Bocas
do Inferno
António
Veríssimo, Lisboa
Já
aqui foi veiculada a notícia sobre arruaceiros timorenses integrantes de grupos
de artes marciais que foram admitidos nas forças de segurança de Timor-Leste,
exército e polícia. Esses mesmos elementos fizeram juramento sobre a fidelidade
aos grupos de arruaça de que fazem parte e esse juramento é inquebrável para os
líderes e elementos dos referidos bandos, pelo que aqueles que posteriormente
optem por integrarem as forças de segurança devem o cumprimento primordial e
inquebrável do juramento ao seu grupo de artes marciais, caso
contrário estarão sujeitos a represálias. Assim, as obrigações e cumprimento
daquilo que jurarem na polícia ou no exército estará em segundo plano. Tem de
estar, senão...
Segue
em baixo a notícia de novo juramento daqueles elementos ao cumprimento das
regras no exército e na polícia. É inútil. Dá-se aqui o caso de que “quem mais
jura, mais mente”. Os elementos de grupos de artes marciais, muitas vezes nas
faldas da criminalidade, não podem cumprir com aquilo que juram perante as
forças de segurança timorenses se de algum modo tiverem de violar o juramento
feito ao grupo de artes marciais a que pertencem. Temos assim, com a notícia
que se segue, o prolongamento de uma fantochada, pois, melhor que ninguém, as
altas patentes das forças armadas e da polícia sabem que a verdade nua e crua é
que em muitíssimos aspetos os juramentos são antagónicos. Estando reservada a
primazia de cumprimento para o bando ou grupo de artes marciais. Juramento
tantas vezes efetuado quando os agora jovens homens (no exército ou na polícia)
eram adolescentes e, às vezes ainda crianças. Já é algo que lhes está na pele. Por
isso urge encontrar uma solução que não seja a atual, procedendo à teatralização
de juramento em juramento… Que vale nada!
Só
um pormenor: muitos desses bandos eram afetos a Xanana Gusmão ou a sicários
seus. Xanana Gusmão pode demitir-se de todos os altos cargos em Timor-Leste mas
a arma da desestabilização continua em sua posse. Quando do golpe de Estado (2005) que
ele chefiou e o levou a primeiro-ministro com o amén da ONU, os bandos das
artes marciais foram um dos seus “exércitos” na desestabilização. Mortes e
feridos contaram-se às dezenas. A desestabilização foi tal que o então PM Mari
Alkatiri demitiu-se declarando que o fazia para evitar o banho de sangue que
estava a ocorrer e teria muito maiores proporções caso Alkatiri não tomasse
aquela decisão de desprendimento ao poder.
Admitir
o “exército” de Xanana na polícia e no exército é uma péssima realidade. Vamos
ver quais serão os custos (se existirem) para os timorenses e para Timor-Leste.
(AV / PG)
Polícias
e militares timorenses renovam juramento depois de incidentes
Díli,
13 jan (Lusa) - Cerca de 290 elementos da polícia (PNTL) e forças armadas
timorenses (F-FDTL) que participaram em grupos de artes marciais renovaram hoje
o seu juramento em Díli num ato simbólico depois de recentes incidentes
envolvendo estruturas rivais.
O
ato decorreu depois de nas últimas semanas pelo menos três pessoas terem sido
mortas em Baucau e uma outra em Díli em confrontos que alegadamente envolveram
membros de grupos de artes marciais.
Este
é um problema recorrente em Timor-Leste e já em 2002 e 2003 as organizações de
artes marciais viram-se envolvidas em incidentes idênticos que agora, segundo
explicou à Lusa o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão, envolvem
elementos da PNTL e da F-FDTL.
"Tem
havido o envolvimento direto e indireto dos membros da PNTL e da F-FDTL em
relação aos jovens das artes marciais. Têm havido problemas, incluindo
homicídios em que as artes marciais se envolveram", explicou à Lusa.
"Não
proibimos tudo, taekwondo, aikido, mas há determinadas organizações às quais
esta gente pertence que têm uma ideologia muito diferente, muito destrutiva.
Eles juram a bandeira merah putih, a bandeira indonésia, e se são irmãos e são
de grupos diferentes, perdem até as relações familiares", disse.
Apesar
dos conflitos serem antigos, alimentados por rivalidades de várias décadas
entre os principais grupos de artes marciais, Xanana Gusmão explica que o
problema é mais sério pelo envolvimento de elementos das forças de segurança.
"Isto
é antigo mas se, por exemplo, houver um confronto entre pessoas dos dois grupos
e vier um agente da PNTL que pertence a um dos grupos, manda seguir o seu
companheiro e atua só contra o outro. Isso não dá", disse.
Questionado
pelo facto de até membros do seu executivo terem sido, no passado, membros dos
grupos de artes marciais, Xanana Gusmão garante que em breve haverá uma
cerimónia idêntica à de hoje para as restantes estruturas do Estado.
Em
causa estão, em particular, três organizações de artes marciais, todas com
origem na Indonésia e que existem em Timor-Leste desde a ocupação do
território, nomeadamente a Korka, o PHST e o Kera Sakti.
Na
cerimónia de hoje estiveram presentes 55 agentes da PNTL e efetivos da PNTL que
no passado pertenceram à Korka, 88 pertencentes à Kera Sakti e 145 à PSHT
(Persaudaraan Setia Hati Terate).
Fundada
em Java Oriental,
na Indonésia, em 1922, a PSHT tem atualmente mais de um milhão de membros
naquele país, bem como elementos na Malásia, Singapura, Holanda, França e
Portugal, entre outros.
Em
Timor-Leste, onde a PSHT chegou em 1983, a organização tem cerca de 3.500
"gurus", os instrutores mais graduados, com mais de 30 mil membros em
todo o país. Estima-se que a Kera Sajkti.
Pelo
menos cinco portugueses treinaram nos últimos anos com elementos da PSHT em
Timor-Leste.
Com
mais de três horas de duração, a cerimónia foi presidida pelo primeiro-ministro
timorense, Xanana Gusmão, e contou, entre outros, com o comandante da PNTL, o
comissário Longuinhos Monteiro, o chefe das F-FDTL, o major general Lere Anan
Timur e praticamente todos os membros do Governo.
Em
declarações à Lusa o coronel Falur Rate Laek disse que o problema é complexo e
que a situação se mantém porque estas organizações "fazem parte da vida
das pessoas" há vários anos, desde que eram crianças, ainda no tempo da
ocupação indonésia.
"Há
competição, rivalidades entre estes grupos. Todos querem intimidar e dominar.
Tentamos combate-los. Mas é difícil dar uma resposta exata e clara porque já
por várias vezes juraram, fizeram compromissos e acabaram por não cumprir. É um
assunto complexo", explicou.
"Podem
ser tomadas outras medidas disciplinares. Temos de agir com inteligência e com
medidas que respeitem os seus interesses mas também os interesses das
instituições e do Estado", referiu.
Longuinhos
Monteiro, por seu lado, disse que é essencial perceber a forma como estes
grupos indoutrinaram os jovens com um espírito de camaradagem
"negativa" que está a ter impacto negativo na sociedade.
"A
camaradagem não pode criar situações que perturbam a ordem pública e a tranquilidade
dos cidadãos", disse, recordando que o ato de hoje pretendeu recordar a
importância do respeito pelas instituições do Estado e pela população.
"Os
que hoje participam nesta cerimónia já tinham declarado voluntariamente não
estar ligados aos grupos de artes marciais. Mas fazemos este ato simbólico para
mostrar aos outros serviços do Governo de que devem seguir este exemplo",
explicou.
Armando
Monteiro, superintendente chefe da PNTL, explicou que depois dos recentes
incidentes, as autoridades timorenses terão "tolerância zero" para
quem "se volte a envolver nos grupos de artes marciais após o
juramento".
ASP
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