terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Membros da Fretilin participam no próximo Governo, mas de forma individual - Alkatiri




Díli, 26 fev (Lusa) - Membros da Fretilin podem participar no próximo Governo timorense, no âmbito da remodelação prevista para fevereiro, mas de forma individual, como "elementos válidos" que podem contribuir para corrigir distorções, disse à agência Lusa Mari Alkatiri.

Questionado sobre se houve já convites a membros do partido, o líder do maior partido da oposição timorense disse que os convites "são a pessoas da Fretilin e não à Fretilin".

"Essa é a nossa contribuição. Exigir que o primeiro-ministro faça remodelação dentro do bloco (dos partidos que apoiam o Governo) é impossível porque dentro do bloco o PM já encontrou os melhores", afirmou.

"Não podemos dizer que tem que fazer remodelação, reduzir o governo e depois dizer que nós continuamos fora. A Fretilin continua fora, mas (...) não podemos bloquear essa possibilidade de elementos válidos da Fretilin participarem", disse ainda.

Trata-se, afirmou Alkatiri, de "elementos válidos, que são timorenses, que podem dar uma contribuição nos próximos dois anos e meio para corrigir algumas distorções (...) económicas e políticas" que considera terem ocorrido no Governo e na administração pública.

"Agora a Fretilin vai continuar a colaborar, mas de uma forma muito critica", afirmou.

Escusando-se a tecer comentários sobre o detalhe da remodelação, cujos contornos cabem ao primeiro-ministro Xanana Gusmão definir, Mari Alkatiri insistiu que o Governo é "pesado" com demasiados Ministérios e Secretarias de Estado e pouca coordenação.

"Mas não apenas o Governo. A própria administração pública ficou distorcida, com muitos diretores nacionais, muitos diretores gerais, e até diretores nacionais que são diretores de si próprios, mais a sua secretária", disse.

"Isto é ridículo e é mesmo só distribuição de cadeiras. São vários partidos, cada partido tem um compromisso com os seus membros e trás os seus membros para dentro da administração pública", afirmou.

Isso deixa a administração pública "complemente ineficaz, criando conflitos internos" e sem "vida institucional que obrigue á coordenação", tendo-se perdido "o bem comum" e "confundido o bem comum com o bem pessoal".

Recorde-se que Xanana Gusmão anunciou que até 18 de fevereiro levará a cabo uma remodelação do seu executivo.

Nas últimas semanas têm circulado vários rumores sobre a natureza e dimensão das mudanças que serão levadas a cabo.

O Governo timorense integra atualmente membros dos três partidos da coligação de Governo, o CNRT (30 deputados), o PD (8 deputados) e a Frente Mudança (dois deputados).

ASP // JCS

Unidade é essencial para estabilidade e desenvolvimento de Timor-Leste - Xanana Gusmão




Díli, 26 jan (Lusa) - O primeiro-ministro timorense considerou hoje que promover e consolidar a unidade nacional em Timor-Leste é essencial para a estabilidade e desenvolvimento do país e para evitar crises como a que ocorreu em 2006.

Intervindo num seminário em Díli sobre identidade e memória, Xanana Gusmão, considerou ainda que as "desigualdades de oportunidade, económicas e sociais" são uma "ameaça grave" à reconstrução.

"Desigualdades que levam, obviamente, a insatisfações e estas ao conflito e à instabilidade", afirmou, considerando essencial a formação e investigação, o estudo e a produção de conhecimento, para criar uma sociedade "capaz de ultrapassar sentimentos de ódio e vingança" mas sem apagar memórias.

"Em Timor-Leste temos que valorizar a tolerância e promover a unidade da diversidade, que é essencial para a estabilidade e desenvolvimento", disse, dirigindo-se a uma plateia dominada por jovens estudantes.

"Os nossos jovens devem perpetuar essa tradição de reconciliação e de diálogo, unindo os timorenses para uma causa maior que é o desenvolvimento do país, como os vossos pais e avós se uniram no passado pela causa da libertação nacional", sublinhou.

Xanana Gusmão disse que os timorenses devem aprender com os erros do passado, especialmente com a crise política de 2006, que "revelou a fragilidade das instituições" com os "conflitos de ordem económica, política sociocultural a aumentar o sentimento de instabilidade", causando "incalculáveis danos financeiros e políticos".

"Temos que recuperar o orgulho de ser timorense. Não no sentimento de resistência, mas para a agenda do desenvolvimento e afirmação internacional, criando um Estado pacífico, tolerante e unido", disse.

Xanana Gusmão falava no arranque de uma conferência de dois dias sobre a memória e a identidade nacional que pretende analisar experiências nesta matéria em Timor-Leste e noutros países da CPLP.

Promovido pelo Arquivo Museu da Resistência de Timor-Leste o seminário junta especialistas de Portugal, Timor-Leste, Cabo Verde, Moçambique e Angola, além de vários dirigentes históricos timorenses

ASP // JCS

Julgamento de presidente do parlamento timorense adiado para decisão sobre imunidade




Díli, 26 jan (Lusa) - O julgamento do presidente do Parlamento Nacional de Timor-Leste foi hoje adiado, pelo menos 30 dias, para que o parlamento decida sobre o levantamento, ou não, da imunidade parlamentar de Vicente da Silva Guterres.

Além do presidente do parlamento são arguidos no mesmo processo o secretário de Estado para o Fortalecimento Institucional, Francisco da Costa Soares, e um funcionário público, Rui Amaral.

"Até hoje não foi concluído o procedimento sobre a suspensão das funções de Vicente Guterres e, por essa razão, temos que aguardar por essa decisão para que o processo possa continuar o seu decurso", explicou fonte da defesa.

"Esse foi também o entendimento do tribunal, razão pela qual não se realizou hoje o julgamento", explicou.

A decisão de adiamento foi comunicada pela juíza Jumiaty Freitas, juiz presidente do coletivo de três juízes do Tribunal de Díli, onde hoje decorreu a primeira sessão.

Em relação a Francisco Soares o tribunal confirmou que a imunidade do secretário de Estado não foi levantada pelo parlamento.

O tribunal explicou ainda que vai notificar o parlamento para que tome uma decisão no caso da imunidade de Vicente da Silva Guterres convocando nova sessão dentro de 30 dias para avaliar essa decisão e marcar nova data de julgamento.

O terceiro arguido, Rui Amaral, faltou à sessão de hoje, por estar ausente de Díli, tendo agora que apresentar uma justificação pela falta ao tribunal.

Recorde-se que o presidente do parlamento é acusado de um crime de participação económica em negócio, punido pelo Código Penal de Timor-Leste e ainda com base na Lei Indonésia contra a Corrupção, que se continua a aplicar no país por faltar legislação nacional própria nesta matéria.

Segundo Vicente Guterres todo o processo é algo "surrealista" porque está a ser acusado de participação num negócio que nunca se chegou a realizar.

Nomeadamente é acusado de ter aprovado o ajuste direto para a compra de viaturas para uso pelas várias comissões parlamentares sem realizar concurso e quando havia viaturas mais baratas no mercado o que, considera a acusação, teria lesado financeiramente o Estado.

O caso remonta ao período conturbado do início de 2008, depois do atentado contra José Ramos-Horta, então Presidente da República que é substituído interinamente, em funções, pelo então presidente do parlamento, Fernando La Sama de Araújo (hoje vice-primeiro-ministro).

Segundo fonte do parlamento timorense, Vicente Guterres - então vice-presidente e interinamente nas funções de presidente parlamentar -, recebeu um pedido urgente dos serviços do parlamento para a compra de viaturas para uso pelos deputados para visitar os distritos - numa altura de grande tensão em todo o país.

Vicente Guterres dá parecer positivo à proposta de compra de carros de uma marca, explicando no seu parecer que autorizava o ajuste direto "desde que se verifiquem os procedimentos legais exigidos".

A compra, porém, nunca chegou a ser realizada tendo sido substituída por outro contrato de compra assinado, posteriormente, pelo presidente Fernando La Sama de Araújo (que entretanto regressou ao cargo) que optou por outra marca.

ASP // JCS

“XI JINPING: A GOVERNANÇA DA CHINA”



José Medeiros e Rafael Lima*

Sob o “A Governança da China”, o novo livro de Xi Jinping reúne, em 18 capítulos temáticos, 79 trabalhos apresentados pelo presidente chinês entre 15 de novembro de 2012 e 13 de junho de 2014, como intervenções políticas, discursos, mensagens e considerações. Mais do que as aparentes e repetitivas formalidades discursivas, a coletânea revela como a atual geração de líderes do Partido Comunista da China (PCCh) olha para o seu país e para o mundo e, principalmente, quais as ideias que governarão a China nos próximos anos.

Elaborado para dialogar com o mundo, o livro foi publicado em nove línguas - chinês, português, espanhol, francês, inglês, alemão, russo, árabe e japonês e lançado oficialmente pela Editora de Línguas Estrangeiras da China na 66ª Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, no início de outubro de 2014. Em português são 565 páginas e em chinês, 471. Na obra, um extensivo apêndice publicado pela Agência de Notícias Xinhua traça um perfil de Xi Jinping, desde sua juventude até a chegada ao mais importante posto de comando do país. 45 fotos complementam a edição.

Como brasileiros, tivemos o prazer de, juntos com uma equipe de tradutores chineses, proporcionarmos aos leitores de língua portuguesa a leitura desse livro. As limitações foram muitas, principalmente de tempo. Mas agora temos também em nossa língua a possibilidade de melhor compreender para onde a China pretende caminhar.

Três grandes temas se entrelaçam ao longo do livro: o Partido, o Estado e a Nação.

No que diz respeito ao Partido, os leitores podem adentrar em discussões de natureza bem interna, como a política de seleção e formação de quadros, a linha de massas e os principais desafios práticos e teóricos no atual momento histórico. Destaca-se nas intervenções a lucidez do presidente Xi Jinping sobre os graves problemas a serem enfrentados pelo Partido, como a corrupção e degeneração ideológica.

Em “A Governança da China”, fica explícito que o PCCh é o cérebro do Estado e seu principal gerenciador. Xi Jinping, que já foi diretor da Escola Superior do PCCh, núcleo central do pensamento marxista na China, deixa claro que os trabalhos a serem realizados, principalmente os que se relacionam com a educação ideológica e a prática da linha de massas, são urgentes. Perder a luta ideológica significa perder controle do Partido, e perder o controle do Partido significa perder o controle da governança da China. Ou, como diriam Confúcio e Mêncio, significa perder o Mandato (Tianming), isto é, a legitimidade de governar.

Nesse sentido, o livro passa a ser uma obra de referência quase obrigatória. Se muitos fracassos podem ser atribuídos ao Partido, as conquistas das China atual não lhes podem ser negadas. Assim, compreender o Partido é uma condição sinequa non para entender as movimentações do Estado chinês, tanto no plano interno, quanto em suas relações com os outros Estados.

A cultura tradicional chinesa, com seu grande legado histórico, é outro elemento que se destaca no livro. Aliás, em quase todos os textos são recorrentes as citações ou referências a diferentes obras clássicas chinesas, como os múltiplos ensinamentos de Confúcio. Se em um determinado período histórico a cultura tradicional foi duramente combatida pelo Partido, agora ela é não sóapreciada, mas amplamente valorizada e instrumentalizadapara os propósitosnacionais bem definidos.

Em umaatenciosa leitura do livro também fica mais fácil compreender o porquê do afloramento de alguns fenômenos culturais, como a internacionalmente propagada especulação sobre a volta do confucionismo na China. Na verdade, esse fenômeno está diretamente associado à questão do nacionalismo, elemento-chave que tem sido diligentemente forjado pelo Partido.

Quando se sente as entranhas da China, logo se percebe que o confucionismo e, assim como o taoísmo, são partes da maneira de ser chinesa. Ou seja, continuam a existir mesmo quando negados, pois depois que apareceram nunca mais deixaram de existir, mesmo quando renegados ou impronunciados. No caso do confucionismo, vale enfatizar que, ainda que seja um elemento sempre presente, o mesmo não é um elemento dirigente. No caso do Estado chinês, esse papel continua nas mãos do Partido, que é tipicamente marxista-leninista, obviamente com características chinesas.

Em seu livro, Xi Jinping fala com todos. Explica a China e o seu projeto de China para o mundo e para os próprios chineses, onde quer que estes estejam. De forma clara e firme, orienta o sentido da atividade econômica segundo as prerrogativas estabelecidas no 18° Congresso Nacional do Partido, para a construção das metas dos “dois centenários” (O do Partido, no início de 2021 e da República Popular, em 2049) e a concretização do sonho chinês de grande revitalização da nação.

Em tom de amizade e com cuidadosa diplomacia, Xi Jinping dialoga com os líderes das grandes nações, dos países vizinhos e com todos os que se relacionam com a China. Como um professor, aponta erros, objetivando o processo de aprendizagem e, com seu próprio exemplo, procura orientar um padrão de comportamento para todos os chineses,vivam na China ou no Exterior. Como pai, procura instruir as crianças e os jovens chineses, segundo os padrões morais que acredita serem corretos.

Em resumo, o livro de Xi Jinping é também uma ferramenta para compreensão da diplomacia chinesa no mundo contemporâneo. Diríamos que a China não pretende dominar os outros países, mas dominar-se, ou melhor, governar-se. Quer ouvir e ser ouvida. E como diz uma máxima do Daxue (O Grande Estudo), apêndice de um dos clássicos confucionista, e sempre mencionada pelo professor e amigo Severino Cabral, “Sabendo reconhecer as prioridades, estarás ao alcance da via”. No livro, fica claro que Xi Jinping conhece bem as prioridades de seu país; por isso o seu sonho é tão objetivo. 

*José Medeiros da Silva, Dr. em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e Investigador convidado do Instituto Internacional de Macau.

Rafael Gonçalves de Lima é bacharel em Relações Internacionais pela Faculdades de Campinas (FACAMP) e atualmente faz mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Jilin, na China. 

Portuguese People - Diário do Povo Online, em português - Editor: Juliano Ma

CONTINENTE AFRICANO TEM NA CHINA UMA AMIZADE SÓLIDA E SOLIDÁRIA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

O assunto não é novo mas, nesta altura de acentuada crise financeira internacional, nunca é demais sublinhar a importância que têm tido no continente africano as ajudas económicas que chegam da China e que fazem deste país um bom amigo que não nos vira as costas nos momentos mais difíceis.

Tem sido graças às ajudas chinesas que muitos países africanos têm conseguido construir as infra-estruturas necessárias para cimentar o seu progresso e desenvolvimento a favor das populações, apesar das dificuldades estruturais colocados à economia mundial e que são geradas pela corrupção e má governação no Ocidente.

 Das potências ocidentais, em vez de compreensão e aceitação da vontade expressa por nações soberanas, frequentemente, chegam críticas – umas veladas outras nem tanto – à forma como os países africanos estabelecem parcerias com empresas e com o próprio governo chinês, como se fosse um pecado mortal garantir a ajuda junto daqueles que mais condições e vontade têm em disponibilizá-la a quem dela mais precisa.

 Portugal, que se arvora em bússola orientadora dos bons costumes e da boa governação, recorre aos préstimos da China para despachar empresas públicas e agora pisca o olho a Pequim para ocupar a base das Lajes, no arquipélago dos Açores, à qual os norte-americanos viraram as costas, afectados também eles pela tal “crise económica mundial”.

As críticas com que o Ocidente frequentemente quer manchar o bom relacionamento de África com a China, tentam, atabalhoadamente, disfarçar a sua incapacidade de levar por diante uma agenda que vise a neo-colonização das suas anteriores “pérolas” e, também, travar o seu desenvolvimento de modo a evitar que se tornem potencialmente fortes e até superiores a si próprios. São birras ciumentas mas que, felizmente, têm sido olimpicamente ignoradas por países cujos governos estão bem mais interessados em resolver os problemas dos seus povos, do que em se vergar perante quem tarda em reconhecer a sua real situação de penúria, tanto económica como financeira e até mesmo de índole política.

Dados recentemente divulgados pela Câmara de Comércio da China referem que as exportações chinesas para África, na última década, rondaram os 160 mil milhões de dólares anuais. Também nos últimos dez anos, de acordo com os mesmos dados, um milhão de chineses, entre trabalhadores, empresários e comerciantes, viajaram para o continente africano.

Mas, em vez de ciúmes, o ocidente também se devia mostrar grato pelos efeitos práticos do bom relacionamento económico e político entre África e a China, pois a criação de melhores infra-estruturas no continente têm-se revelado fundamentais para a captação de um número crescente de investidores europeus e americanos, que as aproveitam para delas retirar um melhor rendimento em função dos sectores visados pelos seus interesses financeiros.

A construção de pontes e estradas é fundamental. É pelas redes viárias que rolam muitos dos interesses económicos do Ocidente no continente africanos e isso só tem sido possível graças, precisamente, à boa ajuda que chega da China.

 A Índia, que aponta para o investimento global em todo o continente africano para 2015 um valor total de 100 mil milhões de dólares, é um dos países que mais tem beneficiado com o bom relacionamento que o continente tem com a China mas, contrariamente ao que se passa em relação ao Ocidente e talvez por não ter um passado embrutecido pelo colonialismo, tem-se mostrado pragmaticamente agradada, pois sabe que assim pode retirar importantes dividendos em termos de comércio e de investimento directo.

E, certamente também devido aos efeitos da tão malfadada crise, países como o Brasil e a Turquia conseguiram já ultrapassar alguns dos principais países europeus em termos de volume de dinheiro envolvido no seu relacionamento económico e financeiro com o continente africano. Em 2014, desfasados por escassos dias, os presidente dos Estados Unidos e da China visitaram alguns Estados africanos e aquilo que mais marcou o seus discursos e encontros com os seus homólogos, foi o facto de enquanto Barak Obama dizia que ia estudar as possibilidades de investimento no continente, o presidente Xi Jinping anunciava o montante que o seu país ia disponibilizar para os investimentos nos países visitados.

Este diferente comportamento  no modo como encara o seu relacionamento com África tem feito toda a diferença entre a intenção e a decisão de concretizar acordos previamente estabelecidos ou, no mínimo, antecipadamente abordados. Torna-se claro como a água que, perante este cenário, tudo leva a crer que o futuro imediato e o médio prazo continuem a ser marcados pelo reforço do relacionamento económico e financeiro entre a China e o continente africano, por muito que isso possa custar a certos puritanos de barriga bem cheia. Contrariamente ao que a propaganda Ocidental tentou fazer crer às populações africanas, têm sido mínimos os problemas criados pela comunidade chinesa que se instala em África, seja composta por empresários ou trabalhadores.

Embora de hábitos e costumes diferentes, a integração chinesa em África tem-se desenvolvido pacificamente afastando os “demónios” e os “terrores” que muitos quiseram agitar de modo a impedir o reforço da amizade entre os dois povos. Um outro preconceito que afecta muito seriamente a lucidez dos países que mais criticam a presença chinesa em África, é o receio que eles têm do poder económico e político que pode ser gerado através de uma estratégia comum de desenvolvimento sustentado, que faça com que o continente africano deixe de recorrer à ajuda do Ocidente para resolver alguns problemas, pois isso significaria a morte de todas as suas ambições, mais ou menos evidentes, de um regresso ao antigamente através da aplicação de uma estratégia neo-colonial.

Portugal: UMA DESGRAÇA NUNCA VEM SÓ. PASSOS, PORTAS E CAVACO




Cartoon ELIAS O SEM ABRIGO DE R. REIMÃO E ANÍBAL F., em Jornal de Notícias

Cartoon dos autores acima mencionados, no Jornal de Notícias, que compara a política portuguesa ao Fungagá da Bicharada. Uma Imagem Escolhida para hoje aqui no PG.

A ironia contida é quanto baste para nos sacar um esgar à laia de sorriso. O "conto de crianças" ainda ontem citado por Passos Coelho ao comentar o resultado das eleições na Grécia aplica-se bastante à sua pessoa desde os tempos da campanha eleitoral que por engano e desgraça dos portugueses o levou a primeiro-ministro.

Passos esquece-se das suas posturas infantis em plena Assembleia da República e do desrespeito demonstrado pelos portugueses nas risadas conjuntas com alguns ministros, igualmente uns imberbes que caíram por ali a seu convite e que decerto julgavam estar no jardim de infância.

Isto para não referir os "contos do vigário" que Passos protagonizou e lhe mereceu, a ele e ao seu governo, o epíteto de Bando de Mentirosos. Justamente. Sim, o Fungagá da Bicharada coaduna-se por via do "conto do vigário" que ainda não terminou e esperamos que não tenha segunda edição em outro governo de mais do mesmo.

Basta de fungagá, do governo e do presidente da República. É como se diz: um mal nunca vem só. Confirmado. (CT / PG)

Portugal: Chefes de urgência do Garcia de Orta demitem-se por falta de condições




Os sete profissionais que asseguravam a liderança do serviço de urgência do Hospital Garcia de Orta apresentaram a demissão, justificando este passo com a degradação das condições laborais e o número excessivo de doentes internados naquela unidade de Almada.

A demissão em bloco no serviço de urgência do Hospital Garcia de Orta foi noticiada pela edição eletrónica do jornal Sol e entretanto confirmada por fonte da administração da unidade, em declarações à agência Lusa.

Na carta de demissão remetida ao Conselho de Administração, obtida pelo Sol, a equipa de sete médicos denuncia que o “agravamento das condições” laborais, “o risco do ato clínico no serviço de urgência e a segurança dos doentes atingiu um ponto crítico e inaceitável”.

A equipa demissionária lembra que havia já advertido os administradores, no início de dezembro, para a degradação das condições de trabalho.

Desde logo para a “excessiva lotação de doentes internados em área de internamento do SU [Serviço de Urgência], que frequentemente ultrapassa os 200 por cento, com óbvia repercussão nos cuidados prestados aos mesmos, condicionando a admissão de novos doentes agudos, assim como na observação de doentes na área de ambulatório”.

Os médicos apontam ainda o “elevado número de doentes com situações infecciosas”, que “impõem necessidades de condições de isolamento físico” e que, “na impossibilidade do mesmo, condicionam acréscimo do risco coletivo”.

“Dificuldades não são exceção”

Ouvida pela Lusa, fonte da administração do Garcia de Orta afiançou que estão já a ser implementadas medidas para “fazer face ao aumento nos internamentos”. E remeteu para esta terça-feira o anúncio de “outras medidas concretas”.

Questionada sobre os reflexos da demissão em bloco no Serviço de Urgência, a mesma fonte prometeu, na mesma linha, que “serão tomadas medidas para resolver a situação”, admitindo a possibilidade de os clínicos recuarem na sua tomada de posição.

“Não haveria [recuo na demissão] se as condições difíceis não fossem reversíveis, mas as condições são reversíveis”, acentuou, para concluir: “Estas dificuldades neste hospital não são exceção. Há medidas que vão ser tomadas para resolver a situação”.

Carlos Santos Neves, RTP

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Portugal - Submarinos: Administradores receberam parte dos 27 milhões "como bónus"




O presidente da ESCOM disse hoje que os administradores da empresa receberam parte dos 27 milhões de euros do negócio dos submarinos "como bónus" pelo trabalho desenvolvido, opção decidida pelos acionistas e com a luz verde de Ricardo Salgado.

Hélder Bataglia, que está a ser ouvido esta tarde na Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES), confirmou hoje que os administradores da ESCOM ficaram com cerca 27 milhões de euros do negócio dos submarinos e que desse negócio "ficou muito pouco" para a empresa.

"Havia a consciência de que deveria haver algum bónus para os administradores pela atividade desenvolvida já há alguns anos. Os acionistas decidiram que era assim e que assim é que devia ser feito", afirmou o presidente e sócio da ESCOM, acrescentando que "foi com Ricardo Salgado [líder histórico do BES e membro do conselho superior do GES] que se falou".

Hélder Bataglia respondia a questões colocadas pela deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua, adiantando que os administradores consultaram consultores para "otimizar fiscalmente" o que tinham acabado de receber. Por isso é criado o Fundo FELLTREE INC no Panamá, admite.

O presidente da ESCOM admitiu que o objetivo era "pagar menos impostos" e que os administradores da empresa, os membros do conselho superior do GES e o consultor Miguel Horta e Costa recorreram ao Regime Excecional de Regularização Tributária (RERT) para regularizar a situação.

Durante a audição, o presidente da comissão parlamentar, Fernando Negrão (PSD), disse que os deputados vão receber "a curto prazo" documentos da parte do ex-administrador da ESCOM Luís Horta e Costa sobre os 27 milhões de euros recebidos no negócio dos submarinos.

Em dezembro, no documento de arquivamento do processo dos submarinos, o Ministério Público afirma que a aquisição por Portugal de dois submarinos alemães disponibilizou aos quatro arguidos no processo (entre eles Hélder Bataglia) e a membros do GES 27 milhões de euros.

O inquérito, em investigação desde 2006, teve como arguidos Miguel Nuno Horta e Costa, Luiz Miguel Horta e Costa, Pedro Manuel de Castro Simões Ferreira Neto e Hélder José Bataglia dos Santos suspeitos de fraude fiscal qualificada, branqueamento e corrupção.

A ESCOM foi consultora do German Submarine Consorcium, ao qual o Estado português adjudicou, em 2004, o concurso para dois submarinos, cujo primeiro viria a ser entregue em 2010, com custos superiores a 800 milhões de euros, mas com contrapartidas previstas, pelo menos, de 100%.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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Brasil: Dilma, 2º mandato - que chances tem a presidenta de sair do atoleiro?




A atual presidência enfrenta alguns problemas econômicos e políticos muito similares ao que Lula enfrentou quando assumiu seu mandato em 2003.

Antonio Lassance – Carta Maior

Já vimos esse filme

A segunda presidência Dilma enfrenta um conjunto de problemas muito similares ao que Lula enfrentou quando assumiu seu primeiro mandato, em 2003.

Lula tinha à sua frente uma inflação em alta - maior que a atual. Aplicou uma política monetária ortodoxíssima, bem mais conservadora do que Dilma acaba de baixar.

A situação do Brasil era - tomando emprestada a expressão de um editorial de Carta Maior - de completo atoleiro econômico e também político.

No PT e, mais ainda, nos movimentos sociais, houve choque e decepção com ações que foram consideradas uma traição ao programa e à história do Partido.

Lula trouxe um ex-representantes de um banco internacional e deputado recém-eleito pelo PSDB, Henrique Meirelles, para ser o presidente do Banco Central. Encaminhou uma reforma da Previdência Social que deixou o sindicalismo, principalmente o cutista, atônito.

As dificuldades de Lula com o PMDB pareciam intransponíveis. O PMDB chegou a ficar de fora da primeira composição ministerial e era uma fonte constante de atritos com o Planalto.

A tentativa de trazer o partido para o Governo, na reforma ministerial de 2004, selou as pazes apenas com os peemedebistas do Senado.

O PMDB da Câmara estava e permaneceu em pé de guerra. Curiosamente, o líder da resistência era o deputado Michel Temer, vice-presidente da República de Dilma e, hoje, principal bombeiro da relação entre PMDB e PT. Temer chegou a ameaçar de expulsão os peemedebistas que desacatassem a orientação partidária e fossem compor o governo.

Se o início do governo não foi um mar de rosas, depois ficou muito pior. Em 2005, Lula seria ameaçado por um grande escândalo. As acusações do chamado mensalão abalariam as bases políticas de sua presidência e ameaçariam seu mandato. O fantasma do impeachment era real e imediato.

O presidente, àquela época, foi posto em uma situação de cerco da oposição midiático-partidária muito parecido com o que se viu contra Dilma, durante a campanha eleitoral de 2014, e que tende a persistir ao longo de seu mandato.

Ou seja, alguns dos riscos que Dilma enfrenta atualmente são muito similares ao que Lula enfrentou de 2003 e até o final de seu mandato.

As diferenças entre as duas presidências, porém, não são nada triviais. O cenário internacional é bastante diferente e desfavorável. Os riscos da crise hídrica são novos e ninguém ainda sabe como tratá-los, nem o Governo Federal, nem os estaduais. %u20BO "modo dilmista de governar", bem distinto do padrão lulista, ainda não parece ter mudado substancialmente.%u20B E a comunicação de ambos é muito, mas muito diferente mesmo.%u20B

Mas isso já é assunto para uma próxima análise.

(*) Antonio Lassance é cientista político.

Créditos da foto: Arquivo

O BRASIL E A PENA DE MORTE




Ao eliminar da Constituição a pena de morte em caso de guerra, fortaleceríamos a ação junto à Indonésia para impedir a execução de Gularte

Wálter Maierovitch – Carta Capital

Assim como ao médico é lícito amputar um membro infeccionado do paciente para salvar o corpo humano ameaçado pelo risco de perda da vida, deve-se admitir que o “Príncipe” (Estado) determine o extermínio de pessoas nocivas ao organismo social. Essa era a explicação oferecida como legitimadora da pena capital pelo dominicano Tomás de Aquino, doutor da Igreja, filósofo escolástico e santo falecido de morte natural em 1274.

No Brasil, muitos adeptos dessa desumana e ultrapassada doutrina aplaudiram o uso na Indonésia, por crime comum, desse instrumento de vingança pública na eliminação física de Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos.

Sobre pena de morte o Brasil não está relacionado entre os 98 Estados membros abolicionistas da ONU. Na companhia de Chile, Israel, Peru, Cazaquistão, El Salvador e Ilhas Fiji, o Brasil figura entre os Estados que deixam de sancionar com pena capital os crimes comuns, mas a permite constitucionalmente em caso de guerra declarada (art. 5º XLVII, letra “a”).

Marco Archer, conhecido pelo apelido de Curumim, foi preso na Indonésia, em 2003, sob acusação de transporte para tráfico proibido de cerca de 13 quilos de cocaína. Durante a longa tramitação processual, foi mantido em regime fechado até a execução da pena capital, consumada, na Indonésia, nos primeiros minutos do domingo 18 (em Brasília, sábado às 15 horas). Dentre os executados, duas mulheres, dois africanos, um indonésio e um holandês. A Indonésia foi colônia holandesa e o seu direito funda-se no holandês, com adaptações graças à influência de uma população de 87,2% de islamitas.

Apesar da humanização do Direito Penal, o homicídio legal ainda é previsto e aplicado em 58 Estados membros das Nações Unidas. Pelo presidente indonésio, Joko Widodo, não foi invocada a doutrina de Tomás de Aquino, mas usado o argumento de nação soberana para justificar o não acolhimento dos pedidos de clemência formulados pela presidenta brasileira, Dilma Rousseff, em favor de Marco Archer e de Rodrigo Gularte, este ainda no chamado corredor da morte.

Essa posição dura e desumana da Presidência da Indonésia não é animadora à luz do caso do brasileiro Rodrigo Gularte, 43 anos: ele também foi condenado na Indonésia à pena capital por tráfico de cocaína (6 quilos). Os defensores, depois do fuzilamento de Marco Archer, com base na superveniência de doença mental que teria acometido o defendido, pretendem conseguir mudar o tipo de pena ou obter a suspensão da execução da sanção.

Nos trabalhos abolicionistas junto à ONU, capitaneados por Itália e Alemanha com apoio de organizações respeitadas como a Anistia Internacional e Nessuno tocchi Caino (Não tocar Caim), ficou bem clara a resistência de Indonésia, EUA, Irã etc. Esses países resistiram às propostas levadas a duas Assembleias-Gerais da ONU (2007 e 2014) sobre a moratória (suspensão de aplicação) da pena de morte. Na última Assembleia, realizada em dezembro de 2014, objeto de Resolução, 117 países dos 193 Estados membros foram a favor da suspensão da pena de morte, até ser decidida em Convenção acerca da sua abolição.

A China é o país que mais mata. Os condenados por tráfico de drogas são enforcados em praça pública e os corpos pendurados em altas hastes, a fim de ficarem visíveis à população durante dias. Para outros crimes dá-se um tiro na nuca e os órgãos do eliminado são aproveitados em transplantes. Em 2008, a China ocupou o primeiro lugar na lista de países que mais executam penas capitais, e até 2013 mantinha a triste primazia.

Diante da moratória, as recomendações da ONU chegaram a ser atendidas por 35 Estados, ou seja, neles a legislação não foi revogada, mas está suspensa a execução. Dentre os 58 países que mantêm a pena de morte e cumprem as sentenças destacam-se Irã, Arábia Saudita, Estados Unidos, Paquistão, Iraque (em 2006, Saddam Hussein foi enforcado), Vietnã, Afeganistão, Cuba, Coreia do Norte, Egito, Japão, Emirados Árabes Unidos e Índia. Até a Autoridade Palestina, que já está com um pé na ONU, mantém a pena de morte. Na Europa, somente a Bielorrússia ainda executa as penas capitais impostas.

A presidenta Dilma empenhou-se a fundo para que Marco Archer não fosse executado. O mesmo ela faz a respeito de Gularte.

Para ganhar maior autoridade em questões humanitárias e clemências em casos de pena capital, o Brasil deveria cuidar de abolir a pena de morte prevista para caso de crime de guerra declarada. Isso evitaria até uma resposta enviesada, do tipo seguinte: a soberania brasileira admite a pena de morte em caso de crime de guerra declarada, e a exceção da Indonésia diz respeito ao tráfico de drogas e outros crimes. Cada qual teria direito às suas próprias razões.

Na foto: O brasileiro executado na Indonésia, Marco Archer (direita) com o seu advogado

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POLÍCIAS ASSASSINAS E RACISTAS TAMBÉM EXISTEM NO BRASIL




Pedreiro, negro e executado pela PM: a farsa de um crime revelada

Pedreiro, negro e morador da zona leste de São Paulo, foi executado por PMs quando estava dominado e desarmado; Arrependido, sargento da PM, que é evangélico, revelou como foi montada a farsa para tentar esconder crime

Primeira hora de 1º de janeiro de 2015. Rua Erva de Ovelha, Vila Jacuí, periferia da zona leste de São Paulo. O pedreiro Vagner de Sousa Ribeiro, um homem negro de 32 anos, vestindo camiseta regata de uma torcida uniformizada do Palmeiras, está em pânico.

Acuado, atrás de uma cama de casal em um quarto escuro, Lápis, como é conhecido desde a infância nas ruas do bairro, implora para não ser morto por dois policiais do 2º Batalhão da Polícia Militar que, a pouco mais de dois metros de distância, o têm sob a mira de suas armas.

Os PMs gritam para que o pedreiro saia de trás da cama e, com as mãos para o alto, se renda. Ribeiro reluta, grita não estar armado e implora para que os PMs não atirem. Quando decide deixar o escudo da cama, Ribeiro é jogado ao chão por dois tiros de uma submetralhadora Famae, calibre 40.

Após breve silêncio, Ribeiro recebe mais quatro disparos. Dessa vez eles partem de uma carabina CT, calibre .30. O cheiro da pólvora se mistura ao do sangue que escorre do corpo do pedreiro enquanto o sargento da PM Marcos Akira Rodrigues Teixeira, 35 anos, responsável pelos dois primeiros tiros, se aproxima do homem estirado.

A luz do quarto é acesa quando o soldado Djalma Aparecido do Nascimento Junior, 25 anos, autor dos outros quatro tiros contra Ribeiro, os de carabina .30, se aproxima do seu superior imediato, o sargento Akira, e entrega para ele um revólver calibre 32.

Assim que pega o revólver da mão do soldado Djalma, o sargento Akira dá três tiros com a arma. Dois acertam as paredes do quarto onde Ribeiro já está morto e o terceiro, a porta. Em seguida, a arma é colocada perto do corpo do pedreiro.

Simultaneamente à morte de Ribeiro, a 170 metros de distância, na rua Erva de Carpinteiro, outra equipe de PMs cerca Vitor Lofte Barbosa, 22 anos. Moradores do lugar ouvem quando Barbosa grita “pelo amor de Deus” para não ser morto e, em seguida, sete tiros são ouvidos.

Quatro dos sete tiros contra Barbosa são disparados pelo sargento Antonio Eduardo Prado, 46 anos. Os outros três são dados pelo cabo Luis Alberto Almeida Lima, 49. Os dois PMs são da Força Tática (suposta tropa de elite de cada batalhão da PM paulista) do 29º Batalhão.

Levado para o Hospital Santa Marcelina, Barbosa morre. O corpo de Ribeiro fica no quarto onde foi baleado, à espera da perícia. Logo após as mortes, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, é acionado para investigá-las.

A farsa sobre a morte de Ribeiro continua quando os PMs Akira e Djalma prestam depoimento ao delegado Manoel Fernandes Soares, do DHPP. Eles inventam uma versão fantasiosa para a morte de Ribeiro: ele estava armado, atirou vezes contra os PMs e morreu no revide.

Os PMs afirmam que Ribeiro e Barbosa, vizinhos na Vila Jacuí, integravam uma quadrilha de ladrões que, no Reveillon de 2014 para 2015, usou explosivos para atacar os caixas eletrônicos de uma agência do Banco do Brasil, distante cerca de 500 metros das casas de ambos.


O primeiro caso de “morte sob intervenção policial” ou “resistência seguida de morte” de 2015 começou a mudar três dias depois (04/01) quando o sargento Akira procurou um pastor evangélico para revelar que a morte de Ribeiro havia sido a execução de um homem desarmado e já rendido.

Orientado pelo pastor, o sargento Akira, acompanhado de seu irmão, Paulo, decide ir à Corregedoria(órgão fiscalizador) da PM. Lá, ele revela em detalhes a farsa montada juntamente com o soldado Djalma para tentar justificar a morte de Ribeiro.

Assim que a Akira revela a verdade sobre a morte de Ribeiro, o juiz Luiz Alberto Moro Cavalcante, corregedor do Tribunal de Justiça Militar de SP, determina a prisão temporária, por 30 dias, do sargento Akira e do soldado Djalma.

Até a confissão de Akira, a Corregedoria da PM tratava as mortes de Ribeiro e de Barbosa como “resistência à prisão seguida de morte” ou “morte sob intervenção policial” — que é quando o morto consta na apuração como “autor” e o PM, responsável pela morte, a “vítima”.

Ao tentar justificar a execução de Ribeiro, o sargento Akira disse “ter perdido a cabeça e ficado com raiva”.

“Se os PMs ficarem em liberdade, eles prejudicarão e dificultarão a apuração da verdade. Ademais, os crimes são graves e as autoridades constituídas têm o dever de investigar com seriedade, utilizando todos os meios legais disponíveis, para transmitir à sociedade o sentimento de segurança e de credibilidade nas instituições Polícia Militar e Justiça Militar Estadual”, escreveu o juiz Cavalcante, na ordem de prisão contra os dois PMs. (continua)

Pragmatismo Político 


*Título PG

FIDEL CASTRO DIZ NÃO CONFIAR NOS EUA, MAS APOIAR APROXIMAÇÃO




Em carta enviada a estudantes, ex-líder cubano afirma que não acredita na política de Washington, mas não rejeita solução pacífica para conflitos. "Sempre vamos defender a cooperação e a amizade com todos os povos."

Em meio a rumores sobre seu real estado de saúde, o ex-líder cubano Fidel Castro, de 88 anos, quebrou o silêncio e se pronunciou pela primeira vez sobre a decisão de Cuba de restaurar os laços diplomáticos com os Estados Unidos, numa carta divulgada nesta segunda-feira (26/01).

"Não confio na política dos Estados Unidos nem troquei qualquer palavra com eles, mas isso não significa uma rejeição de uma solução pacífica para os conflitos ou perigos de guerra", afirmou Castro na carta enviada para um grupo de estudantes da Universidade de Havana e lida na televisão estatal.

A mensagem foi enviada poucos dias após o fim da primeira rodada de negociações para estabelecer as bases para a reaproximação diplomática entre os dois países, anunciada no último dia 17 de dezembro.

Na carta, apesar de expor sua desconfiança, Castro apoiou a medida histórica de seu sucessor na Presidência, o irmão Raul Castro. "O presidente de Cuba deu passos pertinentes de acordo com suas prerrogativas e poderes que lhe concedem a Assembleia Nacional e o Partido Comunista de Cuba", escreveu.

"Sempre vamos defender a cooperação e a amizade com todos os povos do mundo, incluindo nossos adversários políticos", afirmou o ex-líder cubano. "Qualquer solução pacífica e negociada para os problemas entre os Estados Unidos e os povos, ou qualquer povo da América Latina, que não implique o uso da força deverá ser tratada de acordo com os princípios e normas internacionais."

Na carta, Castro também escreveu sobre os tempos em que ingressou na Universidade de Havana, há 70 anos, e lembrou a influência que Karl Marx e Lênin exerceram sobre ele. A mensagem do ex-presidente foi lida numa cerimônia realizada na Aula Magna da instituição.

Castro não aparece em público há mais de um ano. Depois de quase três meses de silêncio e com a crescente onda de boatos de que estaria morto, há duas semanas o ex-líder cubano enviou uma carta ao jogador de futebol Diego Maradona. A mensagem foi lida na rede de televisão estatal da Venezuela.

Deutsche Welle

Alemanha nazi: AUSCHWITZ PERMANECE COMO ADVERTÊNCIA E RESPONSABILIDADE




Os dias de hoje têm mostrado como é importante lembrar as atrocidades nazistas. Devemos isso não só às vítimas, mas a uma sociedade que deve permanecer humana, opina o jornalista Christoph Strack.

Este é o lugar do terror: Auschwitz. O nome do maior campo de concentração e extermínio alemão simboliza a loucura nazista. A visita ao local, hoje um memorial, faz silenciar diante da desumanidade de que o ser humano é capaz e do sofrimento que alemães impuseram a pessoas de tantos países.

Não foram poucos os que sobreviveram a Auschwitz e nunca mais voltaram a esse lugar. Jean Amery, Tadeusz Borowski, Primo Levi não conseguiram conviver com a sobrevivência e deram fim a suas próprias vidas anos ou décadas depois de 1945.

E quem acompanhada ou observa ex-prisioneiros durante uma visita a Auschwitz percebe que o horror não acaba nunca, jamais. Ficam imagens, fica a dor. Idosos que, ainda crianças, perderam pais e irmãos e jamais esquecerão o momento em que tiveram que largar a mão amada.

Na grande cerimônia em celebração à libertação de Auschwitz de 2005, de repente um homem velho e curvado atravessou as fileiras de líderes e convidados oficiais, ajoelhou-se na rampa, beijou a pedra e depois desapareceu, chorando. Essa imagem disse mais sobre a incompreensibilidade deste lugar do que todos os discursos do dia.

Nesta terça-feira (27/01), mais uma vez centenas de sobreviventes voltam a Auschwitz-Birkenau, são judeus de vários países, também cerca de cem ex-prisioneiros poloneses. Esta será a última vez que um número tão elevado de testemunhas participará da celebração. Devemos ouvi-las enquanto ainda estão presentes. Suas histórias devem ser uma missão para nós.

Foram necessários mais de 50 anos para que os alemães fizessem do dia da libertação de Auschwitz um dia de lembrança e homenagem às vítimas do nazismo, uma data em que o Bundestag, a câmara baixa do Parlamento, reúne-se em sessão solene. É uma pena que, neste ano, quando as atenções se voltam especialmente para os sobreviventes, não sejam eles a discursar, mas o presidente da República.

Essa lembrança tem surtido efeito? Os alemães assumem sua permanente responsabilidade? Uma recente pesquisa de opinião deixa dúvidas. Segundo ela, 81% dos entrevistados gostariam de "deixar para trás" a história da perseguição contra os judeus. Por outro lado, os campos de concentração na Alemanha, tanto da parte ocidental como na oriental, acusam um sensível aumento no número de visitantes. Também Auschwitz-Birkenau registrou um recorde no ano passado, tendo recebido mais de 1,5 milhão de visitantes. Tudo isso mostra que a memória do Shoá segue viva, mas não é algo evidente e muito menos consensual. E continua não sendo evidente que adolescentes na Alemanha, em algum momento de sua escolarização, visitem um dos campos de concentração do período nazista. Por quê?

O surgimento de movimentos populistas de direita, os novos tipos de manifestação, uma sensível insolência na divulgação de declarações xenófobas e racistas na internet ou pelos microfones – os dias de hoje têm mostrado como é importante lembrar a catástrofe resultante das atrocidades nazistas. É preciso haver vigilância. A lembrança não deve se tornar um ritual, ela deve ter consequências.

O cineasta francês Claude Lanzmann, que repetidamente enfoca o Shoá em suas obras, diz que para ele o importante é a presentificação, estar consciente das coisas sobre as quais o nosso presente repousa. Isso inclui Auschwitz e a responsabilidade em assegurar que seres humanos nunca mais se desumanizem. Nossa responsabilidade não se resume às vítimas, o que seria muito limitado. Temos responsabilidade em relação à sociedade, que deve continuar humana.

Auschwitz: esse é o lugar do terror. O nome permanece. Como advertência, como obrigação.

Christoph Strack (md) – Deutsche Welle, opinião

WASHINGTON REVOLTA-SE CONTRA OBAMA




A crise que o aparelho de Estado norte-americano atravessa ameaça directamente a sobrevida do Império. Isso, agora, simplesmente não é mais a opinião de Thierry Meyssan, mas o facto que faz tremer a classe dirigente em Washington, ao ponto em que o presidente honorário do Council on Foreign Relations (Comité de Relações Exteriores- ndT) reclama a demissão dos principais conselheiros do presidente Obama e a nomeação de uma nova equipe. Este conflito não tem nada a ver com o antagonismo democratas/republicanos, nem mesmo com o outro entre pombas/falcões. Aquilo que está em causa, é o leadership (liderança- nT) nos Estados-Unidos e na Otan.

Thierry Meyssan – Voltaire.net

Desde há vários meses que eu sublinho que não há, mais, uma política estrangeira em Washington, mas sim duas facções que se digladiam sobre todos os assuntos e conduzem, separadamente, políticas contraditórias e incompatíveis [1].

O paroxismo desta situação foi atingido na Síria onde a Casa Branca, primeiro, organizou a reciclagem do Daesh (Estado Islâmico) e o incumbiu de limpar etnicamente o Iraque, depois o combate, enquanto ao mesmo tempo a CIA o continua a apoiar. Esta incoerência atingiu progressivamente os Aliados. Assim, a França juntou-se à coligação anti-Daesh enquanto alguns dos seus Legionários fazem parte do enquadramento do Daesh [2].

No exacto momento em que o secretário da Defesa, Chuck Hagel, pediu clarificação por escrito, não só não recebeu qualquer resposta como foi ele próprio demitido [3].

Cedo a confusão se estendeu à Otan, uma aliança criada para combater a URSS e mantida contra a Rússia, quando o presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, assinou gigantescos acordos económicos com Vladimir Putin [4].

Quebrando o seu silêncio o presidente honorário do Council on Foreign Relations (C.F.R.) [5], Leslie H. Gelb, deu o alarme [6]. Segundo ele, «a equipe Obama não tem o instinto básico e o raciocínio necessários para conduzir a política de segurança nacional nos dois anos próximos». E prossegue, em nome da classe dirigente norte-americana no seu conjunto : «o presidente Obama deve substituir a sua equipe por personalidades fortes e por estrategas experimentados. Ele deve colocar, igualmente, outras pessoas como conselheiros principais das secretarias da Defesa e de Estado. E, ele deve, por fim, organizar consultas regulares com Bob Corker, o presidente da Comissão de relações dos Estrangeiros, e John McCain [7], o presidente da Comissão das Forças armadas».

Nunca desde a sua criação, em 1921, o Council on Foreign Relations (CFR) havia tomado uma tal posição. É que as divisões no seio do aparelho de Estado conduzem, directamente, os Estados-Unidos à auto-decadência.

Enumerando os principais conselheiros que, segundo ele, devem sair, Gelb cita quatro personalidades muito próximas, intelectual e afectivamente, do presidente : Susan Rice (conselheira de segurança nacional), Dennis McDonough (director de gabinete da Casa Branca), Benjamin Rhodes (encarregado de comunicação) e Valérie Jarrett (conselheira de política estrangeira). A classe dirigente em Washington reprova-lhes nunca terem feito propostas originais ao presidente e, ainda mais, de não o contradizer mas, sim, de sempre o apoiarem nos seus preconceitos.

A única personalidade a cair nas boas graças aos olhos do Council on Foreign Relations é Anthony Blinken, novo n°2 do secretariado de Estado, um «falcão liberal».

Sendo o Council on Foreign Relations (CFR) um órgão bi-partidário, Gelb propõe que o presidente Obama se rodeie de quatro democratas e quatro republicanos correspondendo ao perfil que ele descreveu. Primeiro, os democratas Thomas Pickering (antigo embaixador nas Nações Unidas), Winston Lord (antigo assistente de Henry Kissinger), Frank Wisner (oficiosamente um dos chefes da CIA e, já agora, o padrasto de Nicolas Sarkozy) e Michèle Flournoy ( a presidente do Center for a New American Security) [8]. Depois, os republicanos Robert Zoellick (antigo chefe do Banco Mundial) [9], Richard Armitage (ex-assistente de Colin Powell) [10], Robert Kimmitt (provável próximo chefe do Banco Mundial), e Richard Burt (antigo negociador para a redução de armas nucleares).

Na Secretaria de Defesa, Gelb propõe o rabino Dov Zakheim para gerir os cortes orçamentais [11], o almirante Mike Mullen (antigo chefe do Estado-maior Interarmas) e o General Jack Keane (ex-chefe do Estado-Maior do Exército).

Finalmente, Gelb propõe que a estratégia de segurança nacional seja elaborada em consulta com quatro «sábios»: Henry Kissinger [12] Brent Scowcroft, Zbigniew Brzezinski, [13] e James Baker [14].

Olhando mais de perto esta lista, compreende-se que o Council on Foreign Relations não quis tomar partido entre os dois grupos que se opõem no seio da administração Obama, mas que tem a intenção de restaurar a ordem no sistema a partir de cima. A este propósito não é irrelevante, num país até aqui dirigido por WASPs (Ing-White AngloSaxon Protestant.s- ndT) (branco anglo-saxão protestante), constatar que dois dos conselheiros de quem se exige a demissão são mulheres negras, enquanto quatorze dos quinze nomes apontados à entrada são homens brancos, sejam protestantes ou asquenazis. A retoma de ordem política é, pois, também uma reposição de ordem étnica e religiosa.

Thierry Meyssan: Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Tradução Alva

[1] Ler por exemplo : « Obama ainda tem uma política militar ?», por Thierry Meyssan, Rede Voltaire, 1 de dezembro de 2014.
[2] «Antigos» militares franceses entre os jiadistas do Daesh», Rede Voltaire, 21 de janeiro de 2015.
[3] «Contre qui le Pentagone se bat-il en Syrie ?» (Fr- «Contra quem luta o Pentágono na Síria?»- ndT), Réseau Voltaire, 1er novembre 2014.
[4] « Como Vladimir Putin deu a volta à estrategia da Otan », por Thierry Meyssan, Оdnako (Rússia), Rede Voltaire, 8 de dezembro de 2014.
[5] «Comment le Conseil des relations étrangères détermine la diplomatie US» (Fr- «Como o Conselho de Relações Externas determina a diplomacia dos E.U.s»- ndT), Réseau Voltaire, 25 juin 2004.
[6] «This Is Obama’s Last Foreign Policy Chance » (Ing- « Esta é a última hipótese de de Obama na Política Externa»- ndT), Leslie Gelb, The Daily Beast, January 14, 2015.
[7] «John McCain, chefe de orquestra da "primavera arabe", e o Califa», por Thierry Meyssan, Rede Voltaire, 18 de agosto de 2014.
[8] « CNAS, a versao democrata do imperialismo de conquista », por Thierry Meyssan, Rede Voltaire, 6 de janeiro de 2015.
[9] «Robert B. Zoellick, maître d’œuvre de la globalisation» (Fr- Robert B. Zoellick, o mestre obreiro da globalização»- ndT), Réseau Voltaire, 10 mars 2005.
[10] «Richard Armitage, le baroudeur qui rêvait d’être diplomate» (Fr- « Richard Armitage, o aventureiro que sonhava ser diplomata»- ndT),Réseau Voltaire, 8 octobre 2004.
[11] «Dov Zakheim, la caution du Pentagone» (Fr- « Dov Zakheim a caução do Pentágono»- ndT), por Paul Labarique, Réseau Voltaire, 9 septembre 2004.
[12] «Le retour d’Henry Kissinger» (Fr- «O retorno de Henry Kissinger»- ndT), por Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 28 novembre 2002.
[13] « La stratégie anti-russe de Zbigniew Brzezinski» (Fr- «A estratégia anti-russa de Zbigniew Brezinski»- ndT) , por Arthur Lepic, Réseau Voltaire, 22 octobre 2004.
[14] «James A. Baker III, un ami fidèle» (Fr- «James A. Baker III, um amigo fiel»- ndT), Réseau Voltaire, 16 décembre 2003.

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