terça-feira, 31 de março de 2015

DRONES JÁ CAUSAM ESTRAGOS EM ANGOLA



Afrodire Zumba – O País (ao)

A “febre” dos Drones que rapidamente se alastrou pela Europa tem adquirido alguns adeptos a nível nacional. Pese embora sejam ainda por muitos desconhecidos, estes aparelhos facilmente passam despercebidos em diferentes ambientes sociais e podem ser utilizados como verdadeiros invasores à privacidade.

Terminou o período em que para se registar imagens aéreas, era obrigatoriamente necessário recorrer-se ao uso de helicópteros, pois que, os Drones vieram alterar esta realidade.

Os veículos aéreos não tripulados manuseados remotamente, equipados com uma câmara, têm ajudado o homem em situações que constituem risco para si, como catástrofes ambientais em que ocorre a libertação de gases tóxicos, na ocorrência de incêndios de grandes proporções, lugares de difícil acesso e circulação.

Este aparelho electrónico também pode auxiliar no controlo de fronteiras, servir como ferramenta de trabalho para órgãos de comunicação social, fotógrafos, organizadores de eventos ou de instrumento lúdico para os cidadãos comuns.

O PAÍS saiu as ruas de Luanda, para saber de alguns citadinos se conhecem ou possuem informações sobre estes dispositivos. Na sua maioria, os inquiridos franzem a testa e muito admirados passam a questionar “o que é isso, por favor pode explicar”?

A reação é comum, até mesmo entre funcionários de lojas que comercializam produtos considerados como “ novidades”, ao nível tecnológico num centro comercial em Talatona.

“Drones, explique-se melhor, o que é isso moça? Retorquiu a funcionária muito surpreendida. Dirijase até à loja ali em frente, talvez eles tenham”.

Numa das Instituições de Ensino Superior localizada naquelas imediações, apenas um entre os 10 estudantes entrevistados, dos vários cursos de engenharia ali existentes, apresentou definições correctas ligadas ao conceito.

O académico do primeiro ano do curso de Engenharia Eléctrica, Benvindo Lukoki, de 18 anos, afirmou que apesar de ter estudado engenharia electrónica no ensino médio, durante o período de formação, não obteve nenhum conhecimento a respeito do aparelho, e tão pouco ouviu algum comentário fora do ambiente escolar. Por sua vez, Gorethe Marcos, também “caloira” no curso de Engenharia Química, após a breve explicação que recebeu disse que já visualizou um aparelho semelhante na festa em que participou numa discoteca no Bairro Popular.

“É idêntico aquele retroprojector que está na sala, apontou, na festa estava na altura das luzes coloridas. Só depois a explicação lembrei-me”. Ao passo que, o estudante de Engenharia Mecânica, Chrstian Willer, de 18 anos, que se fazia acompanhar de quatro colegas apresentou uma definição básica, alegando que os vê frequentemente na televisão.

“Eu comprei um mini Drone, um helicóptero telecomandado há mais de 20 mil kwanzas aqui próximo.

Mas, aquele não tem câmara. Não tenho interesse em ter os maiores”, explicou.

Negócio rentável

Poucas são as lojas específicas de dispositivos electrónicos, que tenham nas prateleiras o produto, visto que, ainda é muito desconhecido. Nas lojas que podemos verificar, o preço varia entre os 33 mil kwanzas para o mini Drone (terrestre), aos 173 mil 408 kwanzas para um equipamento de maior dimensão, com capacidade de capturar imagens de alta-definição. A sua comercialização também está disponível num site especializado em vendas, na esfera nacional, onde em função da marca são vendidos a partir de 60 mil kwanzas e alguns em valores acima dos 300 mil kwanzas.

Em depoimento a O PAÍS, o nosso interlocutor que falou sob anonimato, disse que há mais de seis meses adquire o produto no estrangeiro e o revende no montante de 145 mil kwanzas, sem a câmara. Prosseguiu salientando que o mês de Dezembro foi muito rentável para si, visto que registou a venda de cinco destes equipamentos ao passo que, mensalmente vende no máximo dois. Indagado se considera que o uso do aparelho em algumas situações pode colocar em causa a privacidade dos indivíduos, uma vez que eles podem alcançar mais de 500 metros, dependendo do modelo, o mesmo fez saber que cada utilizador deve estar consciente de algumas regras, e saber que “onde termina a sua liberdade começa a de outrem”.

“Devemos ter respeito pelo próximo e não divulgar as imagens que colhemos em determinados ambientes e difundi-las na internet sem prévia autorização”, enfatizou.

Ângulos superiores em distâncias ínfimas

Ricardo Fernandes, integrante de um conceituado grupo organizador de eventos sociais, na cidade de Luanda relatou que durante o planeamento logístico do referido grupo, observaram o quanto os Drones podiam auxiliar na elaboração de uma maquete aproximada à realidade em termos de dimensões e enquadramento, que no momento era uma necessidade primordial.

Disse ainda que estes equipamentos apresentam mais vantagens do que desvantagens, uma vez que possibilita a captura de imagens de um ângulo superior a poucos metros de distância.

“ Quem diria que podíamos filmar um surfista em pleno “drop” ou filmar um pelotão de viaturas de competição a fazer uma curva, questionou.

Ao tecer considerações sobre a segurança e o direito à privacidade, no manuseio dos veículos aéreos não tripulados, Ricardo Fernandes afirmou que a seu ver deve ser expressamente proibido junto a aeroportos e instalações de entidades de seguranças públicas e militares, bem como em alguns espaços urbanos com densa circulação de pessoas pois, também caem.

Nesta perspectiva, acrescentou que de modo a salvaguardar a imagem dos participantes, ao fazer a captura de imagens, com o uso destes dispositivos, opta por obter uma visão generalizada do espaço e quando as coloca nas redes sociais, são devidamente identificadas, de modo que os participantes possam solicitar a sua remoção.

“Quando os participantes se apercebem que os Drones estão em actividade, seguem os movimentos e fazem “caretas”, sinónimo de boa vibe”, comentou.

Legislação a caminho

O director do Centro Tecnológico Nacional do Ministério da Ciência e Tecnologia, MINCT, Gabriel Miguel, ao fazer uma análise sobre o período de inserção e comercialização destes aparelhos electrónicos no país, afirmou que no momento, este organismo não dispõe de registos específicos sobre tal facto.

Acrescentando que nesta perspectiva, a instituição que representa criou há um ano a Direcção de Transferência de Tecnologias, que actualmente leva a cabo um estudo abrangente referente ao desenvolvimento das tecnologias em Angola em diferentes sectores, no sentido de serem criadas linhas orientadoras.

Segundo explicou, será também incumbência deste departamento a monitorização da entrada e saída das tecnologias no país, bem como a sua regulamentação, quando esta já se encontrar devidamente legislada.

Nesta senda, o representante salientou existir necessidade de se legislar o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação, no território nacional, incluindo as redes sociais e o uso de equipamentos como os Drones que se disseminam amplamente a fim de se combater as práticas invasivas, como o abuso à privacidade.

Lei defende privacidade

Ainda não existe no país uma legislação específica para o uso de Drones e combata as práticas abusivas de invasão à privacidade por intermédio deste dispositivo, à semelhança da França e os Estados Unidos da América.

Em declarações a O PAÍS, o advogado Alcineo Cristóvão Luís explicou que o direito à privacidade está subjacente ao Direito a Personalidade consagrado no artigo 32 da Constituição angolana. Salientando ainda que os mesmos são considerados como “fundamentais, absolutos e que todos os cidadãos angolanos os detêm”.

O advogado fez saber que os indivíduos que se sintam lesados podem participar às autoridades competentes como a polícia de investigação criminal e ao Ministério Público no sentido de fazer desencadear o competente processo crime.

Prosseguiu dizendo que os mesmos devem fazer-se acompanhar de provas. A equipa de reportagem do PAÍS contactou o Director Nacional de Comunicação e Imagem do Comando Geral da Polícia Nacional, Aristófanes dos Santos, para tecer considerações sobre a monitorização destes dispositivos no país, bem como o levantamento de outras questões, ficando sem resposta até ao momento.

MQ-9 REAPER o mais Letal

Avaliado em mais de 16 milhões de dólares, o MQ-9 REAPER, desenvolvido nos Estados unidos da América tem habilidade de voar de forma autónoma como um robô voador.

O mesmo tem a capacidade de carregar mísseis e bombas guiadas à laser bem como consegue alcançar os 15 mil metros de altitude, superior a um avião comercial, tal como cita o site Canaltech.

Histórico: Os Drones são aparelhos electrónicos que podem apresentar diferentes características e dimensões manuseados pelo homem com o auxílio de um comando-remoto. O conceito é muito abrangente, não fazendo apenas referência aos “populares” veículos aéreos não tripulados, porquanto existem também os aquáticos e os terrestres.

Desenvolvidos inicialmente como instrumento de guerra, que permitia o ataque ao inimigo sem risco de perda humana, isto em 1973, pelo engenheiro aeroespacial, Abe Karem, nos Estados Unidos da América, tal como afirma o site Opiniões & Notícias.

Estes equipamentos, actualmente não se restringem apenas ao uso militar porquanto foram adaptados para uso civil, e auxiliam o homem no desempenho de diversas actividades, tal como aconteceu com a tecnologia GPS.

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