Catedráticos
dizem que é “eticamente condenável” fazer negócios com Angola. Fazem-no numa
carta publicada no jornal Le Monde. Dizem, aliás, o que o Folha 8 diz há 19
anos. Por alguma razão foram movidos mais de 100 processos contra o nosso
Director.
Seja
como for, a verdade começa a chegar aos areópagos internacionais. Mas vale
tarde do que nunca. Reproduzimos, com satisfação e com a devida vénia, o artigo
de Catarina Marques Rodrigues, publicado no jornal online português Observador.
“Investigadores
de várias universidades pedem aos governos ocidentais para não esquecerem os
Direitos Humanos quando assinam acordos com Angola e lembram os presos
políticos. Há um português na lista.
Dezassete
professores e investigadores de todo o mundo subscreveram um documento em que
se mostram indignados com a assinatura de contratos de governos ocidentais com
Angola, sem estes terem atenção à violação dos Direitos Humanos praticada por
aquele país.
Dizem
que pensar só no negócio “não só é eticamente condenável, como politicamente
perigoso”, numa carta publicada pelo Le Monde. Entre eles estão professores
catedráticos do King’s College de Londres, da Universidade de Paris1-Sorbonne,
da Universidade do Michigan e um português, Ricardo Soares de Oliveira, que é
professor de Política Comparada na Universidade de Oxford.
Os
signatários apontam vários exemplos de repressão política por parte de Luanda
que se verificaram nos últimos três meses, numa “clara violação dos direitos
humanos”, destaca o Le Monde. A 20 de Julho, por exemplo, completou-se um mês
desde que 15 activistas foram presos pelas autoridades angolanas sem nenhum
mandato. São acusados de estarem a preparar um atentado em Luanda contra o
Presidente angolano e outros membros dos órgãos de soberania. Os activistas foram
apanhados em “flagrante delito” a ler livros sobre o activismo político não
violento. Aos detidos não é permitido terem acompanhamento legal. O activista
Marcos Mavungo também está detido sem mandato, na província de Cabinda, desde
Março passado.
José
Eduardo Agualusa foi notícia por participar no vídeo “Liberdade Já”, que pede a
libertação dos activistas. A ele juntaram-se vários artistas e músicos. O apelo
é comum. “Estava-se à espera que o país fosse abrir para a democracia, que
fosse avançando para a democracia, mas nestes últimos meses temos assistido uma
situação inversa. O regime tem vindo a fechar cada vez mais e a perseguir as
poucas vozes críticas que se fazem ouvir”, dizia o escritor.
Rafael
Marques também é exemplo citado no que diz respeito à repressão praticada pelos
chefes de Luanda. Recorde-se que o Tribunal Penal de Luanda condenou o
jornalista a seis meses de prisão por causa das informações divulgadas no livro
“Diamantes de Sangue”.
Rafael
Marques foi condenado por “difamação”. Em Abril, a polícia angolana invadiu um
acampamento de uma seita cristã e fez vários mortos. Declarou depois aquela
área como “zona militar” para impedir uma investigação independente encomendada
pelo Comissário da ONU para os Direitos Humanos. No documento assinado pelos
investigadores, divulgado pelo Le Monde, pode ler-se:
“Como
amigos de Angola, nós, os investigadores europeus, norte-americanos e
especialistas na história recente de Angola, pedimos ao governo angolano para
reconhecer os direitos constitucionais dos activistas políticos presos.
Apelamos aos governos e aos investidores europeus e americanos para estarem
cientes das questões que levantámos aqui e para pensarem nestes princípios
antes das oportunidades de investimento.”
Os
académicos lembram que na visita de François Hollande a Luanda, a 3 de Julho, o
único assunto foi a assinatura dos contratos entre empresas francesas e
angolanas. Os presos políticos e o respeito pelas liberdades individuais não
foram tema de conversa.
Folha 8 (ao)
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