terça-feira, 1 de dezembro de 2015

IIIª GUERRA MUNDIAL - NO FULCRO DUM QUOTIDIANO DE CAOS NA ALDEIA GLOBAL



  
1 – A convulsão global que está em curso, reúne um conjunto muito alargado de sintomas:

- “Revoluções coloridas”;

- “Primaveras árabes”;

- “Jihadismo islâmico radicalizado e terrorista”;

- “Golpes de estado suaves”;

- “Agenciamento de oligarquias e elites fascistóides em nações, países ou estados mais vulneráveis”;

- “Guerras assimétricas de intensidade variável”;

- “Direito a proteger por parte das potências ocidentais no seu mais exacerbado paternalismo, manipulação e ingerência”;

- “Disseminação do caos sob os mais variados pretextos étnicos, religiosos e de todo o tipo de artifícios que correspondam aos interesses e conveniências dos mais poderosos”…

A ementa é longa mas tudo se conforma na IIIª Guerra Mundial que cada vez mais claramente reflecte as tensões entre o propósito da hegemonia unipolar (a velha Ordem Mundial arrastada pela decadência dos Estados Unidos) e a emergência multipolar, tendo os BRICS na charneira.

2 – Três aspectos particulares estão a possibilitar a passagem do emprego de armamento táctico para a ordem do armamento estratégico:

- “Agenciamento de oligarquias e elites fascistóides em nações, países ou estados mais vulneráveis”;

- “Guerras assimétricas de intensidade variável”;

- “Disseminação do caos sob os mais variados pretextos étnicos, religiosos e de todo o tipo de artifícios que correspondam aos interesses e conveniências dos mais poderosos”.

Esses três aspectos confluem no quadro de extrema vulnerabilidade e volubilidade do Médio Oriente e África, inculcados após as intervenções da criminosa administração de George W.Bush e da sua sucedânea (Barack Hussein Obama) particularmente no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na Síria, com a remoção tempestuosa de governos como os de Saddam Hussein e Kadafi e com a tentativa em curso contra Assad.

Os diques que continham as águas tempestuosas do jihadismo terrorista islamizado, ao serem rebentados permitiram que as águas do caos se estejam a espalhar, em grande parte dos casos sem hipóteses de contenção, salvo onde as resistências (como o caso da Síria), sejam capazes de as obrigar a desviar ou a morrer.

Como essas torrentes de caos interessam tacitamente aos projectos neo coloniais em curso, então eles tendem a fazer parte do carácter fascistóide particularmente das oligarquias e elites pró-ocidentais, contaminadas pela tão avassaladora quão perversa batota (não o jogo) de suas ingerências e manipulações neo coloniais.

Este é de facto um ambiente propício ao neo fascismo e à neo colonização, manipulando, dividindo, ou confundindo os fracos de todo o mundo, para impor de forma irremediável a lei do mais forte, em plena barbárie, em plena selva, fazendo uso de todos os recursos e muito sintomaticamente dos instrumentos financeiros adstritos ao poderio da aristocracia financeira mundial no caso da hegemonia unipolar.

3 – A assimetria dos acontecimentos, uma assimetria de tal ordem aplicada que a consciência colectiva, salvo raras excepções, tem andado completamente arredada da sua intensidade, da sua fluidez e da interconexão entre todos os fenómenos psico-sócio-políticos e antropológicos contemporâneos em ambos os lados da barricada que se vai contextualizando, tem sido a razão causal mais influente em relação ao estado hipnótico em que se encontra grande parte da população mundial.

A aristocracia financeira mundial que propôs a Nova Ordem Global dos seus interesses e conveniências, tratou desde logo de esconder o óbvio através de seus poderosos meios mediáticos e só muito recentemente os BRICS e a América Latina têm vindo a reagir perante esse torpor alienante, persuasivo e anestesiante (não estivessem a cocaína e a heroína na ordem do dia das próprias convulsões e do caos disseminado pelo “ocidente”).

Está-se a assistir ao fim das teorias da conspiração, a tal ponto se saturou o mundo das práticas de conspiração!

4 – A mesma assimetria dos acontecimentos, no momento em que o caso sírio se tornou num reforçado foco de resistência com outras capacidades que não tiveram a seu tempo nem Saddam Hussein, nem Kadafi, está a elevar a fasquia dos conflitos que por isso estão a passar da entorpecente ordem táctica, para o fulgor da ordem estratégica, num momento em que quatro dos cinco continentes estão especialmente contaminados pelo caos da convulsão global contemporânea.

Essa passagem não estava prevista pela hegemonia unipolar, que pretendia manter indefinidamente a “anestesia geral de massas”, ao ponto de integrar determinados argumentos aparentemente “à esquerda” das opções políticas correntes, como reflecte por exemplo de forma uníssona a conexão do Bloco de Esquerda e do Bloco Democrático nos relacionamentos entre Portugal e Angola.

A aristocracia financeira mundial constrói o padrão da hegemonia unipolar expressa na Nova Ordem Global de forma tão indolor, tão inodora, tão insípida e tão ambígua quanto baste, mas a subida da fasquia é, em relação a essa orientação, a esse método e a essa injecção massiva de droga e alienação, completamente inoportuna, em especial se tivermos em conta os meios de resistência e mediáticos à disposição dos BRICS e de muitos países da América Latina componentes do MERCOSUR, da UNASUR, ou da ALBA!

5 – A subida da fasquia está a ocorrer com o caso sírio reforçado com a sustentabilidade dos BRICS e seus aliados emergentes e a geoestratégia russa tem sido a “pedra de toque” no que diz respeito à explanação físico-geográfica das ocorrências, quando a própria Rússia, entre muitos outros agravos, tem vindo a provar o veneno tenebroso do jihadismo terrorista conforme à história recente da Chechénia (consta que há mais de 2.000 russos nas fileiras da Al Nushra e do auto proclamado Estado Islâmico, na Síria e no Iraque).

Há duas amplitudes a considerar nessa explanação fulcral da situação global de caos:

- A amplitude mínima da geo estratégica que ocorre no espaço da Síria e a sul da Turquia;

- A amplitude maior que coloca a Turquia dentro da tenaz russa.

Em relação à amplitude mínima, a Rússia elaborou uma testa-de-ponte inteligente e militar, aproveitando todo o litoral sírio, com um sistema de bases que está ainda em construção, de forma a, a partir do oeste enfrentar a Al Nushra e o EI, colocando-os numa cada vez maior compressão entre suas forças e as dos aliados curdos que dominam o território sírio a nordeste.

Desse modo, os terroristas ficam irremediavelmente acondicionados enquanto apêndices à Turquia, onde se encontram seus suportes maiores, em termos de finanças, de logística e de “links”humanos de toda a ordem, inclusive aqueles que são utilizados como vias de comunicação e transvases externos ao conflito (canais de transporte para a comercialização do petróleo roubado pelos terroristas e canais de migração em direcção à Europa, à Ásia e a África).

O aperto a partir da tenaz que se encontra implantada no terreno, a partir do crescimento da intervenção russa, tem sido de tal modo bem-sucedido que a Turquia, sob a égide dos Estados Unidos, se está a ver compelida à intervenção, num momento em que Erdogan, com o seu clã e com parte da oligarquia turca, inicia a deriva fascistóide que dá os primeiros passos no próprio ambiente psico-sócio-político turco.

Neste momento é difícil perceber já onde se encontram os turcos fieis a Erdogan, os “rebeldes turcomenos”, a Al Nushra, ou o DAESH, pois face ao aperto eles estão mais interconectados e solidários que nunca, o que obrigará a uma nova escalada no que ao armamento e intensidade dos conflitos diz respeito.

6 – Em relação à amplitude maior, é evidente o isolamento turco, entre as forças russas no flanco norte (no seu próprio território, no Mar Negro e no Mar Cáspio) e a presença russa no flanco sul (na Síria e no Mediterrâneo Oriental), numa tenaz muito maior que a inserida no caso sírio.

A tenaz maior tem nos Dardanelos o seu ponto mais crítico para efeitos da manobra russa, pelo que a passagem por parte dos russos para a esfera geo estratégia em termos de meios implantados na Síria, se tornou inevitável.

A Anatólia está cercada pela Rússia e todo o flanco sudeste da NATO está fragilizado pela Federação Russa e seus aliados, que escolheram o campo de batalha de maior intensidade na Síria e Iraque, enquanto acontece o “banho maria” da Ucrânia e a tensão de menor intensidade ainda, no resto da Europa do Leste.

A Rússia espera com esta manobra lançar o “boomerang” da divisão para dentro da NATO e da União Europeia, tirando partido de cumplicidades menos evidentes que procuram agora a todo o transe afastar-se do terrorismo, da pressão das migrações que chegam à Europa a partir do Norte de África e Oriente Médio e dos canais de transvases dos terroristas que aproveitam para o mesmo, via Turquia…

Resta avaliar até que ponto a Europa vai digerir a extremamente venenosa (e embaraçosa) pílula turca, considerando que sua sustentabilidade, tal como acontece com o caso da Ucrânia, é a hegemonia unipolar protagonizada pela administração de Barack Hussein Obama via relacionamento externo dos Estados Unidos da América!

A Europa está angustiosamente a oscilar entre a vassalagem total e a sua própria emancipação para fazer face ao caos instigado pelas sucessivas administrações norte-americanas e entre os muitos pêndulos desse caos, está a escolha entre segurança colectiva e liberdade individual, com o revivalismo fascista, que com todo o sentido oportunista fez chegar a sua hora, à espera dos incautos! 

*Mapa da implantação e acção russa na Síria, no âmbito das amplitudes geoestratégicas de sua própria manobra. Clicar nas imagens para ampliar.

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