Polícia
angolana impede manifestação a favor de melhorias das condições de vida no
Município do Rangel. Três ativistas do Movimento Revolucionário foram detidos e
não se sabe em que esquadra policial se encontram.
O
grupo Mura, que luta por igualdade social em Angola, convocou uma manifestação
para as 9 horas desta-sexta-feira (08.05) para exigir água, luz e saneamento
básico no Município do Rangel. Minutos depois do início a polícia terminou com
o protesto dos jovens e deteve Odair Kassanje, Pedro Gonga e Franco, ativistas
do Movimento Revolucionário. David Mendes é um jovem ativista e repórter que
esteve no Triângulo dos Congoleses, lugar da concentração, e falou à DW África.
DW
África: Conte-nos o que aconteceu.
David
Mendes (DM): Os jovens ativistas sairam de casa muito cedo, porque a
concentração estava prevista para as nove horas. Mas quando chegamos ao local
já havia um grande aparato policial. Os polícias apareceram no local da
manifestação, como têm feito, todos armados e com carros para impedir qualquer
tipo de protesto. Como a tarefa da polícia é para nos proteger, e sabemos que
realizar uma manifestação é um direito de qualquer cidadão (está na
Constituição), tentamos levar a cabo o nosso objetivo. Mas, cinco minutos depois,
a Polícia deteve três ativistas, o Odair Kassanje, o Franco e o Pedro Donga.
DW
África: Para que esquadra foram levados os três ativistas?
DM: Eles
foram levados para a divisão do Rangel, e neste momento desconhecemos o local
exato onde poderão estar os nossos companheiros. Normalmente a polícia faz o
que chamamos de "carrocel", levam os detidos para lugares
desconhecidos. Estamos à espera que libertem os nossos irmãos ativistas o mais
depressa possível. A polícia faz detenções nas manifestações precisamente para
estancar os protestos ou para intimidar os manifestantes. O que tem acontecido
é que a polícia fica a passar de esquadra em esquadra com os ativistas detidos
e quando o dia acabar os participantes nos protestos já não tem como sair para
as ruas.
DW
África: As autoridades de Luanda foram informadas pelos organizadores que a
manifestação iria acontecer?
DM: Sim.
Nunca houve uma manifestação em Luanda, ou até mesmo em Angola, posso
generalizar, sem conhecimento do Governo provincial ou dos administradores
comunais. Só que a polícia, que supostamente deve manter a ordem e segurança, é
a mesma que maltrata os manifestantes e impede as pessoas de exercerem o seu
direito de cidadania.
DW
África: Antes de programarem a manifestação os moradores do Rangel solicitaram
ao Município melhorias das condições de saneamento básico, abastecimento de
água, etc?
DM: Aquilo
é uma realidade nua e crua que está à vista de todo o mundo. E vê-se que no
Rangel há muitos cortes de luz e de água, o saneamento básico é inexistente,
não há asfalto. Eles improvisam com uma charrua da administração, passam a
charrua e logo que começa a chover, os habitantes do bairro não conseguem sair
à rua. Não se consegue ir à escola e nem para o trabalho devido à degradação
das ruas e vielas que ficam num caos. Ainda ontem (07.05) os administradores
comunitários chamaram os promotores da manifestação e mostraram-nos um projeto
que visa beneficiar o bairro. Mas esse e outros projetos estão só no papel,
nunca são postos em
prática. Pediram-nos para que não aderíssemos à manifestação,
com aquele intuito de suborno. Só que estamos fartos de negociar com essa
gente, não dá para mais diálogo. Temos de exigir.
DW
África: Os organizadores pretendem repetir a manifestação?
DM: As
manifestações aqui são non-stop. Enquanto não houver saúde, educação,
saneamento, e enquanto houver um alto nível de desemprego principalmente no
seio dos jovens, não vamos parar. Há muitos jovens sem emprego, a saúde é
precária, a prestação de serviços é má. Então, nós queremos, mesmo, fazer uma
manifestação "non-stop". Já amanhã (09.10) haverá uma vigília no
bairro Operário, porque estão a partir as casas dos moradores. E no dia 23 de
maio, na administração do bairro de Belas também haverá outra manifestação,
porque aqui estamos a viver pior que animais. A riqueza não está a ser dividida
equitativamente, há um grupo que domina. E há o aumento do preço dos
combustíveis, nós contestamos isso tudo. E automaticamente sobe o preço dos
taxis e nós que não trabalhamos e não estudamos se aparecer 100 kwanzas para
comer o pão já é algo difícil. Temos a sensação de que o Governo não se
interessa pela forma como está a viver a população de Angola, principalmente a
mais carenciada.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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