terça-feira, 16 de junho de 2015

SETE EM CADA DEZ PORTUGUESES ACAMADOS SEM RESPOSTA DO ESTADO - estudo




Relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde alerta que SNS não foi amortecedor da crise e que o impacto na saúde está por estudar.

As vagas da Rede Nacional de  Cuidados Continuados Integrados só chegam actualmente para 30% dos portugueses acamados que deveriam estar a beneficiar deste apoio do Serviço Nacional de Saúde. Um estudo incluído no relatório anual do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, que vai ser apresentado hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, estima que existem cerca de 110 355 pessoas com algum tipo de dependência ao nível dos cuidados de higiene e saúde e destas 48 454 estão acamadas. No entanto, no final do primeiro semestre de 2014 só havia 13 624 camas e lugares na Rede Nacional de  Cuidados Continuados, o que significa que 70% estão a cargo de familiares sem apoio especializado da parte do Estado.

A resposta que “não responde minimamente às necessidades” numa área em que se prevê no futuro cada vez mais procura por causa do envelhecimento e doenças crónicas – e quando mais de um quarto da população está no limiar de pobreza e não tem por isso dinheiro para procurar alternativas – é um dos alertas do habitual Relatório da Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde.

A 14ª edição do estudo que traça um retrato do sector da saúde em Portugal tem como título “Acesso aos cuidados de saúde. Um direito em risco?” e Manuel Lopes, coordenador do observatório, considera que esse risco é real. Não só nos cuidados continuados mas por exemplo no acesso a consultas já que o número de atendimentos nos centros de saúde caiu 17% entre 2008 e 2013 e aumentaram as consultas mais longe de casa das pessoas nos hospitais centrais, menos acessíveis a todos os bolsos.

Uma solução 

Menos crítico do que nas últimas edições – marcadas pela ausência do governo nas sessões de apresentação –, nos cuidados continuados a chamada de atenção é forte.

Os autores alertam, contudo, para um problema estrutural onde pode residir a solução:  neste momento há uma subreferenciação para as equipas de apoio domiciliário que também fazem parte dos cuidados continuados e não estão a funcionar na sua máxima capacidade quando há pessoas sem apoio.

Segundo os autores, o actual modelo de financiamento no SNS que não cobre as despesas com os internamentos prolongados tende a levar os hospitais a “empurrar” os doentes para casa quando não há vagas imediatas nos cuidados continuados, “na maioria dos casos sem a assistência de que necessita.”  Ainda de acordo com o relatório, em 2014 a RNCCI teve uma despesa na casa dos 167 milhões de euros. Integrar todos os doentes acamados na resposta domiciliária subiria a despesa para 436 milhões de euros, segundo Manuel Lopes um investimento que sai mais barato que abrir camas e melhora a vida das famílias.

Missão comprometida O Observatório, que este ano se foca também no acesso a medicamentos e na segurança dos doentes nas instituições, concluiu haver dúvidas de que o SNS tenha assumido nos últimos anos o papel amortecedor da crise junto dos mais carenciados. Sustenta que os países que aplicaram austeridade na saúde têm mais dificuldade em recuperar, apresentando em contraponto a Portugal ou Grécia o sucesso islandês. 

Pelo terceiro ano consecutivo fica outro alerta: “As autoridades de saúde não se preocuparam significativamente em apresentar qualquer monitorização dos efeitos da crise na saúde”, lê-se.

Marta F. Reis – jornal i

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