terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Portugal: HAJA SAÚDE!



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Recordar-se-ão que o JN publicava uma avaliação mensal, feita por vários cronistas, à atuação dos diversos ministros do Governo. Onde, creio, me distinguia pelas notas abaixo de 10 que a todos atribuía, dado que não conseguia conceber uma positiva, por mais baixa que fosse, a quem integra um Governo que, na minha opinião, tão mal tem feito ao país.

Essa avaliação era seguida de um comentário que procurava caraterizar o que de mais relevante se atribuía a cada ministro. Em abril do ano passado, procurando caraterizar a atuação dos ministros de duas das mais importantes pastas governamentais - Educação e Saúde -, mimoseava os mesmos com as seguintes frases: Nuno Crato - "Como elefante em loja de porcelanas, vai destruindo a escola pública!"; Paulo Macedo - "Com pezinhos de lã, vai destruindo o Serviço Nacional de Saúde (SNS)!"

O objetivo dos meus comentários era claro: apesar de estilos diferentes, os ministros tinham objetivos semelhantes de desmantelamento de dois dos pilares do nosso Estado social.

Ao contrário de Crato, que apesar (ou por isso mesmo?) da sua origem maoista, só faz disparates comunicacionais (que se juntam à irracionalidade das medidas que toma), Paulo Macedo consegue transmitir uma imagem de rigor, uma discrição cauta que ajuda a "esconder" as verdadeiras machadadas que tem dado no Serviço Nacional de Saúde. Sendo que, naturalmente, uma "boa imprensa" o ajuda nesse objetivo.

Mas, tal como o azeite, a verdade vem sempre à tona. E, nos últimos tempos, têm sido vários os exemplos que põem a nu as consequências da política seguida pelo Governo na área da saúde. Onde parece evidente que o ministro da Saúde, quiçá por estarmos em ano eleitoral, anda sempre a reboque da mediatização dos problemas.

De facto, há picos de afluência às urgências hospitalares e os doentes ficam dezenas de horas à espera de ser atendidos (em cadeirões e macas, por inexistência de camas disponíveis!), falecendo um número anormal de pessoas. Depois de o problema atingir proporções assustadoras e a comunicação social lhe dar um enorme destaque, o ministro faz saber que autorizou a abertura de concursos para a contratação de médicos, deixando "cair" a informação de que a "culpa" é destes, dado que, não obstante os vencimentos horários "altíssimos" oferecidos, não há médicos a concorrer... Esquecendo o mais relevante do processo: é que, para além da sua falta, há médicos a ser contratados para os hospitais por intermédio de empresas de trabalho temporário! Onde chega a precarização...

Agora, foi preciso morrer uma doente com hepatite C e outros manifestarem-se ruidosamente na Assembleia da República, para se conseguir chegar a acordo com a farmacêutica que produz medicamentos que têm apresentado uma elevada taxa de sucesso na cura da doença. Por preços exorbitantes, mesmo assim, mas, como dizia a presidente da Plataforma Hepatite C, "é a lei da oferta e da procura". Ou, por outras palavras, o capitalismo no seu melhor, em que a saúde é um negócio...

Este caso também dá para ver a lógica desta Europa monetarista. Harmonizar défices, sim! Negociar conjuntamente a aquisição de um medicamento - o que permitiria reduzir custos por efeito de escala - não!...

O problema não está no SNS, um dos mais avançados e socialmente justos do Mundo. O problema está em opções políticas erradas que, à boleia de uma pretensa racionalização de custos, mais não visam do que favorecer o sistema de saúde privado e os grupos financeiros que nele investem à espera de retorno financeiro suculento.

Por isso, e por melhor imagem, bondade, conhecimentos e mesmo competência do ministro, o problema não é esse. O problema, como em tudo, são as opções políticas...

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