca, Holanda,
Suécia, Nova Zelândia, Áustria, Canadá, Jamaica e Estónia.
No
âmbito da lusofonia, a Repórteres Sem Fronteiras coloca Cabo-Verde no 34º
lugar, seguindo-se a Guiné-Bissau em 81º, Moçambique em 85º e o Brasil em 99.º.
Timor-Leste, no 103º lugar e Angola no 123º posto fecham a lista dos países
lusófonos.
A
nível dos países africanos de língua portuguesa, o destaque vai para
Guiné-Bissau que subiu 5 pontos, ao ocupar agora a 81ª posição. Em 2014, teve
mais 1,35 ponto e não registou nenhum caso de abuso.
Cabo
Verde, embora tenha caído 12 lugares devido ao registo de menos 6.37 pontos,
continua a ser o país lusófono melhor colocado, na 34ª. posição. O arquipélago
não registou nenhum caso de abuso e é terceiro em África.
No
índice dos Repórteres Sem Fronteiras, Moçambique teve menos 0,72 pontos e caiu
seis lugares, ocupando agora a 85ª posição, e um registo de 29.98 pontos de
abusos contra a liberdade de imprensa.
Angola
é o lusófono pior colocado. Embora tenha aumentado um lugar, ocupando agora o
lugar 123, perdeu 1.34 pontos e atingiu uma taxa de 37.84 de abusos. Angola
integra o grupo vermelho dos países com menos liberdade de imprensa no mundo.
Na
análise dos Repórteres Sem Fronteiras, a Coreia do Norte e a Eritreia encerram
a lista da liberdade de imprensa, constituindo-se, assim, nos piores locais
para os jornalistas trabalharem.
A
liberdade “made in” MPLA
Previsivelmente
o Jornal de Angola (JA) tem uma explicação emblemática para a posição do nosso
país. Dirá algo como: “A liberdade de imprensa convive com abusos repugnantes e
os novos jornais até começaram a servir para crimes de chantagem e extorsão”,
ou ”quase sempre são palcos de intrigas, veículos de ataques pessoais,
mananciais de insultos, calúnias e difamações.”
Por
saber ficará se os crimes aludidos pelo JA têm a ver com o 27 de Maio de 1977,
uma purga que os jornais privados dizem ter sacrificado milhares de angolanos
mas que, na verdade e certamente segundo a análise do impoluto pasquim do MPLA,
nem sequer existiu.
Dirá
o JA que “o Presidente da República é o alvo privilegiado dos jornais privados.
Há entre eles uma competição estranha que consiste em ver qual deles fere mais
a honra e o bom-nome de José Eduardo dos Santos. O mais alto magistrado da
Nação é tratado como um pária ante a indiferença dos órgãos de Justiça, das
organizações dos jornalistas, das associações patronais e, pasme-se, do
Conselho Nacional da Comunicação Social.”
Justificará
o Pravda que estamos todos conluiados para denegrir a imagem do impoluto, honorável
e divino Presidente da República, não compreendendo que estar há 36 anos no
poder sem nunca ter sido nominalmente eleito é a mais sublime prova da
vitalidade democrática do regime angolano.
Da
brilhante (como sempre) análise do JA resultará que “de 2008 para cá as coisas
melhoraram”. Isto é, “os jornais privados que mais se destacavam na calúnia e
no insulto ao Chefe de Estado abandonaram esse caminho. Mas em compensação
outros redobraram os crimes de abuso de liberdade de imprensa. Sabe-se agora porquê.”
O
jornal não explicará mas nós damos uma ajudinha, certamente no cumprimento das
maus puras e transparentes regras éticas e deontológica, a razão pela qual
alguns jornais abandonaram esse caminho. Também não precisa de explicar. Todos
sabem que foram comprados e ou silenciados pelo regime.
Escreverá
o JA que “o “Folha 8” é o órgão oficial da CASA-CE e dá uma mão à UNITA, nas
suas investidas contra o Estado Democrático e de Direito. O “Novo Jornal” é o
suporte de “manifestantes” que têm uma única mensagem à sociedade: insultos
grosseiros ao Presidente da República e o objectivo de derrubá-lo.”
Ao
fim e ao cabo, todos os jornais “se encarregam de fazer alastrar a mancha da
calúnia e do insulto. Com mais ou menos competência. Mas seguramente com
resultados catastróficos para o jornalismo angolano.” Valha-nos ao menos a
existência desse paradigma de nobreza e altruísmo, verdadeira catedral do
jornalismo, que dá pelo nome de Jornal de Angola.
O
JA insurgir-se-á mais uma vez contra algo que os políticos aprenderam com o
MPLA e com o seu Pravda, mas que – obviamente – só deve ser aplicado em relação
aos outros. Então não é que “com um sorriso próprio dos porcos”, os dirigentes
do PRS “chamam aos membros do Executivo mafiosos e ladrões” e “acusam
instituições do Estado de envenenarem e assassinarem cidadãos”?
Francamente.
Os políticos deveriam saber que há verdades que não devem ser ditas.
“A
UNITA segue o mesmo caminho mas com um pouco mais de compostura. Tem como
mentor um qualquer Rafael Marques. A CASA-CE faz dos tempos de antena sucursais
do “Folha 8” mas um pouco mais primários. São violentíssimos ataques à
inteligência dos eleitores e golpes fatais contra a ética política. Se não
havia ética no “jornalismo” que faziam, muito menos existe agora, quando
vivemos num período em que os salteadores da política agem como se valesse tudo
menos tirar olhos”, escreverá o JA.
Ficaremos
também a saber, graças – corrobore-se – à honorabilidade do JA, que os leitores
têm inteligência e que Rafael Marques e William Tonet estão a desgraçar o país
e cometer crimes contra tudo, nomeadamente contra a segurança do Estado. E
estão mesmo, reconheçamos. É que eles, como nós, querem que Angola seja mesmo
um Estado de Direito Democrático. E como não é, todos os que teimam em pensar
de forma diferente são culpados de tudo.
Para
o Comité Central do MPLA, via Jornal de Angola, “é muito claro que a aposta
destes concorrentes é na subversão das regras democráticas. Por isso estão a
criar um clima muito parecido com o das eleições de 1992, quando a intimidação
e a violência verbal faziam parte do quotidiano da disputa política. De tal
forma que tudo acabou numa longa guerra que destruiu Angola.”
Pois
é. E o Jornal de Angola ainda vai um dia destes divulgar que a UNITA, a
CASA-CE, o PRS, Rafael Marques e William Tonet tem verdadeiros arsenais bélicos
debaixo da cama e até disfarçados no disco duro dos computadores.
Num
dos mais dignos exemplos de imparcialidade, ética e deontologia o Jornal de
Angola dirá que “cabe aos angolanos dar a resposta adequada. Savimbismo, nunca
mais!.”
Perante
tudo isto, os angolanos têm de lançar uma petição, um amplo movimento mundial,
para que Nobel da Paz seja atribuído a Eduardo dos Santos e o Pulitzer ao
Pravda do regime, em português “Jornal de Angola”.
Folha
8 Diário (ao)
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