Daviz
Simango, líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), segundo maior
partido da oposição, defende soluções que respeitem a Constituição para acabar
com a crise política entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO.
Nesta
segunda-feira (9.2.), Simango teve um encontro com o recém-eleito Presidente de
Moçambique, Filipe Nyusi, da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Em
entrevista à DW África, Daviz Simango fala sobre os temas da conversa com Nyusi
e se aceitaria ou não formar um bloco com o maior partido da oposição, a RENAMO
(Resistência Nacional Moçambicana).
DW
África: Quais foram as preocupações que o MDM levou para este encontro com o
Presidente Filipe Nyusi?
Daviz
Simango (DS): Nós levamos vários pontos. Desde os problemas da
intolerância política, da partidarização, da separação dos poderes e da
independência dos juízes, os problemas de desenvolvimento económico, da
educação, da saúde. Falamos em pormenor sobre a agricultura, a necessidade de
desenvolvimento dos municípios e naturalmente sobre a energia. O nosso país tem
escassez de energia e é preciso encontrar alternativas. Falamos da política em
si, dos últimos momentos políticos que estão a decorrer no país. E também
falamos da construção da governação, aquilo que é o nosso pensamento em relação
a assuntos pertinentes que possam levar o país ao desenvolvimento sustentável.
DW
África: O que achou da reação do Presidente Nyusi quando colocou as
preocupações do MDM?
DS: O
MDM não foi lá só com preocupações. O MDM foi também com sugestões. Aquilo que
é a forma de governação que o MDM gostaria de ver. Portanto, colocamos um leque
de questões com propostas de governação.
Eu
também pedi a justificação da construção do seu Governo, da redução dos
ministérios e porque alguns ministérios foram criados agora. E ouvimos também
dele a situação política. Eu penso que foi um encontro saudável e que inspira a
vontade de nós, os moçambicanos, podermos construir o nosso país e – claro –
estabilizar o país que está em crise.
DW
África: O MDM seria capaz de se juntar à RENAMO na sua causa concernente a uma
gestão autónoma das províncias?
DS: Nós
como Movimento Democrático de Moçambique surgimos para fazer política, surgimos
porque respeitamos os princípios democráticos e as leis moçambicanas. O nosso
entender sobre a questão que me coloca é o seguinte: é preciso entregar à
Assembleia da República uma proposta de lei. Uma vez que o documento entre na
Assembleia da República, os nossos deputados vão sugerir àquele orgão para que
se avance com um referendo. E dependendo daquilo que vai ser o resultado do
referendo, o MDM vai pautar pelo que decidir a maioria dos moçambicanos.
Nós
somos a voz do povo e vamos cumprir com esta palavra desde que os moçambicanos dêem mandato para isso. Mas a proposta tem que ser submetido a um referendo.
DW
África: Sob o ponto de vista de democratização, esta possibilidade de uma
gestão autónoma das províncias é vista como mais um passo neste caminho. O MDM
também tem esta visão ou nem por isso?
DS: Temos
um Estado constituído, temos uma Constituição da República que nós, os
mocambicanos, aprovámos. O nosso entendimento é que todo o processo que mexe
com a gestão do país, todo o processo que mexe com a complexidade como o caso,
passe pela Assembleia da República. Naturalmente os deputados têm que ter um
mandato para solicitar um referendo e ouvir os moçambicanos sobre a sua
preferência.
Portanto,
não podemos construir uma sociedade moçambicana no entender e no momento que
cada formação política ou cada entidade queira impor. O fundamental é que os
moçambicanos decidam. Se os moçambicanos forem por esse caminho, quem é o MDM
para contrariar a soberania que reside no povo?
DW
África: O que o MDM e o Senhor Daviz Simango esperam da governação de Filipe
Nyusi e da sua equipa?
DS: Ele
tem um mandato do Conselho Constitucional e nós naturalmente como oposição
vamos fiscalizar. E na qualidade de fiscalizadores representantes do povo vamos
fazer o nosso papel. Queremos aceder ao poder e é natural que tenhamos a nossa
própria ambição. Vamos trabalhar no sentido que o trabalho político – quer no
Parlamento, quer nas outras frentes políticas – possa surtir efeito de modo que
o MDM se constitua em poder nas próximas eleições.
DW
África: Basicamente a RENAMO e o MDM fazem as mesmas acusações quanto à atuação
do Governo da FRELIMO. Uma união de forças da oposição, naturalmente incluindo
o MDM, a RENAMO e talvez outros partidos, é uma possibilidade real ou utópica
no seu entender?
DS: Para
o MDM, a estratégia está clara desde o princípio: tudo que seja do interesse
dos moçambicanos, tudo que seja um mandato dos moçambicanos, que nos
solicitarem. Se isto nos obriga, se isso nos promove, se isso nos leva a uma
determinada união para atingir esses objetivos, é natural que o MDM não vai
negar aquilo que é a vontade popular.
Queremos
que de facto os moçambicanos se sintam realizados, os moçambicanos se sintam os
donos de si a partir das suas ações. O MDM passa a ser apenas a voz do povo.
Supomos que nós queremos isso, e se isto for o entendimento do MDM, da RENAMO e
dos outros partidos políticos, e conscientes que a união faz a força, e se for
para o bem do povo, sem ferir os princípios da legalidade, é natural que o MDM
pode embarcar neste barco.
Agora,
o MDM não vai embarcar em situações ilegais, não vai embarcar violando a
Constituição. O MDM quer respeitar o Estado de Direito!
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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