Nem
que eu tivesse aqui uma bola de cristal me atreveria a tentar adivinhar qual
será o desfecho do referendo grego ou do que será o futuro da Grécia depois de
amanhã, tão imprevisíveis parecem a acreditar nas sondagens e declarações de
responsáveis helénicos e dos credores internacionais. Mas ao ver imagens das
manifestações diárias em Atenas, em defesa do Sim ou do Não, lembrei-me de uma
viagem que fiz à Grécia, em vésperas da adesão de Portugal e Espanha à então
CEE. Fui como enviada do extinto semanário O Jornal, com a missão de fazer o
retrato daquele país que já fazia parte da Comunidade Europeia, numa tentativa
de antecipar o que poderia esperar Portugal num futuro próximo, para o bem e
para o mal. E nunca mais esquecerei as manhãs em que eu acordava ao som das
palavras de ordem gritadas por pequenas multidões na Praça Syntagma. Aquilo
sucedia-se dia sim dia não, e para meu desespero nos dias em que me deitara
tarde e exausta, nem as janelas insonorizadas do meu quarto de hotel de muitas
estrelas conseguiam abafar as vozes aguerridas dos manifestantes. Lembro-me de
ter relatado a amigos e familiares, no regresso a Lisboa, que os gregos não
hesitavam em lutar pelos seus interesses. Ao contrário dos "pacíficos"
portugueses, eles nunca se deixariam acomodar. Na época, lutavam em defesa de
salários, direitos vários e... contra a concorrência que os outros parceiros do
sul (Portugal e Espanha) iriam fazer-lhes na CEE. Porque nós iriamos de facto
roubar-lhes espaço e mercado para os frutícolas, o azeite, a pesca, etc., etc.
Passados todos estes anos, tudo continua como então - nós pacíficos e
bem-comportados e eles aguerridos a manifestarem-se na Praça Syntagma.
Lurdes
Feio, jornalista/escritora - Facebook
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