Díli,
10 fev (Lusa) - O primeiro-ministro indigitado timorense, Rui Araújo, que em
maio completará 51 anos, é um dos médicos mais conhecidos do país, com uma
longa carreira que incluiu tratar guerrilheiros e ter sido estafeta de Xanana
Gusmão para o exterior.
Considerado
um homem dedicado à família e ao serviço público, íntegro e dedicado, Rui
Araújo chega ao topo do executivo depois de uma ampla experiência ao longo de
toda a jovem vida do Estado timorense - foi ministro da Saúde e assessor nos
Ministérios da Saúde e das Finanças.
Mesmo
que o facto de ser militante da Fretilin (Frente Revolucionária de Timor-Leste
Independente) tenha causado algum mal-estar aos partidos da coligação do
Governo, o seu nome nunca deixou de suscitar consenso, com apoiantes e adversários
políticos a reconhecerem a sua dedicação, ética e qualidade de trabalho.
A
sua indigitação como primeiro-ministro por um partido diferente ao seu confirma
a tentativa de procura de consenso entre as várias forças políticas do país.
Natural
do suco de Mape, na região de Zumalai, no distrito de Covalima, Rui Araujo
nasceu a 21 de maio de 1964, tem dois filhos, é licenciado em Medicina pela
universidade de Bali, com mestrado em Saúde Pública pela Universidade Otago, em
Dunedin, na Nova Zelândia.
Completou
a escolaridade primária em Suia e em 1974 veio para Dili onde estudou no
Externato de São José, no bairro de Lahane.
É
durante a sua vinda para Díli que Rui Araújo primeiro se interessa pela
política, tornando-se militante da ASDT e, posteriormente, da Fretilin,
influenciado na altura pelo catequista José de Arayjo.
Termina
o 7º liceu em 1985, em Díli, e consegue uma bolsa de estudo do Governo
provincial indonésio para estudar literatura inglesa na Universidade Católica
Satya Wacana, em Salatiga, Java Central.
Durante
o período em que estudou na Indonésia amplia o seu trabalho na clandestinidade,
enviando informação regular para a comunidade timorense na Austrália,
nomeadamente em Darwin.
Em
1986 muda-se para a faculdade de medicina da Universidade Islaun Sultan Agung,
em Semarang (Java Central), mantendo-se sempre ativo como "caixa" ou
estafeta, levando informação entre Bali, Surabaya e Jakarta.
Três
anos depois transfere-se para a faculdade de medicina da Universidade Udayana,
em Bali, onde termina o curso de medicina geral 1994.
Rui
Araújo assume-se, então, formalmente como membro da RENETIL (Resistência
Nacional dos Estudantes de Timor-Leste), incluindo entre as suas atividades a
redação e edição do boletim informativo Neon Metin.
Entre
1990 e 1992 Rui Araújo torna-se um dos elos de comunicação principais entre
Xanana Gusmão, então no comando das Forças Armadas de Libertação e
Independência de Timor-Leste (Falintil), e a rede externa, incluindo em Macau e
em Portugal.
Fez
parte da equipa que, em 1991, preparou a visita de receção à delegação
parlamentar portuguesa, que nunca se chegou a realizar, apoiando ainda Kirsty
Sword Gusmão, hoje mulher do primeiro-ministro, e o jornalista Max Stahl.
Entre
1994 e 1998 Rui Araújo exerce como médico de clínica geral no Hospital de Díli,
tendo colaborado na altura com a organização Caritas em programas de combate à
tuberculose.
Paralelamente
ao seu trabalho mais público, Rui Araújo dedica parte do seu tempo ao cuidado
clandestino, apoiando no tratamento a elementos da guerrilha incluindo, em
abril de 1996, ao então chefe de Estado Maior das Falintil, o comandante David
Alex Daitula.
Atividade
que, em fevereiro de 1998, lhe vale uma carta anónima, de denúncia, apresentada
ao então governador de Timor-Leste, Abílio Osório Soares.
Nesse
ano, em setembro, Rui Araújo é um dos colaboradores que apoia o então
administrador apostólico de Díli, Ximenes Belo, na organização da ronda de
diálogo conhecida como Dare I.
Um
mês depois obtém uma bolsa de estudo do Governo neozelandês - o seu filho
também acabaria por estudar naquele país - para completar um mestrado em Saúde Pública na
Universidade Otago, em Dunedin.
Depois
do referendo, em 1999, Rui Araújo volta ao seu trabalho em Timor-Leste,
integrado na Autoridade Interina de Saúde, o embrião do futuro Ministério de
Saúde, então pertencente à Administração Transitória das Nações Unidas
(UNTAET).
A
sua tese de mestrado - "Um sistema de saúde adequado para Timor-Leste pela
perspetiva dos timorenses" - é aceite em junho de 2001, sendo recrutado no
mês seguinte como Diretor dos Serviços de Saúde da UNTAET.
Finalmente,
a 2 de maio de 2002 inicia funções como ministro da Saúde no 1.º Governo
Constitucional, cargo que mantém depois da reestruturação levada a cabo a 26 de
julho de 2005, terminando o cargo em agosto de 2007.
Nos
dois anos seguintes mantém-se como assessor de política e gestão de saúde no
mesmo Ministério ocupando entre agosto de 2009 e o presente o cargo de assessor
de gestão e política pública no Ministério das Finanças.
Simpatizante
da Fretilin desde 1975 registou-se oficialmente como militante a 9 de dezembro
de 2010, com o número 0177/DL/102551/003920.
Em
2011 funda a organização Profissionais de Saúde Militante Fretilin (PSMF) e a
11 de setembro desse ano é eleito como membro do Comité Central do partido, a
que ainda pertence.
Participa
na Conferência Nacional da Fretilin, em abril de 2014, durante a qual é
aprovada uma resolução que permite a entrada de elementos do partido, se
convidados de forma individual, no Governo nacional.
ASP
// PJA
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