domingo, 8 de março de 2015

Portugal. CINCO GRÁFICOS QUE DESTROEM O OTIMISMO DO GOVERNO




O relatório da Comissão Europeia que serve de base à colocação de Portugal sob vigilância revela alguns sinais positivos, mas no essencial traça um retrato assustador da economia.

João Silvestre - Expresso

Quase quatro anos depois do pedido de resgate feito pelo governo de José Sócrates, a economia portuguesa está novamente a crescer. Passou três anos debaixo de água mas inverteu no ano passado. O Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou na quarta-feira a sua estimativa rápida de crescimento de 0,9% do PIB em 2014.

Ao mesmo tempo, o desemprego já desceu mais de três pontos desde o pico do início de 2013 - voltou a cair em janeiro para 13,3% - e, na frente externa, as exportações atingiram o maior valor de sempre no ano passado. Com um ano de exceção no turismo que deu um forte contributo para as contas externas.

Nos mercados financeiros, as coisas não poderiam estar a correr melhor. As taxas de juro da dívida pública batem mínimos sucessivos e o Estado já se prepara para antecipar o reembolso do empréstimo do FMI que é demasiado caro para os atuais preços praticados. A taxa a 10 anos está em queda e está agora próxima de 1,8%, depois de a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) ter colocado €1499 milhões na quarta-feira a 2,0310%.

São tudo razões para estar otimista, apesar das nuvens negras da deflação que ameaçam a zona euro. Só que, na verdade, apesar de alguns bons resultados, as perspetivas não são assim tão animadoras e, acima tudo, os problemas não estão completamente ultrapassados. Basta olhar para o relatório da Comissão Europeia desta semana, que serviu de base à decisão de colocar Portugal sob vigilância por desequilíbrios macroeconómicos, para compreender porquê. O Expresso escolheu cinco gráficos que devem ser lidos com toda a atenção. 

Pobreza voltou a aumentar


É daqueles indicadores que não necessita grande interpretação. A taxa de risco de pobreza, que mede a percentagem de pessoas cujo rendimento está abaixo do limiar de pobreza (60% da mediana do rendimento), voltou a aumentar em 2013. Está agora em 19,5%, não havendo ainda dados para o ano passado que, apesar de tudo, é já um ano de crescimento.

Ao mesmo tempo, as pessoas em risco de exclusão social, onde se incluem não apenas pobres, são mais de 27%. Incluem-se aqui pessoas que verificam condições como não conseguir aquecer a casa, pagar a renda ou serviços básicos, comer carne ou peixe pelo menos de dois em dois dias, ou outras.

O pior é que, em simultâneo com o agravamento do risco de pobreza, há uma subida da privação material grave. O que significa que, não só há mais pobres, como os pobres estão mais pobres. E isso, dizem os especialistas, está relacionado com alterações em prestações como o Rendimento Social de Inserção (RSI) ou o Complemento Solidário para Idosos que estão abaixo do limiar de pobreza mas que ajudam a reduzir a sua intensidade.

Tudo isto acontece em simultâneo com a subida da desigualdade. Como sublinha a Comissão: "A disparidade entre os 20% de cima e os 20% de baixo da distribuição de rendimento aumentou em 2013 e o coeficiente de Gini [que mede a desigualdade] mantém-se acima de 34%, comparado com a média da União Europeia a 28 de 30,5% em 2013. O aumento de 7,6 pontos percentuais na intensidade da pobreza [a diferença entre a mediana do rendimento dos pobres e o limiar de pobreza] entre 2008 e 2014 foi o segundo maior da UE depois da Grécia e está agora em 31,2%.

Crescimento lento a descolar


O potencial de crescimento da economia - ou seja, o ritmo a que o PIB consegue andar dadas as suas condições de capital, trabalho e tecnologia - teve uma queda brusca com a crise e a recuperação será muito lenta. O gráfico mostra que a recuperação do potencial de crescimento a partir do mínimo de 2013 é baseada nos ganhos de produtividade e que, nos tempos mais próximos, não se espera retoma do investimento e emprego.

"Durante os anos 2000, o potencial de crescimento demonstrou uma tendência descendente devido, principalmente, a contribuições negativas da oferta de trabalho e do investimento, enquanto a contribuição da produtividade total dos fatores se manteve relativamente estável", lê-se no documento.

Na fase da crise, no entanto, os problemas agravaram-se: "Entre 2009 e 2013, o forte aumento do desemprego e uma queda pronunciada no investimento aceleraram o declínio do potencial de crescimento. A médio prazo, espera-se que o potencial de crescimento seja apoiado pela recuperação do investimento e melhorias adicionais no mercado de trabalho".

No entanto, só em 2018 o investimento dará um contributo positivo e do lado do emprego o que se espera, para já, é uma diminuição do 'travão'. O gráfico mostra que a recuperação do potencial de crescimento a partir do mínimo de 2013 é essencialmente baseada nos ganhos de produtividade, enquanto emprego e investimento manterão contributos negativos nestes primeiros anos.

Ou seja, Portugal está a tentar regressar ao nível de PIB pré-crise - faltam ainda 6% - produzindo com menos pessoas do que naquela altura, o que se é possível com ganhos de produtividade. O problema é que para o investimento regressar é necessário haver condições de financiamento e de expectativas de retorno - leia-se procura -que para já não estão reunidas para muitas empresas.

Dívida externa, o elefante na sala


Depois de todo o esforço de aperto de cinto dos últimos anos, a dívida externa continua praticamente intocável desde 2012 e está até em piores condições do que antes do resgate. Seja visto pela dívida externa propriamente dita (linha preta) ou pela posição de investimento internacional (linha vermelha), que mede a diferença entre o stock de investimento português no exterior e os investimentos estrangeiros em Portugal e que funciona como um indicador alternativo de endividamento externo.

Isso acontece porque, na prática, os resultados positivos conseguidos nas contas externas são apenas uma gota de água no oceano que é a dívida externa. Serão necessários muitos anos com saldos positivos e/ou crescimento económico acelerado (com aumento de poupança interna) para que a situação se possa inverter de forma visível.

"Serão necessários excedentes externos significativos sustentados para conseguir reduzir a posição de investimento internacional negativa em dez anos", avisa Bruxelas. E as contas não são nada animadoras: "A Comissão estima que Portugal necessita ter excedentes médios de 2,5% do PIB durante a próxima década para reduzir a posição de investimento internacional negativa para metade (atualmente em cerca de -115% do PIB) até 2024".

Para já, o que aconteceu foi apenas uma pequena variação que é praticamente impercetível dado que a dívida pode aumentar simplesmente por oscilações cambiais (por exemplo, a valorização do dólar para créditos na moeda americana). O pior é que o crescimento económico tende a acelerar as importações e até movimentos considerados benignos e indispensáveis como o investimento (que implica importar equipamentos) ou o investimento direto estrangeiro (que é um passivo nas contas externas) tendem a piorar a situação.

Já não falando, naturalmente, do consumo per se que está novamente a disparar. O PIB voltou a crescer em 2014 mas as contas externas deram um contributo negativo e foi a procura interna a assegurar o andamento da economia. É certo que houve uma melhoria estrutural das contas externas, só que existe ainda uma componente cíclica relevante que tenderá a pior com a retoma económica.

Ainda que no curto prazo possa haver sinais positivos, o cenário de médio prazo é menos animador. O stock de capital continua a penalizar o potencial de crescimento da economia e não só as empresas portuguesas investem cada vez menos como o IDE praticamente desapareceu. Em 2013 e 2014 foi residual e o grosso da entrada de capital do exterior foram investimentos de carteira que se tratam de aplicações em ativos financeiros como ações ou obrigações.

"O país está melhor", as empresas nem por isso


A frase que há um ano incendiou o debate político, da autoria do líder parlamentar social-democrata Luis Montenegro, não se aplica muito bem às empresas. Há imagens que valem por mil palavras e este gráfico é um desses casos. Representa o risco de falência das empresas por setor de atividade.

Na hotelaria e restauração, cerca de 60% das empresas tem alto risco de falência e na construção e outros serviços ronda 50%. O problema é, essencialmente, pagar dívidas e conseguir sobreviver já que as empresas, apesar da redução, continuam bastante endividadas.

"Em geral, mais de 20% das empresas portuguesas tiveram dificuldades, em 2013, em cobrir o serviço de divida com o seu EBITDA [resultado operacional bruto] e apresentaram problemas de solvência", refere o relatório.

Isto coloca dificuldades aos bancos que são os grandes credores. Diz a Comissão que "embora os rácios de cobertura (provisões em percentagem do crédito malparado) nas empresas não financeiras tenham melhorado (atualmente em redor de 60%), a capacidade do setor bancário suportar perdas de uma onda de crédito malparado parece limitada sem injeções adicionais de capital".
  
Dívida é sustentável mas...


Todas as entidades da troika concordam que a dívida pública portuguesa é sustentável. A sustentabilidade depende de três fatores: crescimento do PIB, taxa de juro implícita na dívida e saldo orçamental primário (sem juros). Esta conclusão da troika tem em conta previsões de crescimento e juros que, como tudo o que acontece no futuro, não estão garantidas. E, pior, o saldo primário necessário para assegurar a sustentabilidade é bastante exigente para os padrões portugueses e europeus - ainda que não tanto como o imposto à Grécia.

Este gráfico mostra como a dívida tenderá a descer nos próximos anos se se confirmarem as condições do cenário base, ainda que chegue a 2030 ainda acima de 100% do PIB. Mas as coisas podem correr se o PIB se desviar da trajetória (menos um ponto percentual de crescimento ao ano) ou se a taxa de juro for mais alta (um ponto acima do cenário base). Neste casos, a dívida não diminui - praticamente estabiliza - e até pode aumentar.

"Ainda que se espere que o rácio de dívida pública sobre o PIB inverta a atual tendência crescente a curto prazo e a dívida publica seja considerada sustentável em cenários considerados plausíveis, a dinâmica da dívida está vulnerável a choques adversos", referem os técnicos europeus. O que implica, dizem, "um menor espaço de manobra orçamental perante choques adversos, com potenciais implicações negativas em termos de crescimento e emprego".  

Publicado originalmente na edição de 04/03/2015 do Expresso Diário

Portugal. O RUÍDO DO SILÊNCIO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA



David Pontes* – Jornal de Notícias, opinião

Não se pode ter razão dizendo uma coisa e fazendo o seu contrário. Cavaco Silva tem razão quando diz que "um presidente de bom senso deve deixar aos partidos as suas controvérsias político-partidárias que já cheiram a campanha eleitoral". Mas ao dizê-lo a propósito da polémica de Passos Coelho com a Segurança Social, o presidente fez o contrário daquilo que disse.

Complicado? Nem por isso. É verdade que o trabalho jornalístico que levou à revelação do passado contributivo do primeiro-ministro é matéria para a disputa político-partidária. Mas como poderia ser de outra forma, depois das explicações erráticas de Passos sobre as suas falhas? Como é que num país onde alunos perdem as bolsas de estudo por causa das dívidas dos seus pais à Segurança Social, um primeiro-ministro pode desculpar-se de não ter pago porque "achava que era opcional"? E como é que se escuta agora o discurso do "vivemos acima das nossas possibilidades", vindo de alguém que se atrasou no cumprimento dos seus deveres fiscais porque se calhar na altura "não tinha dinheiro"?

Este caso, até pela forma como o primeiro-ministro agiu depois de tomar consciência das suas dívidas, é um enorme problema político para quem teve um discurso moral sobre a crise e tencionava avançar para as legislativas arvorando uma imagem de austeridade e de rigor.

Por isso, Cavaco Silva tem razão em querer fugir do caso, é esse equilíbrio que se espera de um presidente num país a caminho de eleições. Só que ao optar por classificá-lo como "controvérsia político-partidária" , implicitamente desvalorizando-o, o presidente entra na polémica tentando dar a Passos a tal "imunidade política" de que se queixou António Costa.

Não tendo nada a fazer neste caso, o melhor teria sido que o presidente da República recorresse à velha muleta do "não tenho declarações a fazer sobre o assunto" e optasse pela reserva do silêncio. De outra forma, parece estar a dizer que não devemos achar importante, que devemos aceitar como normal, uma sucessão de primeiros-ministros com passados atabalhoados (no mínimo) que só se revelam cidadãos exemplares quando chegam ao cargo.

*Subdiretor do Jornal de Notícias

Portugal - Jerónimo de Sousa. PCP acusa Cavaco de não ter estado à altura do cargo




O secretário-geral do PCP acusou hoje Cavaco Silva de não ter estado à altura do cargo de Presidente da República na resposta ao caso da carreira contributiva do primeiro-ministro e pediu a demissão do Governo.

"Não é por isto só, camaradas, que pedimos a demissão do Governo, mas também é por isto", afirmou Jerónimo de Sousa, num almoço comemorativo dos 94 anos do PCP, no Seixal, acrescentando: "Pela dimensão ética e política do problema, deste caso, nós consideramos inaceitável a posição do Presidente da República, que, não sendo capaz de ocupar esta alta responsabilidade atribuída pelo povo português, vem, como militante do PSD, ajudar o Governo, ajudar o seu partido".

Segundo o secretário-geral do PCP, "Cavaco Silva não esteve à altura do cargo que ocupa neste momento, vindo ser ajudante de Passos Coelho e do seu Governo", e reagiu a este caso "à revelia daquilo que deveria ser o seu compromisso com o povo português de cumprir e fazer cumprir a Constituição e de verificar o regular funcionamento das instituições".

Na intervenção que fez neste almoço realizado no Pavilhão do Clube do Pessoal da Siderurgia Nacional da Aldeia de Paio Pires, no concelho do Seixal, Jerónimo de Sousa contestou a ideia de que Portugal está a regressar à normalidade e a dar a volta por cima e, a esse propósito, introduziu o tema da carreira contributiva de Pedro Passos Coelho.

"Que normalidade é esta quando vemos o primeiro-ministro de um Governo que desencadeou a mais violenta ofensiva contra os rendimentos dos trabalhadores, que ordenou cobranças e penhoras sem apelo nem agravo, que levou ao inferno muitas vidas de portugueses, a dizer que não cumpriu as suas obrigações por esquecimento ou por desconhecimento da lei?", questionou.

Perante os militantes do PCP que enchiam o pavilhão, Jerónimo de Sousa considerou: "É inaceitável, camaradas, porque a grande conclusão que o nosso povo está a tirar deste comportamento do primeiro-ministro é que, afinal, no nosso país, e à revelia da Constituição, há dois pesos e duas medidas: para este, compreensão e perdão, para quem trabalha, vive da sua reforma, se se atrasa, tem de pagar com língua de palmo imediatamente os seus encargos".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. O BOBO DA REPÚBLICA VAI ESTAR AQUI NO PÁGINA GLOBAL




É sabido que todas as cortes tinham um bobo. Era um dos poucos no palácio a quem a realeza consentia certos excessos e o mimar de espíritos críticos. Caso não lhes agradassem os exageros do bobo, fome, pancada, pão e água não lhe faltavam nas masmorras por tempo que considerassem bastante para lhe refrear os abusos. Ficavam a pão e água com bastante sorte porque existem registos de bobos que foram condenados à morte pelos ofendidos da realeza. Eram os bobos da corte, criados para todo o serviço.

Séculos volvidos, no palácio que era da realeza, em Belém, existe ali um bobo. Não é da corte mas sim da República. Aquele bobo, como um saco de boxe, experimenta hoje as pancadas críticas de um país inteiro que o considera tão ridículo, tão andrajoso, tão sem graça, tão desleal e tão incompetente e impróprio para o cargo, que não se cansa de o espancar verbalmente e por escrito nos jornais, nas ruas, nos cafés, na comunicação social, na internet... Abusou da paciência de muitos milhões de cidadãos da República. Um bobo que até está cheio de sorte. Para ele não vai haver castigo de fome, pancada, pão e água. Muito menos descerá às masmorras. Nem o condenarão à morte. Beneficia de impunidade, por enquanto. Somente querem ver-se livres dele.

É esse Bobo da República que o Página Global vai aqui trazer amanhã, segunda-feira, num texto que já vimos parcialmente, autoria de Fernando Silva, colaborador do PG que tem estado ausente mas que regressa com a escrita acutilante, irónica e objetiva.

Afinal quem é o Bobo da República? Perguntam os distraídos. Está-se mesmo a ver que é... Cavaco Silva. Só podia.

É esse Bobo da República que vai marcar presença no Página Global, segunda-feira. Transportado por Fernando Silva.

Redação Página Global

Portugal. PCP APTO PARA “RESPONSABILIDADES QUE O POVO QUEIRA DAR”




O secretário-geral do PCP pediu hoje um reforço da CDU nas legislativas para uma "rutura com a política de direita", afirmando que os comunistas estão preparados para assumir todas as responsabilidades que o povo lhes queira atribuir.

Num almoço comemorativo dos 94 anos do PCP, no Seixal, Jerónimo de Sousa dirigiu-se àqueles que dão razão ao seu partido, mas consideram que não tem "condições de chegar lá", e declarou: "Com mais apoios, o PCP tem condições de chegar lá para fazer aquilo que vocês anseiam e reivindicam. Aqui estamos, afirmando-nos prontos para assumir todas as responsabilidades que o povo nos queira atribuir, na efetivação de uma política patriótica de esquerda".

Na sua intervenção, o secretário-geral do PCP alegou que os comunistas não podem esperar "grande coisa da comunicação social", colocou o PS do lado das forças que "visam perpetuar a atual política" e acusou a maioria PSD/CDS-PP de esconder um plano de reforma do Estado para a próxima legislatura que implica "cortar mais nas reformas, mais nas pensões, mais nos direitos".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Herdeiros de liurais timorenses recordam pacto de sangue com Ruy Cinatti




Díli, 08 mar (Lusa) - Herdeiros de dois liurais timorenses recordaram histórias dos pactos de sangue que os chefes tradicionais fizeram com Ruy Cinatti no século passado, numa cerimónia hoje em Díli por ocasião do centenário do nascimento do poeta e biólogo português.

A intervenção de Cornélio Ximenes, filho do liurai Adelino Ximenes de Loré e de Saturnino Barreto, bisneto do liurai Armando Barreto, de Ai-Assa, foi um dos pontos altos da cerimónia de hoje que decorreu na escola criada em 2002 em Díli e que desde 2009 tem o nome de Ruy Cinatti.

Os familiares estiveram em Díli numa iniciativa coordenada entre a escola Ruy Cinatti e o Arquivo e Museu da Resistência Timorense em Díli.

"Tinha 10 anos quando se fez o pacto de sangue", recordou hoje Cornélio Ximenes

"O pacto de sangue foi feito num lugar sagrado entre o meu pai e o Ruy Cinatti, de forma privada. Com esse pacto ficam como irmãos gémeos. Havia lá uma casa onde ele viveu e onde ainda há pinturas feitas por um velhote que ainda está vivo", disse.

Cornélio Ximenes disse que Cinatti pediu ao liurai "que tinha 9 mulheres", para dar o seu nome a um filho" e, por isso "hoje há por aí montes de Cinattis".

Saturnino Barreto, por seu lado, recordou que além do pacto de sangue foi feito, em Ai-Assa, uma "cerimónia de bandeira de segunda linha" tendo sido distribuídas bandeiras de Portugal aos 18 chefes de suco da região.

"Sete dos chefes de suco foram com o liurai de Ai-Assa e com o saudoso Ruy Cinatti para Ai-Assa onde houve uma festa de um dia e uma noite. De manhã os sete concentraram-se num lugar sagrado para testemunhar o pacto de sangue", disse.

"A informação que o meu pai me deu não explica o objetivo da cerimónia. O sítio onde foi feito o pacto de sangue é sagrado. E não é qualquer pessoa que lá pode ir", disse.

Os dois descendentes dos liurais descerraram depois uma placa comemorativa do centenário de Ruy Cinatti, inaugurando uma exposição preparada com material documental do Arquivo e Museu da Resistência Timorense em Díli e obras de alunos da escola portuguesa.

Natural de Londres, onde nasceu em 1915, Ruy Cinatti era agrónomo e poeta, dividindo a sua vida entre as ciências humanísticas e as ciências naturais.

"Conhecer a sua vida é conhecer um pouco do que foi Timor. Era um homem que aprendia muito depressa o que via e observada. Desde que chegou que tinha um visão do que deveria ser o desenvolvimento de Timor", recordou o embaixador de Portugal em Díli, Manuel Gonçalves de Jesus.

Cinatti chegou a Timor-Leste pela primeira vez em julho de 1946, como secretário do então governador Oscar Ruas e no ano seguinte, com o país a recuperar das marcas da invasão japonesa, percorreu o território realizando um primeiro estudo.

O seu estudo e a sua análise de Timor englobou temas tão diversos como a botânica, a meteorologia, etnologia e a arqueologia, sendo no pacto de sangue que alcançou uma ligação eterna aos rituais mais sagrados do país.

Cinatti, que nunca deixou de viver essa ligação de "irmão" timorense, é autor do que se pensa ser o primeiro plano de fomento agrário do país e deixou uma vasta obra ainda hoje referência essencial para estudiosos de Timor-Leste.

"Recolheu hoje dados, como por exemplo sobre a arquitetura de Timor-Leste, que nos ajudaram a preservar o conhecimento e a memória de Timor. Com estudos sobre botânica, os motivos artísticos timorenses ou outros", recordou o embaixador.

ASP//GC

VIOLÊNCIA REGRESSA A TIMOR-LESTE. PRESIDENTE DO PARLAMENTO NÃO ERA O ALVO




A violência regressou a Timor-Leste sem que disso os media prestem a atenção e a divulgação devida. Ontem, em Baguia, um ataque à polícia e corpo de proteção do presidente do Parlamento Nacional, Vicente Guterres, catapultou para títulos de primeira página a ação de guerrilheiros timorenses que “são opositores ao atual estado de degradação do país e desvios de fundos” que deviam reverter para as populações mas são literalmente “roubados pelas elites que se governam em Díli”, segundo argumentos dos grupos de guerrilheiros.

A media nacional timorense e internacional, desta vez, fez a divulgação do ataque por no local estar presente o presidente do Parlamento Nacional timorense com a sua escolta de segurança a título particular e familiar. “Vicente Guterres não era o alvo do ataque, somente os polícias”, afirmaram testemunhas do ocorrido. O próprio presidente do Parlamento está convencido que o ataque não o visava. Assim afirmou à Agência Lusa em notícias que o Página Global irá publicar sobre Timor-Leste.

A violência regressou a Timor-Leste com toda a carga negativa que lhe conhecemos. Quatro polícias foram feridos. Disso daremos aqui conta em atualizações no PG. Desta vez o ataque não visava o presidente do Parlamento mas sim o aproveitamento da sua presença e captação favorável da comunicação social para um golpe publicitário que pretendem que signifique o testemunho do descontentamento que alastra no país e que vem sendo abafado pelo atual regime com alguma cumplicidade dos media timorenses e internacionais que raramente saem de Díli para o interior do país. 

Beatriz Gamboa, Díli – Redação PG (em atualização)

Três escoltas do presidente do Parlamento Nacional timorense feridos em ataque

Díli, 08 mar (Lusa) - Três efetivos do corpo de segurança pessoal do presidente do Parlamento Nacional timorense, Vicente da Silva Guterres, foram feridos durante um ataque à esquadra da polícia de Baguia, nos arredores de Baucau, confirmou fonte da polícia.

A fonte disse à agência Lusa que o ataque ocorreu cerca das 02:00 locais (17:00 de sábado em Lisboa) ao quartel localizado a cerca de 100 metros da casa onde estava a dormir o presidente e a sua família, que estavam na região para um funeral.

Um grupo numeroso primeiro cortou a luz na zona e depois atacou o quartel da polícia com granadas tendo ferido três agentes policiais, um deles em estado grave.

ASP // JCS

Presidente do Parlamento timorense confirma ataque "coordenado"

Díli, 8 mar (Lusa) - O presidente do Parlamento Nacional timorense disse hoje à agência Lusa que o "ataque coordenado" levado a cabo na localidade de Baguia, próximo da cidade de Baucau, não o visava diretamente, apesar de ter ferido três dos seus seguranças.

"Foi um ataque coordenado. Entre a casa onde eu estava e o quartel da polícia. Houve tiros durante várias horas e foram lançadas granadas artesanais contra o quartel", disse à agência Lusa Vicente da Silva Guterres.

"Feriram dois polícias que me acompanhavam. Está um terceiro agente, da esquadra de Baguia, ferido com certa gravidade e estamos à espera do helicóptero para o retirar daqui, porque já perdeu muito sangue e tememos que os seus ferimentos se agravem se for por estrada", disse.

Segundo contou à Lusa, cerca das 02:00 locais (17:00 de sábado em Lisboa) um grupo "com muita gente" atacou a zona da esquadra da polícia e os arredores da casa onde se encontrava para um funeral de um familiar.

"Eu estou bem e a minha família também. Espero que não tenha sido um ataque a mim", disse à Lusa.

"Penso que é algo que vem na sequência dos problemas que se têm arrastado aqui nesta zona. Espero que o Estado tome medidas para resolver a situação", afirmou.

Vicente da Silva Guterres louvou a ação dos agentes da polícia no terreno que "poderiam ter respondido disparando indiscriminadamente para os muitos elementos que vinham no grupo de ataque".

Em vez disso, afirmou, "dispararam para o ar e sofreram baixas".

O presidente do Parlamento timorense disse que neste momento está na zona uma unidade do batalhão de ordem pública para a sua proteção e outras equipas no terreno a controlar a situação e procurar deter os responsáveis do ataque.

"Estamos à espera do helicóptero para retirar o ferido para Díli. Assim que ele for retirado, eu seguirei por estrada para a capital", afirmou.

Uma fonte da Polícia Nacional confirmou à agência Lusa que, além do ataque à esquadra, foram ainda queimadas, pelo menos, três casas, insistindo que as informações confirmam que se tratou de uma ação do grupo do ex-comandante da resistência timorense, Paulino Gama ou Mauk Moruk.

"Posso dizer que foram elementos desse grupo do Mauk Moruk. Queimaram ainda a casa de um liurai (chefe tradicional), destruíram a de um agente da Polícia Nacional e danificaram veículos", explicou.

Primeiro, um grupo numeroso cortou a luz na zona e depois atacou o quartel da polícia com granadas tendo ferido três agentes policiais, um deles em estado grave.

Recorde-se que em janeiro dois agentes da Polícia Nacional foram feitos reféns depois de confrontos no subdistrito de Laga, próximo a este local, durante o qual foram feridos dois outros agentes.

Em dezembro o Tribunal de Díli tinha ordenado a libertação de Mauk Moruk e a de outro antigo comandante timorense, José Santos Lemos (Labarik), detidos preventivamente em março, por alegada tentativa de instabilidade.

Os homens foram detidos pela polícia timorense em cumprimento de uma resolução do parlamento aprovada também em março que condenava o que classificou como tentativas de instabilidade e ameaças ao Estado protagonizadas pelo Conselho de Revolução Maubere e pelo Conselho Popular da Defesa da República de Timor-Leste (CPD-RDTL).

Todos os envolvidos naquele processo, cerca de 20 pessoas, continuam sob termo de identidade e residência até ser concluída a investigação do Ministério Público.

ASP // JCS

Governo timorense a tomar medidas para controlar situação em Baguia

Díli, 8 mar (Lusa) - O Governo timorense está a tomar todas as medidas para controlar a situação na região de Baguia, em Baucau, e dar segurança à população, depois do ataque que feriu três polícias disse à Lusa o porta-voz do executivo.

"O Governo está a envidar todos os esforços para controlar a situação, dar segurança à população e investigar a fundo a responsabilidade pelos atos criminais cometidos", disse à agência Lusa Agio Pereira, ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros.

Agio Pereira falava à agência Lusa depois de um grupo numeroso ter atacado a esquadra da polícia do subdistrito de Baguia, a 40 quilómetros sudeste de Baucau, a segunda cidade timorense, com granadas artesanais e tiros, ferindo três agentes policiais.

O ataque ocorreu quando o presidente do Parlamento Nacional timorense estava no local, numa casa próxima, e os feridos são dois agentes do seu corpo de segurança pessoal e um agente da esquadra de Baguia - o mais grave e que foi retirado para Díli em helicóptero.

Vicente da Silva Guterres disse à agência Lusa que o "ataque coordenado" levado a cabo na localidade de Baguia, próximo da cidade de Baucau, não o visava diretamente, apesar de ter ferido três dos seus seguranças.

"Foi um ataque coordenado. Entre a casa onde eu estava e o quartel da polícia. Houve tiros durante várias horas e foram lançadas granadas artesanais contra o quartel", disse.
Segundo contou à Lusa, cerca das 02:00 locais (17:00 de sábado em Lisboa) um grupo "com muita gente" atacou a zona da esquadra da polícia e os arredores da casa onde se encontrava para um funeral de um familiar.

"Eu estou bem e a minha família também. Espero que não tenha sido um ataque a mim", disse à Lusa.

"Penso que é algo que vem na sequência dos problemas que se têm arrastado aqui nesta zona. Espero que o Estado tome medidas para resolver a situação", afirmou.

Uma fonte da Polícia Nacional confirmou à agência Lusa que, além do ataque à esquadra, foram ainda queimadas, pelo menos, três casas, insistindo que as informações confirmam que se tratou de uma ação do grupo do ex-comandante da resistência timorense, Paulino Gama ou Mauk Moruk.

"Posso dizer que foram elementos desse grupo do Mauk Moruk. Queimaram ainda a casa de um liurai (chefe tradicional), destruíram a de um agente da Polícia Nacional e danificaram veículos", explicou.

Questionado sobre os autores do ataque, Agio Pereira disse que esse aspeto "ainda está a ser investigado a fundo", confirmando que tudo indica que o facto de Vicente da Silva Guterres estar na zona foi "coincidência".

"Os agentes da sua escolta pessoal ficaram feridos porque estavam a dormir na esquadra. O alvo principal parece ter sido a esquadra", afirmou.

Longuinhos Monteiro, ministro do Interior, confirmou à Lusa que está a decorrer uma reunião do comando das forças de segurança timorenses, em Díli, para "analisar a situação".

ASP // JCS

Indonésias em Macau estudam para serem empresárias ou arranjar um "bom marido"




Macau, China, 08 mar (Lusa) -- O investimento numa licenciatura à distância em Gestão é a aposta de mais de uma dezena de empregadas indonésias em Macau para se tornarem mulheres de negócios, mas também para arranjar "um bom marido". A aula presencial deste mês decorreu no Dia Internacional da Mulher.

A maior parte é empregada doméstica, mas também há trabalhadoras dos casinos e funcionárias de lojas de conveniência. Em comum têm a nacionalidade e origens numa qualquer província afastada de Jacarta, e a matrícula na licenciatura em Gestão na Universidade de Saint Mary's, através do campus de Hong Kong.

Além das sessões 'online' que as levam de módulo em módulo, estas mulheres roubam, uma vez por mês, algumas horas à sua folga semanal para assistirem à aula do mentor do programa, Fajar Kurniawan. Por uma questão de contenção de despesas e de conveniência para as alunas é o professor que se desloca a Macau, para dar a aula num espaço facultado pela Caritas, a pedido das estudantes. "Foram elas que trataram de tudo", explica o docente formado na área da engenharia.

Nas aulas ganham "confiança" nas suas capacidades, à medida que se vão familiarizando com conceitos novos na gestão profissional.

Marsiti é uma das que mulheres a quem Fajar Kurniawan ensinou a gostar de matemática. Está em Macau há sete anos, já foi empregada doméstica e agora trabalha numa loja de conveniência. Planeia voltar para a Indonésia "talvez ainda este ano", mas ainda não tem um plano muito definido: "Talvez vá para casar e depois comece um negócio com o meu marido, quem sabe uma fábrica de vestuário".

A jovem indonésia não é a única a ponderar várias opções de vida. "Eu tento encorajá-las a fazerem negócios. (Com esta licenciatura) elas têm muitas oportunidades: ou trabalhar como profissionais numa empresa, serem empresárias ou tornarem-se donas de casa", afirma o professor, para quem "muitas vezes estas trabalhadoras não voltam para casa por não terem um projeto definido".

"Mesmo quando ficam (em Hong Kong ou Macau) durante dez anos não sabem o que fazer. Algumas juntam dinheiro, voltam, mas acabam por investi-lo na compra de uma casa e ao fim de dois anos já não têm dinheiro e têm de voltar a emigrar", explica.

Na sociedade indonésia, as mulheres migrantes são muitas vezes chamadas de volta a casa pelas famílias para casar ou cuidar dos pais. Mas esta licenciatura pode ser uma ferramenta chave para a sua emancipação. "Eu guardo o registo de todas as minhas alunas. 80% voltaram para a Indonésia porque conseguiram melhores trabalhos: são professoras, trabalham em empresas nas áreas do gás e petróleo, em bancos, tornam-se leitoras e conseguem bolsas de estudos ou desenvolvem pequenas aldeias", adianta.

"É interessante, porque quando pergunto às minhas alunas porque vieram para este curso, algumas respondem que querem arranjar um marido melhor. Porque se só tiverem concluído o secundário, talvez só arranjem alguém que trabalhe no campo", revela, entre risos.

Por vezes, o regresso dá-se antes de findos os estudos: "No ano passado tive uma aluna que ainda não tinha acabado a licenciatura e que chegou ao pé de mim e disse: Sr. Fajar vou para Jacarta. Vou casar com um juiz. 'Então e a tua escola?', perguntei. 'Ah, chegou ao fim', respondeu-me, como quem diz que quem volta para casa para casar com um juiz já não precisa de se preocupar com o seu sustento".

Iniciada há cinco anos, a licenciatura em Gestão ministrada pelo campus de Hong Kong da Universidade de Saint Mary's já formou 230 mulheres, segundo Fajar Kurniawan.

Todos os anos o professor repete o mesmo conselho: "Depois de receberes o diploma, compra um bilhete de avião para a Indonésia e nunca mais voltes para Hong Kong (e Macau), a não ser que venhas em lua-de-mel".

FV // PJA

Macau. ESCOLAS QUE NÃO SÃO PARA MENINOS




Macau, China, 08 mar (Lusa) -- Não partilham carteiras nas salas de aula, não brincam juntos nos corredores nem tão pouco trocam olhares nos intervalos. Em Macau, há escolas onde não entram rapazes.

Embora todas enverguem um conjunto azul-escuro, com iniciais da escola grafadas em capitulares amarelas, e vincados colarinhos brancos, Mandy, Daisy e Sally têm mais em comum do que o uniforme da Escola Nossa Senhora de Fátima.

Passaram 14 de 18 anos de vida numa escola exclusivamente de raparigas, têm poucas amizades do sexo oposto, mas afirmam-se "satisfeitas", "confortáveis" e "mais descontraídas".

Esse mundo, ainda só delas, "sem rapazes a distrair", vai deixar de o ser, quando embarcarem, em breve, na experiência (duplamente) nova da universidade e do convívio regular com rapazes.

Ter trilhado este percurso não é para nenhuma delas "uma grande questão" e até elencam as vantagens: "Não temos que nos preocupar com a forma como olham para nós. Podemos dizer e fazer o que quisermos, falar alto e cantar nos intervalos", sintetiza Daisy.

Já Sally fala da sensação de independência, nomeadamente nas aulas de Educação Física: "Somos nós que temos de carregar os sacos pesados para cima e para baixo", enquanto Mandy fala da menor pressão que sente relativamente às raparigas de escolas mistas devido às diferenças entre géneros na aprendizagem de disciplinas ligadas às Ciências.

Localizada no bairro de Toi San, uma das zonas de maior densidade populacional, a Escola Nossa Senhora de Fátima conta com mais de 1.700 alunas -- divididas por 54 turmas de três diferentes níveis de ensino.

"Melhorar a posição da mulher na sociedade de Macau é um dos nossos focos, como tem sido, aliás, nos últimos 60 anos", afirmou a diretora Cecilia Lao, reconhecendo que a capacidade de comunicação "pode ser uma preocupação" e que, por isso, a escola tem reforçado atividades e programas de intercâmbio, envolvendo rapazes, para, em simultâneo, melhorar a sua confiança".

Também não passam rapazes pelos portões da Secção Inglesa do Colégio Santa Rosa de Lima que Venus, de 17 anos, frequenta desde criança, com a irmã a seguir-lhe os passos.

O facto de ser presidente da associação de estudantes proporciona-lhe um contacto mais regular com rapazes da sua idade, um processo que assimila com naturalidade, embora admita que "algumas colegas ficam nervosas e não sabem como lidar com eles".

A jovem não deixa de notar, porém, as diferenças relativamente às amigas de escolas mistas. "No meu telemóvel só tenho nomes de raparigas, no caso delas é mais equilibrado".

Para Shelley Grace Calangi, professora do Santa Rosa de Lima, o ensino diferenciado é "um desafio muito interessante" do ponto de vista do docente: "Temos que adaptar os métodos de ensino às diferentes necessidades e a todas as diferentes capacidades".

Além disso, "permite explorar assuntos de uma forma mais aprofundada, nomeadamente ao nível da educação sexual", defende, apesar de ressalvar que "ter diferentes perspetivas é sempre mais saudável e benéfico" e que "se encorajam as estudantes a continuar a desenvolver interesse pela opinião e postura do outro".

"O facto de ser o mesmo género limita, de certa maneira, a perspetiva do mundo porque tendem a vê-lo da perspetiva do seu próprio sexo e também é desafiante porque certas curiosidades não podem ser completamente compreendidas na altura adequada", observa a professora de Geografia, identificando também a ocorrência de "problemas de identidade".

"Há falta de encontros com rapazes, pelo que elas parecem imaturas quando estes se propiciam. Como não tiveram experiências, não sabem o que dizer, como agir, o certo e o errado", conclui.

Macau tem 87 escolas, das quais oito adotam o sistema de ensino diferenciado, que radica na Igreja Católica.

DM // PJA

China não pretende derrubar atual ordem internacional, diz MNE chinês




Pequim, 08 mar (Lusa) - O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, defendeu hoje que a ordem internacional "precisa de ser atualizada", mas negou que o país pretenda derrubar o atual sistema.

"Estamos no mesmo barco, com mais de 190 outros países. Não queremos virar o barco, evidentemente, mas sim trabalhar com os outros passageiros para assegurar que o barco navegue com firmeza e na direção certa", disse Wang Yi, referindo-se à Organização das Nações Unidas (ONU).

Wang Yi salientou, contudo, que o mundo "mudou dramaticamente" desde a criação da ONU, há 70 anos, e apelou a "promoção da democracia nas relações internacionais e ao primado da lei na governação global".

"É muito importante salvaguardar os legítimos direitos e interesses dos países em vias de desenvolvimento, que são a maioria, para fazer do mundo um lugar mais equilibrado, harmonioso e seguro", afirmou.

Wang Yi falava no Grande Palácio do Povo, em Pequim, numa conferência de imprensa organizada no âmbito da reunião anual da Assembleia Nacional Popular chinesa.

Segunda economia mundial, a seguir aos Estados Unidos da América, a China continua a assumir-se como "um país em vias de desenvolvimento" e descreve o seu crescente poder global como um processo de "ascensão pacífica".

Este ano, pela primeira vez, a China vai organizar uma parada militar em Pequim, em setembro, para assinalar o final da segunda guerra mundial no Pacífico e a "Vitória do povo chinês na Guerra de Resistência à Agressão Japonesa".

Líderes de importantes países e organizações internacionais serão convidados para assistir às comemorações, indicou Wang Yi.

"O nosso objetivo é lembrar a história, homenagear os mártires, promover a paz e olhar para o futuro", afirmou.

Questionado sobre um eventual convite ao Japão, Wang Yi respondeu que a China saúda a participação de "todos os que sejam sinceros".

"Há 70 anos. O Japão perdeu a guerra. Setenta anos depois, não deve perder a consciência", disse o MNE chinês. "Quanto mais o criminoso estiver consciente acerca da sua culpa, mais a vítima poderá sentir-se aliviada acerca do seu sofrimento".

Mais de 35 milhões de chineses morreram durante a ocupação japonesa, entre 1937 e 1945, ensinam os manuais de Historia da China.

Sobre as relações sino-russas, consideradas cada vez mais estreitas, Wang Yi observou os dois países mantêm "uma boa tradição de se apoiarem mutuamente", mas defendeu que isso "não visa terceiros países".

Durante a conferência de imprensa, o ministro chinês anunciou que China e Canada acordaram conceder vistos com validade de dez anos aos cidadãos dos respetivos países.

O acordo com o Canadá, idêntico ao que a China estabeleceu no final do ano passado com os Estados Unidos, entra em vigor já na próxima segunda-feira.

A reunião anual da Assembleia Nacional Popular decorre até dia 15 com cerca de 3.000 deputados.

AC // JCS

Moçambique. GILLES CISTAC CONTINUA VIVO. MOÇAMBIQUE VAI TER DE MUDAR




Sim. Cistac continua vivo. O facto de terem assassinado Gilles Cistac numa rua de Maputo através de morte encomendada, como é crença dos moçambicanos, está a gerar ondas de indignação e de exigência a que o novo presidente da República, Filipe Nyusi, não pode ficar alheio e algo vai ter de fazer no combate aos assassinatos de índole política e de delito comum. Muita coisa tem de mudar em Moçambique. 

Políticos decentes e instituições decentes que mereçam credibilidade deve ser uma das metas a atingir por Nyusi. O banditismo político ou de índole comum tem de acabar. As responsabilidades de Guebuza e da Frelimo são enormes em ambas as realidades. Basta.

A Frelimo não pode continuar no rame-rame de consentir que nos corpos policiais predominem ladrões e assassinos que violam a legalidade impunemente. Nem pode ter nos tribunais juízes cúmplices deste terrível status ou juízes condicionados nas suas decisões por uma máfia que lhes acena com os poderes ocultos da Frelimo. Tudo isso é puro banditismo que viola os direitos constitucionais da sociedade moçambicana. 

O tempo é de luta por Moçambique, pelos moçambicanos, pela liberdade e democracia, pela justiça, pela independência de facto. A morte criminosa de Gilles Cistac veio acordar os moçambicanos. Por isso Cistac está vivo e assim vai continuar até que se cumpram os requisitos de nação digna, pacífica e orgulhosa das suas instituições. Cistac está vivo. Compete aos moçambicanos preservarem este seu modo de estar vivo em cada um dos maputenses e em todos os moçambicanos.

Leandro Vasconcelos, Maputo – Redação PG

Analista "Assassínio de Cistac é a pior vergonha que podemos ter como moçambicanos"

O politólogo moçambicano João Pereira considerou hoje que o assassínio do constitucionalista Gilles Cistac é a pior vergonha que podia haver para o país e vai agravar o atual clima de tensão política.

"O assassínio do professor Cistac é a pior vergonha que nós podemos ter como moçambicanos", disse à Lusa o professor de Ciência Política da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), da qual Cistac era também docente, à margem de uma marcha de homenagem ao académico assassinado na terça-feira por desconhecidos no centro de Maputo.

De acordo com o politólogo, a ser provado que o académico franco-moçambicano foi assassinado devido aos seus argumentos jurídicos desfavoráveis ao partido no poder, o homicídio revela uma cultura de "intolerância política muito forte" no país.

"Já estávamos num momento crítico, agora, com este acontecimento, a situação agravou-se", afirmou João Pereira, referindo-se à atual crise política entre o partido maioritário, Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), apesar da recente aproximação entre o Presidente da República e o líder do maior partido de oposição.

"Filipe Nyusi tentou criar uma abertura para o diálogo, que não existia. Criou um certo balão de oxigénio, mas, neste momento, esse balão evaporou e estão criadas condições para uma instabilidade muito mais forte", afirmou João Pereira.

A Renamo contesta os resultados das eleições gerais de 15 de outubro, alegando que foram fraudulentos, e propõe-se governar, através da criação de regiões autónomas, nas províncias em que oficialmente ganhou.

Após dois encontros com Nyusi, Dhlakama anunciou que vai submeter ao parlamento o projeto de regiões autónomas, mas já admitiu abdicar deste passo e tomar o poder pela força, quando a Frelimo começou a dar sinais de que não tenciona viabilizar a proposta.

Gilles Cistac era um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de Moçambique e, em entrevistas recentes, considerou que não há impedimentos jurídicos à pretensão da Renamo, contrariando declarações opostas de quadros do partido do poder.

O analista João Pereira previa que seriam precisos seis meses para resolver a crise política, mas a eliminação de Cistac deverá precipitar os acontecimentos.

"Teremos menos de três meses para resolver, de uma vez por todas, a tensão política no país. O problema é complexo, o líder da Renamo diz agora que já nem precisa submeter a proposta ao parlamento. O que isto representa para o processo da estabilidade política e económica do país?", questionou o politólogo.

João Pereira apelou aos atores políticos moçambicanos para um diálogo permanente e espera que os dirigentes do país coloquem os interesses do povo acima dos partidários.

O assassínio de Cistac "significa matar a capacidade crítica da sociedade e, ao matar essa capacidade, infelizmente, mata-se também o desenvolvimento do próprio país", disse João Pereira, lembrando que o desenvolvimento socioeconómico resulta da crítica.

A marcha, promovida por organizações da sociedade civil e pelo Núcleo de Estudantes da Faculdade de Direito da UEM, começou no local onde o académico foi assassinado e prosseguiu pelo centro da capital, até ser interrompida por uma força policial de elite, altamente armada e munida de equipamento antimotim, alegando falta de autorização para o percurso final da manifestação.

Na semana anterior ao crime, o académico anunciou que ia processar um homem que, através do Facebook e com o pseudónimo Calado Kalashnikov, acusou Chistac de ser um espião francês que obteve a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.

A Renamo implicou diretamente "radicais da Frelimo" no homicídio de Cistac, mas o partido no poder já negou o envolvimento num crime que continua por esclarecer.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Moçambique Ex-diretor da PIC duvida que assassinos de Cistac sejam capturados

O ex-diretor da Polícia de Investigação Criminal (PIC) moçambicana António Frangoulis disse hoje à Lusa duvidar que os autores do assassínio do constitucionalista Gilles Cistac sejam capturados, embora haja todas as condições para esclarecer o caso.

"Penso que há todas as condições para se chegar aos autores, se imperar a boa vontade. Mas, tal como estamos habituados - e a sensação não é só minha, é de milhões de moçambicanos -, nada vai acontecer. Se acontecer, melhor ainda, vai ser a primeira vez", declarou António Frangoulis, à margem de uma marcha realizada hoje em Maputo em memória do académico, assassinado na terça-feira por desconhecidos no centro da capital moçambicana.

O criminalista recebeu a notícia do homicídio do antigo colega na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane com "dor e consternação", considerando que se tratou de "um golpe duro para democracia e para a civilização" e até uma "regressão" nos progressos alcançados nos direitos humanos e cívicos.

"Nem parecemos um povo que já deu passos gigantescos desde a Constituição de 1990 para cá", comentou António Frangoulis, ex-deputado da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder) e candidato não eleito pelo MDM (Movimento Democrático de Moçambique, segunda maior força de oposição) nas últimas legislativas.

O constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac foi assassinado a tiro por desconhecidos na terça-feira no centro de Maputo.

O académico era um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de Moçambique e, em várias ocasiões, manifestou opiniões jurídicas contrárias aos interesses do Governo e da Frelimo.

Em entrevistas recentes, Cistac considerou que não há impedimentos jurídicos à pretensão da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) de criar regiões autónomas no país, contrariando declarações opostas de quadros da Frelimo.

Na semana anterior ao assassínio, o académico anunciara que ia apresentar uma queixa contra um homem que se identificava no Facebook pelo pseudónimo de Calado Kalashnikov e que acusou Cistac de ser um espião francês e de ter obtido a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.

"Lamentavelmente o senhor Calado e a sua turma decidiram que tinham de calar", comentou hoje António Muchanga, porta-voz da Renamo, no início da marcha em memória de Cistac, acrescentando que esta "é uma manifestação necessária e que dignifica o povo moçambicano".

"Ninguém se deve calar", disse por sua vez, no mesmo local, Lutero Simango, líder parlamentar do MDM, que espera ver "toda esta dor e tristeza transformada numa fonte de energia" e que "todos continuem a sua luta".

Não era visível hoje nenhum dirigente da Frelimo na marcha convocada pelo Núcleo de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane e por organizações da sociedade civil, embora o partido no poder tenha condenado publicamente o crime e negado qualquer envolvimento, como fora sugerido pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e por um semanário local.

Ao fim de mais de duas horas, a marcha de centenas de pessoas foi interrompida por uma força policial de elite, altamente armada e munida de equipamento antimotim, alegando falta de autorização para o percurso final da manifestação.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Líder parlamentar da Renamo sugere que Frelimo evite o pior em Moçambique

A líder parlamentar da Renamo, principal partido de oposição em Moçambique, sugeriu hoje à bancada maioritária da Frelimo na Assembleia da República que aprove o projeto da criação de regiões autónomas, como forma de evitar o pior no país.

"Essa é uma forma clara de evitar o pior", declarou à Lusa Ivone Soares, considerando que se a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) "quiser que em Moçambique haja realmente estabilidade, vai aprovar a proposta da Renamo [Resistência Nacional Moçambicana]".

O presidente do maior partido de oposição, Afonso Dhlakama, admitiu, num comício na semana passada no norte do país, abdicar da aprovação das regiões autónomas no parlamento e impô-las pela força, avisando que tem meios para o conseguir.

Dhlakama envolveu também "radicais da Frelimo" no assassínio do constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac, na terça-feira no centro de Maputo, e cujas posições jurídicas estavam a ser usadas pela Renamo na sua exigência de criação de regiões autónomas no centro e norte do país.

"O presidente da Renamo entende que, se a Frelimo continuar a intimidar o povo, assassinando pessoas de bem e que acham que pela via legal há cobertura legal para a Renamo criar regiões autónomas, podemos até ignorar a submissão do projeto na Assembleia da República e tomarmos o poder à força", afirmou hoje Ivone Soares, à margem de uma marcha em memória de Cistac e que acabou por ser interrompida por uma força policial de elite.

A líder parlamentar da Renamo ressalvou que o seu partido continua a trabalhar no projeto para se encontrar "uma solução pela via pacífica", não se comprometendo com uma data para a apresentação do documento na Assembleia, embora garanta que será em breve.

A Renamo contesta os resultados das eleições gerais de 15 de outubro, alegando que foram fraudulentos, e propõe-se governar, através da criação de regiões autónomas, nas províncias em que oficialmente ganhou.

O novo Presidente da República, Filipe Nyusi, avistou-se duas vezes com Dhlakama para discutir a proposta, convidando a Renamo a submetê-la ao parlamento, dominado pela Frelimo, que já sinalizou um provável chumbo do documento.

"Não podemos continuar a colocar as populações do centro e norte reféns das decisões políticas de meia dúzia de dirigentes da Frelimo que vivem no sul", defendeu hoje Ivone Soares, insistindo que "as instituições do Estado estão a trabalhar com pessoas não reconhecidas pelo povo, porque não foram legitimadas através do voto".

Segundo a líder da bancada da Renamo, "existe uma assimetria regional clara em Moçambique há 40 anos", em que "o centro e norte produzem e toda riqueza vem beneficiar meia dúzia de barrigudos do sul do país".

O homicídio de Cistac "acontece num momento sensível" e "agudizou o clima de tensão em moçambique", afirmou a deputada, e indica também que "o pensamento autónomo está ser acorrentado" e que "o crime domina a posição das instituições".

"Depois de terem matado [o jornalista] Carlos Cardoso, em 2000, pensávamos que tínhamos ultrapassado as barreiras contra a liberdade de expressão e de imprensa", assinalou Ivone Soares, que conclui, 15 anos mais tarde, "existirem ainda pessoas que acham que matando se silenciam as vozes que lutam e clamam pela justiça".

Lusa, em Notícias ao Minuto

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