sábado, 17 de outubro de 2015

Cabo Verde. “FUNDÃO” E A CORRUPÇÃO NO PAICV!



Luís Eduardo Nobre Leite* - Expresso das Ilhas, opinião

“Corrupção é o acto ou efeito de se corromper, oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra. É tirar vantagem em um «projecto de poder» atribuído geralmente a um Partido Político que visa dominar e perpetuar-se no poder.” Wikipédia.

1. No momento em que a “chuva amiga já falou mantenha”1 e Cabo Verde se “cobriu de verde”, bem podem os cabo-verdianos redireccionar as suas preces no sentido das eleições legislativas de 2016 serem marcadas rapidamente e o tempo ser cúmplice no passar dos dias. É tempo para que a esperança trazida pela azágua se transforme em confiança e floresça uma nova maioria e um novo governo, por razões mil... e uma, em particular: a actual desgovernação do PAICV que vem afectando, sobremaneira, as famílias e as empresas cabo-verdianas!

2. Em boa verdade e para desespero colectivo, nunca como agora os cabo-verdianos se sentiram tão órfãos de um Governo, com o Primeiro dos ministros – que deveria ter como principal função a governação – a dar-se ao luxo de se ausentar do País por mais de três semanas (21 dias!), no seu passeio pessoal e despedida levando às costas a “Gestão das Impossibilidades” e «sua televisão» (leia-se TCV). Uma autêntica impossibilidade num Estado que, proclamado de Direito Democrático, ameaça transformar-se num Partido-Estado, para fazer a ponte com o artigo anterior.

3. A gestão do Fundo de Ambiente – “FUNDÃO” como lhe apelidei nas redes sociais – é a prova provada e o exemplo mais acabado do estado de desgovernação do País e do nível de corrupção que grassa no PAICV. O partido (o que resta dele) não tem qualquer pejo em utilizar o dinheiro dos contribuintes cabo-verdianos e os bens do Estado na sua estratégia de perpetuação do poder, contando para o efeito com o beneplácito de grande parte da comunicação social e de muitos concidadãos, que preferem o comodismo da indiferença para não indispor o poder e perder o status quo.

4. Só assim se compreende, pois, que tanto tempo depois de este ESCÂNDALO ser despoletado, o Governo e o respectivo partido que o suporta, que tanto apregoam a boa governação e a transparência na gestão da coisa pública, continuam «mudos e calados» sobre o CASO. Da liderança bicéfala, sempre ávida a comentar uma subida num ranking internacional, silêncio absoluto, não fossem os dois – a actual e o ex-Presidente (e futuro ex-PM, segundo o Presidente da UCID) do PAICV – useiros e vezeiros nestas práticas. Sendo que, no caso em apreço, o «grão-mestre» foi superado pela discípula, o que terá indisposto o «compadrio».

Não poderia deixar de abrir um parêntesis para dizer que os cabo-verdianos não são ingénuos a ponto de se deixarem ir na «conversa fiada», de quem pensa que, agindo desta forma irresponsável, está em condições de ser eleito Presidente da República de Cabo Verde e guardião da Constituição, assobiando para o lado face à corrupção no seu Governo. Ou, de quem pensa que, tendo chegado à liderança nas circunstâncias que o fez, poder replicar a receita para governar o País, provado que nem o próprio partido consegue chefiar. Porque imatura, prepotente, vingativa e politicamente inábil na criação dos consensos necessários para colocar os superiores interesses do povo (do partido e da nação) à frente dos da sua desmedida ambição pessoal.

5. Efectivamente, quando se completa a «missa do mês» do eclodir desta mega CORRUPÇÃO, as únicas três intervenções registadas por parte da «nomenklatura» PAICV – cada uma pior que a outra (!) – enterraram mais o “Fundão”. Às declarações de três dos Presidentes de Câmaras do PAICV (referidas no artigo anterior) seguiu-se a prestação lamentável do represente enviado ao Programa “Pontos nos Is”. Numa «frete partidária» sem paralelo, o Deputado-Sindicalista2 teve o descaramento de ir à Televisão Pública mentir com todos os dentes da boca, conseguindo superar o seu colega, também deputado3 e vice-presidente da associação que mais fundo recebeu do “Fundão”!

6. Entre estes dois momentos, fomos presenteados com a (não) Conferência de Imprensa do Ministro do Ambiente Habitação e Ordenamento do Território (MAHOT), outro momento hilariante e candidato ao pódio do anedotário da política.cv, na qual o Sr. Antero Veiga, em vez de prestar os esclarecimentos que se impunham, limitou-se a fazer fuga em frente, com a teoria de que a denúncia pública feita pelo (seu) jornal ANação e esmiuçada pelo Expresso das Ilhas, não passava de orquestração da Oposição para estragar-lhe o sonho de uma ambicionada candidatura à Câmara Municipal da Praia (?).

7. Infelizmente, para o titular da pasta do “Fundão”, no preciso dia que escolheu para ensaiar a operação de branqueamento, orquestrada na Universidade de Verão dos graúdos do partido – outra “pai(c)verdura” que vem engrossar a longa lista de «pérolas negras» da actual liderança do partido, em tão curto espaço de tempo – o Procurador-Geral da República, contrariando a apatia e a miopia do seu antecessor, veio a público dar as boas novas aos cabo-verdianos de que, face ao “conteúdo” e aos “indícios necessários” (acrescentaria, mais do que suficientes) da denúncia feita pelo Presidente da Associação Nacional dos Municípios de Cabo Verde (ANMCV) tinha mandado instaurar o respectivo processo-crime.

8. Para o MAHOT assentava que nem uma luva (não confundir com as «luvas camaradas») o provérbio de que “um azar nunca vem só”. É que precisamente uma semana depois, qual assombração, o “sargento” com patente de general na ANMCV, dava uma entrevista na TCV, na qual elucidava, com provas e de forma clara e inequívoca, os cabo-verdianos sobre as inúmeras inverdades proferidas pelo referido Ministro. E qual «machadada final», o Presidente do Tribunal de Contas à saída da audiência com o mais alto magistrado da Nação, desfazia mais algumas dúvidas, retirando o chão ao Ministro… ou por outro, afundando-lhe no seu próprio “Fundão”!

9. Chegados a este ponto, convêm que os cabo-verdianos não se deixem ir na cantiga e saibam separar o(s) PROCESSO(S). Uma coisa é a inspecção financeira por parte do Tribunal de Contas, para apurar da conformidade das contas, que para já se sabe estarem eivadas de irregularidades, pelo simples facto de não terem sido, ainda, apresentadas. Outra é o apuramento da responsabilidade criminal pelo Ministério Público, face às ilegalidades existentes (e já assumidas), independentemente da sua dimensão e do tipo de sanção a aplicar aos infractores. E coisa diferente é a responsabilidade política que deveria ter sido retirada de todo este processo pelos principais responsáveis, desde o início, considerando os factos indesmentíveis que são do conhecimento público.

Não resisto a abrir novo (e último) parêntesis para realçar dois factos. O primeiro, para relembrar que um dos principais responsáveis deste processo, a par do Ministro, é o Director Nacional de Ambiente, Moisés Borges, enquanto entidade que preside a gestão do FA, mas que se tem tentado «resguardar», por razões que colidem com interesses maiores na esfera da liderança do PAICV. O segundo, para chamar a atenção que, independentemente da «lista oficiosa» do MAHOT (disponibilizada ao Deputado-Sindicalista, quando não era do conhecimento de um parceiro institucional como a ANMCV) apontar no sentido das associações contempladas serem 65 (e não 95!) ou os valores financiados situarem-se à volta dos 80 mil contos (em vez de 180 mil), o essencial da questão mantêm-se: as irregularidades, as ilegalidades e a gestão «contra-natura» de um Fundo que deveria ser canalizado (exclusivamente) para o objecto para o qual foi criado: a preservação ambiental!

10. Um Ministro (e político!?) que não compreende esta questão, continuando por mera «birra política» em funções, com o argumento de que não se demite para não dar razão à Oposição, não reúne condições para permanecer no Governo, ao qual está a expor e a fragilizar. O problema, contudo, é mais profundo que o próprio “Fundão”: a (sua) posição é o reflexo da atitude do próprio Governo que sempre se furtou à responsabilidade; a acção política espelha o comportamento do partido visando a perpetuação no poder. Uma prática que tem na liderança de Hopffer Almada o seu expoente máximo, pela forma deliberada e descarada como promove, reiterada e propositadamente, a confusão entre o Partido e o Estado, sem a qual jamais teria chegado onde chegou.

Felizmente, graças aos deuses e à mãe natureza, toda a “tempestade vira bonança”, por isso, enquanto os cabo-verdianos são confrontados com esta desgovernação – com laivos de paródia, gozação e uma total falta de respeito para com os cabo-verdianos – e, na frente partidária, assiste-se a uma autêntica desintegração do PAICV, pelas feridas mais recentes que resultaram do processo de eleição da actual Presidente, à imagem de um passado muito recente!

O Presidente do Movimento para a Democracia (MpD) e próximo Primeiro-Ministro do Governo da República continua a cumprir o compromisso assumido com Cabo Verde, em Julho de 2013, de construir e edificar, em diálogo aberto e franco com os seus concidadãos, um novo desígnio para o desenvolvimento do País, ancorado em propostas alternativas credíveis e exequíveis para ganhar os desafios de governação para a próxima década.

Um longo caminho teve que percorrer Ulisses Correia e Silva para estar em condições, hoje, na reentre política do partido que lidera e conseguiu congregar vontades e fortalecer a organização interna, de anunciar aos cabo-verdianos, a partir de Santo Antão, na abertura de um ano político decisivo para o futuro da Nação cabo-verdiana, que o partido vai inaugurar um novo e importante ciclo: o da afirmação e assunção do MpD como partido do Governo!

1 Poema “Regresso” de Amílcar Cabral.
2 Euclides de Pina, mais conhecido por “Papachinho”.
3 Julião Varela.

*www.palavradolho.blogspot.com

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