António
Ribeiro Ferreira – jornal i
O
seu grande êxito foi a reunificação alemã, a sua desgraça receber dinheiro
ilegal para a CDU
Schäuble,
o tesoureiro da Europa, tinha um sonho na vida: ser chanceler alemão. Não foi.
O donativo de um traficante de armas à CDU tramou-lhe a vida. Do mal o
menos, sonhou ser presidente da Alemanha. Não foi. Angela Merkel tramou-o ao
escolher um político de segunda linha para o cargo quando chegou ao poder, em
2005. Mas o homem que está ao leme das Finanças alemãs desde 2005 não teve só
desgraças na sua vida. Foi, como braço-direito de Helmut Khol, o homem que
reunificou a Alemanha. Esta é a sua grande obra como político desde que entrou
na juventude da CDU, em 1961.
Quatro
anos mais tarde entrou no partido com grandes ambições políticas. Apoiado pelo
seu mentor, Khol, Schäuble chegou a ministro do Interior quando o Muro de
Berlim caiu e teve de assumir a responsabilidade pelo espinhoso dossiê da
reunificação alemã. Conseguiu levar a água ao moinho e tornou-se um herói para
os alemães. Nesses tempos de grandes mudanças na Europa, Schäuble era o
braço-direito de Khol e o senhor que dominava todos os pormenores da política
interna e externa. Anos mais tarde conheceu António Costa, ministro do Interior
de Sócrates entre 2005 e 2007. E a verdade é que os dois ministros se tornaram
grandes amigos e ainda hoje, quando o ministro das Finanças alemão é odiado por
uma boa parte dos europeus, portugueses inclusive, e aparece no jornal do
Syriza fardado de nazi, o secretário--geral do PS omite qualquer crítica ao seu
amigo Schäuble. Mas a carreira política do homem que Merkel não quis para
presidente alemão ficou marcada por uma mentira ao parlamento alemão sobre o
donativo de 100 mil marcos recebido de um traficante de armas. O escândalo
rebentou quando Schäuble liderava a CDU depois da derrota de Khol nas
legislativas de 1998. Obrigado a demitir-se de presidente do partido, deu o
lugar a Angela Merkel. O escândalo também provocou um abalo nas relações entre
Khol e Schäuble, um abalo que permanece anos e anos depois do escândalo. Quando
fez 70 anos, a CDU lembrou-se de lhe fazer uma grande festa de aniversário.
Khol foi convidado. Não apareceu.
Outra
tragédia a marcar uma vida que teve momentos de glória. Num comício em 1990 um
louco atingiu-o a tiro. A bala apanhou-lhe a coluna vertebral e Schäuble ficou
paralítico. Se o todo-poderoso ministro já era um herói por estar a reunificar
os alemães, mais herói ficou depois do tiro. Em cadeira de rodas, não desistiu
da política. Foi o tiro do donativo que o deitou por terra. Só voltou ao activo
quando Angela Merkel ganhou as eleições de 2005 e lhe ofereceu um lugar no
governo. Wolfgang queria ser presidente. A chancheler recusou. Um político
mentiroso e com relações com gente pouco recomendável não podia ser presidente
da Alemanha. O que podem fazer 100 mil marcos na vida de um homem. Perder a
chancelaria e a presidência. Merkel ofereceu--lhe as Finanças. Schäuble agarrou
a oportunidade com as duas mãos. Na era da moeda única, o grande político, que
Schäuble continua a ser, percebeu que a oferta era a oportunidade de se tornar
o grande senhor das Finanças europeu. Dez anos depois conseguiu. Hoje tudo
passa por ele no reino da moeda única. Odiado, temido, amado, ninguém fica
indiferente a Schäuble. Um homem irado quanto baste, que também é capaz de ser
caloroso e amigo do seu amigo. Mas que se cuidem os seus ódios de estimação.
Não esquece e dificilmente perdoa. Schäuble não vai entrar aos tiros na
redacção do jornal do Syriza, mas vai olhar sempre para Varoufakis como um
homem a abater.
Foto Reuters
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