sexta-feira, 6 de março de 2015

GOVERNO DOS EUA ESTÃO AGINDO PARA DERRUBAR DILMA – alerta jornalista americano



Mercosul & CPLP

Jornalista americano conta como os norte-americanos agem para derrubar a presidente Dilma e buscam seus interesses perdidos após a Era FHC; intitulado de "um por todos e todos pelo Pré Sal" jornalista explica que o governo norte-americano tenta de tudo para conseguir a presidente fora do comando do governo

William Engdahl, norte-americano, engenheiro e jurisprudente (Princeton, EUA-1966), pós-graduado em economia comparativa (Estocolmo, Suécia-1969) escreveu um artigo em um dos jornais mais vendidos nos EUA, o New Eastern Outlook.

William alerta que o governo dos Estados Unidos estão agindo para derrubar a presidente Dilma Rousseff e conta como estão fazendo para tal.

Ele também conta que Washington apoiou até o ultimo minuto, o PSDB nas eleições de 2014. Confira o texto do jornalista norte americano traduzido pelo Portal Metrópole.

Um por todos, e todos pelo Pré-Sal

Entenda como o governo dos Estados Unidos quer reconquistar seus direitos no Brasil, perdidos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores e hoje age para derrubar a presidente reeleita.

William Engdahl

Para ganhar o segundo turno das eleições contra o candidato apoiado pelos Estados Unidos, Aécio Neves, em 26 outubro de 2014, a presidenta recém-reeleita do Brasil, Dilma Rousseff, sobreviveu a uma campanha maciça de desinformação do Departamento de Estado estadunidense. Não obstante, já está claro que Washington abriu uma nova ofensiva contra um dos líderes chave dos BRICS, o grupo não alinhado de economias emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com a campanha de guerra financeira total dos Estados Unidos para enfraquecer a Rússia de Putin e uma série de desestabilizações visando a China, inclusive, mais recentemente, a “Revolução dos Guarda-Chuvas” financiada pelos Estados Unidos em Hong Kong, livrar-se da presidente "socialmente propensa" do Brasil é uma prioridade máxima para deter o polo emergente que se opõe ao bloco da Nova (des)Ordem Mundial de Washington.

A razão por que Washington quer se livrar de Rousseff é clara. Como presidente, ela é uma das cinco cabeças do BRICS que assinaram a formação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, com capital inicial autorizado de 100 bilhões de dólares e um fundo de reserva de outros 100 bilhões de dólares. Ela também apoia uma nova Moeda de Reserva Internacional para complementar e eventualmente substituir o dólar. No Brasil, ela é apoiada por milhões de brasileiros mais pobres, que foram tirados da pobreza por seus vários programas, especialmente o Bolsa Família, um programa de subsídio econômico para mães e famílias da baixa renda. O Bolsa Família tirou uma população estimada de 36 milhões de famílias da pobreza através das políticas econômicas de Rousseff e de seu partido, algo que incita verdadeiras apoplexias em Wall Street e em Washington.

Apoiado pelos Estados Unidos, seu rival na campanha, Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), serve aos interesses dos magnatas e de seus aliados de Washington.

O principal assessor econômico de Neves, que se tornaria Ministro da Fazenda no caso de uma presidência de Neves, era Armínio Fraga Neto, [cidadão norte-americano e brasileiro] amigo íntimo e ex-sócio de Soros e seu fundo hedge "Quantum". O principal conselheiro de Neves, e provavelmente seu Ministro das Relações Exteriores, tivesse ele ganhado as eleições, era Rubens Antônio Barbosa, ex-embaixador em Washington e hoje Diretor da ASG em São Paulo.

A ASG é o grupo de consultores de Madeleine Albright, ex-Secretária de Estado norte-americana durante o bombardeio da Iugoslávia em 1999. Albright, dirigente do principal grupo de reflexão dos Estados Unidos, o "Conselho sobre Relações Exteriores", também é presidente da primeira ONG da “Revolução Colorida” financiada pelo governo dos Estados Unidos, o "Instituto Democrático Nacional" (NDI). Não é de surpreender que Barbosa tenha conclamado, numa campanha recente, o fortalecimento das relações Brasil-Estados Unidos e a degradação dos fortes laços Brasil-China, desenvolvidos por Rousseff na esteira das revelações sobre a espionagem norte-americana da Agência de Segurança Nacional (NSA) contra Rousseff e o seu governo.

Surgimento de escândalo de corrupção

Durante a áspera campanha eleitoral entre Rousseff e Neves, a oposição de Neves começou a espalhar rumores de que Rousseff, que até então jamais fora ligada à corrupção tão comum na política brasileira, estaria implicada num escândalo envolvendo a gigante estatal do petróleo, a Petrobras. Em setembro, um ex-diretor da Petrobras alegou que membros do governo Rousseff tinham recebido comissões em contratos assinados com a gigante do petróleo, comissões essas que depois teriam sido empregadas para comprar apoio congressional. Rousseff foi membro do conselho de diretores da companhia até 2010.

Agora, em 2 de novembro de 2014, apenas alguns dias depois da vitória arduamente conquistada por Rousseff, a maior firma de auditoria financeira dos Estados Unidos, a "Price Waterhouse Coopers" se recusou a assinar os demonstrativos financeiros do terceiro trimestre da Petrobras. A PWC exigiu uma investigação mais ampla do escândalo envolvendo a companhia petrolífera dirigida pelo Estado.

A Price Waterhouse Coopers é uma das firmas de auditoria, consultoria tributária e societária e de negócios mais eivadas de escândalos nos Estados Unidos. Ela foi implicada em 14 anos de encobrimento de uma fraude no grupo de seguros AIG, o qual estava no coração da crise financeira norte-americana de 2008. E a Câmara dos Lordes britânica criticou a PWC por não chamar atenção para os riscos do modelo de negócios adotado pelo banco "Northern Rock", causador de um desastre de grandes proporções na crise imobiliária de 2008 na Grã-Bretanha, cliente que teve que ser resgatado pelo governo do Reino Unido.

Intensificam-se os ataques contra Rousseff, disso podemos ter certeza.

A estratégia global de Rousseff

Não foi apenas a aliança de Rousseff com os países dos BRICS que fez dela um alvo principal da política de desestabilização de Washington. Sob seu mandato, o Brasil está agindo com rapidez para baldar a vulnerabilidade à vigilância eletrônica norte-americana da NSA.

Dias após a sua reeleição, a companhia estatal Telebras anunciou planos para a construção de um cabo submarino de telecomunicações por fibra ótica com Portugal através do Atlântico. O planejado cabo da Telebras se estenderá por 5.600 quilômetros, da cidade brasileira de Fortaleza até Portugal. Ele representa uma ruptura maior no âmbito das comunicações transatlânticas sob domínio da tecnologia norte-americana. Notadamente, o presidente da Telebras, Francisco Ziober Filho, disse numa entrevista que o projeto do cabo será desenvolvido e construído sem a participação de nenhuma companhia estadunidense.

As revelações de Snowden sobre a NSA em 2013 elucidaram, entre outras coisas, os vínculos íntimos existentes entre empresas estratégicas chave de tecnologia da informática, como a "Cisco Systems", a "Microsoft" e outras, e a comunidade norte-americana de inteligência. Ele declarou que:

"A questão da integridade e vulnerabilidade de dados é sempre uma preocupação para todas as companhias de telecomunicações".

O Brasil reagiu aos vazamentos da NSA periciando todos os equipamentos de fabricação estrangeira em seu uso, a fim de obstar vulnerabilidades de segurança e acelerar a evolução do país rumo à autossuficiência tecnológica, segundo o dirigente da Telebras.

Até agora, virtualmente todo tráfego transatlântico de TI encaminhado via costa leste dos Estados Unidos para a Europa e a África representou uma vantagem importante para espionagem de Washington.

Se verdadeiro ou ainda incerto, o fato é que sob Rousseff e seu partido o Brasil está trabalhando para fazer o que ela considera ser o melhor para interesse nacional do Brasil.

A geopolítica do petróleo também é chave

O Brasil também está se livrando do domínio anglo-americano sobre sua exploração de petróleo e de gás. No final de 2007, a Petrobras descobriu o que considerou ser uma nova e enorme bacia de petróleo de alta qualidade na plataforma continental no mar territorial brasileiro da Bacia de Santos. Desde então, a Petrobras perfurou 11 poços de petróleo nessa bacia, todos bem-sucedidos. Somente em Tupi e em Iara, a Petrobras estima que haja entre 8 a 12 bilhões de barris de óleo recuperável, o que pode quase dobrar as reservas brasileiras atuais de petróleo. No total, a plataforma continental do Brasil pode conter mais de 100 bilhões de barris de petróleo, transformando o país numa potência de petróleo e gás de primeira grandeza, algo que a Exxon e a Chevron, as gigantes do petróleo norte-americano, se esforçaram arduamente para controlar.

Em 2009, segundo cabogramas diplomáticos norte-americanos vazados e publicados pelo Wikileaks, a Exxon e a Chevron foram assinaladas pelo consulado estadunidense no Rio de Janeiro por estarem tentando, em vão, alterar a lei proposta pelo mentor e predecessor de Rousseff em seu Partido dos Trabalhadores, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, ou Lula, como ele é chamado.[Foi revelado pelo Wikileaks que José Serra, o então candidato do PSDB que competia contra Dilma pela presidência, prometera confidencialmente à Chevron que, se eleito, afastaria a Petrobras do pré-sal para dar espaço às petroleiras estadunidenses].

Essa lei de 2009 tornava a estatal Petrobras operadora-chefe de todos os blocos no mar territorial. Washington e as gigantes estadunidenses do petróleo ficaram furiosos ao perderem controles-chave sobre a descoberta da potencialmente maior jazida individual de petróleo em décadas.

Para tornar as coisas piores aos olhos de Washington, Lula não apenas afastou a Exxon Mobil e a Chevron de suas posições de controle em favor da estatal Petrobras, como também abriu a exploração do petróleo brasileiro aos chineses. Em dezembro de 2010, num dos seus últimos atos como presidente, ele supervisionou a assinatura de um acordo entre a companhia energética hispano-brasileira Repsol e a estatal chinesa Sinopec. A Sinopec formou uma joint venture, a Repsol Sinopec Brasil, investindo mais de 7,1 bilhões de dólares na Repsol Brasil. Já em 2005, Lula havia aprovado a formação da Sinopec International Petroleum Service of Brazil Ltd, como parte de uma nova aliança estratégica entre a China e o Brasil, precursora da atual organização do BRICS.

Washington não gostou

Em 2012, uma perfuração conjunta, da Repsol Sinopec Brazil, Norway’s Stateoil e Petrobras, fez uma descoberta de importância maior em Pão de Açúcar, a terceira no bloco BM-C-33, o qual inclui Seat e Gávea, esta última uma das 10 maiores descobertas do mundo em 2011. As maiores [empresas] do petróleo estadunidenses e britânicas absolutamente sequer estavam presentes.

Com o aprofundamento das relações entre o governo Rousseff e a China, bem como com a Rússia e com outros parceiros do BRICS, em maio de 2013, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, veio ao Brasil com sua agenda focada no desenvolvimento de gás e petróleo. Ele se encontrou com a presidenta Dilma Rousseff, que havia sucedido ao seu mentor Lula em 2011. Biden também se encontrou com as principais companhias energéticas no Brasil, inclusive a Petrobrás.

Embora pouca coisa tenha sido dita publicamente, Rousseff se recusou a reverter a lei do petróleo de 2009 de maneira a adequá-la aos interesses de Biden e de Washington. Dias depois da visita de Biden, surgiram as revelações de Snowden sobre a NSA, de que os Estados Unidos também estavam espionando Rousseff e os funcionários de alto escalão da Petrobras. Ela ficou furiosa e, naquele mês de setembro, denunciou a administração Obama diante da Assembleia Geral da ONU por violação da lei internacional. Em protesto, ela cancelou uma visita programada a Washington. Depois disso, as relações Estados Unidos-Brasil sofreram grave resfriamento.

Antes da visita de Biden em maio de 2013, Dilma Rousseff tinha uma taxa de popularidade de 70 por cento. Menos de duas semanas depois da visita de Biden ao Brasil, protestos em escala nacional convocados por um grupo bem organizado chamado "Movimento Passe Livre", relativos a um aumento nominal de 10 por cento nas passagens de ônibus, levaram o país virtualmente a uma paralisação e se tornaram muito violentos. Os protestos ostentavam a marca de uma típica “Revolução Colorida”, ou desestabilização via Twitter, que parece seguir Biden por onde quer que ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu para 30 por cento.

Confira o artigo original no Portal Metrópole: 

VENEZUELA, ENTRE CRISE E REVOLUÇÃO




Problemas são graves, descontentamento cresceu, é preciso mudar logo. Porém, os “barrios” resistem e enfrentam hipocrisia das elites. Vencerão?

Greg Granin, no The Nation – Outras Palavras - Tradução: Rosana Pinheiro, na Agência Plano

Golpes e contragolpes. Repressão. Crise econômica. Sete centavos por um tubo de pasta de dente e 755 dólares por uma caixa de preservativos. Como resultado deste último fato, diz a Agência Bloomberg: “A Venezuela tem uma das maiores taxas de infecção pelo HIV na América do Sul” (é perturbador, mas a Bloomberg não menciona: trata-se exatamente da mesma taxa de infecção dos Estados Unidos…). Queda dos preços do petróleo. Prisão de um líder da oposição. Complô em Washington. Twittes da ONG Human Rights Watch. Manifestações na América do Sul.

O que está acontecendo na Venezuela? Eu não faço ideia. Estive muito ocupado tentando rastrear o cinegrafista que acompanhou o jornalista Bill O’Reilly em El Salvador, onde ele não apurou informações sobre o massacre de El Mozote. Então perguntei a um grupo de estudiosos de confiança. Eis o que eles disseram.

Acima de todos, Miguel Tinker Salas, professor de História em Pomona e autor de The Enduring Legacy, que conta a história da indústria petrolífera venezuelana, insiste em que temos de manter a perspectiva. O México, país onde pilhas de corpos se acumulam, e que está em meio a uma crise humanitária de proporções surpreendentes, recebe “passe livre” dos Estados Unidos. Com a Venezuela é diferente (lá as coisas podem estar ruins, mas não ruins a ponto de serem contabilizados 83 mil cadáveres em seis anos, devido à violência do crime organizado). Tinker Salas, cujo oportuno livroVenezuela: What Everyone Needs to Know será publicado em abril, escreve:

“Reportar sobre a Venezuela nos EUA, considerando as descrições feitas pelo establishment político de Washington, levaria alguém a acreditar que o país está mais uma vez à beira de um precipício. A morte recente de um estudante na Venezuela é trágica. Mas, ao contrário do México, onde reina a impunidade, o policial responsável pela morte do estudante foi imediatamente detido, o que não impediu que o Departamento de Estado Norte-Americano e o escritório de John Kerry emitissem uma nota de repúdio. [Nota do editor: compare a resposta da ministra venezuelana do Interior, Carmen Meléndez, à morte de Kliver Roa, com os eventos recentes nos EUA — em Ferguson, Staten Island, Cleveland…]. No contexto atual, o governo de Nicolás Maduro na Venezuela é descrito como uma administração que perde apoio popular e supostamente conta com a repressão para permanecer no poder (mais uma vez, compare com o México).

Manchetes sensacionalistas geralmente concentram-se na falta de papel higiênico e preservativos como forma de ridicularizar o país e a liderança política eleita após a morte de Chávez. No México, onde mais de 50% da população vive na pobreza, e milhões de pessoas pobres e indígenas não têm acesso a alimentos ou serviços básicos, condições deploráveis passam desapercebidas. Milhões emigram ou tornam-se refugiados, e dezenas de milhares de mortes são atribuídas aos cartéis de drogas, isentando o aliado e financiador — Estados Unidos da América — de responsabilidade. A maioria dos relatos não reconhece a mudança política e social que ocorreu na Venezuela nos últimos quinze anos ou a capacitação de milhões de pessoas. O futuro da Venezuela não é claro, a crise é profunda, e a insatisfação cresceu, mas o governo ainda tem apoio.”

Então, qual é a base de apoio do governo? Sujatha Fernandes, que leciona no departamento de sociologia e no Centro de Pós-Graduação do Queens College da City University of New York (CUNY) e é autora de Who Can Stop the Drums? Urban Social Movements in Chávez’s Venezuela, aponta para os bairros pobres, onde, apesar da carência econômica e longas filas para comprar bens básicos, os moradores estão cientes do papel desestabilizador da oposição:

“Muitos desses moradores dos bairros pobres, que compõem o reduto do processo bolivariano, estão cientes do papel desestabilizador que está sendo desempenhado pela oposição em várias frentes, e não estão entre aqueles que expressam descontentamento. E falando com venezuelanos comuns, não se tem a sensação de grande calamidade econômica, apesar das dificuldades. Os laços de solidariedade que se desenvolveram nos últimos tempos têm dado origem a respostas inovadoras, como a economia de escambo.”

A antropóloga Naomi Schiller, que fez uma extensa pesquisa de campo nos bairros, focando no ativismo comunitário online, coloca a crise atual em contexto: “Houve poucos períodos em que o bolivarianismo esteve em apuros profundos.” E a crise tem seu preço:

“A pressão constante reduziu os espaços para reflexão, crítica construtiva e reparação. No meio da crise econômica, o financiamento estatal para as iniciativas de mídia comunitária tem sido muito reduzido. Catia TVe, uma proeminente emissora de televisão comunitária em Caracas, cortou a sua equipe pela metade. A constante redução do poder de compra do salário mínimo significa que todos devem manter vários empregos. Em toda a Venezuela, novas disparidades surgiram entre os que têm acesso a dólares por meio de familiares no exterior, viagens internacionais ou outros canais. Mas, em vez de abandonar o projeto de construção do socialismo bolivariano, muitos produtores de mídia comunitária continuam a fazer televisão e rádio voltados ao objetivo de construir uma ordem social mais justa e igualitária, procurando fazer o que podem com recursos muito limitados.”

E, apesar da crise em curso, os cidadãos organizados em movimentos sociais e “politicamente mobilizados, tais como aqueles que trabalham nos meios de comunicação comunitários, continuam, em sua maior parte, a acusar a oposição e a contínua intromissão do governo dos Estados Unidos:”

“Mesmo quando frustrados com a corrupção e a má gestão, e céticos quanto a algumas alegações expressas pelo governo Maduro, eles continuam convencidos de que, se a oposição ganhasse poder, suas condições sociais e econômicas seriam muito piores. O chavismo sempre foi dividido internamente, com várias correntes conflitantes – algumas mais comprometidas com a democracia participativa e a construção de um Estado comunitário do que outras.

Apesar de mais de uma década de agitações, Schiller acredita que o momento atual “parece ser a crise mais grave por que o chavismo passou até agora”.

Ao longo dos anos, venezuelanos chavistas e pobres, diz Schiller, ecoando Fernandes, provaram-se notavelmente resistentes e ativos em assumir o controle de suas vidas, com o melhor de sua capacidade. Partidários de Chávez e agora de Maduro são frequentemente descritos como “‘clientes’ improdutivos que esperam doações na forma de alimentos subsidiados e preços da gasolina irracionalmente baratos” (versões tropicais da famosa declaração dos “47%” de Mitt Romney). Mas, ela diz: o “movimento bolivariano foi construído por pessoas que usaram recursos do Estado para educar-se, construir alianças, participar da governança local, alimentar os seus vizinhos, fazer a sua própria mídia e cuidar dos doentes. Eles procuraram transformar dólares do petróleo em comunidades prósperas.” Esse modelo pode não ser mais sustentável.

Mas nem todos na Venezuela são “organizados”. Daniel Hellinger, professor de Relações Internacionais na Universidade de Webster, autor de uma série de livros e de um boletim mensal, Caracas Connects, aponta que ambos, desestabilização planejada e descontentamento popular real, podem existir simultaneamente: “má gestão econômica e sabotagem econômica não são hipóteses mutuamente excludentes para explicar as longas filas”. Ainda assim, “a desaprovação de Maduro não eleva automaticamente a força da oposição:

“Enquanto as pessoas nos bairros pobres não aderirem aos protestos, o governo Maduro provavelmente não cairá. Mas, se a base chavista das cidades vai sair e votar a favor do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) em dezembro [eleições para a Assembleia Nacional], apesar da organização superior do partido, é muito mais problemático… Ainda que o governo venha a apresentar provas concretas contra Ledezma [o prefeito de Caracas, Antônio Ledezma], a preocupação com a sua detenção [acusado de tramar um golpe de estado] não se limita à oposição. ‘A criminalização da dissidência’, como denominam alguns comentaristas, é motivo crescente de preocupação também para a ala esquerda do chavismo.”

Hellinger observa ainda que “a detenção de integrantes da segurança e as declarações sobre golpes por parte do governo” – mesmo que sejam reais – podem sair pela culatra, “simplesmente por tornar um golpe mais plausível.”

E o que dizer sobre a tentativa de golpe relatada? O que anda fazendo a oposição? Steve Ellner, co-editor do recém publicado Latin America’s Radical Left: Challenges and Complexities of Political Power in the Twenty-First Century e professor da Universidad de Oriente, em Puerto La Cruz , Venezuela, escreveu que:

“O discurso dos principais membros da oposição venezuelana é deliberadamente vago, mas suas intenções são evidentes. Eles se envolvem no que o presidente Maduro chama de “banda dupla”: juram apoio a soluções pacíficas, mas, ao mesmo tempo, encorajam um caminho não-democrático ao poder, juntamente com táticas revolucionárias e até mesmo violentas. De fevereiro a maio do ano passado, a dupla abordagem serviu para justificar as manifestações antigovernistas generalizadas, que incluíram a destruição em massa de bens do Estado e numerosas mortes, inclusive de seis guardas nacionais. O slogan “saia agora” (lançado pela primeira vez por Leopoldo López, atualmente na prisão) era um eufemismo para a mudança de regime por qualquer meio, mesmo enquanto os líderes da oposição afirmavam que estavam simplesmente pressionando o presidente Maduro a demitir-se. (Os mesmos líderes tinham convidado Chávez a demitir-se nas semanas que antecederam o golpe de abril de 2002.) Em outro exemplo de ambiguidade intencional, a oposição insistiu na libertação dos “presos políticos” dos protestos do ano passado, sem fazer distinção entre manifestantes pacíficos e violentos.

“Agora, os líderes da oposição estão pedindo uma “transição” distanciada do atual governo, a fim de realizar novas eleições, reformar a administração pública, negociar com os organismos financeiros multilaterais, rever as expropriações de empresas feitas pelo governo chavista, libertar “presos políticos” e, de forma significativa, aumentar a produção de petróleo (em aparente violação das quotas da OPEP). O governo Maduro afirmou que a proposta de formar um governo de transição estava ligada a uma tentativa de golpe envolvendo oficiais da Força Aérea, bem como o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, que foi preso por isso. Se o objetivo real desses líderes da oposição é pressionar Maduro a demitir-se, por que não limitam seus slogans a referências em favor desse objetivo? Todos os venezuelanos sabem que Maduro, que conta com considerável capacidade de mobilização do maior e mais organizado partido político do país, não está prestes a renunciar. A estrada não-eleitoral para o poder envolve, necessariamente, a violência e, eventualmente, um golpe militar.”

Grande parte da discussão da Venezuela tem a ver com a sua economia. Aqui está a opinião de Mark Weisbrot, codiretor do Center for Economic and Policy Research, de Washington D.C., nos Estados Unidos.

“Por 15 anos, a maioria dos meios de comunicação ocidentais tem dito que a economia venezuelana estava à beira de um colapso. Esta foi a análise, em grande parte da imprensa financeira, mesmo quando a economia estava crescendo e a inflação estava sob controle. Eles finalmente estão certos? A inflação foi de 68,5% em 2014, e o PIB da Venezuela encolheu 2,8%. A economia também tem sido afetada pela falta de bens de consumo e outros produtos, incluindo alguns medicamentos. Títulos do governo da Venezuela têm as maiores taxas de juros do mundo. É claro que há problemas graves a serem resolvidos.

“A inflação e a escassez são os principais resultados de um sistema de taxa de câmbio disfuncional. Um corte no fornecimento de dólares, no segundo semestre de 2012, desencadeou um movimento de aumento de participação do mercado negro, empurrando para cima a inflação, que por sua vez aumentou ainda mais a taxa de participação do mercado negro. Atualmente existem duas taxas fixas (6,3 bolívares fuertes, ou BFS , por dólar para alimentos e medicamentos, e 12 BFS para outras mercadorias) e uma nova taxa flutuante, que começaram a ser negociadas em 15 de fevereiro, além do mercado negro. Um ajuste precisa acontecer para empurrar o preço do dólar a um nível que irá eliminar o excesso de demanda. A nova taxa flutuante anunciada na semana passada é de cerca de 172, não muito longe da taxa do mercado negro de 191 para transações em dinheiro. Ainda precisamos ver se este novo mercado de câmbio vai deter o processo de depreciação da inflação – e da fuga de capitais que vem junto com esse fenômeno – e se poderia ser um passo em direção à unificação da taxa de câmbio.

“Os problemas são solucionáveis. Nos últimos dois anos, a Venezuela cortou as importações em 33%, quase tanto quanto a Grécia fez em seis anos de depressão. Assim, a parte mais difícil do ajuste — mesmo levando em consideração a queda do preço do petróleo — está feita. De acordo com a estimativa do Bank of America, a Venezuela tem reservas e ativos que poderiam se transformar em dinheiro, totalizando US$ 70 bilhões, uma vez e meia superiores ao nível de importações anuais. Com apenas as reservas do governo em ouro, seria possível comprar todos os títulos do governo e da PDVSA (a companhia nacional de petróleo) que vencem nos próximos três anos; uma omissão da dívida é, portanto, extremamente improvável. Em suma, os problemas econômicos da Venezuela são solucionáveis, mas para isso é necessária uma reforma séria — principalmente no sistema de taxa de câmbio.”

Ainda assim, existem sérias contradições sociais no modelo político e econômico deixado por Chávez. Andrés Antillano, professor de criminologia na Universidade Central da Venezuela, diz que:

“Sob o chavismo, fomos de uma economia desregulamentada, nas mãos do setor privado, ao capitalismo de Estado sustentado pela apropriação e redistribuição das receitas do petróleo aos mais desfavorecidos. Não obstante o caráter social e a natureza igualitária das políticas implementadas durante este período… o que vemos hoje na Venezuela são sinais do esgotamento do modelo econômico rentista e estatista. Ao mesmo tempo, temos assistido a escassez e o desmantelamento do aparelho produtivo. Nesse contexto, as classes dominantes e seus órgãos políticos, os partidos de direita, procuraram restaurar seu poder. Na esfera econômica, eles exigem a privatização e o monopólio das receitas do petróleo. Politicamente, a classe dominante procura derrubar o projeto bolivariano e impor um governo neoliberal para servir os seus interesses.”

Neste contexto, diz Antillano, especulação, acúmulo de capital privado e manipulação de moeda estrangeira têm provado ser táticas de “sucesso” para “desacreditar o governo e criar instabilidade social”. Por sua vez, o governo bolivariano de Maduro provou-se “fraco e aguerrido”.

“Sem a forte liderança de Chávez, que conseguiu unir um campo político heterogêneo a uma orientação estratégica clara, o gabinete atual não tem sido capaz de definir um caminho claro de ação e e tem adiado a tomada de decisões. Esta indecisão, em parte, indica o seu desejo de evitar medidas que prejudicariam os mais pobres – ações que setores conservadores defendem – como desvalorizando o bolívar, acabando  com o controle de preços e reduzindo a despesa social.

O que vai acontecer, o que deve ser feito? Na opinião de Antillano:

“O projeto bolivariano está numa encruzilhada. O esgotamento tanto do modelo rentista e do modelo de desenvolvimento do capitalismo de Estado exige tomar um rumo neoliberal através da desregulamentação da economia, onde a riqueza da nação voltaria para os ricos; ou de tirar proveito da desilusão com o modelo rentista de avanço em direção a um modelo pós-capitalista, em que as capacidades produtivas são socializados nas mãos do povo.”

George Ciccariello-Maher, que leciona na Drexel e é o autor do We Created Chávez, diz que este novo modelo do qual Antillano fala já está sendo construído – ao politizar e capacitar (ainda mais do que já ocorreu) o socialismo de autoajuda descrito por Fernandes e Schiller. A Revolução Bolivariana está numa “situação apertada”:

Mas, com toda essa ênfase nas questões da economia e no conflito nacional entre chavistas e antichavistas, corremos o risco de perder de vista o que é sempre esquecido: os historicamente pobres, as bases revolucionárias, aqueles que conheceram a escassez e a insegurança muito antes das elites ricas levantarem essas bandeiras; aqueles que conhecem os perigos e as corrupções do poder do Estado, mas que, no entanto, optaram estrategicamente por disputar espaço. Apesar de apoiar Nicolás Maduro e a continuidade da Revolução, muitos têm ajudado na construção de um “Estado comunal”, paralelo, contribuindo com seus esforços para uma rede em expansão de comunidades autogovernadas. Essas comunidades, embora tenham apenas começado a emergir, estão produzindo bens à medida em que formam novas pessoas e novas relações políticas. Como me disse recentemente uma liderança comunitária: “Este é o momento mais difícil da Revolução Bolivariana, mas as comunidades estão onde a vitalidade está.” Contudo, a vitalidade só nos levará até certo ponto, e não está claro se existe vontade política para que o projeto das comunidades avance: a elite política chavista têm muito a perder se as comunidades tiverem sucesso. Mas talvez a crise econômica prevaleça: o setor de importação privada provou ser o calcanhar de Aquiles do governo, e a produção comunitária é muito mais eficiente do que as fazendas e fábricas gerenciadas pelo Estado. A Venezuela encontra-se em um ponto de inflexão: socialista demais para prosperar no sistema global, ainda muito dependente de capitalismo para romper com ele. A única saída é para a frente, e a única forma de avançar nessa direção é através dasorganizações comunitárias.”

Na foto: Graffiti celebra revolução popular e lutas da América Latina, em Caracas

Brasil. “Como estamos nós as Mulheres Negras no Dia Internacional da Mulher”



Secretaria de Gênero Raça e Etnia - Sindsprev/Rj - Desacato

A história do dia 8 de março começa na luta das mulheres trabalhadoras por melhores condições de trabalho e redução da carga horária em 1857. As operárias de uma fábrica têxtil em Nova York realizaram uma passeata pela redução da jornada, aumento salarial e descanso dominical. Devido à repressão policial, elas se refugiaram em uma fábrica, onde foram trancadas pelo patrão e pelos policiais, que atearam fogo no estabelecimento, levando à morte todas as mulheres que estavam ali, em greve, lutando por seus direitos.

“Na II Conferência Internacional de Mulheres, realizada em 1910, Clara Zetkin, militante socialista e revolucionária, propôs que o dia 8 de março fosse considerado como o dia internacional das mulheres, para que a história dessas operárias americanas não ficasse esquecida e para que as mulheres continuassem a luta tão necessária.”

De fato, muitas conquistas atribuídas às mulheres, são resultantes da luta por “autonomia e igualdade”. Mulheres jovens, adultas, idosas, negras, não-negras, indígenas, profissionais liberais, funcionárias públicas, donas de casa, políticas, mulheres de todos os segmentos da sociedade brasileira e mundial estão empenhadas em contribuir para o fortalecimento da cidadania das mulheres e a garantia de seus direitos na área da saúde, segurança, trabalho, habitação, cultura, educação, política, entre outros.

Das conquistas já efetivadas

Uma ainda requer muito empenho e conscientização: o direto a não-violência. A violência contra a mulher se insere em uma problemática que, necessariamente, envolve questões ligadas à igualdade entre sexos. Trata-se de tema de grande complexidade, em função da carga cultural e ideológica contida nele. Culturalmente homens e mulheres aprenderam que os homens eram superiores às mulheres e, por isso, eles deveriam ser obedecidos e respeitados. As mulheres viviam sob o domínio dos pais e depois passavam ao domínio dos maridos; se ficavam viúvas, aos filhos cabia a tarefa de “cuidar” das mães…

Muitas mulheres ainda vivem sob essa dominação masculina, especialmente de maridos e companheiros. As mulheres se submetem ao poder do ser masculino, não porque eles sejam superiores, mas porque assim aprenderam a viver. Modificar essa situação depende de ampla mudança social, que promova igualdade, sem esquecer as diferenças que existem entre homens e mulheres, diferenças essas que não podem ser lembradas, pelo viés da violência.

Duas das mais expressivas políticas públicas implantadas no Brasil para o enfrentamento da violência contra a mulher são as Delegacias da Mulher e a Lei Maria da Penha. Em Araranguá, a Delegacia da Mulher foi instituída em 1989 e, apesar desses 24 anos de atuação, essa Delegacia Especializada (provavelmente as de outros municípios também), ainda enfrenta dificuldades para atender seu público específico: as mulheres vítimas de violência doméstica, especialmente em função de que a questão da violência requer um atendimento multidisciplinar, que vá além da prática policial, da repressão, mas que promova mudança nas relações entre os envolvidos pela violência.

Já a Lei Maria da Penha, em vigor desde 2006, ainda requer muito debate e atenção por parte de toda a sociedade para que cumpra, efetivamente, o seu propósito de atuar na prevenção da violência, na proteção às vítimas e na punição de agressores, evitando a sensação de impunidade e garantindo a eficácia no combate à violência. Tal instrumento jurídico é comumente “mal vista”, por homens de todas as classes sociais, porque, erroneamente, é entendida como uma lei “contra os homens”.

A mulher passa por uma tripla jornada: trabalho, tarefas domésticas e estudo.

A maioria das mulheres trabalham em empresas terceirizadas, onde seus direitos não são garantidos e seus salários são bem reduzidos. Além da exploração e da diferença salarial em relação ao homem, sofrem profundo assédios moral e sexual, de violência no local de trabalho.

No final de um dia cansativo de trabalho, são obrigadas a pegar o transporte coletivo, caro e precarizado, para chegar em casa e ter que cuidar da família e dos afazeres domésticos, que tanto maltratam e danificam a capacidade física e intelectual da mulher trabalhadora que só prejudica a estadia das estudantes na universidade.

Nós Mulheres Negras um capitulo vergonhoso a parte…

A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da sua realidade vivida no período de escravidão com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país. Inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos mostram que a mulher negra apresenta menor nível de escolaridade, trabalha mais, porém com rendimento menor, e as poucas que conseguem romper as barreiras do preconceito e da discriminação racial e ascender socialmente têm menos possibilidade de encontrar companheiros no mercado matrimonial.

Na atualidade não se pode tratar a questão racial como elemento secundário, destacando apenas a problemática econômica. A posição social do negro não se baseia apenas na possibilidade de aquisição ou consumo de bens. Ainda há uma grande dificuldade da sociedade brasileira em assumir a questão racial como um problema que necessita ser enfrentado, inúmeras pesquisas confirmam as dificuldades que implicam ser uma mulher negra no Brasil. Elas ganham menos, são maioria entre as que sofrem violência sexual e doméstica, são mais mal tratadas no atendimento público de saúde e também são as maiores vítimas de homicídio, como comprova a pesquisa realizada pelo Ipea Enquanto esse processo de enfrentamento não ocorrer, as desigualdades sociais baseadas na discriminação racial continuarão, e, com tendência ao acirramento, ainda mais quando se trata de igualdade de oportunidades em todos os aspectos da sociedade.

Se liga: uma em cada quatro mulheres que deram à luz em hospitais públicos ou privados relatou algum tipo de agressão no parto. Os dados do estudo “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado“, mostram em escala nacional a incidência dos maus-tratos contra parturientes. Xingamentos, recusa em oferecer algum alívio para a dor, realização de exames dolorosos e contraindicados até ironias, gritos e tratamentos grosseiros com viés discriminatório quanto à classe social ou cor da pele foram apontados como tipos de maus tratos sofridos por quem deu a luz nos hospitais públicos e privados.

A discriminação racial na vida das mulheres negras é constante; apesar disso, muitas constituíram estratégias próprias para superar as dificuldades decorrentes dessa problemática, como a marcha das mulheres negras dia 18 de Novembro de 2015 em Brasília.

“Estamos em marcha porque somos a imensa maioria das que criam nossos filhos e filhas sozinhas, as chefes de famílias, com parcos recursos e o suor de nosso único e exclusivo trabalho.”

Estamos em Marcha:

pelo fim do genocídio de mulheres negras e pela visibilidade e garantia de nossas vidas;
pela investigação de todos os casos de violência doméstica e assassinatos de mulheres negras, com a penalização dos culpados;
pelo fim do racismo e sexismo produzidos nos veículos de comunicação promovendo a violência simbólica e física contra as mulheres negras;
pelo fim dos critérios e práticas racistas e sexistas no ambiente de trabalho;
pelo fim das revistas vexatórias em presídios e as agressões sumárias às mulheres negras em casas de detenções;
pela garantia de atendimento e acesso à saúde de qualidade às mulheres negras e pela penalização de discriminação racial e sexual nos atendimentos dos serviços públicos;
pela titulação e garantia das terras quilombolas, especialmente em nome das mulheres negras, pois é de onde tiramos o nosso sustento e mantemo-nos ligadas à ancestralidade;
pelo fim do desrespeito religioso e pela garantia da reprodução cultural de nossas práticas ancestrais de matriz africana;
pela nossa participação efetiva na vida pública.

Buscamos por um processo de protagonismo político das mulheres negras, em que nossas pautas de reivindicação tenham a centralidade neste país. Nosso ponto de chegada e início de uma nova caminhada é 18 de novembro de 2015 dentre as atividades do Mês da Consciência Negra.

Conclamamos, a todas as mulheres negras, para que se juntem a esse processo organizativo, nos locais onde estiverem, e a se integrarem nessa Marcha pela nossa cidadania.

Imbuídas da nossa força ancestral, da nossa liberdade de pensamento e ação política, levantamo-nos – nas cinco regiões deste país – para construir a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e a Violência e pelo Bem Viver, para que o direito de vivermos livres de discriminações seja assegurado em todas as etapas de nossas vidas.

ESTAMOS EM MARCHA!

“UMA SOBE E PUXA A OUTRA!”

Fonte: Geledés

Brasil. OU MAIS DEMOCRACIA OU VAMOS PARA O BELELÉU




O que está em jogo é avançar ou não na capacitação da sociedade para disputar o futuro do país contra a lógica dos mercados.

Saul Leblon - Carta Maior, editorial

A separação entre direitos políticos e jurídicos, de um lado, e direitos sociais e econômicos, de outro, marca um período histórico específico da sociedade humana.

O período capitalista.

Aquele em que a democracia promete mais do que o mercado está disposto a conceder.

Em outros ciclos, sob o império romano, por exemplo, ou em sociedades escravocratas, as relações políticas e as estruturas econômicas guardavam asfixiante coerência.

Um escravo, como o próprio conceito indica, era integralmente despossuído de prerrogativas de quaisquer natureza.

Seria um oximoro falar em escravo com direitos civis se um poder irrestrito detinha  o mando sobre o seu corpo, a sua vida e a alma.

O escravo aos olhos do seu senhor era um ente desprovido de invólucro social.

A convivência nunca amistosa entre capitalismo e democracia guarda laços com essa raiz de polos antagônicos.

Do conflito emergiram avanços sociais, políticos e jurídicos  que abriram espaços de direitos subtraídos ao capital, em uma relação ontologicamente inconciliável  entre os que detém os meios produzir riqueza e aqueles cuja opção é vender seu corpo, sua mente –não raro, a alma--  para esse fim.

Quando a realidade ao redor chapinha na água rasa das querelas em que cidadãos da tipologia de um Eduardo Cunha, ou de um Aécio, mas também um Cândido Vacarezza (o ex-deputado petista que se avocou um projeto de reforma política à imagem e semelhança de sua particular visão de mundo) disputam o ordenamento da democracia brasileira, é quase uma questão sanitária olhar para além dos seus limites.

O Brasil só não vai para o beleléu da ingovernabilidade se mirar acima do tornozelo histórico em torno do qual o estamento conservador pretende restringir a influência direta da sociedade na definição do seu futuro e do futuro   do seu desenvolvimento.

Não são palavras retóricas.

O que está em jogo é uma disjuntiva que deveria ser explicitada à população por quem pretende ir além dos limites nos quais  a estirpe dos  ‘cunhas’ quer restringir a profundidade da reforma política brasileira.

O que está em jogo é avançar ou não na capacitação da sociedade para disputar o futuro do país com a lógica dos mercados.

O descrédito atual no sistema  político  decorre da incontornável constatação de que o grau de democratização das decisões no Brasil não propicia  à sociedade as ferramentas necessárias à superação de um impasse econômico que está arrastando a nação  para o beleléu da ingovernabilidade.

Pior que isso.

O que o conservadorismo pretende, mais uma vez,  é adequar a democracia ao mercado, não dotar a sociedade dos meios para se impor a ele.

Esse é o cerne da disputa em torno da reforma política (Leia o especial deste fim de semana de Carta Maior sobre o tema).

Até onde é necessário reformar a democracia brasileira?

Até onde for preciso para construir uma cidadania plena, capaz de dar ao desenvolvimento a sua destinação social e civilizatória.

Não é uma discussão metafísica.

No Brasil realmente existente  uma família assalariada paga imposto sobre o litro de leite;  a república dos acionistas embolsa dividendos livre, leve e solta, totalmente isenta de tributação.

O mesmo se dá com os lucros remetidos pelo capital estrangeiro, que o governo Fernando Henrique Cardoso isentou do imposto de 17% até então vigente no Brasil.

Idêntico critério plutocrático isenta integralmente os herdeiros, reiterando na esfera fiscal a discriminação sócio-genética que condena os frutos do berço pobre ao limbo.

Quando se fala que o Estado está gastando mais do que arrecada e é preciso ‘cortar’, dissimula-se  um embate político que cabe ao glorioso jornalismo de economia lubrificar em gordurosas perorações de meia verdade fiscal.

Uma democracia capaz de taxar dividendos, remessas e heranças subtrairia ao centurião Joaquim Levy  a prerrogativa de agir como um Bonaparte, que  arbitra  nas costas dos assalariados o principal  quinhão de sacrifício para regenerar as contas de toda a sociedade.

O governo estuda taxar as grandes fortunas, heranças, lucros e dividendos.

Por que não o fez logo de início?

Porque o sistema político brasileiro está assentado no poder dos interesses que seriam atingidos por esse cardápio de ‘ajuste’.

Uma reforma política  que mantenha intocado o poder do  dinheiro de sequestrar a democracia, precificando candidatos e partidos para inscrevê-los entre os seus ativos disponíveis, não credenciará a sociedade para destravar o passo seguinte que o Brasil requer.

O impasse coloca em jogo muito mais que um embate entre PT e PSDB.

A crise em curso  marca uma  mudança qualitativa  em relação a tudo o que o país viveu nos últimos doze anos.

Não é apenas um  intermezzo de ajustes para voltar ao que era antes, como sugere a conveniência do discurso conservador.

De agora em diante será  estruturalmente mais complexo, inevitavelmente mais conflitivo, governar em favor da maioria e da justiça social.

As determinações internacionais são relevantes.

A crise global é e será por muitos anos o novo normal. A China não crescerá mais os dois dígitos, em média, observados nas  últimas três décadas.

O desmonte definitivo do Estado social na Europa arrastará o continente para uma longa espiral descendente.

O império americano não tem mais fôlego para se erguer e arrastar o mundo ao redor.

Que esse trem descarrilado avance pelo sétimo ano, na mais lenta, incerta e anêmica recuperação de todas as grandes crises capitalistas do século XX, dá a medida do quão longe se encontram as margens do rio revoltoso em que flutua o futuro brasileiro

Mas há distorções locais de igual gravidade.

Elas não podem mais ser subestimadas, sob pena de se aleijar a capacidade de resistência diante do moedor de carne conservador.

A economia brasileira resistiu à lógica da restauração neoliberal nos últimos anos, mas deixou aberto um flanco que agora ameaça reverter suas conquistas e inviabilizar outras novas.

Esse é o principal alicerce da crise em curso.

A verdade é que a largueza das mutações sociais registradas desde 2003 não se fez acompanhar de uma contrapartida de representação política suficiente forte para evitar o risco do revés agora em marcha.

O Brasil avançou nos últimos anos explorando rotas de menor resistência, indo além delas em alguns casos e setores. Mas a crise  global evidenciou os limites dessa associação a frio entre desenvolvimento e justiça social.

Ao  bonapartismo do crescimento sucedeu-se assim o cesarismo do ajuste, igualmente à margem da repactuação social,  e ao custo de uma quase catatonia das forças progressistas.

O conjunto remete de volta à natureza singular da disputa em torno da reforma política brasileira.

Ademais de uma transição de ciclo econômico, e sobreposta a ela,  há uma crise da democracia brasileira  que sonega aos interesses amplos da sociedade meios para liderar  um novo estirão de desenvolvimento com justiça social.

O risco de o Brasil ir para o beleléu da ingovernabilidade a bordo de uma paralisia econômica –que interessa ao conservadorismo fomentar--  não é negligenciável.

A saída existe e não é essa que o Banco Central pratica, de manter a conflagração latente em estado de coma  através de doses crescentes de juros (12,75%, ou uma  taxa real de 5,3%, mais alta do planeta)

O desafio é encarar de frente uma lacuna de que sempre se ressentiu a agenda progressista desde a chegada ao poder, em 2003.

A lacuna da coerência entre meios e fins; entre o desenvolvimento que se quer para o Brasil e a democracia necessária para construí-lo.

Essa é a contradição que a crise escancarou.

Não se incorpora 60 milhões de ex-miseráveis e pobres ao mercado sem mexer nas placas tectônicas de uma ‘estabilidade capitalista’ alicerçada em uma das mais desiguais estruturas de distribuição de renda do planeta.

Sobram duas opções.

Avançar e dar coerência estrutural e política à emergência desse novo ator, ou recuar e devolvê-lo à margem de origem, colocando-o em modo de espera até a próxima maré cheia.

Até um novo ciclo de bonapartismo do crescimento acomodatício.

Não é apenas um impasse conjuntural. 

É uma encruzilhada da democracia. O seu avanço, ou  o  seu acoelhamento  através de uma reforma abastardada, determinará se iremos para o beleléu enquanto projeto de futuro solidário e próspero;  ou se a sociedade assumirá o comando do seu destino para ditar um novo curso ao século XXI brasileiro.

PREPARAÇÃO COMBATIVA PARA DEFENDER A… CONSTITUIÇÃO




Que não restem dúvidas. As Forças Armadas Angolanas, na missão de garantir a paz e a estabilidade do país, devem prestar atenção especial à preparação combativa através de valores patrióticos que enaltecem os símbolos nacionais e respeito pela Constituição.

Ofacto foi expresso, segundo a Angop, pelo governador da província do Huambo, Kundi Paihama, quando discursava na abertura do ano de instrução 2015/2016 da Região Militar Centro, sob o lema “ Preparação combativa – preparar os desafios do futuro”.

Kundi Paihama argumentou que a preparação combativa do efectivo deve ter também em vista o resgate dos valores morais e cívicos, erradicação do analfabetismo e preservação do património público.

Esta fase, disse o governador do Huambo, representa um marco histórico na vida das tropas, na medida em que constitui, imprescindivelmente, o garante da sua existência, assim como o fortalecimento e desenvolvimento da nação e segurança da pátria, no quadro da soberania nacional.

Kundi Paihama lembrou aos presentes que as missões confiadas ao Exército não se limitam apenas em garantir a defesa do espaço terrestre nacional, uma vez que este ramo das FAA também deve auxiliar, sempre que necessário, os órgãos do Ministério do Interior na árdua tarefa de manutenção da ordem e da segurança pública.

O governador disse ainda que o Exército também deve prestar serviços comunitários e apoiar a população em campanhas de vacinação, reconstrução de infra-estruturas, combate ao crime organizado e ao terrorismo.

Considerou o ano de instrução como sendo uma tarefa principal das FAA, exortando os militares a assimilarem de forma ampla e realista os programas e respectivas actividades, além de estudarem e praticarem os treinos na grandeza dos objectivos e possibilidades da região, para que no fim de cada período se possa ganhar mais experiência que contribua para o aumento do nível de conhecimento e de confiança.

Nesta perspectiva, o governador da província do Huambo disse ser necessário a introdução de correcções para a melhoria dos procedimentos operacionais, com base no espírito de persistir a vontade de atingir à excelência.

No seu discurso, o dirigente reconheceu o esforço empreendido pela Região Militar Centro na criação de melhores condições de trabalho e de acomodação do efectivo, sobretudo na garantia de alimentação e vestuário de maior qualidade, bem como assistência médica e medicamentosa, com vista a reduzir o índice de doença no seio dos militares, sensibilizando-os também para a observação do código de estrada, por formas a se evitar as mortes por acidentes de viação.

Por isso, Kundi Paihama disse ser louvável esta acção, pois que os níveis de preparação combativa dos militares depende, muito, do seu estado de saúde, apontando, para este efeito, a luta para a erradicação no seio militar de endemias como a malária, tuberculose e SIDA.

O governador da província do Huambo, que interrompeu o seu discurso para homenagear os militares que sacrificaram as suas vidas pela defesa da pátria, alcance da paz, unidade e reconciliação nacional, instou os instrutores no sentido de estimularem a iniciativa, para que no final do período de instrução e de preparação combativa educativa-patriótica se possa obter maior rendimento nas aulas, exercícios e manobras.

Testemunharam o acto de abertura, na escola de condução de Auto-Blindados, localizada na comuna da Chipipa, a 22 quilómetros da cidade do Huambo, o comandante da Região Militar Centro, tenente-general Eugénio Figueiredo, o delegado do Ministério do Interior e comandante da Polícia Nacional no Huambo, comissário Elias Dumbo Livulo, o rei do Bailundo Ekuikui V, membros do governo, de partidos políticos com assento parlamentar, oficiais generais, superiores, entre outros.

Folha 8 (ao)

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