José
Goulão – Jornal de Angola, opinião
Dissertar
sobre aquilo a que é comum chamar-se teoria da conspiração e que, em boa
verdade, não se sabe muito bem o que é, está na moda.
Dir-se-á
que é um tema aconselhado para o período de férias, “silly season” onde tudo é
tratado como “fait-divers”, desde as estatísticas do desemprego às cidades
melhores e piores para se viver – para o caso de estarem distraídos deve
evitar-se Damasco, coisa de que ninguém suspeitava.
Pois as teorias da conspiração também têm os seus “top-ten” com os quais não vale a pena gastar tempo e espaço, a não ser para sublinhar que nessas listas se misturam alhos com bugalhos, isto é, coisas muito sérias manipuladas e escondidas deliberadamente da opinião pública com delírios e bizarrias que alimentam a internet e também alguns órgãos de comunicação social que encabeçam as listas dos mais respeitáveis – listas essas fabricadas pelos próprios.
O tema pode ser estival, porém nada tem de inocente. Muito menos quando se misturam coisas que não cabem, nem podem caber, no mesmo saco. Por exemplo, quando se colocam ao mesmo nível as investigações que não coincidem com a versão oficial dos atentados de 11 de Setembro de 2001 com as lendas sobre o facto de figuras como Elvis Presley ou Michael Jackson não terem morrido.
Tratar com ligeireza e imbecilidade um tema como este, o da chamada teoria da conspiração, é uma maneira de colar o mesmo rótulo de descrédito em denúncias fundamentadas sobre assuntos importantes mal contados por quem nos governa e em idiotices chafurdadas em revistas de fofocas e websites para alarves. Ou seja, é uma mistificação que, no limite, desvaloriza trabalhos sérios – como acontece em investigações sobre o 11 de Setembro – que não coincidam com as versões dos poderes sobre este ou aquele acontecimento. Trata-se de uma manobra insidiosa para invalidar o contraditório, para amarrar a opinião pública a uma explicação única e definitiva das coisas em vez de a por a reflectir sobre as realidades que nos cercam. É interessante, por exemplo, que haja jornalistas a colaborar nesta mistificação mesmo sabendo – ou devendo saber – que estão a enviar para o grupo dos aldrabões e lunáticos os seus camaradas de profissão que fazem o que têm a fazer: investigar, procurar verdades, sobretudo quando são escondidas.
Encafuar as investigações sérias e os factos já apurados sobre assuntos que determinam o andamento do mundo em que vivemos na mesma gaveta das teses peregrinas sobre a Terra ser oca e o homem nunca ter ido à Lua é um exercício estival de quem passa o tempo a catalogar como teorias da conspiração as demonstrações de actos e acontecimentos que não cabem na verdade oficial, logo seguidas e repetidas até à exaustão pela corte dos comentadores papagaios avençados pelo sistema único. Gente para quem o facto de o golpe na Ucrânia ter conduzido a um governo fascista, ou a possibilidade de o MH17 não ter sido derrubado por um míssil russo, ou a circunstância de haver produtos comercializados pela multinacional Monsanto que envenenam pessoas e o planeta, ou a invasão do Iraque ter sido baseada num chorrilho de mentiras, ou o neoliberalismo existir e ter criado a crise como regime global estão ao mesmo nível de seriedade das teses segundo as quais o Presidente Eisenhower assinou acordos com extraterrestres ou Saddam Hussein preparou a invasão do planeta por alienígenas.
Quando exercícios deste tipo se realizam com a participação de centrais de
propaganda como por exemplo as que servem as estratégias desenhadas pelo Grupo
de Bilderberg percebe-se que neles nada há de inocente. Tais órgãos justificam,
nesta matéria, o porquê de se auto-intitularem “meios de referência”. De facto,
basta-lhes seguir o rasto para se conhecerem, passo a passo, as tendências
dominantes de quem segue as regras de manipulação e intoxicação dos cidadãos ao
serviço do regime único.
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