Rui
Sá – Jornal de Notícias, opinião
Recordar-se-ão
que o JN publicava uma avaliação mensal, feita por vários cronistas, à atuação
dos diversos ministros do Governo. Onde, creio, me distinguia pelas notas
abaixo de 10 que a todos atribuía, dado que não conseguia conceber uma
positiva, por mais baixa que fosse, a quem integra um Governo que, na minha
opinião, tão mal tem feito ao país.
Essa
avaliação era seguida de um comentário que procurava caraterizar o que de mais
relevante se atribuía a cada ministro. Em abril do ano passado, procurando caraterizar
a atuação dos ministros de duas das mais importantes pastas governamentais -
Educação e Saúde -, mimoseava os mesmos com as seguintes frases: Nuno Crato -
"Como elefante em loja de porcelanas, vai destruindo a escola
pública!"; Paulo Macedo - "Com pezinhos de lã, vai destruindo o
Serviço Nacional de Saúde (SNS)!"
O
objetivo dos meus comentários era claro: apesar de estilos diferentes, os
ministros tinham objetivos semelhantes de desmantelamento de dois dos pilares
do nosso Estado social.
Ao
contrário de Crato, que apesar (ou por isso mesmo?) da sua origem maoista, só
faz disparates comunicacionais (que se juntam à irracionalidade das medidas que
toma), Paulo Macedo consegue transmitir uma imagem de rigor, uma discrição
cauta que ajuda a "esconder" as verdadeiras machadadas que tem dado
no Serviço Nacional de Saúde. Sendo que, naturalmente, uma "boa
imprensa" o ajuda nesse objetivo.
Mas,
tal como o azeite, a verdade vem sempre à tona. E, nos últimos tempos, têm sido
vários os exemplos que põem a nu as consequências da política seguida pelo
Governo na área da saúde. Onde parece evidente que o ministro da Saúde, quiçá
por estarmos em ano eleitoral, anda sempre a reboque da mediatização dos
problemas.
De
facto, há picos de afluência às urgências hospitalares e os doentes ficam
dezenas de horas à espera de ser atendidos (em cadeirões e macas, por
inexistência de camas disponíveis!), falecendo um número anormal de pessoas.
Depois de o problema atingir proporções assustadoras e a comunicação social lhe
dar um enorme destaque, o ministro faz saber que autorizou a abertura de
concursos para a contratação de médicos, deixando "cair" a informação
de que a "culpa" é destes, dado que, não obstante os vencimentos
horários "altíssimos" oferecidos, não há médicos a concorrer...
Esquecendo o mais relevante do processo: é que, para além da sua falta, há
médicos a ser contratados para os hospitais por intermédio de empresas de
trabalho temporário! Onde chega a precarização...
Agora,
foi preciso morrer uma doente com hepatite C e outros manifestarem-se
ruidosamente na Assembleia da República, para se conseguir chegar a acordo com
a farmacêutica que produz medicamentos que têm apresentado uma elevada taxa de
sucesso na cura da doença. Por preços exorbitantes, mesmo assim, mas, como dizia
a presidente da Plataforma Hepatite C, "é a lei da oferta e da
procura". Ou, por outras palavras, o capitalismo no seu melhor, em que a
saúde é um negócio...
Este
caso também dá para ver a lógica desta Europa monetarista. Harmonizar défices,
sim! Negociar conjuntamente a aquisição de um medicamento - o que permitiria
reduzir custos por efeito de escala - não!...
O
problema não está no SNS, um dos mais avançados e socialmente justos do Mundo.
O problema está em opções políticas erradas que, à boleia de uma pretensa
racionalização de custos, mais não visam do que favorecer o sistema de saúde
privado e os grupos financeiros que nele investem à espera de retorno
financeiro suculento.
Por
isso, e por melhor imagem, bondade, conhecimentos e mesmo competência do
ministro, o problema não é esse. O problema, como em tudo, são as opções
políticas...
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