segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

AS NOVAS AMEAÇAS AO PETRÓLEO



Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião

Apesar da continuada queda do preço do barril de petróleo que na sexta-feira passada atingiu novos mínimos históricos, os países desenvolvidos não reduziram, em termos relativos, o investimento nas fontes alternativas, em particular a China que ultrapassou, em 2015, o investimento conjunto da Europa e dos Estados Unidos na energia solar e fotovoltaica.


Em simultâneo a UE, um dos grandes consumidores, os EUA e outros países do arco desenvolvido continuaram a introduzir novas tecnologias de produção que tornaram mais eficiente o uso da energia que necessitam.

Apesar do excesso de oferta petrolífera no mercado, e consequente descida dos preços, as alternativas mantiveram-se em ascensão, contrariamente a algumas previsões que apontavam para um abrandamento desse investimento. A China, o maior consumidor de combustíveis fósseis investiu, em 2015, cerca de 111 mil milhões de dólares nas energias alternativas, o equivalente à despesa combinada dos EUA e UE neste sector. De notar que o desenvolvimento da UE nas energias renováveis decresceu consideravelmente em virtude de dispor já de uma tecnologia de ponta e estar a transferir o seu abastecimento para o sector em detrimento do uso dos combustíveis fósseis. Por outro as economias emergentes têm adoptado alternativas e os novos investimentos não param; a Índia subiu o seu investimento para 10,9 mil milhões de dólares e países como o México, Chile e África do Sul atraíram milhares de milhões em desenvolvimento neste sector energético. As indicações vêm da Bloomberg, Mackenzie e outros analistas económicos numa explicação sobre os preços do crude que, prevêem, se mantenha na casa dos 30 dpb (dólares por barril) durante este ano, sem todavia excluírem descidas.

A guerra dos preços começa com o que pode bem ter sido uma aposta errada da Arábia Saudita levar a OPEP a aumentar a produção para manter os seus mercados e em particular os mercados sauditas. O momento foi errado dado que a economia mundial arrefecia e em particular a chinesa que era, e é ainda, o motor da economia mundial. Em torno disto gravitam uma série de outras variáveis, desde as desvalorizações da moeda chinesa, as baixas taxas de juro praticadas pelo FED (Federal Reserve Board – Banco Central dos EUA), a acção dos especuladores no petróleo barato, para referir apenas algumas. Os baixos preços causados pela descida impulsionada pelos sauditas obrigaram a Rússia a aumentar a sua produção por forma a conquistar novos mercados e manter as receitas de petróleo a níveis semelhantes aos do início da crise. 

A perspectiva de subida de preços é agora agravada pela entrada do Irão no mercado. Levantadas as sanções a semana passada a companhia petrolífera iraniana prepara-se não só para subir a sua produção de curto prazo em 500 mil barris diários (e um milhão até ao final do ano) como poderá a qualquer momento fazer entrar no mercado as reservas que acumulou durante as sanções, quer em terra quer em petroleiros e cuja manutenção sai cara. A produção possível do Irão até ao final deste ano e sem mais investimentos é de 4,2 milhões de barris diários. O excesso actual de produção é de dois milhões de barris por dia. Espera-se contudo uma entrada “suave” por parte dos iranianos, que não pretendem afectar os seus amigos russos, quase os únicos que o apoiaram nos tempos difíceis.

Um desenvolvimento do potencial de conflito nas relações cada vez mais tensas entre o Irão e a Arábia Saudita não parece preocupar os mercados, que continuam a reagir sem sobressaltos às crises no Golfo.

As energia renováveis aumentaram o ano passado em 30 por cento relativamente a 2014 a sua quota na rede energética, sendo 64 gigawatts provenientes dos parques eólicos e 57 gigawatts de produção fotovoltaica. Alguns países defendem que as renováveis os deixam menos expostos ao exterior e as centrais geradoras verdes são muito mais baratas e rápidas de colocar em linha do que as tradicionais.

Com este panorama quase se concluiria, embora precipitadamente, que os combustíveis fósseis são complementares. Não é verdade, uma vez que não só nem todos os países têm acesso às energias renováveis ou às tecnologias mais eficientes como os investimentos nas centrais convencionais não deram ainda o seu retorno. Todavia o verde representa cerca de 30 por cento da energia consumida e com tendência para crescer. Outra razão do sucesso das renováveis é a sua descentralização e consequente dispensa de centenas de quilómetros de linhas de transporte que implicam consideráveis perdas energéticas. Além disso o acordado em Paris na conferência sobre o ambiente tem de ser cumprido.

O maior trunfo de que os combustíveis fósseis continuam a dispor está na zona dos transportes. Os carros eléctricos são uma minoria ínfima dos veículos em circulação - mas representam uma considerável fatia do consumo -, e em geral os transportes marítimos e aéreos não têm uma alternativa aos hidrocarbonetos, o mesmo, embora em menor grau, para o ferroviário. O parque de energia renovável, por enquanto, sustenta alguma indústria ligeira, o consumo doméstico e pouco mais e sob a forma complementar. Porém é de notar a crescente utilização do solar nas habitações e o eólico tem uma fatia cada vez mais importante na rede eléctrica.

Os exportadores de petróleo estão perante um desafio extraordinariamente difícil e complicado. Manter os actuais níveis de produção levará a preços de crude cada vez mais baixos, cortar na produção implica o risco de empurrar os clientes para as energias alternativas. Aliás a crescente dependência do vento e do sol surge após o pico petrolífero de 2008, quando o barril ultrapassou os 170 dólares.

O reverso desta medalha é que com a quebra dos rendimentos petrolíferos alguns países poderão ter dificuldades em satisfazer os seus compromissos com o sistema financeiro. Daí as declarações de George Soros a semana passada sobre uma recessão parecida com a de 2008. E se os mercados não reagem negativamente aos actuais preços ficariam muito nervosos com a perspectiva de “default” de Estados devedores. Quaisquer previsões de longo prazo são difíceis e mesmo as de curto prazo parecem falhar semana a semana. 

O facto é que a actual situação só beneficia o sector da refinação que não faz reflectir no consumidor final os baixos custos do crude, aumentando as suas margens de lucro, e os Estados que taxam percentualmente o preço do combustível nas bombas e por isso não têm qualquer incentivo em regulamentar o sector. Produtores e operadores travaram, segundo a Bloomberg, 380 mil milhões de investimento no sector da exploração.

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