As
populações que vivem ao longo da região onde deverá ser implementado o projeto
agrícola ProSavana rejeitaram-no, alegando ser incompatível com a realidade das
comunidades camponesas.
A
versão zero do Plano Diretor para o Desenvolvimento Agrário do Corredor de
Nacala, que esta semana foi apresentada e discutida num encontro entre o
Governo e a Sociedade Cívil, trouxe informações divergentes.
As
comunidades rurais e camponeses que estiveram presentes na apresentação do
Plano diretor zero do ProSavana falaram da falta de clareza sobre os objetivos
deste Projeto. Por exemplo, os camponeses do distrito de Malema e Monapo, que
se localizam ao longo do Corredor de Nacala, referiram-se a alegada usurpação
das suas terras.
Justina
Wirriam disse que, o nome do ProSavana está a criar medo junto das comunidades
na localidade de Mutuali, distrito de Malema e outros locais do Corredor de
Nacala: "Em Mutuale estamos preocupados com o nome ProSavana. Ouvi dizer
que as pessoas que foram falar no ProSavana são as mesmas que foram para
Mutuale pela Agrimoz. E por causa da Agrimoz há famílias sem machambas e
terras. E hoje também estou a ver as mesmas pessoas aqui."
A
camponesa relata ainda que os camponeses rejeitaram o projeto: "Em Mutuale
estamos doentes por causa do ProSavana. Deixa-nos preocupados, já nem
conseguimos dormir. No dia de auscultação em Mutuale houve uma grande discussão,
os camponeses de lá negaram, mesmo, o nome ProSavana."
Desconfianças
e dúvidas persistem
Já
Eris Pensador tem dúvidas sobre a naturza do ProSavana: "Lendo no geral
todo o documento do ProSavana, conseguimos ver que este é um plano de negócios
e não um programa de desenvolvimento."
Eris
Pensador e Lemos Mupa, camponeses de Malema e Monapo, baseados no Corredor de
Nacala, dizem que o ProSavana não tem nada a ver com as populações, mas sim com
interesses de pessoas estranhas: "Esse programa ProSavana, quando se ouve
falar nele, para o posto administrativo de Tukulo já constitui uma tristeza.
Queria saber qual será o benefício para nós os camponeses."
Já
o padre José Luzia Conçalves se sente dividido quanto ao polémico assunto:
"Estou ainda um bocado em dúvida para saber se concordo ou descordo.
Diante da apresentação feita, claro que eu ia levantar o braço a concordar. Mas
com as críticas pequeninas que já ouvi aqui e as outras grandes que tenho
ouvido noutro lado, eu estou de pé atrás."
Aunício
da Silva, jornalista e ativista social diz que o ProSavana carece de elementos
fundamentais para que se aproxime das preocupações da população: "A meu
ver é uma visão simplista, enganosa e pouco científica."
ProSavana
e melhorias
O
diretor nacional do ProSavana disse que a operacionalização deste projeto
poderá acontecer em 19 distritos, das províncias de Niassa, Cabo Delgado e
Nampula.
António
Raúl Limbau afirmou que um dos pontos altos deste projeto é a melhoria de vida
dos produtores com destaque, para o setor familiar: "Concordamos todos que
as nossas condições de vida precisam de ser melhoradas cada vez mais. É isso
que se pretende ver, que o ProSavana possa contribuir na melhoria das condições
de vida dos habitantes deste Corredor que representam cerca de um quinto ou um
sexto da população do nosso país e por isso merece uma atenção especial."
ProSavana
é o maior projeto para a modernização da agricultura em Moçambique. Com o
apoio da cooperação do Brasil e do Japão, Moçambique quer melhorar a
produtividade da agricultura ao longo do Corredor de Nacala na província de
Nampula, no norte do país. Nos últimos anos, houve muitas críticas por parte de
pequenos agricultores em relação à ocupação de terras por investidores
estrangeiros. Ao longo das últimas semanas, foi apresentado o Plano Diretor no
norte de Moçambique.
Nelson
Carvalho (Nampula) – Deutsche Welle
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