Comendador
Marques de Correia – Expresso, opinião
A
história é simples. Um rapazola chamado Rafael Marques publicou um livro (que pode
ser encontrado através deste link e que convém ler para se ficar com
uma opinião global do problema) onde acusa – de forma que parece logo abusiva e
repleta de má-fé, alguns generais angolanos de violarem direitos humanos na
exploração de diamantes nas províncias das Lundas.
O
que é mais incrível é que alguns desses generais seriam até muito próximos de
Sua Excelência (vénia) o Senhor Presidente (vénia) Engenheiro (dupla vénia)
José Eduardo dos Santos (vénia final). Ninguém acredita!!! O livro foi
publicado em Portugal pela editora Tinta da China que não pode ser mais
explícita sobre quem são os seus amos: a tinta e a China. Mas adiante.
Os
senhores generais entre os quais Hélder Vieira Dias, mais conhecido por
‘Kopelipa’ (vénia), assim como duas empresas diamantíferas referidas, decidiram
em boa hora colocar em tribunal o truculento rapazola. E foi assim que o
Tribunal de Luanda foi chamado a pronunciar-se.
Antes
de começado o julgamento os generais chegaram a acordo com o rapazola. Mas um
tribunal que se preza não deixa que acordos privados se substituam a crimes
públicos, sobretudo quando (vénia) põem em causa quem se sabe. Vai daí condenou
Rafael a seis meses de prisão com pena suspensa. Há quem ache ‘kafkiano’
condenar-se alguém depois de ter havido um acordo, mas esses não percebem nada
de Processo Penal Angolano. O crime é público e o Tribunal não tem de
reconhecer interesses privados, mostrando assim a sua independência. Atoardas,
como aquelas que se fizeram ouvir por parte de ativistas de direitos humanos,
que o acordo apenas serviu para que não fossem ouvidos, sob juramento, os ditos
generais e, sobretudo, as testemunhas do rapazola não fazem sentido. Na
verdade, não foram ouvidos, porque ao fazerem o acordo, as partes delas
prescindiram.
Claro
que haveria ainda um problema: se o tribunal não ouviu lado nenhum, como chegou
a uma convicção? Pensam que me apanham assim facilmente? Não é por acaso que
recebo (como vários jornalistas portugueses) uma avença do (vénia) Senhor
Engenheiro (vénia) José Eduardo dos Santos. A questão é que em Angola, ao
atacar-se o vértice do poder democrático, que é aquele que (vénia) sabeis,
ataca-se todo o regime. Não se pode destruir um telhado sem danificar uma casa,
claro.
E
por isso, a meu ver, andou bem o Tribunal luandense. Que haja justiça nessas
paragens de que tanto se fala na falta dela, é para mim a maior vitória.
PS:
O link do livro é autorizado pela editora. E, um pouco mais a sério, vale mesmo
a pena a leitura.
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