Em
Moçambique, analistas consideram que o chefe do Estado, Filipe Nyusi, eleito
como novo presidente da FRELIMO, o partido no poder, já pode operar mudanças
profundas na governação do país.
A
sucessão põe fim a uma gestão bicéfala de Moçambique, caraterizada pela
subserviência do Presidente da República ao seu partido, e marca uma nova etapa
de governação, em que
Filipe Nyusi deverá materializar a sua perspetiva inclusiva
de governação, segundo analistas.
Aliás,
esta foi parte do discurso do novo presidente da FRELIMO, no encerramento da
quarta sessão do Comité Central, encontro
onde Nyusi foi eleito para o cargo.
"Ciente
da missão histórica do nosso partido como o guardião do estandarte da paz e do
desenvolvimento, vamos concentrar os nossos esforços na mobilização dos nossos
membros e militantes para que continuemos empenhados no fortalecimento do papel
da FRELIMO na edificação de uma sociedade de justiça social, de inclusão, de
tolerância e harmonia", destacou Filipe Nyusi.
Governo e partido devem falar a mesma língua
Governo e partido devem falar a mesma língua
O
analista João Miguel refere que o estadista deverá garantir que tanto o partido
como o Governo falem a mesma língua no tratamento dos assuntos de interesse
nacional, como é o caso das negociações que decorrem com a RENAMO, o maior
partido da oposição no país.
"Num
dado momento, Nyusi enquanto Presidente dizia uma coisa e outros integrantes da
FRELIMO diziam outra coisa totalmente diferente. Agora, enquanto dirigente do
partido e também chefe de Estado, Nyusi estará em melhores condições para que,
de facto, possa fazer avançar o processo que visa a concretização de uma paz
efetiva", disse João Miguel.
Outro
desafio de Filipe Nyusi enquanto Presidente da República e da FRELIMO, segundo
o analista, passa por garantir a coesão necessária no partido, por forma a
transformá-lo numa força política ajustada ao atual contexto democrático, onde
o respeito às diferenças de pensamento é cultivado. "Não foi fácil, porque
havia uma ala dentro do próprio partido que defendia a permanência do antigo
Presidente Armando Guebuza como líder da FRELIMO. Agora, ele vai ter esta
missão espinhosa, difícil, de congregar os membros se quiser manter a unidade,
que é fundamental no seio da FRELIMO."
População quer estabilidade e paz
População quer estabilidade e paz
Por
seu lado, o analista Dércio Alfazema considera que esta sucessão permite que o
estadista governe o país de forma confortável nas suas relações com os membros
do partido, mas representa uma enorme responsabilidade perante o povo.
"Agora
não há outra justificação. Nyusi deixou sempre claro aquilo que eram as
expetativas da população em relação ao seu mandato e as pessoas também foram
claras em relação ao que esperam de Nyusi. Portanto, há uma espécie de acordo
estabelecido e, aparentemente, as condições estão criadas para que haja a
devida resposta. Acho que é uma leitura muito justa e sábia que Nyusi fez em
relação àquilo que as pessoas mais esperam. Por exemplo, a população quer
estabilidade e paz, que estiveram muito ameaçadas nos últimos tempos e
condicionaram muito a vida das pessoas. Acredito que este processo vai ganhar
uma nova dinâmica e celeridade nos próximos dias."
Durante
a governação de Guebuza, a FRELIMO foi fortemente criticada pelo seu caráter
autoritário na abordagem de assuntos de interesse público. A questão que fica
por responder é se, de facto, Nyusi saberá ou não influenciar os seus
correligionários para uma abordagem política consentânea com os princípios democráticos.
Ernesto
Saúl (Maputo) – Deutsche Welle
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