Reginaldo
Silva – Rede Angola, opinião
Iniciada
com a transferência de Higino Carneiro do Kuando Kubango para Luanda, com todas
as consequências que já se conhecem em matéria de “limpeza de balneário”, a
remodelação ministerial em curso prosseguiu esta segunda-feira com a tomada de
posse dos novos ministros do Comércio, da Saúde, do Turismo e Hotelaria,
Urbanismo e Habitação e da Cultura e dos Governadores do Banco Nacional de
Angola (BNA) e da província do Kwanza Norte.
Nesta
movimentação, em termos políticos, o destaque vai para o surpreendente/espectacular
“auto-afastamento” de José Pedro de Morais (JPM) da liderança do Banco Central
e para o não menos estrondoso apeamento de Rosa Pacavira do Ministério do
Comércio, pasta que ela acumulava com a coordenação do controverso programa
nacional de luta contra a pobreza nos municípios.
O
juízo de valor em relação a esta estratégia não é da nossa lavra, mas não temos
muitas dificuldades em partilhar aqui as nossas dúvidas quanto à sua
consistência e eficácia, em mais uma aposta social do Executivo cujos
resultados são bastante questionáveis.
O
que estará desta vez na cabeça do Titular do Poder Executivo como fio condutor
de mais esta mexida pelos corredores/gabinetes do poder angolano é uma das
questões que se coloca inevitavelmente, com a certeza de que nem tudo o que
parece é realmente.
O
que parece é que, por principio, uma remodelação ministerial persegue sempre a
melhoria da capacidade em termos de eficácia do próprio governo com a
introdução de novas figuras, com novas energias e novas ideias.
No
geral e em teoria, as remodelações ministeriais funcionam um pouco como novo
oxigénio para renovar expectativas por parte dos governados, particularmente em
momentos mais críticos quando a popularidade bate no fundo.
No
caso concreto e tendo em conta o carácter fortemente centralizado do sistema
político de governação deste país na pessoa de José Eduardo dos Santos (JES), o
espaço de manobra para a absorção/processamento desta potencial mais-valia dos
auxiliares daquele que é agora, desde 2010, o Titular do Poder Executivo,
sempre foi muito reduzido, e pelos vistos vai continuar a ser.
Não
estamos a ver qualquer tipo de inversão nesta tendência que de algum modo,
tendo em conta o longevo consulado de JES, já se “fossilizou”.
É,
sobretudo, este apertado “jogo de cintura” que torna, aos olhos dos
observadores externos, as sucessivas remodelações ministeriais efectuadas pelo
Presidente Eduardo dos Santos, com sendo apenas mais um acto de uma repetida
“dança das cadeiras”, feita normalmente ao sabor das dissonantes notas de uma
permanente “intriga palaciana”, do que propriamente em função de critérios mais
estruturantes.
Pode
até algumas vezes nem ser esta a realidade dos factos, mas a imagem que
transpira é esta, como resultado de uma mesma governação em termos politico-partidários,
que já tem mais de 40 anos de estrada.
Uma
vez mais, poucos saberão, de fonte oficial confirmada, as razões concretas que
terão levado JES a mexer desta vez em cada um dos comandos que foram tocados
nesta segunda etapa da remodelação ministerial, sendo certo que elas não foram
as mesmas e poderão até ter motivações completamente distintas.
Desde
logo, sobressai o facto de JPM ter abandonado o Governo do Banco Nacional de
Angola a seu pedido e a pouco mais de um ano depois de ter sido indicado para
um mandato que é de 4 ou 5 anos e que só pode ser interrompido por razões
estipuladas na lei.
Embora
o pedido de demissão do titular esteja contemplado como sendo uma das causas
para a interrupção do mandato do Governador do BNA, parece-nos que este foi
apenas o expediente mais diplomático usado pelo Titular do Poder
Executivo para exibir o segundo cartão vermelho a JPM, que, recorde-se, já foi
Ministro das Finanças nos idos de 2002/2008.
O
que se terá passado de mais complicado ou mais grave neste ano que durou a
meteórica passagem de JPM pelos amplos e bonitos corredores do majestoso
edifício do BNA é o que todos nós gostaríamos de saber.
As
evidências apontam para já para a possibilidade das coisas não lhe terem
corrido nada bem, tendo como pano de fundo uma conjuntura de crise
financeira/cambial que não tem parado de se agravar.
Até
que ponto é que JPM pode ter sido politicamente responsabilizado por este
agravamento é o que resta saber em concreto no âmbito de uma governação
corrente que foi de facto marcada por muita informação desencontrada e mesmo
contraditória à volta da gestão cambial.
Angola
é um país que continua a viver com os olhos fixos nos portos e aeroportos,
sem nos esquecermos das fronteiras terrestres de Santa Clara e de Ponta
Negra, para ficarmos só por estas.
Em
relação à antiga Ministra do Comércio, Rosa Pacavira Matos, as coisas parecem
até ser bem mais complicadas, tendo o seu afastamento apanhado efectivamente de
surpresa todos quantos achavam que ela, devido a outras conhecidas
proximidades, já estava na prateleira dos governantes tidos como intocáveis.
Pelos
vistos, com este estatuto, continua a não haver ninguém por estas bandas, com a
excepção do próprio Titular do Poder Executivo, que na maior das calmas
continua a baralhar as cartas e a dar de novo.
De
referir aqui, a entrada para este “baralho” de algumas cartas novas,
consubstanciadas nas estreias absolutas do jurista Walter Filipe que é o novo
Governador do BNA, do economista Fiel Constantino como Ministro do Comércio e
de Branca do Espírito Santo para Ministra da Habitação e Urbanismo.
Os
dois primeiros têm em comum o facto de serem nomes bastante conhecidos como
comentaristas da televisão e da rádio, onde, note-se, recentemente o Exectutivo
também foi recrutar um aguerrido embaixador itinerante na pessoa de António
Luvualu de Carvalho, com funções politicas muito específicas mas algo atípicas
para o perfil mais clássico de um diplomata.
Em
síntese, e tendo em conta as actuais condicionantes mais objectivas, diríamos
que esta remodelação tem em si um potencial de mudança para melhor muito
limitado, estando grande parte das expectativas, para melhor ou para pior,
depositadas para já na intervenção do novo Governador do BNA, na sua “fórmula
mágica” e na sua própria e legítima ambição pessoal.
Walter
Filipe vai perceber melhor agora o que é que significa isto de não deixarmos os
nossos créditos por mãos alheias.
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