Em
discurso na reunião extraordinária do Comité Central do MPLA, esta quinta-feira
(02.07), José Eduardo dos Santos apontou a necessidade de estudar a construção
da transição em Angola.
Ele não falou em terceiro mandato.
No
discurso de abertura da 3ª Reunião Extraordinária do Comité Central do
Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), esta quinta-feira (02.07) o
Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, afirmou que nas "atuais
circunstâncias" do país, pretende levar o mandato até ao fim, ao mesmo
tempo em que apontou a necessidade de estudar com seriedade a construção da
transição em Angola.
Na
intervenção, José Eduardo dos Santos não se referiu a uma eventual
disponibilidade para uma candidatura a um terceiro mandato.
Esta
reunião visa preparar o 7º Congresso Ordinário do MPLA, a decorrer de 17 a 20
de Agosto do próximo ano e que servirá para eleger os novos quadros diretivos -
entre eles, o de presidente do partido, cargo ocupado há mais de 35 anos pelo
Presidente da República de Angola.
Um
ano mais tarde, em 2017, Angola planeja realizar eleições gerais, as terceiras
desde o fim da guerra civil, em 2002.
A
este respeito, a DW-África entrevistou o analista angolano-português Eugénio
Costa Almeida.
DW-África:
Como analisa as palavras do Presidente angolano, neste seu mais recente
discurso?
Eugénio
Costa Almeida: Parece que o Presidente José Eduardo dos Santos está a
preparar um caminho para a sua possível saída no final deste mandato o que
implica que, necessariamente, no sétimo congresso de dezembro, haja talvez
eleição do novo líder do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, o
partido no poder em Angola].
DW-África:
Mas ele se referiu a uma eventual disponibilidade para uma candidatura a um
terceiro mandato.
ECA: Ele
e os seus assessores sempre disseram que a Constituição não o impedia de um
terceiro mandato, porque o primeiro mandato, digamos assim, que é este, começou
com a nova Constituição. Como a nova Constituição só prevê dois mandatos
consecutivos, portanto, o anterior mandato deixa de ter qualquer efeito.
Legalmente,
isto vai ser assim. Politicamente, penso que não é muito correto. Portanto, ele
como Presidente em exercício deixa em aberto essa hipótese. É natural. Mas ao
mesmo tempo, diz em certa altura que há uma necessidade de criar condições para
uma transição. Apesar de estar disponível para um novo mandato, ele considera
também que talvez seja altura também de haver uma transição política.
Não
é em vão, e penso que isto tem sido mais que evidente, que o vice-Presidente,
Manuel Vicente, tem sido seu braço direito em todas as reuniões e em todas as
viagens que são feitas protocolares a nível da Presidência, exceto a recente
viagem à China.
DW-África:
Será que a atual conjuntura económica angolana, as diferentes tentativas
frustradas de manifestações, prisões de ativistas, condenações a nível nacional
e internacional, tudo isso poderá funcionar como pressão sobre José Eduardo dos
Santos, tendo em vista o seu abandono de lugar?
ECA: Se
há uma coisa que José Eduardo dos Santos sempre mostrou, é que não é muito
susceptível às pressões externas. Portanto, não sei até que ponto essas
pressões dos chamados revús – o Movimento Revolucionário – bem como as
picadinhas, digamos assim, que o Estado norte-americano tem dito ultimamente e
tem referenciado a necessidade de maior abertura democrática, política e social
no país.
A
notícia da [revista] Forbes relativamente à família do próprio José Eduardo dos
Santos. Tudo isso poderá eventualmente pesar sobre alguma ala do partido, o
MPLA. Diretamente ele, é um homem muito inteligente e saberá o que deverá fazer
e deverá ponderar.
Como
angolano e como analista, acho que ele deveria sair agora - enquanto está, apesar
de tudo, numa posição, digamos, num pedestal um pouco mais elevado - mesmo
antes de acabar a sua magistratura como Presidente, a fim de salvaguardar a sua
imagem. Ficaria acima de qualquer suspeita, tipo digamos - e, utilizando uma
expressão muito próxima dos angolanos - como o "cota" da política.
DW-África:
Será que a textura social angolana está preparada para uma transição da forma
mais pacífica possível?
ECA: Estará
se as coisas foram feitas com a maior transparência. É evidente que, poderá
mudar o rosto, poderá mudar o titular, mas as bases programáticas são as
mesmas, porque é o MPLA que define as perspectivas de base problemáticas. Essas
só poderão eventualmente mudar no congresso de dezembro.
DW-África:
Esperava um discurso desse tipo de José Eduardo dos Santos neste momento?
ECA: Honestamente,
não.
António
Rocha – Deutsche Welle
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