Pequim,
07 Jun (Lusa) - Como a sua avó, a cubana Sheila Borges Gonzalez também foi
trabalhar para Angola, mas agora ao serviço de uma multinacional chinesa de
telecomunicações e não em nome do internacionalismo proletário.
"Angola
é um país novo, em fase de grande desenvolvimento", diz Sheila Gonzalez,
empregada da empresa Huawei em Luanda desde 2011.
Sheila
Gonzalez, 29 anos, é formada em economia pela University of International
Business and Economics (UIBE), uma conhecida escola superior da especialidade,
situada em Pequim.
Numa
entrevista à agência Lusa nas vésperas da visita do Presidente angolano, José
Eduardo dos Santos, Sheila conta que sempre trabalhou na área das
telecomunicações, primeiro em Cuba e depois em Angola.
O
seu colega Wang Teng, 33 anos, formado em administração, também trabalhava em
Cuba antes de a Huawei o contratar para Angola, em 2011.
"No
início foi difícil, mas depois acostumei-me", diz. "Angola é um país
de oportunidades e já criou muitos milionários".
O
nome angolano de Wang Teng traduz a sua integração no país: "Kilamba
Kiaxi", o pseudónimo adotado pelo primeiro Presidente de Angola, Agostinho
Neto, durante a luta pela independência nacional.
Aquele
técnico chinês diz que já se "acostumou" também a gastronomia local,
mas normalmente come na cantina da sua empresa, dirigida por um 'chef' chinês.
Líder
mundial de equipamentos e redes de telecomunicações, fundada em 1988 no sul da
China, a Huawei emprega cerca de 170.000 pessoas em mais de 150 países e
regiões, duzentas das quais em Angola.
"Luanda
é uma cidade muito internacional. Americanos, europeus, chineses - todo o mundo
está agora em Angola", afirma Wang Teng.
A
comunidade chinesa, estimada em cerca de 250.000, é uma das maiores e segundo
uma técnica angolana de passagem por Pequim, Angola "tem já uma geração de
meninos morenos com olhos rasgados", filhos de casamentos mistos.
"Depois
de ficarem algum tempo, os chineses concluem que Angola não é só petróleo e
começam a investir também na agricultura, que veem como uma nova
oportunidade", comentou a técnica, que pediu para não ser identificada.
Entre
os cubanos, sobretudo médicos e professores, "alguns também acabam por
constituir família em Angola".
Segundo
Sheila Gonzalez, "o clima é parecido" e quem fala espanhol
"apanha depressa o português".
No
seu caso, há ainda uma história familiar "muito forte" ligada a
Angola.
Após
a independência do país africano, em novembro de 1975, e até ao final de década
de 1980, milhares de soldados cubanos lutaram ao lado das tropas do Movimento
Popular de Libertação de Angola (MPLA) contra a África do Sul e a União
Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
"A
minha avó trabalhou como enfermeira em Angola", contou Sheila Gonzalez.
Nessa
altura, o mundo estava dividido em dois blocos antagónicos, liderados pelos
Estados Unidos e pela União Soviética, e a China, que no auge do diferendo
ideológico com Moscovo, chegou a apoiar a UNITA, ainda não era o que é hoje: a
segunda economia do planeta.
O
Presidente Eduardo dos Santos inicia na próxima segunda-feira uma visita de
seis dias à China, vista em Pequim como uma oportunidade para "injetar um
novo ímpeto" nas relações sino-angolanas.
AC
// VM
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