Jornal
de Angola, editorial
Numa
altura em que África procura soluções de paz e estabilidade, as discussões
sobre integração e diversificação económica sobressaem na agenda de todos os
países.
Uma conferência sobre a
integração regional e o financiamento do desenvolvimento de África
decorre desde ontem em
Addis Abeba. Esta reunião anual permite debater o caminho do
continente a caminho do desenvolvimento. A conferência decorre sob o lema
“Execução do Programa da União Africana até 2063, Planeamento, Mobilização e
Financiamento do Desenvolvimento”. Constitui soberana oportunidade
para discutir os problemas e desafios do continente.
Não se pode avançar na agenda da integração e diversificação económica como
factores que potenciam aquelas duas premissas se ficarem reféns dos
conflitos pós eleitorais e dos militares. Os países, na sua ordem jurídica
interna, e a organização continental têm de encontrar uma solução que acabe com
as alegações de fraude por parte de quem perde eleições. É preciso adoptar um
código de ética pelo qual todos os participantes são obrigados a assinar um
compromisso de honra. No documento fica expresso que aceitam os resultados que
forem proclamados pelas Comissões Nacionais Eleitorais.
A democracia tem muitas vertentes, mas uma das mais importantes é a realização
de eleições. Os participantes na disputa eleitoral não podem ao mesmo tempo
usurpar o papel de árbitros e declarar a existência de fraudes, apenas porque
perderam.
Já poucos se lembram, mas foi a UNITA de Jonas Savimbi que criou essa fórmula
antidemocrática e que tem revelado resultados devastadores. Basta analisar o
que aconteceu em Angola, entre 1992 e 2002. Os mentores políticos de Savimbi,
sobretudo o sul-africano Sean Cleary, apesar da blindagem contra a fraude,
tomaram a seguinte decisão que depois levaram até ao retorno à guerra: “Se
ganharmos, as eleições são livres e justas. Se perdermos foram fraudulentas e
tomamos o poder pelas armas”.
Desde então, o modelo savimbista foi copiado por outros partidos derrotados em
Angola e em todo o continente. É altura de tomar medidas para acabar com ele. A
mais eficaz é declarar ilegal todo o partido que ouse concorrer a
eleições e depois usurpe o papel de árbitro. A ética eleitoral tem de ser clara
neste ponto: os derrotados são obrigados a fazer uma declaração de derrota e de
aceitação dos resultados. Hoje as lideranças africanas interpretam melhor
os problemas do continente, razão pela qual congregaram esforços para a criação
de organizações regionais, além de imprimirem uma nova dinâmica na União
Africana.
Não podemos negar que grande parte da estabilidade e processos exemplares de
aproximação das economias em muitas regiões do continente se deve à existência
de organizações, que zelam por objectivos comuns. Muitos problemas ligados à
paz, à estabilidade e ao desenvolvimento que os Estados enfrentam, deixaram de
ser encarados unilateralmente. Os debates para promover uma agenda de
desenvolvimento para todo o continente constituem uma mudança de paradigma dos
tempos modernos, em que a partilha de experiências e conjugação de esforços são
uma realidade.
Com lideranças visionárias que abraçam desafios e que transformam as suas
estratégias de desenvolvimento em ferramentas para mudar as vidas das
populações, o continente tem razões para encarar o futuro com esperança. À
conferência de Addis Abeba, os representantes do Estados membros da União
Africana não vão apenas levar a experiência dos seus países, mas igualmente
partilhar informações e práticas que todos precisam de avaliar e, se for
caso disso, aplicar.
Uma estratégia comum de desenvolvimento para o continente pode fundar-se nos
princípios da Agenda Nacional de Consenso, uma iniciativa do MPLA que tem
inegável interesse nacional e continental. Quando foi lançada, teve
várias interpretações e inclusive reservas por parte da oposição, mas, na
verdade, o debate ensaiado para legar ao país linha orientadoras do seu
desenvolvimento nos próximos 25 anos, enquadra-se bem no presente debate que a
União Africana promove.
África precisa de repensar e perspectivar o seu desenvolvimento para as
próximas décadas, contrariamente à ideia do “vamos andando” e resolver os
problemas pontualmente. Nos Estados modernos, a estratégia e programas de
desenvolvimento devem obedecer a discussões alargadas e consensos, mas
sobretudo devem incorporar uma visão e perspectivas de médio e longo prazo.
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