Dia
novo para Portugal… ou talvez não. O novo PR, Marcelo Rebelo de Sousa, tomou
posse, jurou a Constituição, discursou e mostrou assim que tenciona ser muito
diferente de Cavaco Silva. Tem semelhanças com Cavaco nas cores do mesmo
partido a que pertencem (PSD), são ambos de direita, mas a diferença entre um e
outro é abismal. Marcelo é um democrata inserido neste sistema bacoco e de
faz-de-conta-que-é-democracia, Cavaco é ostensivo e, insistentemente, um
saudoso do fascismo salazarista, um PIDE disfarçado de democrata. Sobre ele
basta por aqui, hoje, pôr mais na escrita. “Vai e não voltes”, é o slogan para
Cavaco. Não deixa saudades. Revelou claramente quem era e ao que vinha:
presidente de alguns portugueses – quanto mais ricos melhor. O desprezo aos
pobretanas, aos trabalhadores e contribuintes roubados foi uma constante da
presidência daquele filho da pátria dos cifrões e do absolutismo. Saiu deixando
perceber a sua falta de honestidade em imensos aspetos.
Marcelo
mostrou o seu lado anti-Cavaco no discurso. Popularmente podemos dizer que aquele
mijo (Cavaco) nada tem de comum com a água de cheiro (Marcelo). Ficaremos
atentos a Marcelo mas o seu discurso foi como uma lufada de ar fresco contra o
veneno, a arrogância e estupidez natural cavaquista.
Por
aqui no PG haverá oportunidade de trazer o que é de Marcelo no dia de hoje, a
sua tomada de posse. Por agora fique com o jornalista Nicolau Santos – de certeza
a melhor “coisinha” que existe no Expresso. Gostos.
Sobre o Acordo ortográfico: tem coisas boas... e coisas más. Como tudo.
Bom
dia, se deixarem. Senão temos de lutar por isso.
Redação
PG / CT
Bom
dia. Este é o seu Expresso Curto
Nicolau
Santos - Expresso
Marcelo
vai reabrir o Acordo Ortográfico? Talvez sim
É incontornável. Hoje é o primeiro dia de Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República. E que vai ser muito diferente do seu antecessor ninguém tem dúvidas. Ontem, por exemplo, tinha planeado passear-se na baixa lisboeta com o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi – mas o frio e a necessidade de resguardar a garganta para tudo o que terá de dizer durante o dia de hoje aconselharam a que os dois se reunissem num simpático convívio no Grémio Literário. E dando um toque pessoal disse que estava “esmagado” pela gravata azul do presidente moçambicano – ele que também tinha uma gravata azul.
Nyusi é um dos três convidados especiais entre os 500que assistirão às cerimónias de posse. Os outros são o rei de Espanha e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Como revela a Ângela Silva, são três dias de cerimónias - políticas, religioso-ecuménicas e musicais - que começam hoje em Lisboa mas se estendem (na sexta-feira) ao Porto, e que sinalizam atenção máxima ao momento político, ou não tivesse o sucessor de Cavaco agendado um primeiro encontro com o primeiro-ministro, António Costa, já para quinta-feira à tarde.Veja aqui “Os desafios do presidente anti-Cavaco”.
Mas ainda mal aqueceu o lugar e já está envolto numa polémica. Marcelo tem mantido uma posição ambígua sobre o Acordo Ortográfico, mas escreveu um artigo de opinião para o Expresso, já depois de ter sido eleito, com a ortografia anterior ao AO, e o livro do fotógrafo Rui Ochôa sobre a sua campanha presidencial, que ele próprio prefaciou, chama-se “Afectos” e está igualmente escrito na ortografia pré-acordo.
Quer isto dizer que o novo Presidente vai reabrir a questão do Acordo Ortográfico? Pelo menos é o que desde já lhe pede o presidente da Academia de Ciências de Lisboa, Artur Anselmoe que lembra que há “coisas incompreensíveis e inaceitáveis” no Acordo Ortográfico e que não “não há afecto mais forte do que o da língua”. Do além,Vasco Graça Moura muito lhe agradeceria, ele que batalhou incessantemente contra este Acordo Ortográfico, que para ele significava “a perversão intolerável da língua portuguesa”.
Isto é, seguramente, algo que Cavaco Silva não faria. Assim como nunca fez coisas que, com toda a certeza, Marcelo vai fazer em Belém. Qual o lugar na História do agora presidente cessante e como será o mandato do novo inquilino do palácio cor-de-rosa é algo que só o tempo, esse grande escultor, nos dará a conhecer daqui a muitos anos.
Até lá, e sobre os dez anos de Cavaco em Belém e os outros tantos que passou em São Bento, o que não faltam são análises e analistas. “O homem que queria ser como Salazar mas faltavam-lhe todas as qualidades”, escreve Daniel Oliveira, em tom crítico, enquanto Ricardo Costa vai em sentido oposto no seu “Um texto minoritário”. Henrique Monteiro disserta sobre “Cavaco, 36 anos depois”, São José Almeida fala num homem “ultrapassado pela obra”. Mas há muito mais nos vários jornais e sites.
É incontornável. Hoje é o primeiro dia de Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República. E que vai ser muito diferente do seu antecessor ninguém tem dúvidas. Ontem, por exemplo, tinha planeado passear-se na baixa lisboeta com o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi – mas o frio e a necessidade de resguardar a garganta para tudo o que terá de dizer durante o dia de hoje aconselharam a que os dois se reunissem num simpático convívio no Grémio Literário. E dando um toque pessoal disse que estava “esmagado” pela gravata azul do presidente moçambicano – ele que também tinha uma gravata azul.
Nyusi é um dos três convidados especiais entre os 500que assistirão às cerimónias de posse. Os outros são o rei de Espanha e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Como revela a Ângela Silva, são três dias de cerimónias - políticas, religioso-ecuménicas e musicais - que começam hoje em Lisboa mas se estendem (na sexta-feira) ao Porto, e que sinalizam atenção máxima ao momento político, ou não tivesse o sucessor de Cavaco agendado um primeiro encontro com o primeiro-ministro, António Costa, já para quinta-feira à tarde.Veja aqui “Os desafios do presidente anti-Cavaco”.
Mas ainda mal aqueceu o lugar e já está envolto numa polémica. Marcelo tem mantido uma posição ambígua sobre o Acordo Ortográfico, mas escreveu um artigo de opinião para o Expresso, já depois de ter sido eleito, com a ortografia anterior ao AO, e o livro do fotógrafo Rui Ochôa sobre a sua campanha presidencial, que ele próprio prefaciou, chama-se “Afectos” e está igualmente escrito na ortografia pré-acordo.
Quer isto dizer que o novo Presidente vai reabrir a questão do Acordo Ortográfico? Pelo menos é o que desde já lhe pede o presidente da Academia de Ciências de Lisboa, Artur Anselmoe que lembra que há “coisas incompreensíveis e inaceitáveis” no Acordo Ortográfico e que não “não há afecto mais forte do que o da língua”. Do além,Vasco Graça Moura muito lhe agradeceria, ele que batalhou incessantemente contra este Acordo Ortográfico, que para ele significava “a perversão intolerável da língua portuguesa”.
Isto é, seguramente, algo que Cavaco Silva não faria. Assim como nunca fez coisas que, com toda a certeza, Marcelo vai fazer em Belém. Qual o lugar na História do agora presidente cessante e como será o mandato do novo inquilino do palácio cor-de-rosa é algo que só o tempo, esse grande escultor, nos dará a conhecer daqui a muitos anos.
Até lá, e sobre os dez anos de Cavaco em Belém e os outros tantos que passou em São Bento, o que não faltam são análises e analistas. “O homem que queria ser como Salazar mas faltavam-lhe todas as qualidades”, escreve Daniel Oliveira, em tom crítico, enquanto Ricardo Costa vai em sentido oposto no seu “Um texto minoritário”. Henrique Monteiro disserta sobre “Cavaco, 36 anos depois”, São José Almeida fala num homem “ultrapassado pela obra”. Mas há muito mais nos vários jornais e sites.
OUTRAS
NOTICIAS
Surpresa! Nós que acusamos os paraísos fiscais que são a Holanda e o Luxemburgo, para onde fogem as empresas e os capitais portugueses,estamos a utilizar igualmente essa arma. E assim já há em Portugal 5653 estrangeiros a quem foi concedido o estatuto de residente não habitual, o que lhes dá direito a ficar isento de IRS (se forem reformados) ou a pagar uma taxa de IRS de apenas 20%. A administração fiscal está neste momento a analisar outros 1754 pedidos de adesão a este regime. A esmagadora maioria são reformados, sobretudo franceses, suecos e finlandeses. Há já países a estudar formas de travar esta concorrência fiscal portuguesa.
Vivemos tempos a que não estávamos habituados.No Brasil, o presidente de uma das maiores construtoras do país, a Odebrecht, foi condenado a 19 anos de prisão. Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do Grupo Odebrecht, é acusado de suborno, lavagem de dinheiro e crime organizado na sequência da Operação Lava Jato, que está a decorrer desde há dois anos e que já envolveu inclusive o antigo presidente do Brasil, Lula da Silva.
Mas também por cá há algo inusitado: o ex-presidente da Região Autónoma da Madeira,Alberto João Jardim, vai ser ouvido como arguido no processo Cuba Livre, acusado de prevaricação, abuso de poder e violação das normas orçamentais. O processo foi aberto em 2011 para investigar a dívida pública regional de 6,3 mil milhões de euros, dos quais 1,1 mil milhões foram ocultados das contas nos orçamentos regionais entre 2003 e 2010. O Ministério Público acabou por arquivar o caso em 2014, mas foi solicitada a abertura da instrução por várias pessoas que se constituíram assistentes entre quais vários nomes ligados ao extinto PND como Gil Canha, atualmente deputado independente na Assembleia Legislativa da Madeira.
Quem também anda com a vida agitada é Maria Luís Albuquerque, desde que aceitou ir trabalhar para uma gestora internacional de fundos. Os deputados do PCP e BE querem saber se, enquanto foi ministra, Maria Luís deu benefícios fiscais à Arrow, precisamente a entidade que agora a contratou. Sobre esta matéria é de ler o arrasador texto de opinião que Pedro Tadeu escreve no Diário de Notícias, com o título “Maria Luís Albuquerque é incompatível com o quê?”
Problemas não faltam igualmente na comunicação social. A direcção do Diário Económico, jornal detido pelo Grupo Ongoing, presidido por Nuno Vasconcellos, apresentou a sua demissão, dada a degradação das condições de trabalho, pois os jornalistas estão sem receber o subsídio de Natal e os meses de janeiro e fevereiro e há dívidas a fornecedores e ao Estado que se estão a acumular.
Entretanto, a Global Media, dona do Diário de Notícias e TSF, anunciou que vai concentrar as operações dos seus meios de comunicação na capital nas Torres de Lisboa, junto à segunda circular, processo que deverá estar concluído até final deste ano. A mudança, contudo, não pode ser dissociada do encaixe que a Global Media vai fazer com a venda do histórico edifício do DN, ao cimo da Avenida da Liberdade.
Em Espanha, continua o impasse político. Agora, o líder do PSOE, Pedro Sanchéz, decidiu incluir Mariano Rajoy e o PP nas negociações para tentar formar um novo governo. Contudo, o líder dos Ciudadanos, Albert Rivera, considera impossível um tal acordo para formar um executivo estável.
Entretanto, estalou a divisão no Podemos, entre o secretário geral, Pablo Iglesias, e o seu número dois, Iñigo Errejón. O que está em causa não é apenas uma disputa pelo poder, mas também que tipo de relacionamento o Podemos deve ter com os socialistas do PSOE.
Nos Estados Unidos, Donald Trump continua a sua caminhada imparável para ser o candidato dos republicanos à Casa Branca, depois de ter ganho de novo no Michigan e no Mississipi. Do lado democrata, Bernie Sanders não vai conseguir travar a vitória de Hillary Clinton, mas vai vender cara a sua derrota. Hillary venceu no Mississipi mas perdeu no Michigan para Sanders.
A crise dos migrantes na Europa também continua. A partir das zero horas de hoje, foi dadamais uma machadada numa solução conjunta. A entrada na Eslovénia passa a ser limitada. É o primeiro país do Espaço Schengen a aplicar esta medida. Por seu turno, as agências humanitárias arrasaram a proposta turca que agradou aos líderes da UE e que prevê uma troca de migrantes clandestinos por refugiados sírios.
O produtor musical britânico George Martin, que transformou os Beatles em estrelas mundiais, morreu aos 90 anos, disse esta quarta-feira o baterista da banda Ringo Starr. Martin, considerado o quinto Beatle, apenas não produziu um disco dos Fab Four.
FRASES
“Os portugueses acreditam que Marcelo pode resolver os problemas todos. E isso é um risco perigoso”. José Miguel Júdice, jornal i
Marcelo “é o homem certo no lugar certo”. Jean-Claude Juncker, Público
Cavaco “vai ficar para a história como um grande Presidente da República”. Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças de Cavaco, jornal i
Cavaco “foi um constrangimento para o normal funcionamento do país”. José Junqueiro, deputado do PS, jornal i
“Ontem, eu reparava no sorriso das vacas. Estavam satisfeitíssimas, olhando para o pasto que começava a ficar verdejante”. Cavaco Silva numa das 10 frases polémicas que proferiu durante os seus mandatos, jornal i
“O prof. Cavaco deixa um legado notável para os rasteiros padrões indígenas”. Alberto Gonçalves, sociólogo, Diário de Notícias
“Como não assinalar a ironia de a Cavaco Silva, o seco, alternar Marcelo Rebelo de Sousa, o afetuoso?”. José Ferreira Fernandes, Diário de Notícias
O QUE ANDO A LER E A OUVIR
Depois de tanta polémica nas redes sociais, claro que tinha de ir ao lançamento do livro de Henrique Raposo “Alentejo prometido”. Estava gente de todos os quadrantes, mas pontificavam os representantes da direita. Pouco importa. Lutarei sempre para que Raposo possa escrever o que lhe apetecer, mesmo que discorde radicalmente dele. Foi essa uma das grandes, enormes conquistas de Abril. Quanto a Raposo, promete continuar a provocar polémica: “Este livro e os que vou escrever provocarão sempre atrito, porque tenho um olhar camiliano sobre os portugueses”. Pelo caminho descobri um novo livro de poemas de Adília Lopes, “Manhã”, que comprei. E por falar em poesia recebi recentemente o novo livro de José Luís Barreto Guimarães, “Mediterrâneo”, e dois livros de Filipa Leal, “Nos dias tristes não se fala de aves” e “Vem à quinta-feira”, que será lançado este fim-de-semana no Porto. Já li os três e recomendo vivamente. São da melhor poesia que por estes dias se faz em Portugal.
Quanto à música, regressei a Pasión, de Rodrigo Leão, um dos CD’s de que mais gosto. E a interpretação de Celina da Piedade no tema que dá título ao CD é verdadeiramente deliciosa.
Como novidade recomendo o novo CD de Carlos Martins. Para além das suas virtualidades musicais, para quem gosta do bom jazz português, traz aquele que provavelmente foi o último pingo de talento que Bernardo Sasseti deixou, na faixa “Chant of Kali”. Ou como diz Carlos Martins, nesta faixa “é a graça espiritual de Bernardo Sassetti que perdura”.
E pronto, está servido o Expresso Curto, hoje um pouco mais longo porque não é todos os dias que o país tem um novo Presidente da República. Amanhã estará por cá o “chamem-lhe o que quiserem” Henrique Monteiro. Tenha um excelente dia.
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