Martinho Júnior, Luanda
1
– A convulsão global que está em curso, reúne um conjunto muito alargado de
sintomas:
- “Revoluções
coloridas”;
- “Primaveras
árabes”;
- “Jihadismo
islâmico radicalizado e terrorista”;
- “Golpes
de estado suaves”;
- “Agenciamento
de oligarquias e elites fascistóides em nações, países ou estados mais
vulneráveis”;
- “Guerras
assimétricas de intensidade variável”;
- “Direito
a proteger por parte das potências ocidentais no seu mais exacerbado
paternalismo, manipulação e ingerência”;
- “Disseminação
do caos sob os mais variados pretextos étnicos, religiosos e de todo o tipo de
artifícios que correspondam aos interesses e conveniências dos mais poderosos”…
A
ementa é longa mas tudo se conforma na IIIª Guerra Mundial que cada vez mais
claramente reflecte as tensões entre o propósito da hegemonia unipolar (a velha
Ordem Mundial arrastada pela decadência dos Estados Unidos) e a emergência
multipolar, tendo os BRICS na charneira.
2
– Três aspectos particulares estão a possibilitar a passagem do emprego de
armamento táctico para a ordem do armamento estratégico:
- “Agenciamento
de oligarquias e elites fascistóides em nações, países ou estados mais
vulneráveis”;
- “Guerras
assimétricas de intensidade variável”;
- “Disseminação
do caos sob os mais variados pretextos étnicos, religiosos e de todo o tipo de
artifícios que correspondam aos interesses e conveniências dos mais poderosos”.
Esses
três aspectos confluem no quadro de extrema vulnerabilidade e volubilidade do
Médio Oriente e África, inculcados após as intervenções da criminosa
administração de George W.Bush e da sua sucedânea (Barack Hussein Obama)
particularmente no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na Síria, com a remoção
tempestuosa de governos como os de Saddam Hussein e Kadafi e com a tentativa em
curso contra Assad.
Os
diques que continham as águas tempestuosas do jihadismo terrorista islamizado,
ao serem rebentados permitiram que as águas do caos se estejam a espalhar, em
grande parte dos casos sem hipóteses de contenção, salvo onde as resistências
(como o caso da Síria), sejam capazes de as obrigar a desviar ou a morrer.
Como
essas torrentes de caos interessam tacitamente aos projectos neo coloniais em
curso, então eles tendem a fazer parte do carácter fascistóide particularmente
das oligarquias e elites pró-ocidentais, contaminadas pela tão avassaladora
quão perversa batota (não o jogo) de suas ingerências e manipulações neo
coloniais.
Este
é de facto um ambiente propício ao neo fascismo e à neo colonização,
manipulando, dividindo, ou confundindo os fracos de todo o mundo, para impor de
forma irremediável a lei do mais forte, em plena barbárie, em plena selva,
fazendo uso de todos os recursos e muito sintomaticamente dos instrumentos
financeiros adstritos ao poderio da aristocracia financeira mundial no caso da
hegemonia unipolar.
3
– A assimetria dos acontecimentos, uma assimetria de tal ordem aplicada que a
consciência colectiva, salvo raras excepções, tem andado completamente arredada
da sua intensidade, da sua fluidez e da interconexão entre todos os fenómenos
psico-sócio-políticos e antropológicos contemporâneos em ambos os lados da
barricada que se vai contextualizando, tem sido a razão causal mais influente
em relação ao estado hipnótico em que se encontra grande parte da população
mundial.
A
aristocracia financeira mundial que propôs a Nova Ordem Global dos seus interesses
e conveniências, tratou desde logo de esconder o óbvio através de seus
poderosos meios mediáticos e só muito recentemente os BRICS e a América Latina
têm vindo a reagir perante esse torpor alienante, persuasivo e anestesiante
(não estivessem a cocaína e a heroína na ordem do dia das próprias convulsões e
do caos disseminado pelo “ocidente”).
Está-se
a assistir ao fim das teorias da conspiração, a tal ponto se saturou o mundo
das práticas de conspiração!
4
– A mesma assimetria dos acontecimentos, no momento em que o caso sírio se
tornou num reforçado foco de resistência com outras capacidades que não tiveram
a seu tempo nem Saddam Hussein, nem Kadafi, está a elevar a fasquia dos
conflitos que por isso estão a passar da entorpecente ordem táctica, para o
fulgor da ordem estratégica, num momento em que quatro dos cinco continentes
estão especialmente contaminados pelo caos da convulsão global contemporânea.
Essa
passagem não estava prevista pela hegemonia unipolar, que pretendia manter
indefinidamente a “anestesia geral de massas”, ao ponto de integrar
determinados argumentos aparentemente “à esquerda” das opções
políticas correntes, como reflecte por exemplo de forma uníssona a conexão do
Bloco de Esquerda e do Bloco Democrático nos relacionamentos entre Portugal e
Angola.
A
aristocracia financeira mundial constrói o padrão da hegemonia unipolar
expressa na Nova Ordem Global de forma tão indolor, tão inodora, tão insípida e
tão ambígua quanto baste, mas a subida da fasquia é, em relação a essa
orientação, a esse método e a essa injecção massiva de droga e alienação,
completamente inoportuna, em especial se tivermos em conta os meios de
resistência e mediáticos à disposição dos BRICS e de muitos países da América
Latina componentes do MERCOSUR, da UNASUR, ou da ALBA!
5
– A subida da fasquia está a ocorrer com o caso sírio reforçado com a
sustentabilidade dos BRICS e seus aliados emergentes e a geoestratégia russa
tem sido a “pedra de toque” no que diz respeito à explanação
físico-geográfica das ocorrências, quando a própria Rússia, entre muitos outros
agravos, tem vindo a provar o veneno tenebroso do jihadismo terrorista conforme
à história recente da Chechénia (consta que há mais de 2.000 russos nas
fileiras da Al Nushra e do auto proclamado Estado Islâmico, na Síria e no
Iraque).
Há
duas amplitudes a considerar nessa explanação fulcral da situação global de
caos:
-
A amplitude mínima da geo estratégica que ocorre no espaço da Síria e a sul da
Turquia;
-
A amplitude maior que coloca a Turquia dentro da tenaz russa.
Em
relação à amplitude mínima, a Rússia elaborou uma testa-de-ponte inteligente e
militar, aproveitando todo o litoral sírio, com um sistema de bases que está
ainda em construção, de forma a, a partir do oeste enfrentar a Al Nushra e o
EI, colocando-os numa cada vez maior compressão entre suas forças e as dos
aliados curdos que dominam o território sírio a nordeste.
Desse
modo, os terroristas ficam irremediavelmente acondicionados enquanto apêndices
à Turquia, onde se encontram seus suportes maiores, em termos de finanças, de
logística e de “links”humanos de toda a ordem, inclusive aqueles que são
utilizados como vias de comunicação e transvases externos ao conflito (canais
de transporte para a comercialização do petróleo roubado pelos terroristas e
canais de migração em direcção à Europa, à Ásia e a África).
O
aperto a partir da tenaz que se encontra implantada no terreno, a partir do
crescimento da intervenção russa, tem sido de tal modo bem-sucedido que a
Turquia, sob a égide dos Estados Unidos, se está a ver compelida à intervenção,
num momento em que Erdogan, com o seu clã e com parte da oligarquia turca,
inicia a deriva fascistóide que dá os primeiros passos no próprio ambiente
psico-sócio-político turco.
Neste
momento é difícil perceber já onde se encontram os turcos fieis a Erdogan, os “rebeldes
turcomenos”, a Al Nushra, ou o DAESH, pois face ao aperto eles estão mais
interconectados e solidários que nunca, o que obrigará a uma nova escalada no
que ao armamento e intensidade dos conflitos diz respeito.
6
– Em relação à amplitude maior, é evidente o isolamento turco, entre as forças
russas no flanco norte (no seu próprio território, no Mar Negro e no Mar
Cáspio) e a presença russa no flanco sul (na Síria e no Mediterrâneo Oriental),
numa tenaz muito maior que a inserida no caso sírio.
A
tenaz maior tem nos Dardanelos o seu ponto mais crítico para efeitos da manobra
russa, pelo que a passagem por parte dos russos para a esfera geo estratégia em
termos de meios implantados na Síria, se tornou inevitável.
A
Anatólia está cercada pela Rússia e todo o flanco sudeste da NATO está
fragilizado pela Federação Russa e seus aliados, que escolheram o campo de
batalha de maior intensidade na Síria e Iraque, enquanto acontece o “banho
maria” da Ucrânia e a tensão de menor intensidade ainda, no resto da
Europa do Leste.
A
Rússia espera com esta manobra lançar o “boomerang” da divisão para
dentro da NATO e da União Europeia, tirando partido de cumplicidades menos
evidentes que procuram agora a todo o transe afastar-se do terrorismo, da
pressão das migrações que chegam à Europa a partir do Norte de África e Oriente
Médio e dos canais de transvases dos terroristas que aproveitam para o mesmo,
via Turquia…
Resta
avaliar até que ponto a Europa vai digerir a extremamente venenosa (e
embaraçosa) pílula turca, considerando que sua sustentabilidade, tal como
acontece com o caso da Ucrânia, é a hegemonia unipolar protagonizada pela
administração de Barack Hussein Obama via relacionamento externo dos Estados
Unidos da América!
A
Europa está angustiosamente a oscilar entre a vassalagem total e a sua própria
emancipação para fazer face ao caos instigado pelas sucessivas administrações
norte-americanas e entre os muitos pêndulos desse caos, está a escolha entre
segurança colectiva e liberdade individual, com o revivalismo fascista, que com
todo o sentido oportunista fez chegar a sua hora, à espera dos incautos!
*Mapa
da implantação e acção russa na Síria, no âmbito das amplitudes geoestratégicas de sua própria manobra. Clicar nas imagens para ampliar.
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