Díli,
19 fev (Lusa) - Timor-Leste está preparado para comprar a parte da australiana
Woodside no consórcio do projeto de gás do Greater Sunrise, no Mar de Timor, se
a petrolífera mantiver intenções de manter parado o projeto, disse um ministro
timorense.
"Já
falei com a Woodside dizendo que se não se sentem confortáveis, Timor-Leste
está pronto para comprar a parte da Woodside no Greater Sunrise", disse
Alfredo Pires, ministro do Petróleo e dos Recursos Naturais timorense, em
entrevista à Lusa.
"Este
é o melhor tempo para comprar", afirmou.
Alfredo
Pires explicou que já transmitiu essa mesma posição à Woodside, lamentando o
facto da empresa, com quem Timor-Leste tem estado em conversações há vários
meses, ter vindo para a imprensa dizer que quer adiar o projeto pelo menos 10
anos.
"Não
nascemos ontem e não somos crianças. Entendemos desta matéria. Somos pessoas do
petróleo. E estamos a falar de uma jazida que é das melhores da região",
considerou.
"Já
lhes disse: vocês estão a falar de engavetar o projeto. Mas Timor-Leste quer
falar de comprar a vossa parte. A resposta deles, neste caso, foi que nem está
no seu pensamento vender isso. Ou seja, parece que afinal todos temos interesse
nessa coisinha", afirmou.
A
"coisinha" é um campo com 5.1 triliões de pés cúbicos de gás, cujo
valor poderia rondar, entre exploração e 'downstream' [unidades de
transformação que podem incluir refinação de petróleo], 100 mil milhões de
dólares.
"Nos
últimos meses Timor-Leste, através da sua companhia nacional de petróleo, a
Timor Gap, tem tido conversas regulares, bastante rigorosas e interessantes,
com a petrolífera", disse.
"E
de repente vemos na imprensa, e o presidente da Woodside confirma depois numa
carta que nos enviou, que vai ficar à espera de uma solução dos dois Governos antes
de avançar mais", disse.
Um
anúncio que deixou o Governo "um pouco surpreendido" porque sentia
que havia um "entendimento que pretendia criar um certo nível de confiança
em todo o processo" em curso.
"Achamos
que faz parte de uma certa pressão para ter aqui uma solução. Sim, se o Greater
Sunrise não avançar Timor-Leste vai sentir mais desafios, mas são desafios que
temos que tentar enfrentar", afirmou.
"Mas
pode ser bastante prejudicial para a petrolífera australiana que corre o risco
de perder o mercado totalmente", frisou.
O
contrato dos dois governos com a petrolífera vigora apenas até 2026 e mesmo a
esta distância o seu valor pode já estar em jogo, já que investidores em gás
"querem ter uma certeza a 20 anos".
"A
Woodside e os seus parceiros correm o risco de perder o Greater Sunrise
totalmente. E aí o Governo de Timor-Leste tem a oportunidade de fazer uma
avaliação para saber se, de facto, essa companhia é a parceira ideal depois de
2026", considerou.
"Estamos
a ter em conta os interesses nacionais a médio e longo prazo. Teremos mais
desafios, mas Timor-Leste não é um barco parado".
Localizado
a 150 quilómetros sudeste de Timor-Leste e 450 quilómetros noroeste de Darwin,
no Território Norte da Austrália, o Greater Sunrise está em parte (20,1%) na área
do Mar de Timor gerida em conjunto por Timor-Leste e pela Austrália.
O
consórcio criado para a exploração do projeto é formado pela australiana
Woodside, a operadora (33%), pela ConocoPhillips (30%), Royal Dutch Shell
(26,6%) e Osaka Gas (10%).
Apesar
de algumas divisões de opinião no seio da parceria, a posição formal das
empresas envolvidas no projeto é da defesa de uma unidade flutuante para o
processamento de Gás Natural Liquefeito (GLN).
A
Shell defende a opção 'off-shore', plataformas exploratórias no mar, a
ConocoPhillips até prefere a opção de uma 'pipeline' [oleoduto] para Darwin -
onde já tem instalada uma unidade para o processamento do gás do campo de
Bayu-Undan e a Woodside.
Timor-Leste
insiste na defesa da construção de uma unidade de processamento de Gás Natural
Liquefeito (GLN) na costa sul da ilha.
"Timor-Leste
continua a aceitar apenas discutir a opção do desenvolvimento 'on-shore'
[plataformas exploratórias em terra]. Não sei qual é o sentido de tentar adiar
isto mais uma década", considerou Alfredo Pires.
ASP
// MSF
Sem comentários:
Enviar um comentário