José
Eduardo Agualusa apela a sociedade civil a promover mais debates a nível
interno sobre o rumo da democracia em Angola. Na Feira
do Livro de Lisboa, o escritor angolano acaba de lançar "O Livro dos
Camaleões".
A
violação constante dos Direitos Humanos em Angola não é ficção. É uma realidade
infeliz que continua a inquietar o escritor angolano, José Eduardo Agualusa.
O
julgamento e a condenação a seis meses de prisão do ativista e jornalista,
Rafael Marques, e o caso Julino Kalupeteca, entre outros, são exemplos disso:
"Infelizmente, há sempre casos... o caso do monte Sumi também, que é muito
preocupante, porque o Governo não esclareceu completamente o que se passou ali.
E agora com o Rafael é uma situação também estranha, parece um tiro no pé.
Creio que este tipo de situação só prejudica o próprio regime."
Défice
de democracia
A
estes factos junta-se a situação em Cabinda que, segundo a expressão do
escritor, "nunca foi famosa".
"Eu
acho que tudo isso tem a ver com o défice de democracia. Todas essas questões
não teriam acontecido num contexto democrático. Então, acho que tem a ver com a
mesma realidade, que é o problema de falta de democracia".
No
enclave de Cabinda, o caso mais recente prende-se com a situação crítica de
José Marcos Mavungo, detido desde 14 de março. Para Eduardo Agualusa, a
sociedade civil, que cresceu nos últimos anos, tem alertado para esta
realidade, "mas, mesmo a sociedade está presa ao próprio atraso que a
ausência de democracia gerou no país", considera também o escritor.
Na
perspetiva de Agualusa, os livros são território de pensamento e de debate, que
também podem contribuir para elevar o grau de democracia em Angola: "E
tudo o que possa conduzir ao debate é bom para o país, para produzir mais
democracia, para melhorar a democracia. Então, tudo o que seja debate é bom.
Tem acontecido, mas ainda precisa acontecer mais. Ainda há falta de
debate."
Os
Camaleões de Agualusa
A
DW África entrevistou o escritor angolano no intervalo de uma sessão de
autógrafos na Feira do Livro de Lisboa, poucos dias depois do lançamento nas
livrarias portuguesas do seu novo título, "O Livro dos Camaleões".
"'Os
Camaleões" tem a ver com o facto de quase todos os personagens que surgem
neste livro, ou uma boa parte deles, serem pessoas em trânsito de identidade, à
procura de identidade em geografias diversas e tempos diversos. Não têm
diretamente a ver com uma realidade concreta. Nesse sentido, são homens
camaleões."
E
o escritor prossegue: "Os contos são muito diferentes entre si, há contos
passados em épocas históricas muito diversas e com personagens muito diferentes
também, há personagens tiradas da realidade e outras não."
Este
novo livro reúne vários contos inéditos, à mistura com algum humor, que, por
exemplo, dão a conhecer ao leitor um ditador africano muito respeitado em
Portugal, que escreve a sua própria biografia.
Ou
ainda sobre um famoso marinheiro maltês, que visita São Tomé, depois de passar
por um lugar onde o tempo não passa. Além de várias épocas, a obra percorre
também diversas geografias, das savanas do sul de Angola às ruidosas ruas do
Rio de Janeiro, no Brasil.
Agualusa
revela que "tem contos passados em Angola na época contemporânea, mas
também no séc. XIX, tem um conto passado em São Tomé , no Brasil... São épocas diferentes e
geografias diferentes."
Além
de Lisboa e Luanda, Rio de Janeiro e São Paulo têm sido paragens constantes de
José Eduardo Agualusa nos últimos anos, onde apresentou recentemente o livro
"A Rainha Ginga". Agualusa é um dos autores dos países de língua
portuguesa presentes na Feira do Livro de Lisboa, que termina no próximo domingo
(14.06).
João
Carlos (Lisboa) – Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário