quarta-feira, 16 de março de 2016

ANGOLA, DOS RIOS DE MEL AOS RIOS DE FEL... E AOS LAGOS



Angola enfrenta uma crise medonha, apesar de o governo não clarificar a dimensão com que fustiga os angolanos e procurar panaceias ilusórias. O capitalismo é assim. E o regime angolano foi comprado e rendeu-se ao capitalismo por via das suas elites se miscigenarem no doce embalo (doce para eles e elas) do capital a qualquer preço. E o qualquer preço foi fazerem fortunas num ápice pelos processos mais ilícitos que possamos imaginar.

São esses novos ultra milionários angolanos, pertencentes ao regime, que são o regime, que traíram e traem as rotas ideológicas e económicas programadas pelo MPLA e visadas pelos históricos puros daquele movimento independentista. Angola tem estado sob o saque dessa elite regimental há décadas, e continua. O descalabro reflete-se à vista de todos nós, até dos estrangeiros. Daqueles que auguraram e auguram caminhos traçados pelo povo e para o povo numa Angola contra o capitalismo selvagem, solidária, humanista, justa, tolerante e sempre democrática. Uma Angola revolucionária que extirpasse aos seus os vícios da ganância e semeasse a partilha, os vícios do roubo daqueles que abjetamente detêm poderes que só não são eternos devido a também serem vulgares mortais.

É nesse contexto, de entrega absoluta dessa elite aos vícios do capitalismo selvagem, que encontramos hoje uma Angola a definhar quase em tudo. Uma Angola que perde a sua soberania em vários setores, entregando-os de mão-beijada a estrangeiros. É uma nova fase de colonização que muitos nem dão por ela, até um dia – que se espera não seja tarde demais.

Angola tem pouco petróleo para vender no mercado. Banco Nacional de Angola deixa bancos sem divisas. Inflação sobe para dois dígitos e continua a aumentar. Dezena e meia de crianças morrem por dia nos hospitais. Setor da saúde está em grave rotura. E etc. Tudo e o mais que há de horrível são tema e títulos nos jornais. Aquela é a Angola de hoje. A Angola que passou de rios de mel a rios de fel. Rios de fel para o povo angolano, que passa fome, que morre de fome, que labuta quotidianamente para sobreviver o melhor possível no quadro de descalabro e miséria que é a realidade plebeia angolana. São milhões nessas circunstâncias.

Os rios de mel continuam a existir, não no formato de rios mas sim de alguns lagos. Os rios de mel aprisionados, contidos em lagos. Desviados dos cursos normais abusivamente. Roubados. Um dos lagos enormes pertence a Isabel dos Santos, é de conhecimento público. Isabel, alguém que num ápice se tornou na segunda mulher mais rica de África. Quantos tiveram de morrer para isso? Quantos ainda morrem para que o regime sobreviva? Até quando a morte anunciada de Angola é assunto de manchetes e de abertura de noticiários?

Será até quando o conteúdo dos lagos regresse aos leitos secos dos rios que eram de mel e poderão voltar a ser. Morrer por morrer, ao menos, que se morra a lutar pela liberdade, pela justiça, pela democracia. Não a democracia bacoca e falsa existente na Europa, nos EUA, no chamado “mundo livre”. Sim a democracia em que na realidade seja o povo quem mais ordena. Democracia que não se esgote, apenas e só, no ato de eleições que manipulam os povos, os enganam com projetos de roubos enormes que fazem dos ricos mais ricos e dos pobres ainda mais pobres. Esse tempo e modo tem de ter um fim. Em Angola e no mundo.

De Angola seguem-se duas notícias em Rede Angola, razão deste breve “pensamento” de agrado e desagrado – conforme o lado da barricada em que cada um de nós estiver. Este “pensamento” está do lado do BASTA!

Redação PG / MM

Angola com pouco petróleo para vender no mercado

Maior parte da produção é destinada a pagar os empréstimos à China e a compensar as petrolíferas pela baixa do preço.

A remuneração dos investimentos feitos pelas petrolíferas e o pagamento dos empréstimos à China, está a deixar Angola com pouco petróleo para vender no mercado.

O Africa Monitor revela que no caso da China, país ao qual Angola deve cerca de USD 25 mil milhões, o pagamento é feito através de “negócios pré-financiados”, que têm como garantia o petróleo. Com o aumento desses empréstimos, a parcela disponível para venda terá caído mais de 50 por cento, diz a publicação citando a Reuters.

O site recorda que há cinco anos metade dos 50 a 60 carregamentos mensais despachados pelo país eram vendidos às petrolíferas, e 4 a 5 destinavam-se à negócios pré-financiados. Actualmente, segundo a publicação, esses carregamentos pagos caíram para metade.

Para agravar ainda mais a situação, outra parte considerável dos carregamentos está com as grandes petrolíferas como a Total, Chevron, BP e outras que operam no país. “Os contratos permitem que, em situações de baixa do preço do crude, estas fiquem com uma maior percentagem da produção petrolífera, para remunerar os seus investimentos em plataformas e outros requisitos da extracção petrolífera”, descreve o Africa Monitor.

No mês passado, os carregamentos para a China duplicaram para pagar os novos empréstimos. “Em Dezembro, a petrolífera Sinochem anunciou seis novos carregamentos mensais de Angola. A congénere, também chinesa, Unipec, já recebia 3”, destaca.

Em Fevereiro Angola vendeu apenas um carregamento no mercado spot (negócios realizados à vista e de entrega imediata). Já em Março, o site avança que o país teve entre dois e três carregamentos para vender.

Fonte próxima da Sonangol disse ao Africa Monitor que a empresa “dispõe de flexibilidade e que pretende ter três a seis carregamentos disponíveis para vender neste mercado mensalmente”.

Os bancos angolanos não receberam divisas na última semana, depois de no período anterior o Banco Nacional de Angola só ter vendido euros, indica um relatório semanal do banco central sobre a evolução dos mercados monetário e cambial.

De acordo com o documento, no período entre 7 e 11 de Março não foram feitas vendas, o que aconteceu pela primeira vez. Não há registo de uma semana sem injecção de divisas na banca angolana em vários anos.

Isto acontece depois de três semanas consecutivas em que o banco central apenas disponibilizou divisas na moeda europeia (cerca de EUR 500 milhões).

Angola enfrenta há mais de um ano uma crise financeira, monetária e cambial decorrente da quebra da cotação internacional do barril de crude, tendo visto as receitas fiscais com a exportação de petróleo caírem para metade em 2015 e com isso a entrada de divisas (dólares) no país.

Paralelamente, devido à escassez de divisas e limitações aos levantamentos de dólares impostos nos bancos, o mercado informal, de rua, transaciona a nota de um dólar norte-americano a mais de 300 kwanzas.

Rede Angola

BNA deixa bancos sem divisas

Não há registo de uma semana sem injecção de divisas na banca angolana em vários anos.

A política cambial angolana passou a ser definida pelo novo governador do BNA, Valter Filipe Silva, empossado no cargo a 7 de Março, funções ocupadas desde Janeiro de 2015 pelo antigo ministro das Finanças, José Pedro de Morais Júnior, exonerado a seu pedido.

Segundo o BNA, a taxa de câmbio média de referência de venda do mercado cambial primário, apurada ao final da última semana, ficou-se nos 159,737 kwanzas por cada dólar e de 178,475 kwanzas por cada euro, ambas inalteradas.

Há pouco mais de um ano, antes do agravamento da crise da cotação do petróleo no mercado internacional, a injeção de divisas no mercado angolano ultrapassava normalmente os 2.000 milhões de dólares por mês.

Lusa, em Rede Angola

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