domingo, 25 de janeiro de 2015

Grécia – Tsipras: POVO “ESCREVEU HISTÓRIA E DEIXA AUSTERIDADE PARA TRÁS”




Syriza elege 148 deputados, menos três que os 151 necessários para a maioria absoluta

Alexis Tsipras, líder do partido vencedor das eleições gregas, Syriza, afirmou hoje que "o povo grego escreveu História" e "deixou a austeridade para trás".

"É um sinal importante para uma Europa em mudança", disse Tsipras perante milhares de pessoas que se juntaram na praça em frente da Universidade de Atenas.

"O veredicto do povo grego significa o fim da 'troika'", a estrutura de supervisão da economia da Grécia constituída pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional que desde 2010 avalia as medidas de austeridade impostas a troco de empréstimos de 240 mil milhões de euros.

Tsipras, 40 anos, afirmou que "o povo deu um mandato claro" ao Syriza, "depois de cinco anos de humilhação" e assegurou que vai negociar com os credores uma "nova solução viável" para a Grécia.

O partido anti-austeridade Syriza obteve uma clara vitória nas eleições gerais de hoje na Grécia com 35,9% dos votos, quando estão contados 50% dos boletins.

De acordo com estes dados, oficiais, o Syriza elege 148 deputados, menos três que os 151 necessários para a maioria absoluta.

Os conservadores da Nova Democracia, atualmente no poder, obtiveram 28,3%, o que corresponde a 78 deputados, e o terceiro partido mais votado foi o neonazi Aurora Dourada, com 6,4% e 17 deputados.

Lusa, em Notícias ao Minuto

SYRIZA FESTEJA VITÓRIA HISTÓRICA NA GRÉCIA




As últimas projeções nas eleições na Grécia confirmam a maioria da coligação de extrema esquerda do Syriza, com 36% a 38% dos votos à frente da Nova Democracia que obtém 26% a 28% dos votos.

Com um quarto dos votos contados, o Syriza de Alexis Tsipras, o jovem líder de 40 anos, obtinha 35,4% dos votos e estava à beira de eleger os 151 deputados necessários para deter a maioria absoluta no Parlamento.

Tsipras deveria ter-se dirigido ao país pelas 18h30 mas atrasou o seu discurso, enquanto não tinha a certeza se obtinha ou não a maioria absoluta.

Alguns analistas antecipavam que a maioria absoluta do Syriza estaria dependente da entrada ou não no Parlamento do novo partido de centro-esquerda do ex-primeiro ministro George Papandreous.

O "Movimento Socialista Democrático" estava com 2,2% a 2,3% dos votos e necessitaria de 3% para poder entrar no Parlamento.

O segundo partido mais votado, o Nova Democracia, conservador do primeiro-ministro cessante Antonis Samaras, já reconheceu a derrota. Tinha 29% dos votos, quando estava contado um quarto dos boletins e o segundo lugar nas eleições legislativas.

O terceiro lugar foi disputado pela extrema direita do Aurora Dourada e dos centristas do To Potami, mas os extremistas acabaram por consegui-la obtendo 6,3% dos votos, com um quarto dos votos contados.

Em quarto lugar, as projeções davam aos comunistas gregos 5% a 6% dos votos, enquanto os socialistas do Pasok irão registar um dos piores resultados de sempre com o sexto lugar e 4,2% a 5,2% dos votos.

A liderança do Pasok já convocou uma reunião de emergência, para avaliar as consequências das eleições.

Aviso alemão

Logo após o anúncio da vitória do Syriza o euro caiu para mínimos históricos que quase alcançaram os valores da semana passada face ao dólar. Ao fim da tarde de domingo estava a valer 1,1117 dólares.

O presidente do Banco Central alemão já veio dizer que a Grécia "terá de cumprir compromissos" num aparente aviso aos novos senhores do poder na Grécia, eleitos hoje precisamente com a promessa de conseguir da Europa a renegocição do pagamento da sua dívida.

A nível internacional, o líder do espanhol Podemos, assumiu a vitória do Syriza como um aviso ao Governo do PP de Mariano Rajoy, recomendando-lhe que oiça a mensagem: "Tic tac tic tac", disse Pablo Iglesias.

Já a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, afirmou-se radiante com a vitória do Syriza, mas a coligação já veio recusar este apoio.

O presidente do grupo dos socialistas europeus ao Parlamento Europeu diz que eleições gregas "abrem caminho a uma larga coligação progressista", que os socialistas estão dispostos a apoiar.

Vitória que "recupera a esperança"

Em Portugal, o líder socialista António Costa afirma que os resultados eleiTorais na Grécia "obrigam a Europa a refletir" e que "a democracia resiste na Europa".

Já o PCP considera que esta eleição é " rejeição da política imposta pelos sucessivos programas de ajustamento".

O Bloco de esquerda saudou a vitória do partido "irmão" Syriza com uma vitória "que recupera a esperança".

Catarina Martins diz que "está na hora de mudar de vida, de criar emprego, de respeitar as pessoas", apelando ao fim dos programas de austeridade.

RTP – Foto: Marco Djurica/Reuters

Espanha: PODEMOS OUVIU UM “TIC-TAC” E QUER FAZER IGUAL AO SYRIZA




"A ESPERANÇA ESTÁ A CHEGAR E O MEDO A PARTIR"

O partido anti-austeridade espanhol Podemos saudou este domingo a vitória do seu aliado grego Syriza, sem esperar pelos resultados oficiais das legislativas gregas e manifestando a expectativa de uma vitória semelhante em Espanha. 

"A esperança está a chegar, o medo está a partir. Syriza, Podemos, vamos vencer", disse o líder do Podemos, Pablo Iglesias, perante cerca de 8.000 militantes em Valência. "Na Grécia, já ouvimos o 'tic tac, tic tac, tic, tac'", afirmou, para ilustrar a "contagem decrescente" para a mudança.

"Queremos ouvi-lo também em Espanha rapidamente", acrescentou. A Espanha realiza em maio eleições municipais e regionais e, em novembro, em princípio, eleições legislativas.

"Dizem que o caos se vai instalar na Grécia. Eu digo que o caos está na Grécia", disse Iglesias, que acompanhou o líder do Syriza, Alexis Tsipras, no último comício em Atenas. "O caos é três milhões de pessoas não receberem assistência sanitária, é 25% de trabalhadores serem pobres apesar de terem um contrato. Não quero que transformem o meu país na Grécia e é por isso que temos de ganhar", referiu Pablo Iglesias. 

Criado há cerca de um ano para denunciar a austeridade e a corrupção das elites, o Podemos está quase empatado com os conservadores nas sondagens. Em maio passado, nas eleições europeias, o partido elegeu cinco deputados, contra todas as previsões. 

As primeiras projeções divulgadas na Grécia após o encerramento das urnas apontam para uma vitória do Syriza com 35,5% a 39,5%, à frente da Nova Democracia (direita), do primeiro-ministro cessante Antonis Samaras, com 23% a 27%. 

Expresso - Foto: Reuters

Angola: CULTO CANINO AO LÍDER DIVINO




O MPLA, no poder desde 1975, anunciou hoje que pretende levar em 2015 ao Parlamento (onde tem uma maioria de sipaios à ordem do líder supremo) um plano com as tarefas necessárias à realização das primeiras eleições autárquicas no país.

Orlando Castro – Folha 8 Diário

A informação consta de uma nota divulgada pela Direcção do partido, a propósito da apresentação da agenda política para este ano, que teve lugar na cidade do Cuito, na província do Bié, em cerimónia orientada pelo vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida.

No documento, o partido afirma que através do seu grupo parlamentar prevê submeter à Assembleia Nacional uma sequência de tarefas que para o MPLA são essenciais para realizar com êxito as eleições gerais e autárquicas.

Serão tarefas duplas. Uma para matumbo ver e que se pretende com a forma de mascarar o regime autocrático com o rótulo de democracia, e que merecerá todas as parangonas nos megafones que domina, casos da TPA, RNA, Angop e Pravda. A outra, aconchegada nos meandros dos gabinetes monárquicos, visa preparar a máquina partidária para esmagar a Oposição.

Entre as tarefas, na versão oficial, contam-se a realização de um diagnóstico sobre o estado actual dos recursos humanos, financeiros, infra-estruturas e outros necessários à implementação das autarquias locais, a discussão e a adopção da legislação sobre a Administração Local do Estado e sobre o Poder Tradicional, ou ainda a delimitação territorial, “definindo correctamente” os limites de cada circunscrição autárquica.

Só aqui, para além de satisfazer as papalvos internos e os cépticos externos, está um caderno de encargos que dá para tudo, até mesmo para chutar as eleições para as calendas.

Será também necessário, diz o MPLA, realizar a “discussão e a adopção da legislação de suporte” à realização das eleições gerais – estas previstas para 2017 -, mas também “avaliar o potencial de arrecadação de receitas pelos municípios” e promover a “discussão, a adopção e a implementação urgente da legislação sobre as comissões de moradores”.

Por este andar o MPLA cumprirá a sua promessa de eleições autárquicas no mesmo ano em que, tanto quanto parece, conseguirá acabar com a fome no país. Ou seja, daqui a 30 anos.

Outra tarefa será concluir o estudo sobre a elevação das figuras territoriais das “comunas” a municípios, entre outras medidas, em cumprimento das orientações – como não poderia deixar de ser neste, e em qualquer outro, reino divino – do Presidente José Eduardo dos Santos, igualmente líder do partido, igualmente chefe do Governo, igualmente dono disto tudo, sobre a preparação destas primeiras eleições autárquicas no país.

Entre outras acções e tarefas “principais” da agenda política do MPLA para o ano de 2015, além do tema das eleições autárquicas, está previsto ainda “o estudo e a materialização”, junto dos militantes, das teses e recomendações do V Congresso Extraordinário do partido, realizado em Dezembro.

Teses essas que, em resumo, dizem que para se ser angolano é obrigatório ser do MPLA. Por alguma coisa vinga a máxima “O MPLA é Angola, Angola é o MPLA”.

Reforçar o trabalho de formação e de capacitação “político-ideológica dos militantes, quadros e dirigentes” do partido e estimular a implementação do Plano Nacional de Formação de Quadros, figuram igualmente da agenda do MPLA para este ano.

Trata-se de apostar forte na educação patriótica, no culto canino ao líder divino, obrigações solenes de todos aqueles que aspiram a um prato de pirão.

Leia mais em Folha 8 Diário

CRISE DO PETRÓLEO OBRIGA ANGOLA A “APERTAR O CINTO”




A baixa crescente do preço do petróleo no mercado internacional está a obrigar as autoridades angolanas a ponderarem um conjunto de medidas.

Arão Ndipa – Voz da América

A exportação de petróleo rendeu a Angola, em 2014, cerca de 27,5 mil milhões de dólares, uma quebra de 5 mil milhões de dólares face a 2013, devido à descida da cotação internacional do barril de petróleo.

Por outro lado Angola está a exportar menos. De facto, em 2014 Angola exportou 599 milhões de barris de petróleo, número que contrasta com os 629 milhões do ano anterior.

Em Setembro de 2013 o petróleo exportado por Angola chegou a ultrapassar 110 dólares por barril, mas, a cotação tem vindo a baixar desde o Verão passado, cifrando-se actualmente à volta dos 50 dólares.

A baixa crescente do preço do petróleo no mercado internacional está a obrigar as autoridades angolanas a ponderarem um conjunto de medidas que visam mitigar o choque desta conjuntura e preparar as populações para dias difíceis. Para nos falar sobre o assunto, ouvimos o presidente da bancada parlamentar do MPLA, Virgílio de Fontes Pereira, o economista José Severino e o engenheiro agrónomo, Fernando Pacheco.


Angola: MENTALIDADE DO BARRIL DE PETRÓLEO



José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião

A mentalidade do barril de petróleo regressou com a mesma rapidez com que desceu o preço do dito no mercado internacional.

E com ela, o amontoado de falsidades e especulações sobre a situação cambial e financeira pelos analistas cuja especialidade é  bater constantemente na tecla catastrofista, sempre que se trata de caracterizar a economia angolana. O eterno anti-angolano jornal “Público” exultava ontem com o regresso às suas manchetes dos velhos tempos: “choque do petróleo ameaça negócio de empresas com Angola”. Antes dele, Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros português, falando em Luanda, em visita oficial, até se propôs ajudar Angola com a “experiência da austeridade” de Portugal.

Mas quando a brincadeira ultrapassa os limites, ainda há quem tenha o discernimento e a competência suficiente para usar a palavra certa em momentos de transformação conjuntural. O governador do Banco Nacional de Angola, José Pedro de Morais, disse, com a serenidade que o caracteriza e advém da sua inquestionável sabedoria de obra feita, que os fundamentos macroeconómicos em Angola são robustos e não há qualquer razão para alarme.

Como sempre, coisas muito sérias, como é o caso da situação cambial e financeira do país, são tratadas com a superficialidade da mentalidade daqueles que se habituaram a viver à sombra do barril do petróleo, ainda que os recursos do país não se limitem a essa “commodity” e que há muito se tenha alertado para a necessidade da diversificação económica e a aposta no sector produtivo não petrolífero. Essa mentalidade está hoje muito incrustada na banca privada, onde muita gente tem poupanças externas, e facilmente desse sector se difundem os alarmismos.

Os bancos são organizações fiduciárias e a banca angolana tem de saber desempenhar o papel que lhe cabe, quando existe uma conjuntura de evidente alteração como a que está a passar. E se ainda não sabe fazer isso, algo vai mal num sector que vive da confiança dos seus clientes. 

De um dia para o outro desencadeou-se uma corrida vertiginosa às transferências de dinheiro para o exterior. Dada a pressão, os “tectos” a que se habituaram a operar, baixaram. E como consequência de uma situação lógica e justificada, começaram a circular os mais desencontrados boatos e os velhos detractores ressurgiram. O novo governador do BNA José Pedro Morais disse o essencial, no momento exacto: os fundamentos macroeconómicos são robustos. E não há qualquer justificação para o alarmismo gerado. Também o último número da revista “The Economist” sublinha que a expansão da economia de Angola em 2013 veio principalmente do sector manufactureiro e da construção civil. 

As pescas cresceram 10,0 por cento e a agricultura nove por cento. Esta revista especializada em assuntos económicos refere que um terço das receitas angolanas advêm hoje de fontes não petrolíferas, quando há uma década eram quase nada. 

Se numa década Angola conseguiu fazer tanto nesta área, nada justifica que se perca a fé na continuidade do sucesso e se continue a sustentar na economia angolana a mentalidade de que tudo começa e acaba no preço do barril do petróleo.Ou que o ciclo desta matéria-prima é sempre virtuoso, ao contrário do que acontece com as “commodities” menos valorizadas. 

Se para muitos países não produtores de petróleo a descida do preço do crude representa uma oportunidade de poupança e crescimento, nenhuma razão há para que o crescimento económico em Angola não se mantenha forte e os indicadores sociais prossigam no rumo da melhoria. Só por pura ironia e brincadeira de mau gosto ia agora Angola adoptar a austeridade portuguesa e voltar o “cobrador do microfone da SIC” ao nosso país, cobrar atrasos nos pagamentos a empresas portuguesas. 

Quanto ao alarmismo que perpassa pelos bancos, é evidente que os clientes têm a garantia do regulador de que nenhuma instituição financeira com balcões abertos ao público pode ignorar compromissos e contratos firmados. Se o fizer, está a violar as regras. Quem estimula e abastece o mercado negro de divisas está a cometer um crime que não pode passar sem castigo. 

O Governador do Banco Nacional de Angola, com serenidade, disse isso, por outras palavras. Mas o importante  é que ninguém o ouviu confirmar nada do que tem sido dito e publicado sobre a situação cambial e financeira.

O BNA já tomou as medidas que lhe cabem. Outras foram anunciadas há dias pelo ministro da Economia, Abraão Gourgel, e outras ainda vão ser tomadas para combater a mentalidade ligada ao petróleo e manter o rumo virtuoso da economia angolana. O Executivo liderado pelo Presidente José Eduardo dos Santos mostra assim que está tudo sob controlo. O regresso da “maquineta à portuguesa” a Angola tem de ser denunciada. Ao menor sinal de alteração da conjuntura económica, desta vez emitido em cima da queda brutal do preço do barril de petróleo, os que vivem da especulação de toda a ordem avançam de armas e bagagens contra o nosso país. Os métodos são sempre os mesmos.

DHLAKAMA INSISTE NA CRIAÇÃO DA “REGIÃO AUTÓNOMA DE MOÇAMBIQUE”




Nas zonas onde ganhou nas eleições gerais

O líder da Renamo, Afonso  Dhlakama, voltou a insistir, semana passada, com a ideia de criação da “região autónoma de Moçambique”, em todas as províncias onde teve maior número de votos, na últimas eleições gerais realizadas a 15 de Outubro de 2014, caso as negociações com o governo não alcancem consensos.

Dhlakama teve maior número de votos nas províncias de Sofala, Manica, Tete, Nampula, Zambézia e Niassa.

O Presidente do partido Renamo refere que o governo autónomo visa acabar com a descriminação no país.

O País (mz)

Macau tem cerca de 10.000 muçulmanos e a comunidade continua a crescer -- associação




Macau, China, 25 Jan (Lusa) - Macau conta atualmente com cerca de 10.000 muçulmanos, uma comunidade que as associações islâmicas do território e de Hong Kong acreditam estar em pleno crescimento, em grande parte devido à chegada de empregadas domésticas da Indonésia.

"Está a crescer muito, cada vez há mais pessoas a vir à mesquita à sexta-feira", afirmou à agência Lusa o imã Uthman Yang, que apesar de pertencer à União Islâmica de Hong Kong, se desloca a Macau todas as sextas-feiras para conduzir os rituais religiosos.

A mesquita da cidade está sem líder há cerca de um ano e meio, quando o imã faleceu.

Sem meios de financiamento, a Associação Islâmica de Macau conta, desde os anos 1980, com o apoio da união de Hong Kong, de onde chegam 200.000 dólares de Hong Kong (cerca de 22.000 euros) anuais para custos de manutenção da mesquita.

"Somos duas organizações diferentes, mas estamos gratos a Macau e estamos a retribuir", explicou Rahmatullah Mohamed Omar, secretário-geral da União Islâmica de Hong Kong, uma cidade com uma comunidade muçulmana de cerca de 300.000 membros.

Durante a II Guerra Mundial, muitos muçulmanos de Hong Kong fugiram para Macau, aproveitando o facto de Portugal ser neutro no conflito. Foi o caso de Omar: "Estive cerca de quatro anos em Macau, onde fomos pedir refúgio. Era muito pequeno, tinha dois ou três anos".

"Trataram-nos muito bem e estamos muito agradecidos. Por isso agora tentamos ajudar os muçulmanos de Macau o máximo possível", esclareceu.

As duas associações esperam que, no futuro, Macau consiga gerar alguns fundos, não só através da cantina que querem abrir no novo centro islâmico - a aguardar aprovação das Obras Públicas - mas também através do serviço de certificação de restaurantes 'halal'.

Atualmente, é Uthman Yang que atribui essa certificação em Macau, mas a função pode passar a ser desempenhada localmente quando for contratado um novo imã.

A questão da comida 'halal' - que implica que os animais sejam mortos de acordo com a lei islâmica - é salientada como essencial para o bem-estar de residentes e turistas muçulmanos.

Macau conta agora com cinco restaurantes certificados, três indianos e dois chineses.

"Há um número crescente de muçulmanos a visitar Macau e procuram restaurantes 'halal' [por isso] há cada vez mais restaurantes a pedir informações sobre as certificações", garantiu Ali Mahomed, porta-voz da Associação Islâmica de Macau, indicando que esta é uma tendência que se tem acentuado nos últimos "dois ou três anos".

ISG// PJA

Confronto entre polícia e muçulmanos deixa pelo menos 30 mortos nas Filipinas



Correio do Brasil, com Reuters - de Manila

Pelo menos 30 pessoas foram mortas neste domingo em um violento conflito entre a polícia e rebeldes muçulmanos nas Filipinas, afirmaram autoridades e militares. O confronto ameaça um acordo de paz que já tem um ano.

A Frente de Libertação Moro Islâmica (FLMI), maior grupo rebelde no sul das Filipinas, aceitou uma oferta de autonomia do governo em março de 2014, encerrando 45 anos de conflitos que mataram 120 mil pessoas e forçaram o deslocamento de 2 milhões de pessoas.

Sob o acordo, mediado pela Malásia, os rebeldes Moro deveriam entregar suas armas e encerrar mobilização em troca da definição de um novo governo autônomo no sul das Filipinas. O acordo também previu à minoria muçulmana maior poder econômico e político.

Mas os confrontos deste domingo, que duraram quase 12 horas e ocorreram perto da cidade Mamasapano, devem representar um obstáculo importante na implementação do acordo em um momento em que o Congresso filipino delibera sobre uma nova lei para autonomia muçulmana.

Fontes militares e da polícia entraram na comunidade muçulmana onde acredita-se que o FLMI e a facção rival, Combatentes Bangsamoro para a Liberdade Islâmica, estão operando. A Polícia Nacional das Filipinas não comentou o assunto.

Zacaria Guma, um comandante da FLMI, afirmou em comunicado que a polícia não se coordenou com o governo conjunto e com uma comissão dos rebeldes voltada ao cessar-fogo.

A polícia foi à região para prender Zulkifli bin Hir, um malaio especialista em bombas que tem uma recompensa de US$ 5 milhões sobre sua cabeça emitida pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, afirmou um porta-voz do exército filipino.

Eleições - Grécia: URNAS DE VOTO ENCERRADAS. PROJEÇÕES DÃO A VITÓRIA AO SYRIZA




SYRIZA 35,5%-39,5%, NOVA DEMOCRACIA 23%-27%

As eleições na Grécia decorreram normalmente. As assembleias de voto já foram encerradas (17 horas em Lisboa) e a contagem de votos já começou. 

A comunicação social começou por divulgar os resultados das projeções salientando que o Syriza terá um resultado entre os 35,5% e os 39,5%, enquanto que a Nova Democracia, no poder, somente conseguirá entre 23-27%. O partido da extrema-direita, Nova Aurora ficará a grande distância dos dois primeiros partidos devendo ocupar o terceiro lugar na votação dos eleitores gregos.

Grécia – Eleições: VINTE E UM BOLETINS DE VOTO E UMA URNA DE ESPERANÇA




À entrada das assembleias de voto formam-se filas de pessoas, num movimento maior do que o habitual em eleições. É um sinal de mudança  

Joana Pereira Bastos (texto e foto), enviada à Grécia – Expresso

Votar não é um processo simples na Grécia. Nem rápido. Cada eleitor recebe 21boletins, um por cada partido que concorre a estas legislativas e um outro em branco no caso de não querer escolher nenhum. São papéis e mais papéis. Na urna cada pessoadeposita apenas um. E uma última esperança no futuro do país.

Distribuídos em montes iguais numa mesa comprida colocada em todas as assembleias de voto, os boletins relativos a cada partido têm uma longa lista com o nome de todos os candidatos que concorrem, em cada círculo, às eleições. À entrada da sala, os muitos papéis são dados, um a um, a cadaeleitor, que os leva para uma cabine individual, tapada por uma cortina. O que corresponde ao seu voto é fechado num envelope e depositado na urna. Todos os outros vão para o lixo.

Em Atenas, praticamente todas as assembleias de voto estão instaladas em escolas. À entrada de cada sala de aula, decorada com desenhos infantis, formam-se enormes filas para votar. George Giokaris, arquiteto de 57 anos, está emocionado. Não é costume ver-se um movimento tão grande, diz. É um sinal de mudança, acredita o apoiante do Syriza, a coligação de esquerda radical que, de acordo com sondagens, deverá ganhar as eleições. "Ao votarmos hoje, mudamos a Grécia, mudamos a Europa e ajudamos a mudar o mundo. Desta vez o povo vai fazer a diferença". 

Alessandro Karakostas, dono de um pequeno restaurante no centro da capital, partilha a mesma opinião. Neste domingo, acredita, decide-se mais do que apenas o destino da Grécia. A expectativa é tanta que chega a comparar o líder do Syriza ao presidente dos Estados Unidos: "Quando foi eleito, Obama representou uma nova esperança para o mundo. Alexis Tsiprasrepresentará uma nova esperança para aEuropa, a esperança de um futuro melhor para todos os países, em particular para os países do Sul", garante.  

A verdade é que as eleições gregas estão a ser seguidas com atenção em todo o mundo. Mais de 700 jornalistas estrangeiros, do Japão ao Equador, estão no país a fazer a cobertura das legislativas. Não é por acaso. Uma vitória do Syriza, que promete acabar com a austeridade e exige a Bruxelas um perdão de 50% da dívida do país, tal como foi feito para a Alemanha em 1953, pode mudar a União Europeia. Se as negociações falharem e a Grécia acabar por sair da zona euro, fantasma que paira sobre estas eleições, pode abrir-se um precedente com consequências difíceis de determinar.

A atenção mediática é tal que não é fácil andar pelas ruas da capital grega sem "tropeçar" numa equipa de televisão estrangeira. É uma sensação estranha e desconfortável para muitos gregos. "Sentimo-nos como se estivéssemos no jardim zoológico. Somos os animais na jaula que o mundo veio ver", descreve George Kavradis. 

Ao contrário dos apoiantes do Syriza, que transpiram confiança, o arqueólogo, de 52 anos, que vai votar no partido de esquerda liberal To Potami (em terceiro lugar nas sondagens), não está muito otimista. "As eleições não mudam nada se não mudar a mentalidade das pessoas. O povo grego vive orgulhoso do passado glorioso do país, mas tem estado pouco preocupado em construir o seu futuro. Muitos querem dinheiro fácil. Mas só com mais educação e trabalho árduo podemos ter um bom futuro", diz.

Kalliope, uma jovem engenheira civil de 25 anos que não quis revelar o seu voto, também não está muito confiante. Mas por razões diferentes. "Os países ricos da União Europeia só pensam neles. Não se preocupam connosco e dificilmente farão com que tenhamos um futuro melhor", lamenta.

As urnas encerram às 19h (menos duas horas em Portugal). Os resultados definitivos deverão ser divulgados pelas 23h (21h em Lisboa). Não há, por enquanto, palcos montados em nenhuma das principais praças da capital, nem se sabe ao certo onde vão ter lugar os festejos. Muito menos o que vai acontecer depois disso.

A UE NÃO EXISTE



Daniel Vaz de Carvalho

1 – Ascensão e queda do mito europeu 

A UE existe? Não, o que existe é um projeto de fundamentalismo neoliberal conduzido por tecnocratas. O que temos é uma "união" de desemprego, pobreza, desesperança e revolta cidadã, em que milhões de pessoas são deixadas à margem, esmagadas pela austeridade enquanto a oligarquia acumula riqueza e todas as hipóteses de equilíbrio ou convergência estão excluídas na prática.

Uma "união" que se constrói comandada pela oligarquia alemã e que, face ao seu total falhanço, ensaia já soluções de extrema-direita como no leste europeu, e de que o drama ucraniano é sintomático.

Segundo o Eurostat o risco de pobreza ou exclusão social atingia em 2013 na Grécia 35,7% da população, na Espanha 27,3%, na Roménia 40,4%, na Letónia 35,1%, no Reino Unido 24,8%, na própria Alemanha 20,3%. Em Portugal como se sabe era de 27,4%. No entanto, como estes dados se referem a medianas podemos avaliar os níveis de pobreza pelos respetivos salários mínimos (brutos) que abrangem crescentes faixas de trabalhadores. Assim, na Roménia era de 157,5 €, na Letónia de 286,66 €, na Polónia 392,73 €.

A UE tornou-se até risível para seus próceres como Christine Lagarde, ao afirmar temer que uma dieta de dívidas elevadas, crescimento fraco e desemprego se torne a nova normalidade na Europa. [1] A UE encaminha-se para nova recessão e o sistema bancário apesar de todas as medidas apresentadas desde 2008 como condições sine qua non para a "salvação" – de quê?! – está tão ou mais fragilizado que antes.

A propaganda evolui no meio de ilusões, não apenas sobre a realidade, mas sobre as soluções adotadas. Este falso otimismo é apenas uma máscara para impor aos povos a austeridade que toma a forma de uma guerra social. A estabilidade económica da UE é ilusória. Pior, a UE encontra-se na terrível situação de as únicas soluções que poderiam resolver os problemas existentes levariam à destruição dos seus mitos e ambições de grande potência continental, para onde os seus tratados pretendiam convergir.

Para os impor, a propaganda dizia ser necessário a "Europa (?) falar a uma só voz". Como se os interesses nacionais pouco ou nada importassem aos seus "ideais europeístas". Que espécie de UE é esta em que a única igualdade estatuída é para o capital multinacional? Em que os cidadãos são cada vez mais marginalizados, suas esperanças e projetos de vida negados em nome da "eficiência dos mercados". Em que a contestação se generaliza e é cada vez maior o descrédito dos políticos e das instituições que suportam este estado de coisas.

Quaisquer que sejam os acontecimentos futuros, o poder enfeudado a Bruxelas/Berlim afastou-se de tal modo das pessoas e dos seus problemas, que, face à dissolução do poder dos Estados e à decadência económica, a contestação a uma "união" que na realidade não existe, continuará a acentuar-se.

Que a UE não existe confirma-o Draghi ao afirmar, e com ele comentadores e políticos do conformismo vigente, que o contrato social europeu é obsoleto e há que substituí-lo. É a "nova ordem europeia" em marcha: o neofascismo. A oligarquia dominante, a finança e seus políticos não estão em estado de suportar uma liberdade e uma democracia em que as aspirações populares sejam tidas em conta.

2 – O euro uma aberração económica e social 

Com o euro foi preparado o caminho para os países deixarem de ter soberania. No Manifesto, Marx refere-se à moeda, ao dinheiro, como a ligação social dominante à qual todas as outras relações se reduzem. A tese da neutralidade da moeda – um dos dogmas do monetarismo – conduz à "independência" dos bancos centrais, entidades que não dependem do poder político democrático, tendo como objetivo apenas garantir o que a oligarquia financeira define como prioritário e essencial. Os resultados estão à vista com o sistema financeiro europeu próximo do caos, mascarado pela austeridade e pela comunicação social controlada.

Os preços monetários resultam de compromissos e conflitos de interesses, nisto decorrem da distribuição do poder. A moeda é um instrumento na luta entre indivíduos e grupos sociais à volta da apropriação deste tipo de direito. O cálculo monetário não tem sentido senão a partir de um conhecimento da distribuição de rendimentos. Ele é portanto dependente da organização social e não prévio ou a sua essência. [2]

A desorientação que reina no sistema financeiro da UE pode ser avaliada pelo contorcionismo técnico a que o BCE recorre ao comprar títulos classificados como "lixo". É esta a forma de mascarar a verdadeira situação da banca europeia. Porém, isto apenas aumenta o descrédito do sector e da própria moeda, o euro.

O BCE colocou o interesse dos banqueiros acima dos interesses dos povos. O facto de largo conjunto de bancos terem colapsado ou terem-se arrastado na fraude (por ex. casos Barclays, Deutsch BanK, Dexia, etc). A falta de credibilidade do sistema ficou demonstrada quando bancos colapsaram após terem passado nos testes de stress. Tal ocorreu na Irlanda, em Portugal, na Grécia – e depois de as regras terem sido supostamente tornadas mais eficazes, os bancos continuam a ir à falência atulhados de casos fraudulentos, como no Dexia ou no BES, verdadeiro "case study" político e económico de todo o sistema financeiro da UE.

O euro, com o seu BCE, mais parece uma arma de vândalos que procedem à devastação e ruína dos povos para manter o seu poder discricionário. Porém, para que serve tudo isto? Dado que os países cederam o seu poder de criar dinheiro ao BCE e à banca privada, aceitando o uso do euro, é de facto possível irem à falência. Isto apenas torna a política do BCE mais idiótica ao tornar ainda mais difícil a vida dos países que se debatem para pagar as suas dívidas. [3]

O euro é um instrumento do domínio alemão, impondo a moeda que mais lhe convêm, não permitindo a criação de moeda sem juros por bancos centrais dos Estados, dependentes do poder político democrático. A catástrofe não é sair do euro, é permanecer no euro que apenas trouxe estagnação, insuportável endividamento, dependência e, consequentemente, inevitável pobreza.

3 – LARGO AL FACTOTUM 

No estado a que a UE chegou, pretende-se que as eleições sejam uma farsa. Uma farsa que faz lembrar o "largo al factotum" (deixem passar o faz-tudo) das Bodas de Fígaro (Mozart – Da Ponte). A "mulher mais poderosa da Europa", a Merkel, não passa do factótum do sr. Schauble, ignorante como qualquer fanática, tal como Isabel de Castela, obedecendo ao inquisidor Torquemada.

Que dizer de Draghi, de Hollande, dos políticos do "arco do poder" em Espanha, na Grécia, ou Portugal com Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Cavaco Silva? Não passam de factótuns que mestre Miguel Urbano qualificava como uma "casta de aventureiros sem escrúpulos que a política de direita fez florescer e tornam o país um microcosmos do capitalismo no seu estado mais apodrecido." [4]

O B de P é na realidade um departamento do BCE. O seu governador é um mero funcionário do BCE às ordens dos burocratas para os quais os interesses do povo português estão resumidos nos formulários que lhes foram atribuídos. Os governadores limitam-se a cumprir ordens e olhar para o lado quanto à má gestão e às fraudes.

Vejam-se os presidentes da CE do inepto e subserviente Barroso a Junker, envolvido num escândalo (rapidamente abafado) de acordos fiscais secretos no Luxemburgo a centenas de multinacionais. Centenas de milhares de milhões de euros extorquidos aos países e aos povos! São indivíduos sem perfil, que agem como vozes do dono, repetem clichés, esgotam promessas que, de tão falseadas, se tornam meras mentiras que as pessoas ignoram ou desprezam.

A austeridade é aplicada com a argumentação de pretender reconstituir um pretenso equilíbrio económico, resultado mecânico duma "concorrência livre e não falseada" que produziria mercados perfeitos. É a economia a funcionar como uma máquina hidráulica…

Em nome de uma hipotética eficiência, impõe-se a lógica do mercado como regulador absoluto ignorando os riscos que lhe estão associados, como a corrupção, a fraude, as crises ditas "sistémicas". Este "mercado livre", com monopólios e especulação, está espartilhado num conjunto de regras autoritárias e determinações de agentes burocráticos. Porém, construir ou reformular a sociedade de acordo com um modelo pré-definido como ideal e perfeito e julgar as pessoas e as sociedades de acordo com esse modelo, releva da teologia fundamentalista. [5]

Os políticos do sistema nem sequer põem a questão de avaliar se o tal equilíbrio financeiro é socialmente justo. A "ciência económica" vigente não passa de uma superstição destinada a subordinar os povos e o funcionamento das economias nacionais aos interesses das megaempresas transacionais e seus multimilionários.

É este o resultado do modelo defendido pela social-democracia/socialismo reformista: um drástico retrocesso das condições sociais, com a UE a desempenhar o papel da "Santa Aliança" do século XIX.

4 – A Grécia já está a arder? 

A simples hipótese das eleições na Grécia serem ganhas por um partido que não se afasta da social-democracia tradicional, provocou ameaças, quedas na bolsa, juros a subirem para inconcebíveis 9,7%; quando o BCE fornece dinheiro à banca privada sem custos e sem riscos.

Os comentadores falaram em "nervosismo (!) dos mercados" e o FMI suspendeu a "ajuda" até ao novo governo. Só não se percebe é como uma "mão invisível" pode estar nervosa! Esta gente já não hesita em usar o obscurantismo e a estupidez como arma ideológica.

O ministro alemão das finanças, Schauble, disse que "as políticas definidas por Bruxelas (que modéstia!), as reformas duras estão a dar frutos (quais? a quem?), têm de ser mantidas e não há alternativas." "As novas eleições não vão alterar os compromissos que temos com o governo grego. Qualquer novo governo tem de manter os compromissos assumidos pelos antecessores."

Os nazis não pensavam de outra forma relativamente ao resto da Europa, só que a hipocrisia era menor. Não escondiam ao que iam. Na iminência da libertação de Paris, a questão colocada pelo Alto Comando nazi foi: "Paris já está a arder?" A versão atual de Paris a arder para que a "Alemanha" triunfe é a austeridade, o fogo lento que consume económica e socialmente os povos.

Na Grécia, como em Portugal e por toda a UE, a "ajuda" e os "frutos" de que falava Shauble, estão envenenados, traduziu-se em mais miséria, desemprego, recessão económica, degradação das condições sociais e como vemos a instauração do neofascismo liberal. Simultaneamente, as instituições passaram a exercer um controlo desmedido sobre as políticas nacionais impondo um Estado hiperautoritário, designadamente uma estrutura de vigilância e punição anti-laboral e anti-social. [6]

A democracia na UE tornou-se meramente formal com tratados que impõem à revelia dos povos as políticas neoliberais, fechando as portas às opções dos povos. A democracia como ato de participação e decisão coletiva deixa de ser necessária face à transformação da econometria neoliberal em ideologia. Cliques de "sábios", como os provenientes dos grandes grupos financeiros, decidem "o que é melhor para nós", o povo, tal como no fascismo.

Quando os países fragilizados por estes processos, mais precisavam de poder democrático para decidir o seu destino e respirar a liberdade da soberania, foram colocados sob iníquas tutelas hipocritamente apelidadas de ajuda.

Perante o aumento da contestação à burocracia de Bruxelas e à ditadura de Berlim, a Alemanha ensaia um recuo estratégico com algumas apressadas promessas que apenas comprovam que tudo o que andaram a obrigar os outros a fazer, não estava apenas errado, era absurdo e socialmente criminoso.

Mas são remendos que nada alteram do essencial das políticas. Trata-se apenas de disfarçar um pouco o descalabro de uma falsa UE incapaz de resistir às perturbações que originou na Grécia, que não representa sequer 2% do PIB da zona euro e 1,4% da UE.

A UE não existe, o que existe é um problema, uma guerra de classe contra os povos sob a designação de UE. Que democracia, que vontade do povo se permite então nesta UE? Que partidos democráticos aceitam esta chantagem? Portugal perdeu a soberania monetária, económica e até a legislativa está drasticamente limitada. Uma chantagem que se exerce contra as opções eleitorais, como o PR se faz eco com os seus pseudo consensos.

O Estado democrático e a soberania popular garantidos pela Constituição, são as formas de proteger Portugal e os portugueses e nunca um poder espúrio transferido para uma decadente UE contra os interesses nacionais.

Notas 
[1] Patrick Wintour in Brisbane, The Guardian, 17 novembro 2014
[2] Jacques Sapir, Les trous noirs de la science économique, Ed. Seuil, 2013, p. 239, 240, 242.
[3] Geoff Davies, Sack the Economists - and Disband their Departments , Bwm Books, Canberra, 2014, p. 184
[4] Um zoo humano de inimigos do povo
[5] Jacques Sapir, obra citada, p. 108, 128, 129
[6] Jacques Sapir, obra citada, p. 98, 99 


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

OBAMA: O DISCURSO DA MENTIRA E DA HIPÓCRISIA




Foi triunfalista o discurso sobre o Estado da União pronunciado pelo presidente Barack Obama. Segundo ele tudo corre maravilhosamente nos EUA neste seu segundo mandato.

Deturpou conscientemente a realidade numa peça oratória grandiloquente pelo estilo, hipócrita, e semeada de mentiras.

Na primeira parte, para consumo interno, dirigindo-se sobretudo à classe média, esboçou um quadro de êxitos, de paz social, com a economia num crescimento sustentado, o desemprego a cair, a saúde e a educação em patamares superiores.

Ocultou que os EUA continuam atolados numa crise profunda, que gigantescas manifestações saem às ruas em dezenas de cidades, protestando contra o racismo e a violência policial e que a desigualdade continua a aumentar perigosamente na sociedade norte-americana com um punhado de bilionários a concentrar uma percentagem colossal da riqueza produzida.

Foi ridícula a leitura da carta pessoal de uma jovem que melhorou a situação familiar graças à imaginação e tenacidade com que ela e o marido enfrentaram a crise.

A mesma euforia marcou a segunda parte do discurso, dedicada à política exterior.

Afirmando que cumpriu já quase todos os compromissos assumidos, declarou que os EUA, ao intervirem no Afeganistão e no Iraque, levaram o progresso e a democracia àqueles países.

Sublinhando que honrou a palavra empenhada e retirou as tropas americanas da Região, confiando a forças locais as tarefas de segurança, acumulou inverdades.

As agressões norte-americanas destruíram e arruinaram os dois países e são responsáveis em ambos por centenas de milhares de mortos, pela tortura de milhares de prisioneiros, pelo alastramento da miséria, da fome e da corrupção (v.odiario.info de 21.1.15).

Nestes dias, aliás, mais mil militares norte-americanos foram enviados para o Afeganistão e outros tantos para o Iraque.

Dos golpes promovidos pelos EUA na América Latina nos seus mandatos não falou. Absteve-se também de referências ao Africa Comand, aos bombardeamentos de rotina dos drones na Somália e no Iémen e ao envio de tropas americanas para o Uganda.

O presidente não poupou críticas à Rússia a propósito dos acontecimentos da Ucrânia, qualificando-a de «agressora», mas foi enfático nos elogios ao governo fascizante de Poroshenko que se instalou em Kiev com a cumplicidade norte-americana. Para Obama é um aliado democrático.

Mostrou-se otimista no tocante à Asia Oriental, região onde os EUA estariam reformulando a sua política e alianças. Omitiu obviamente que essa nova estratégia é dirigida contra a Rússia e a China.

O fecho do discurso foi, sem surpresas, o elogio ditirâmbico dos valores da democracia dos EUA, nação predestinada para salvar a humanidade.

Terminou com uma invocação ao Senhor: «Que Deus abençoe este pais que tanto amamos».

Os editores de O Diário.info

Portugal: Quase 12 mil casais tinham os dois cônjuges desempregados em Dezembro




Perto de 12.000 casais inscritos nos centros de emprego de Portugal continental tinham ambos os cônjuges em situação de desemprego no final de dezembro, menos 5,9% do que no mês homólogo, segundo dados hoje divulgados.

De acordo com números do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), do total de desempregados casados ou em união de facto, 23.937 pessoas têm também registo de que o seu cônjuge está inscrito como desempregado no centro de emprego, o que equivale a 8,8%.

Ou seja, o número de casais em que ambos os cônjuges estão registados como desempregados foi, no final de dezembro de 2014, de 11.969, o correspondente a uma diminuição homóloga de 5,9% (-745 casais) e uma subida de 3,5% (+408 casais) face a novembro último.

No final de Dezembro deste ano, estavam inscritos nos centros de emprego do continente 564.312 desempregados, sendo que quase metade (48,1%) eram casados ou viviam em situação de união de facto, num total de 271.579.

O desemprego verificado nos centros de emprego do continente diminuiu 14% em dezembro de 2014 face ao mesmo mês de 2013 e caiu 1,3% em relação ao mês de Novembro.

Já quanto aos desempregados casados ou em união de facto, a queda homóloga em Dezembro foi de 14,2% (-44.961 desempregados), ao passo que face a Novembro de 2014 houve um aumento de 1,0% (+2.711).

Jornal i com Lusa

Portugal: POR FAVOR, TENTE NÃO MORRER



Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião

Nunca imaginei que entre o humorista Ricardo Araújo Pereira e o ministro da Saúde, Paulo Macedo, pudesse haver tantas semelhanças. Disse, há dias, o primeiro, numa rábula radiofónica, a propósito das mortes nas urgências hospitalares: "As pessoas têm de adoecer com método, estas coisas têm de ser pensadas". Disse o segundo, ontem, durante uma visita a um hospital: "Há uma alteração de hábitos culturais"; "há mais pessoas que vão falecer hoje em dia aos hospitais, não é só uma questão dos cuidados de saúde serem melhores e haver uma maior oferta".

O ministro da Saúde pode deitar a água na fervura que quiser, pode repetir à exaustão que no resto do Mundo também se morre muito nas urgências, mas não pode sugerir que os portugueses recorrem às urgências por "hábito cultural". Não é exatamente como aprender a pôr o cinto de segurança do carro e entranhar o conceito de que as priscas não devem ser atiradas para o chão. Em princípio, as pessoas recorrem às urgências dos hospitais porque precisam. E porque confiam no Serviço Nacional de Saúde.

Paulo Macedo não se comove com as 700 mortes nas urgências registadas nos primeiros 20 dias do ano. Desdramatiza quando ouve falar em médicos e camas a menos. Parece, enfim, responder a tudo com a calma sibilina do violinista que se afunda com o "Titanic".

Morrer nas urgências é normal, acontece a muitos portugueses no inverno e no verão. Morrer nas urgências sem ser atendido, depois de nove horas de espera, não é normal, é desumano. Em particular, porque se trata, na esmagadora maioria dos casos, de portugueses de idade avançada, sem grande poder aquisitivo e, não raro, sem uma necessária retaguarda familiar.

Os responsáveis do Ministério da Saúde continuam a confundir (deliberadamente) estes conceitos: ninguém os culpa por haver portugueses que morrem nas urgências. Mas ninguém os pode ilibar da responsabilidade de haver portugueses que morrem nas urgências à espera de cuidados.

É um ciclo perigoso, este: o Estado corta nas reformas aos idosos, deixa-os mais suscetíveis aos caprichos da velhice e, na hora de os tratar, abandona-os, doentes, sem sequer lhes perguntar de que se queixam. Quer dizer, perguntar até pergunta, mas apenas para achar a cor certa da pulseira com que se vai esquecer deles passados cinco minutos.

O DIA DE TODAS AS DECISÕES NA GRÉCIA




As assembleias de voto da Grécia abriram esta manhã às 07h00 locais (05h00 em Lisboa) para as eleições legislativas, em que é apontado como favorito o partido de esquerda e contra a austeridade Syriza.

Na Grécia, a escolha é entre a segurança e os problemas, diz Antonis Samaras, o líder conservador. Já Alexis Tsipras, líder do Syriza, sublinha que a escolha é entre a austeridade e a dignidade.

Os líderes dos dois principais partidos candidatos à formação de governo na Grécia votaram esta manhã em Atenas. À saída dos locais de voto, ambos falaram aos jornalistas.

Alexis Tsipras, apontado pelas sondagens como o favorito nas eleições deste domingo, defendeu que há um caminho alternativo à austeridade e avisou a União Europeia (UE) que o futuro da Europa «não está na austeridade, mas na dignidade e a coesão».

«Hoje o povo grego vai dar o último passo para recuperar sua dignidade, para viver um futuro com solidariedade, para o regresso da esperança, o fim do medo, o regresso da democracia e a dignidade em nosso país», disse Tsipras após votar.

Já Antonis Samaras, atual primeiro-ministro e a líder da Nova Democracia, acredita que ainda pode ser reeleito apesar de as sondagens apontarem para a vitória do Syriza.

Em declarações aos jornalistas, Samaras defendeu que nestas eleições os gregos vão decidir se seguem em frente, fortes e com segurança ou se vão mergulhar em problemas.

«Estas eleições são decisivas para o futuro da Grécia e dos nossos filhos. Vamos decidir se seguimos em frente, com força, segurança e confiança, ou se embarcamos numa aventura. Há um número nunca antes visto de pessoas que continuam indecisas, serão elas a determinar o resultado. Estou otimista, pois acredito que ninguém irá colocar em dúvida o rumo europeu do nosso país», disse o líder conservador.

No total, cerca de 9,8 milhões de eleitores vão votar para eleger 300 deputados. Os resultados oficiais devem ser conhecidos às 21h00, hora de Lisboa.

TSF - *Joana Sousa Dias é a jornalista da TSF enviada à Grécia para a cobertura das eleições – com intervenções áudio na página TSF

DEMOCRACIA? GOVERNO GREGO IMPEDE MAIS DE 100 MIL JOVENS DE VOTAR




Em dia de reflexão na Grécia, há uma polémica que permanece. Mais de 100 mil jovens que completaram 18 anos depois de fevereiro do ano passado não vão poder votar no domingo porque o governo não aceitou antecipar o recenseamento eleitoral.

Na Grécia, os cadernos eleitorais são todos os anos atualizados em fevereiro, mas a importância das eleições deste domingo para o país levou a que o Syriza, a coligação de esquerda radical que lidera as sondagens, e os comunistas do KKE, pedissem ao governo que antecipasse a atualização do recenseamento eleitoral.

O governo grego rejeitou, apesar de a Constituição prever que podem participar no escrutínio todos os que atingiram a maioridade no último ano. Baseado num parecer jurídico, o atual executivo de centro-direita alega que não pode haver uma alteração à lei eleitoral nas vésperas da eleição.

Com a recusa do governo, mais de 100 mil jovens com mais de 18 anos não vão poder ir às urnas. O Syriza já disse que esta decisão prejudica o partido pois os jovens constituem a maioria dos seus apoiantes.

Depois da recusa do Governo, o partido ainda tentou que o Ministério da Administração Interna fizesse um despacho que permitisse acrescentar aos cadernos eleitorais estes jovens, mas o pedido foi também rejeitado.

TSF - ontem

GRÉCIA QUER DEIXAR AUSTERIDADE E DEIXA EUROPA EM “STANDBY”



Rafael Barbosa, em Atenas – Jornal de Notícias

Emparedados entre uma dívida pública gigantesca (317 mil milhões de euros, 175% do Produto Interno Bruto) impossível de pagar, por um lado, e o compromisso de cumprir uma política de austeridade que asfixia o tecido económico e social, por outro, os gregos preparam-se para dar a vitória ao Syriza (acrónimo que significa Coligação de Esquerda Radical).

Ao fazê-lo, estarão a caucionar dois dos compromissos fundamentais do líder esquerdista Alexis Tsipras durante a campanha: convocar uma conferência europeia sobre a dívida, que lhe permita negociar um perdão de cerca de 50%; e desvincular-se dos compromissos de austeridade assumidos com a troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).

"É uma escolha. Somos livres de não cumprir os compromissos", lembra o politólogo Pedro Adão e Silva. Sendo certo que, a confirmar-se a escolha, o outro lado, a Europa (sobretudo o bloco liderado pela Alemanha) terá de dar uma resposta. É por isso que o politólogo, ouvido pelo JN, fala em "momento de clarificação". Que pode muito bem passar por não haver qualquer cedência. "Isso também será clarificador. Significa que não vale a pena pensar numa alternativa política, que as eleições são apenas o momento de escolher os melhores gestores. Nunca como agora esteve em causa saber até onde vai a extensão da democracia".

Poder para negociar

A força negocial de Tsipras para tentar impor uma nova agenda política na Europa dependerá também da dimensão da vitória. A última sondagem voltava a colocá-lo em primeiro (ler caixa), mas ainda não o suficiente para chegar à maioria absoluta, mesmo sabendo-se que o sistema eleitoral grego atribui um bónus de 50 deputados (em 300) aos vencedores.

Para chegar à meta dos 151 deputados, o partido esquerdista precisa, cumulativamente, de uma votação algumas décimas superior a 36%, e que a soma dos resultados percentuais dos partidos que não sejam capazes de eleger deputados (ou seja, os que fiquem abaixo da barreira dos 3%), chegue pelo menos aos 10%.

A Grécia vai hoje a votos. Mas o resultado do que for colocado dentro das urnas pelos eleitores não ditará apenas o futuro deste país. As eleições são também "um momento de clarificação" para a Europa.

Na foto: Alexis Tsipras, líder do Syriza – Yannis Kolesdis / EPA

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