Enquanto
não se acabar com o abuso que representam as ETT’s, teremos ainda um caminho
longo a percorrer até que possamos dizer que somos uma sociedade avançada.
Isabel Pires*
Quando
falamos em precariedade não falamos de algo em abstrato:
Falamos
da vida de milhares de jovens que perdem as expetativas num futuro com uma
carreira e direitos no trabalho porque se eternizam em estágios;
Falamos
da vida de milhares de jovens, e não só, à mercê dos abusos das Empresas de
Trabalho Temporário (ETT’s) que brincam com as suas vidas e perpetuam a
instabilidade;
Falamos
salários baixos, o mínimo exigido por lei, para a grande massa de
trabalhadores;
Falamos
da retirada de direitos consecutivamente, seja pela instabilidade dos vínculos
laborais, seja pelas machadadas que estão a ser feitas à contratação coletiva.
Ou
seja, quando debatemos o problema da precariedade e formas de lutar contra ela,
temos que nos lembrar que debatemos a vida de milhares de pessoas: o seu local
de trabalho, as suas relações no local de trabalho e a sua organização de vida.
Neste
âmbito, há uma questão que é particularmente importante e precisa de ser
discutida: o papel das Empresas de Trabalho Temporário. Estas empresas
representam hoje um elemento estranho na relação laboral, que apenas existe
para servir de intermediário entre uma empresa que pede um serviço e um
trabalhador que presta o serviço.
Mas
este papel de intermediário serve apenas um propósito: criar relações laborais
precárias. Precárias porque se baseiam em salários muito baixos, na
inexistência de uma relação direta empregador-trabalhador, no não cumprimento
da lei, no que toca a direitos fundamentais em alguns setores que, antes, eram
abrangidos pela Contratação Coletiva.
Criada
esta perversão laboral, lucram alguns e quem trabalha perde sempre: as ETT’s
lucram milhões todos os anos à custa de parte do salário que deveria ser pago a
quem trabalha. O recurso a estas empresas está cada vez mais generalizado no
privado, mas também no público, seja para tarefas ocasionais ou permanentes!
Por essa razão, devem ser travadas com urgência!
Pensamos
que a luta contra a precariedade tem, hoje, muitas frentes. Nenhuma delas deve
ser esquecida em detrimento de outra, enquanto não se acabar com o abuso que
representam as ETT’s, teremos ainda um caminho longo a percorrer até que
possamos dizer que somos uma sociedade avançada, que não explora os seus
trabalhadores para acumulação de lucros de alguns.
(Artigo
baseado na intervenção no debate temático sobre precariedade laboral na Assembleia
da República, 23 de março 2016)
Esquerda.net
*Isabel Pires - Deputada e
dirigente do Bloco de Esquerda. Licenciada em Ciências Políticas e Relações
Internacionais e mestranda em Ciências Políticas
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