Folha 8 (ao)
O
ex-Presidente da República timorense, José Ramos-Horta, considera uma
“falsidade” atribuir a Timor-Leste um papel de relevo no “lobby” para a adesão
da Guiné Equatorial à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Escrevendo
na rede social Facebook no dia em que foi tornado público um texto do
Presidente português, Cavaco Silva, que justificou a entrada da Guiné
Equatorial com os “danos” diplomáticos que provocaria a Timor-Leste – que
acolheu a cimeira onde a adesão foi ratificada –, Ramos-Horta recorda que
Angola e o Brasil sempre lideraram o lóbi favorável a Malabo na CPLP.
“O
lóbi forte pela admissão da Guiné Equatorial na CPLP foi sempre desencadeado
por Angola e Brasil, apoiado por todos os outros países africanos da CPLP, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tome e Príncipe”, escreve Ramos-Horta.
“A
reunião ministerial da CPLP que precedeu a Cimeira de Díli já tinha acordado,
consensualmente, na adesão da GE. Perante a postura firme de Angola, Brasil,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Angola, Portugal anuiu. Timor-Leste
simplesmente secundou esta posição”, escreve ainda.
No
prefácio do Roteiros IX, publicação que reúne as suas principais intervenções
do último ano, o Presidente da República portuguesa justifica a aceitação, por
parte de Portugal, da entrada da Guiné Equatorial com o facto de não colocar em
causa a coesão da CPLP e de não prejudicar Timor-Leste.
Cavaco
Silva considera que se Portugal se isolasse face à vontade conjugada de todos
os outros Estados-membros, “numa comunidade em que o multilateralismo deve
prevalecer sobre o unilateralismo, Portugal veria ainda a sua posição
dificultada pelo facto de ser o antigo poder colonial europeu”.
Ramos
Horta critica as tentativas de “atribuir a Timor-Leste a responsabilidade pela
admissão da Guiné Equatorial na CPLP”, o que considera ser um “falsidade que
tem sido propagada nos media portugueses desde a Cimeira de Díli de Julho de
2014″.
“De
lembrar que na Cimeira de Luanda de 2010 registou-se um forte embaraço
diplomático quando o Presidente da GE, estando presente e confiante que o seu
país iria ser admitido, foi humilhado pelo veto de Portugal”, escreve
Ramos-Horta. “Poderia Portugal continuar a opor-se a admissão da GE e isolar-se
perante os outros sete países membros da CPLP?”, questiona.
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